Simon e Saturnino querem debate mais amplo sobre Código do Contribuinte



Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Roberto Saturnino (PSB-RJ) estão dispostos a promover um debate mais amplo, a partir da primeira semana de agosto, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), sobre o projeto de lei de autoria do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) que cria o Código de Defesa do Contribuinte. O projeto institui um tratamento equânime e democrático entre o fisco e o indivíduo pagador de tributos, seja ele pessoa física ou jurídica.

Em que pesem os méritos anunciados pelo projeto, de coibir abusos cometidos pelo aparelho fiscal do governo contra cidadãos indefesos, Simon e Saturnino acham que o assunto é delicado e merece ser discutido e analisado exaustivamente em todas as instâncias do Senado, antes de seguir para a Câmara.

Após passar pelo crivo da CAE, onde está sendo relatado pelo senador Bello Parga (PFL-MA), o projeto será devolvido ao Plenário do Senado. Se for aprovado ali, seguirá para a Câmara dos Deputados, onde poderá também receber emendas. Se isso ocorrer, terá de voltar ao Senado, casa de origem. Se não receber emendas na Câmara, o que é pouco provável, em razão de o tema ser extremamente polêmico, e for aprovado sem modificações naquela Casa, o projeto seguirá à sanção do Presidente da República.

Entretanto, como o Executivo está novamente acenando para a retomada da reforma tributária, alguns parlamentares, como é o caso dos deputados Márcio Fortes (PSDB-RJ) e Antônio Delfim Neto (PPB-SP), acham que algumas idéias da proposta de criação do Código de Defesa do Contribuinte acabarão sendo incorporadas à reforma, por meio de emendas.

Para o senador Pedro Simon, todo o cuidado é pouco com a análise do projeto do senador Bornhausen. "Se não tivermos os cuidados necessários, nós vamos acabar aprovando aqui é um código de defesa do sonegador", alertou Simon.

Ouvido pela Agência Senado sobre o assunto, o ex-secretário da Receita Federal, advogado tributarista Osiris Lopes Filho, assumiu posição contrária à aprovação do projeto de lei, nos termos em que ele está proposto. Segundo Osiris, num país que tem uma sonegação estimada em algo em torno de US$ 80 bilhões anuais, criar um código com o teor do que está sendo proposto vai acabar estimulando ainda mais a sonegação e elisão fiscal. Ele disse, por exemplo, ser intolerável exigir que o setor público aceite que sonegadores participem das licitações públicas.

- O projeto diz que se a cobrança do tributo está sendo contestada judicialmente, o contribuinte tem direito a participar da licitação, mesmo em débito com a Receita. Ora, o sujeito que nunca pagou imposto, simplesmente entra na Justiça contestando o débito, apenas para ter direito de participar da licitação. E mesmo que perca a causa, aí já terá ganho a licitação. Quer dizer, vai exercer uma concorrência desleal, porque poderá oferecer o menor preço na concorrência, exatamente porque não paga impostos. E estaremos, assim, elegendo sonegadores contumazes como fornecedores do governo e aprovando uma concorrência desleal com a empresa correta, que paga em dia seus impostos. Isso é um absurdo. O governo não pode ser obrigado a ter como seu fornecedor um sonegador de impostos - advertiu Osiris.

Embora tenha solicitado vistas ao projeto e não tenha apresentado nenhum voto em separado, o senador Roberto Saturnino acha que o assunto tem de ser, efetivamente, melhor debatido na CAE e no Plenário do Senado.

Para Saturnino, qualquer idéia que favoreça a sonegação fiscal deve ser rechaçada, sob pena de se aumentar ainda mais o peso sobre os que pagam seus impostos e de se estimular ainda mais a sonegação, num momento em que o Estado vive intensamente o problema da escassez de recursos.

O relator do projeto na CAE, senador Bello Parga, acatou três emendas à matéria feitas em Plenário; rejeitou 18 outras, aceitou uma emenda parcialmente, e vai apresentar três emendas de sua autoria, que segundo ele, aperfeiçoam a proposta do Código de Defesa do Contribuinte. Parga disse que sua preocupação básica na análise das emendas foi a de procurar preservar o espírito do projeto, rejeitando toda e qualquer proposta capaz de desfigurá-lo.

10/07/2001

Agência Senado


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