Spreads bancários podem ser reduzidos com nova lei de falências, diz diretor do Banco Central



O projeto de lei de falências deve contribuir para reduzir os spreads (taxa adicional de risco cobrada no mercado financeiro) bancários, segundo avaliação transmitida nesta terça-feira (27) pelo diretor de política econômica do Banco Central, Afonso Sant´Anna Bevilaqua, aos integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), durante audiência pública. Ele explicou que a facilidade de acesso às garantias reais oferecidas nos empréstimos, prevista no texto legal aprovado pela Câmara dos Deputados, deve aumentar o volume de crédito e reduzir o custo do dinheiro.

Mas o senador César Borges (PFL-BA), um dos autores do requerimento para a realização da audiência, disse que só a diminuição da inadimplência não é suficiente para promover queda nos spreads praticados pelos bancos. Citou estudo do BC que aponta que a inadimplência corresponde apenas a 19% na composição dessa taxa bancária (que é a diferença entre o custo de captação e o de aplicação dos recursos).

Borges disse que o que mais pesa no spread é a margem de lucro das instituições bancárias. Lembrou que no passado recente a inadimplência diminuiu e os spreads não baixaram. Mostrou a sua preocupação em aprovar uma lei que não promova a redução dessa taxa cobrada pelos bancos. E propôs que o BC fixe metas de redução dos spreads bancários, no que foi apoiado pelo senador Rodolpho Tourinho (PFL-BA), favorável a algum tipo de controle dessas taxas.

A proposta de fixação de metas para reduzir os spreads foi rechaçada pelo diretor do BC, que não vê como isso possa ser feito. Bevilaqua ressaltou que essa queda é uma decorrência da combinação de vários fatores, como a estabilidade macroeconômica e a melhoria da qualidade das garantias oferecidas nas operações de crédito. Citou como exemplo o empréstimo consignado em folha de salário que está sendo operacionalizado com as taxas de juros mais baixas do mercado.

Tourinho defendeu o aumento da competição no sistema financeiro para reduzir esse diferencial entre captação e aplicação do dinheiro. Bevilaqua afirmou que a redução dos spreads bancários é prioridade do presidente do BC, Henrique Meirelles. Disse ainda que o BC tem tomado algumas providências para aumentar a capilaridade do sistema financeiro, como o microcrédito.

Em resposta ao relator da matéria, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), o diretor do BC concordou que é preciso aprimorar os mecanismos de diferenciação do risco nas operações de crédito, porque muitos tomadores acabam pagando pela média mesmo quando oferecem garantias melhores.



27/01/2004

Agência Senado


Artigos Relacionados


Meirelles anuncia nova metodologia para cálculo de spreads bancários

Plenário mantém preferência de créditos bancários sobre tributários na nova lei de falências

Começa reunião para debater juros e spreads bancários

Banco Central prevê redução da taxa média de juros de empréstimos bancários

Aumento da inadimplência em outubro foi influenciado pela greve dos bancários, diz Banco Central

Comissão deve apresentar em 45 dias estudo sobre spreads bancários, diz Dornelles