Suzana Kahn: País terá papel ainda mais ativo em encontros sobre aquecimento global
O Brasil deverá ter um papel ainda mais ativo nas discussões internacionais sobre aquecimento global. É o que afirma Suzana Kahn, presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança Climática (PBMC), que funciona nos moldes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Criado em 2009, por iniciativa de diversas instituições civis e públicas, como os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, o painel reúne cerca de 100 pesquisadores de diversas áreas. Sua atuação é fundamental para aprofundar o conhecimento científico nacional sobre o tema, dando chances ao País de colaborar para o debate de alto nível nos foros globais. Em 2012, o painel lançará seu primeiro relatório de avaliação, bem a tempo de gerar informações para a conferência Rio+20, que será realizada no mesmo ano, além de subsidiar os trabalhos da Quinta Avaliação do IPCC. Nesta entrevista, Suzana Kahn, explica qual será a contribuição do painel para a ciência do clima.
Portal Brasil – Qual é o nível de conhecimento sobre mudanças do clima que os cientistas brasileiros conseguiram acumular nos últimos anos?
Suzana Kahn – Há muita informação, estudos e pesquisas no Brasil sobre o tema, mas de forma pouco sistematizada. O PBMC foi criado para organizar e expandir a produção científica brasileira em mudanças climáticas. Atualmente, toda essa informação está dispersa em diferentes instituições acadêmicas e de pesquisa. É a primeira experiência desenvolvida no País com a finalidade de reunir o conhecimento existente em uma área específica a partir de uma única plataforma de conhecimento.
PB – E como está estruturado o Painel Brasileiro de Mudança Climática de modo a cumprir essa missão?
SK – A estrutura e funcionamento do painel têm como base o regramento aplicável ao Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). O Painel é composto por Plenária, Conselho Diretor, Comitê Científico, Secretaria Executiva, Grupos de Trabalho e Unidade de Apoio Técnico. Os quatro Grupos de Trabalho reunirão um total de cem pesquisadores vinculados a instituições de pesquisa nacionais, especialistas em mudança do clima. Os trabalhos dos GTs irão compilar todas as informações científicas disponíveis no Brasil. O Grupo de Trabalho I avalia os aspectos científicos do sistema climático e suas mudanças; o Grupo de Trabalho II analisa as vulnerabilidades dos sistemas natural e socioeconômico, as consequências positivas e negativas das mudanças climáticas e as opções de adaptação a elas. O Grupo de Trabalho III se detém sobre as opções para mitigação das mudanças climáticas. Há ainda uma Força-Tarefa em Metodologias de Inventários de emissões de gases de efeito estufa.
PB – Como serão encaminhados os resultados do trabalho do PMBC?
SK – Em 2012, o Painel lançará seu primeiro relatório nacional de avaliação, bem a tempo de influenciar a Rio+20 e também os trabalhos da Quinta Avaliação do IPCC, a ser concluída em 2013 e 2014. As informações serão divulgadas por meio da elaboração e publicação periódica de Relatórios de Avaliação Nacional, Relatórios Técnicos, Sumários para Tomadores de Decisão sobre Mudanças Climáticas e Relatórios Especiais sobre temas específicos.
PB – Em que setores podem ser percebidos os principais avanços científicos na ciência do clima?
SK – O Brasil tem acompanhado de perto os avanços da ciência do clima global. Faltam, porém, estudos de caráter regional. O Painel não pretende realizar pesquisas, mas servirá como elemento catalisador das pesquisas nesta área no Brasil, buscando com que elas se complementem, subsidiando a elaboração de planos de mudança climática tanto no nível nacional como subnacional e setorial. Ainda falta no Brasil uma ligação entre as pesquisas e suas aplicações práticas. Desta forma, o Painel poderá servir como base para a definição de critérios de uso dos recursos públicos nas estratégias de mitigação e adaptação. O relatório que estamos preparando também abordará os possíveis instrumentos econômicos que podem ser utilizados na busca de redução de custos de mitigação, por exemplo.
PB – De que maneira o conhecimento produzido no Brasil sobre esse tema pode ajudar o IPCC em seu próximo relatório internacional?
SK – O Painel terá uma relevante interface com o IPCC, pois sua estrutura e processo de funcionamento são similares. A diferença é que o Painel tenha um olhar mais focado às características e necessidades brasileiras. O resultado desse trabalho conjunto deverá ser usado como informações do Brasil para o Quinto Relatório do IPCC. Outro aspecto positivo do PBMC é a inclusão de novos cientistas que ainda não estão engajados na comunidade internacional. O trabalho desses novos cientistas no Painel certamente os credenciará para participar mais ativamente do debate global sobre o tema.
PB – Como esses estudos podem impactar a atuação brasileira nas discussões internacionais?
SK – Acredito que com a criação do Painel, o Brasil possa ter uma participação mais significativa no conteúdo dos relatórios do IPCC, maior envolvimento dos pesquisadores brasileiros na busca de soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas e um melhor aproveitamento dos recursos destinados à mitigação e adaptação do clima no País. Isso ajuda a colocar o Brasil no caminho desenvolvimento sustentável.
PB – Os cientistas têm conseguido manter um diálogo proveitoso com o governo brasileiro de modo a influir nas políticas públicas internas?
SK – Ainda timidamente, uma vez que a variável climática entrou recentemente na agenda governamental. No entanto, em alguns setores, as políticas estão sendo muito adequadas, como no caso da redução do desmatamento da Amazônia. Porém, os Relatórios do Painel irão fornecer elementos preciosos para a implementação de políticas no Brasil, como o Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Os relatórios técnicos subsidiarão o País no desenvolvimento de metodologias nacionalmente apropriadas de monitoramento de emissões e no desenvolvimento de um sistema próprio de monitoramento, auxiliando na verificação da redução de emissões e do alcance das metas do Plano e da Política Nacional sobre Mudanças Climáticas. O PBMC apoiará o governo brasileiro com a disponibilização de uma análise integrada das informações sobre mudança do clima, que representará uma sinalização de áreas e temas prioritários para o Brasil, como a identificação das Ações de Mitigação Nacionalmente Adequadas (NAMAS, sigla em inglês) a partir do conhecimento sobre as melhores práticas de redução de emissões setoriais para o Brasil e novas tecnologias para redução de emissões de gases do efeito estufa.
Fonte:
Portal Brasil Internacional
02/12/2010 21:10
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