Serra convoca a tropa









Serra convoca a tropa
Para enfrentar crescimento de Ciro nas pesquisas, candidato vai concentrar campanha no Sudeste, onde ele e Lula perderam pontos para concorrente da Frente Trabalhista

O comando da campanha de José Serra (PSDB) à Presidência decidiu reagir ao crescimento da candidatura de Ciro Gomes (Frente Trabalhista) nas pesquisas e programou para a próxima semana atos políticos para dar uma demonstração de força. Os 17 governadores que apóiam o tucano se reunirão com Serra terça-feira em Brasília. No dia seguinte será realizada a primeira reunião do conselho político, com representantes do PSDB, do PMDB, do PPB e do PFL, estes indicados pelo vice-presidente Marco Maciel. Quinta-feira da semana que vem, o candidato terá um encontro com cem prefeitos das maiores cidades administradas pelos aliados. Com isso, a cúpula do PSDB espera pôr um fim nas especulações de que candidatos tucanos e aliados nos estados poderiam abandonar a candidatura Serra.

— A nossa aliança é a maior e os apoios que temos são os mais amplos. Essa aliança não foi feita apenas para ganhar as eleições, mas para governar o Brasil. A experiência mostra que não dá para governar o Brasil com minoria. É preciso formar maioria no Congresso — disse Serra, ao fim da reunião que durou uma hora e meia.

Para espantar o desânimo dos aliados com os resultados adversos das pesquisas de intenção de voto, o coordenador da campanha, Pimenta da Veiga, apresentou um estudo mostrando que o crescimento de Ciro é normal, um reflexo de sua exposição nos programas partidários de TV em junho. Pimenta disse que essa onda televisiva beneficiou outros candidatos e que não havia motivo para desespero e susto. Ele lembrou que Serra será o candidato com mais tempo na TV quando começar a propaganda eletrônica, em 19 de agosto, beneficiando a candidatura justamente na reta final da disputa.

— As ondas se sucedem de acordo com os programas de TV. Vamos construir a última e definitiva onda com o tempo de TV, que será definidor. Seremos os beneficiários da onda de setembro, da onda que será vitoriosa — afirmou.

Temer não quer esperar pela TV
O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), argumentou que a campanha não poderia ficar esperando o palanque eletrônico e que era preciso tomar providências imediatas. O que será feito na próxima semana com as manifestações de apoio a Serra de governadores, candidatos e prefeitos. Os aliados foram informados de que foram feitas mudanças na agenda do candidato. Na próxima semana ele não irá mais aos estados do Norte, como planejado, mas fará viagens para São Paulo, Estado do Rio e Minas Gerais — os três maiores colégios eleitorais. As pesquisas mostram que o tucano e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, perderam pontos no Sudeste, enquanto Ciro cresceu na região.

Os aliados foram unânimes em reclamar dos aumentos dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha. Eles consideram que o governo deveria segurar esses aumentos e que a equipe econômica não está colaborando com Serra.

— Não é fácil compatibilizar governo e campanha. Setores do governo precisam parar de produzir fatos negativos. Concordo que não dá para entender a dolarização do preço dos combustíveis quando o Brasil produz 82% do consumo — criticou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

— Não dá para fazer campanha assim. Aumentam o preço dos combustíveis e do gás, não pagam as obras públicas em andamento e os militares dispensam 42 mil recrutas, tudo só para atender ao FMI — reclamou o vice-presidente do PPB, deputado Pedro Corrêa (PE).

Além do PMDB, os demais aliados também pediram uma maior participação do presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha. Mas todos reconheceram que há limites legais para que isso seja feito e que sua maior contribuição deverá ser na propaganda eleitoral na televisão. Serra procurou minimizar a importância da presença direta de Fernando Henrique na campanha. O candidato considera que o presidente deve governar bem o Brasil e que dessa maneira o estará ajudando. Ele afirmou que tem mantido uma relação de lealdade e companheirismo com o presidente e que Fernando Henrique participará de sua campanha da forma e no momento que achar adequados.

— Meus grandes cabos eleitorais serão eu e a minha vice, a deputada Rita Camata — disse.

— O melhor que o presidente pode fazer para minha campanha é continuar governando o país com responsabilidade — completou.

Preocupados com o quadro eleitoral, os tucanos passaram as últimas 12 horas convocando os aliados para a reunião de emergência, mas nem todos puderam comparecer. Os governadores do Paraná, Jaime Lerner, e Hugo Napoleão, do Piauí, e Maciel, todos do PFL, que estavam presentes para mostrar que nem todo o partido está aderindo a Ciro.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que se especulava estar descontente, também compareceu.

Compareceram ainda a cúpula do PMDB, os que mais reclamavam da falta de organização e de estratégia política da campanha, e dirigentes do PPB, apesar da ausência do governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, que se reuniu com o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, da Frente Trabalhista de Ciro, em Florianópolis.


Ciro tem encontros sigilosos com grandes empresários em São Paulo
O programa de governo e as reformas política, previdenciária e tributária foram os temas das reuniões

SÃO PAULO. Após subir nas pesquisas e se isolar no segundo lugar à frente do tucano José Serra, o candidato à Presidência pela Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Ciro Gomes, teve nos dois últimos dias encontros reservados com grandes empresários de São Paulo. Nas reuniões, o candidato, além de apresentar o programa de governo, estaria, segundo interlocutores, preparando o terreno para conseguir doações para campanha.

Um ano atrás, Ciro havia comparado um jantar do presidente Fernando Henrique com pesos pesados do empresariado com a reunião que precedeu a criação da Operação Bandeirantes (Oban), grupo de ultra-direita, financiado por empresários, que torturava e matava opositores ao regime militar. O candidato repetiu essa crítica em recente entrevista à revista “Época”, quando falou em Oban 2.

Segundo assessores de Ciro, o candidato exigiu que os encontros com empresários fossem mantidos em sigilo.

Ciro jantou com 30 empresários
Na terça à noite, Ciro jantou na casa do vice-presidente da holding Riachuelo-Guararapes, Flávio Rocha, nos Jardins, em São Paulo, com 30 empresários. Estiveram presentes José Ermírio de Moraes Neto, do grupo Votorantim; Alexandre Grendene, da Grendene, Simon Alouan, do Ponto Frio; Márcio Goldfarb, das Lojas Marisa; Olacyr de Moraes, da Constran; Cláudio Luiz Lottemberg, do Hospital Albert Einstein, além do presidente da Rede Brasileira de Filantropia, Rogério Amato.

Os empresários se mostraram apreensivos em relação aos rumos da economia. Ciro, ao expor pontos de seu plano de governo, procurou afastar o risco de calote, levantado por adversários sempre que ele fala a respeito do alongamento da dívida pública. O candidato também falou sobre as reformas tributária, previdenciária e política, e disse que o problema da violência terá, se eleito, prioridade no governo.

— Também falamos sobre os preparativos para receber adesões à campanha de Ciro — disse o deputado federal Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP), um dos convidados.

Ontem, Ciro teve reuniões fechadas na capital paulista. Teria, segundo assessores, se encontrado na hora do almoço com o presidente do Bradesco, Mário Cypriano. A assessoria do Bradesco negou o encontro.


Lula: Ciro e Serra são frutos da mesma árvore
O presidenci ável petista diz que fará campanha sem falar mal dos adversários ou do presidente pois não vai ‘ficar entrando em picuinhas com esse ou aquele candidato’

RECIFE. Um dia depois de afirmar que a elite está estimulando um movimento anti-Lula, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que seus dois principais adversários — Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, e o tucano José Serra — são “frutos de uma mesma árvore”. Ciro era do PSDB antes de se filiar ao PPS.

Lula fez a afirmação ao ser perguntado sobre a associação entre Collor e Ciro, que vem sendo feita pelo candidato tucano à Presidência.

— Não vou ficar falando nisso. Afinal de contas, eles são todos frutos de uma mesma árvore e se conhecem melhor do que eu os conheço — afirmou Lula.

Depois de fazer uma caminhada pelo centro de Recife, ao lado de seu candidato a vice, José Alencar (PL), Lula disse que não fará campanha eleitoral criticando seus adversários nem mesmo o presidente Fernando Henrique Cardoso:

—- Vou fazer campanha sem falar mal de Serra, Ciro, Garotinho, ou mesmo do presidente. Não critico a vida pessoal de ninguém, discuto questões políticas. Não vou ficar entrando em picuinhas com esse ou aquele candidato.


PT vai sacrificar candidatos em prol de Lula
Estratégia para combater crescimento de Ciro e quebrar o discurso de oposição será criticar aliados, principalmente do PFL, como Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen

Os acordos regionais do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva estão abertos até nos estados em que o PT tem candidatos próprios. Quem informa é o líder na Câmara e um dos coordenadores da campanha, João Paulo Cunha. Segundo ele, candidatos a governador insatisfeitos com José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) ou Garotinho (PSB) serão bem-vindos, mesmo que isso prejudique os candidatos do PT: “A eleição de Lula é maior do que o partido”, afirma. Preocupados com o crescimento de Ciro, os petistas tentarão colar sua imagem à de seus novos aliados, como Jorge Bornhausen e Antonio Carlos Magalhães, do PFL. O objetivo é tirar de Ciro o discurso de oposição.

O crescimento de Ciro influencia a campanha de Lula?

JOÃO PAULO CUNHA: O que vamos mostrar é que cada vez mais Ciro se aproxima do modelo do governo, por causa das companhias. Tanto as do atual quanto as de um passado recente e não muito recomendável. É preciso mostrar isso para que a sociedade perceba a contradição e o paradoxo.

Com as dificuldades impostas pela verticalização, os acordos regionais terão um papel mais importante?

JOÃO PAULO: Eles têm um papel fundamental. Estamos preocupados e começamos a dar um tratamento mais especial para os estados. Tem gente de PSB, PDT, PMDB, PTB apoiando Lula. O que precisamos agora é organizar esse time.

O PT já sabe com quem vai conversar?

JOÃO PAULO: Precisamos estabelecer um elo mais forte com a candidatura de Roberto Requião (PMDB) no Paraná, com Fernando Moraes (PMDB) em São Paulo, com Edson Andrino (PMDB) em Santa Catarina, com Max Mauro (PTB) no Espírito Santo, abrir um diálogo com o Sérgio Cabral Filho (candidato a senador pelo PMDB) no Rio e com Maguito Vilela (PMDB) em Goiás, consolidar alianças informais com o PMDB da Paraíba e do Piauí, com o PMDB e o PSDB do Maranhão, consolidar o diálogo com Juraci Magalhães (PMDB) e sua vice (Isabel Lopes) em Fortaleza.

Como o partido vai evitar a reação dos candidatos do PT?

JOÃO PAULO: Precisamos convencer nossos candidatos de que o projeto nacional importa para todo mundo, que o Brasil inteiro espera a vitória do Lula.

Que estados terão prioridade?

JOÃO PAULO: É importante a gente concentrar esforços nos oito estados que congregam 70% do colégio eleitoral: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Ceará e Paraíba.

Essa estratégia tem o objetivo de evitar que líderes embarquem na candidatura de Ciro?

JOÃO PAULO: Os líderes regionais que quiserem integrar esse projeto e dar uma chance a Lula e ao PT estão sendo chamados.

Bons acordos em alguns estados contribuíram para a subida de Ciro nas pesquisas?

JOÃO PAULO: Ciro fez três coisas importantes. A primeira foi reservar para o último mês o horário eleitoral gratuito. A segunda foram as alianças regionais com forças de fora da Frente Trabalhista, como aconteceu em Minas, apoiando Aécio Neves (PSDB), e São Paulo, apoiando Geraldo Alckmin (PSDB). No Rio deu sorte porque o candidato do PDT (Jorge Roberto Silveira) está indo bem. A terceira foi a aliança com o PFL.

Qual a estratégia do PT para tirar Lula do debate econômico e partir para as propostas que interessam mais ao eleitor?

JOÃO PAULO: A crise econômica nos EUA leva o cidadão a perceber que o governo e seus porta-vozes estavam mentindo quando diziam que a crise era responsabilidade do PT e de Lula. A crise americana faz o cidadão perceber que a recessão é geral, internacional.

O PT está alguns passos à frente na elaboração do programa de governo. Como pretende tirar proveito eleitoral disso?

JOÃO PAULO: Terça-feira vamos apresentar o programa em Brasília. Depois vamos pegar temas e criar fatos em cima. Se o tema é educação, vamos fazer uma atividade em algum lugar que motive o debate.

O senhor vê a possibilidade de Ciro se consolidar?

JOÃO PAULO: O crescimento de Ciro se deve à exposição na TV e à aliança com o PFL. Existem dois fatores que diferenciam o crescimento de Ciro dos outros candidatos após suas aparições na TV. O primeiro é o apoio que ele recebeu do PFL. O segundo é o tratamento equânime que as emissoras de TV têm dispensado a todos os candidatos. Isso favoreceu as candidaturas menores, como era o caso da de Ciro Gomes.


Vox Populi confirma Ciro em 2 lugar
BRASÍLIA. A pesquisa do Instituto Vox Populi divulgada hoje pelo “Correio Braziliense” confirma o crescimento do candidato da Frente Trabalhista (PPS/PTB/PDT), Ciro Gomes, que se firma em segundo lugar na corrida presidencial, com 24% das intenções de voto. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa, com 34% da preferência dos eleitores. Ciro está oito pontos percentuais à frente do tucano José Serra, que aparece com 16%. Anthony Garotinho (PSB) está em quarto lugar, com 11%. Os indecisos somam 10% e os votos em branco e nulos, 5%.

Pesquisa do Ibope já apontara Ciro em segundo
A consolidação de Ciro em segundo lugar já fora confirmada anteontem por pesquisa do Ibope divulgada pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Porém, os resultados das simulações de segundo turno feitas pelos dois institutos apresentam divergências. De acordo com o Ibope, numa disputa entre Ciro e Lula, o placar seria de 44% a 43%, favorável ao candidato da Frente Trabalhista. Já na consulta do Vox Populi, o petista venceria a disputa por 43% a 41%.

Nas outras simulações de segundo turno feitas pelo Vox Populi, o resultado coincide com o do Ibope. Na disputa Lula/Serra, o petista teria 46% dos votos e o tucano, 34%. O pior desempenho num eventual segundo turno seria de Garotinho, que teria 27% contra 50% de Lula.

Na pesquisa espontânea, Lula também lidera
Na pesquisa espontânea, o nome de Lula é o mais citado (26%), seguido de Ciro, com 16%, Serra, com 9% e Garotinho, com 6%. Os indecisos chegam a representar 36% dos eleitores. Além disso, 6% dos entrevistados dizem que vão votar em branco ou anular o voto. A pesquisa foi realizada entre 13 e 15 de julho e ouviu 2.827 pessoas. A margem de erro é de 1,9%.

Na pesquisa Ibope/TV Globo, Ciro teve 22% contra 15% de Serra. Lula, na frente, conquistou 33% das intenções de voto e Garotinho teve 10%.


Garotinho, o quarto, diz que a sua campanha enfrenta crise financeira
BELO HO RIZONTE e RIO. A queda do ex-governador Anthony Garotinho, candidato do PSB à Presidência, nas pesquisas de intenção de voto já se refletiu no seu caixa de campanha. Garotinho admitiu ontem, em Minas, que sua campanha enfrenta uma crise financeira e passa por reestruturação, que deve incluir a dispensa de assessores. O ex-governador, que participou ontem em Belo Horizonte de um encontro na Associação Comercial, voltou a dizer que não vai desistir de disputar a Presidência:
— Eu era governador do Rio. Renunciei ao meu cargo de governador porque tinha um projeto para o país.

O crescimento de Ciro Gomes nas pesquisas foi considerado por Garotinho um indício de que nada está decidido. Para tentar mudar a situação, Garotinho se prepara para lançar até a semana que vem os bônus de R$ 1. A demora no lançamento dos bônus, segundo Garotinho, foi provocada por dúvidas em relação à legislação eleitoral.

O deputado federal Alexandre Cardoso, responsável pelas finanças da campanha de Garotinho, disse que advogados consultados pelo PSB informaram que o partido poderia emitir os bônus desde que identificasse o doador, com nome e CPF , num canhoto. Cardoso disse que mandou imprimir 300 mil bônus e que será montada uma estrutura em todo o país para a captação de recursos.

Segundo o deputado, as pessoas não são obrigadas a doar apenas um real. Ele explicou que os alvos dessa campanha são pequenos empresários e pessoas físicas. Ele criticou ainda o atual sistema de doações e defendeu o financiamento público de campanha:

— Qualquer campanha que vive esse momento de não decolar é dimensionada em função do aporte de recursos. As doações estão dentro da previsão de quem é o quarto nas pesquisas. Por isso defendo as doações públicas, que evitam que se faça campanha de acordo com o resultado da pesquisa.


Governo libera R$ 1,2 bilhão para ministérios e projetos prioritários
BRASÍLIA. O Ministério do Planejamento liberou ontem mais R$ 1,2 bilhão para os gastos de 11 ministérios e para os projetos prioritários incluídos no programa Avança Brasil. O Ministério da Defesa recebeu autorização para gastar R$ 302,4 milhões.

Os recursos para as Forças Armadas foram liberados pelo governo uma semana depois de os comandos militares divulgarem nota à imprensa em que diziam precisar fazer cortes drásticos para poder garantir a manutenção de suas atividades.

Exército chegou a ameaçar fechar unidades
O Exército chegou a ameaçar desde a redução do tempo de permanência do serviço militar até o risco de fechamento de unidades. A Marinha, por sua vez, avisou que poderia cortar contratos e licitações, além de diminuir o tempo de permanência de seus recrutas.

A Aeronáutica, embora não tenha se manifestado oficialmente, teria enviado ao Ministério da Defesa um documento em que admitia ter de suspender o programa de modernização de radares em todo o país.

Projeto Avança Brasil foi o mais beneficiado
Os 50 projetos do Avança Brasil foram os mais beneficiados com a nova liberação e devem receber R$ 467,5 milhões até o fim do ano. O secretário do Tesouro Nacional, Eduardo Guardia, afirmou que os recursos liberados ontem serão destinados aos ministérios que estão em mais dificuldades.

Ele explicou que o Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, que está recebendo R$ 40 milhões, tem muitas dívidas em dólar e a moeda americana teve uma alta. O Ministério dos Transportes foi o terceiro maior beneficiado pela portaria interministerial publicada no Diário Oficial da União de ontem, tendo recebido R$ 220 milhões. Os ministérios que receberam menos recursos foram o da Indústria e Comércio Exterior, R$ 10 milhões e da Ciência e Tecnologia, R$ 15 milhões.

Com mais essa liberação de recursos, o governo já conseguiu desbloquear R$ 1,5 bilhão do total de R$ 5,3 bilhões que foram congelados pela equipe econômica para compensar o atraso na aprovação da prorrogação da CPMF. Esse é o montante de recursos que já foram aprovados para gastos, ou seja, que poderão sair dos cofres públicos a qualquer momento.

Três bilhões foram autorizados para empenho
Outros R$ 3,03 bilhões já foram autorizados para empenho, ou seja, os ministérios podem fazer seus contratos, o que não significa que esses recursos serão liberados imediatamente para o pagamento desses compromissos.


Artigos

Atualizar-se
José Muinos Pineiro Filho

Para os membros do Judiciário e dos Ministérios Públicos estaduais que não exercem atribuições na ação penal movida em face do juiz Nicolau dos Santos Neto e de outras pessoas, não seria dado comentar especificamente o caso. Decisão judicial, em princípio, não se comenta — recorre-se dela quando se é parte legítima para fazê-lo. Entretanto, o que expuseram, em entrevistas, o próprio juiz Casem Mazloum, após ali prolatar recente sentença, e, em resposta, a procuradora da República Janice Ascari, que também atua no processo, autoriza que façamos algumas considerações de ordem geral. Condenar o réu Nicolau e absolver os demais parece mesmo contradição insuperável, pois o conjunto de ilícitos é um só e logicamente interliga e determina mesmos destinos para os personagens da trama e dos crimes imputados – o juiz, o ex-senador e os empresários.

Adjetivar de apressadas a acusação e a apuração dos fatos parece injusto, na medida que se reconhecem suficientes as provas colhidas para condenar Nicolau. É dispensável a autenticação de documentos que o Ministério Público e outros órgãos oficiais apresentem em processos, porque, por força de lei, isso lhes é assegurado, desde que submetidos ao contraditório, como foram naquela ação penal. Com efeito, consoante o artigo 182 do Código de Processo Penal, o juiz não ficará adstrito a qualquer laudo pericial, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. No mesmo sentido e pelo disposto no artigo 209 daquele texto legal, o juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes e, se lhe parecer conveniente, poderá ouvir as pessoas a que as testemunhas se referirem.

De tudo, retira-se a lição de que, para reprimir e punir criminalidade tão sofisticada, de tão poderosos agentes públicos e argutos empresários, faz-se necessário que promotores, procuradores e magistrados, em todos os níveis da República, tornem-se verdadeiramente profissionais de seu tempo, de uma época, como esta, que exige a ágil aplicação das leis, conforme a realidade muito complexa em que se vive, não sendo mais recomendável que a forma se sobreponha à essência. É equivocado pensar que a garantia constitucional da amplitude de defesa – que deve ser preservada a todo custo – inibe a independência do juiz em julgar de acordo com sua íntima convicção.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Desejo de mudança
Uma revelação altamente sintomática da última pesquisa Ibope diz respeito ao perfil desejado para o próximo presidente na questão conservar ou mudar. E o ímpeto mudancista é avassalador. A soma dos que querem mudar tudo, muito ou pouco resulta num índice de 88%. Os tucanos que se reúnem para discutir os rumos da candidatura Serra deveriam analisar esses números.

Os petistas também, pois Lula, ainda que tenha alargado suas alianças e sua base social, rompeu a barreira dos 30% mas não passou dos 40%. Sinal de que um grande contingente de mudancistas não o escolheu como candidato capaz ou confiável para a tarefa. Mas o PT e Duda Mendonça sempre trabalharam com esse teto, pelo menos até agosto. E nunca apostaram de fato em vitória no primeiro turno, pelo menos nas condições de disputa que regeram o pleito até aqui. Agora é diferente, o candidato do governo desidratou-se sensivelmente nas pesquisas e Lula tem pela frente um competidor da oposição.

Voltemos aos números instigantes do Ibope sobre o desejo de mudança. Concluiu a pesquisa que 44% planejam votar em “alguém que mudasse totalmente o governo”. Este é um índice bem próximo do mais alto já atingido por Lula, que foi de 46% no Datafolha em maio. Temos depois um universo de 30% de eleitores que sonham com “alguém que mantivesse só alguns programas mas mudasse muita coisa”. E há ainda outros 14% para os quais seria desejável “alguém que fizesse poucas mudanças e desse continuidade a muita coisa”.

Os que preferem um presidente que desse total continuidade ao governo atual somam apenas 8%. Por fim, 5% não sabem ou não quiseram responder à pergunta apresentada.

O que os números mostram é um espaço muito estreito para o crescimento de uma candidatura governista continuísta. José Serra não se apresenta como tal, e sim como “candidato do governo e da mudança”, como já disse, em outra versão da “continuidade sem continuísmo”. Conseguindo o voto dos 8% de eleitores continuístas, mais os 14% dos que desejam poucas mudanças, teria 18%. Já esteve além disso, tendo alcançado 26% no Datafolha e 23,3% na pesquisa Toledo & Associados, ambas na primeira semana de junho. Sinal de que beliscou a fatia dos 30% que desejam a preservação de alguns programas mas com muitas mudanças. Sinal de que Ciro Gomes, quando lhe toma pontos, convence esse eleitorado de ser o melhor candidato para essa tarefa. Pois é de Serra e Garotinho que Ciro tira votos. Lula perdeu apenas um ponto percentual (de 34% para 33%). Seus assessores e aliados esperavam por isso e consideram a variação normal, dentro da margem de erro e compatível com a conjuntura.

Mas há outras, certamente muitas outras explicações para o crescimento do candidato da frente PPS-PDT-PTB. O Ibope apresenta algumas. Ciro é, por exemplo, a segunda opção de voto do eleitor dos demais candidatos. No momento sua rejeição é a mais baixa de todos e agora estão com ele parcelas significativas do eleitor que tem curso superior, geralmente um formador de opinião em seu meio.

Mas seu calcanhar de Aquiles agora está exposto e pode ser atingido. Pesquisas qualitativas feitas pelos adversários mostram que ele perde quase todo eleitor que é informado da presença de ex-colloridos em sua campanha ou da aliança entre o PTB, hoje partido hegemônico na frente, e o PRTB, que sustenta a candidatura de Collor a governador em Alagoas. Esta a prova que espera Ciro agora.O PT e a onda Ciro

Diferentemente do PSDB, que vai intensificar o fogo sobre Ciro Gomes, na luta de vida ou morte para resgatar o segundo lugar perdido por José Serra, a decisão do PT por ora é não cair de faca sobre o competidor do PPS. Lula ontem repetiu que não participará da “guerra de picuinhas” e mantém a decisão de falar menos dos outros e mais de suas propostas. Seu alvo é o governo, o que está em julgamento é o governo Fernando Henrique.

No PT também se ouve que Ciro atraiu a direita que andava órfã e está seduzindo os empresários que procuram pelo anti-Lula. Exemplo: a reunião que teve ontem em São Paulo com alguns deles. Mas calculam os petistas que tendo crescido, seu discurso ambivalente, que o apresenta ora como oposicionista, ora como dissidente do governo e originário do Real, não o levará longe, exigindo uma definição. O PT vai esperar que isso aconteça, até porque Ciro sempre foi tido como aliado certo no segundo turno. O xingamento fica para os tucanos.

Mas se a onda persistir, como muita gente crê ou teme, o PT também terá que pôr de lado a cortesia.OS TUCANOS dizem conhecer as restrições legais a uma maior participação do presidente Fernando Henrique na campanha de Serra. Não querem exatamente exposição do presidente, mas seu envolvimento político na campanha. Afinal, FH na prática coordenou suas duas campanhas e no governo foi seu melhor comunicador.

O PT fez pesquisas qualitativas sobre a entrevista de Lula ao “Jornal Nacional” e colheu resultados altamente satisfatórios, falando da redução de preconceitos e defesas contra o candidato.


Editorial

POUCO CRÉDITO

Éperfeitamente compreensível a indignação que sacudiu a opinião pública com a absolvição de todos os acusados pelo desvio de R$ 169,5 milhões da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo. É certo que um deles, o juiz Nicolau dos Santos Neto, está cumprindo pena — mas por tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

A reação a este resultado desapontador provocou natural polêmica: o juiz Casem Mazloum, autor da sentença, argumentou que a apresentação de denúncias foi açodada e que o processo veio repleto de falhas graves; críticas que foram por sua vez rejeitadas com veemência pela procuradora Janice Ascari.

Esteja a razão com quem estiver, é importante reconhecer que é difícil demais lidar com processos às vezes descomunais, resultado de exigências legais extremamente complexas. Talvez na tramitação labiríntica dos inquéritos, e não na suposta má-fé ou incompetência esteja a causa central de desfechos freqüentemente desanimadores de casos escandalosos. A complexidade, como se vê, dificulta até mesmo distinguir com clareza a quem cabe a responsabilidade, ou a maior parte dela, por episódios como o do TRT paulista, quando ninguém é punido pelo desvio de somas milionárias.

É o que de fato ainda não se conseguiu fazer, nesta era de comunicação eletrônica e transações instantâneas: simplificar os procedimentos no Judiciário. Seria a forma justa de evitar novos casos de impunidade chocante — e sobretudo de fazer com que a população volte a acreditar na Justiça, hoje alvo do descrédito que é onde não poderia deixar de desembocar tanta indignação.


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07/18/2002


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