Técnico da Seleção quer elevar nível do remo nacional



Elevar o nível do remo nacional é o desafio que o catarinense Julio Soares, de 42 anos, decidiu enfrentar ao assumir o cargo de técnico principal da Seleção Brasileira, no fim do ano passado. “Temos as ferramentas para construir melhores posições, basta acreditar para que isso aconteça. Precisamos fazer a massa do bolo, e não apenas colocar a cereja”, diz, com a experiência de quem treinou as duas únicas finalistas de Mundiais em 2013: Fabiana Beltrame, de 31 anos, e Beatriz Cardoso, de 19.

Julio defende uma nova concepção da maneira de treinar, da mentalidade à maneira de se portar, e do papel de cada um no remo, do atleta ao técnico e dirigentes. Mestre em Educação Física pela Unicamp (SP), o técnico fez estágio na Alemanha e estava em Bled, na Eslovênia, quando Fabiana Beltrame foi campeã mundial em 2011. No final do mesmo ano, começou a treinar Beatriz Cardoso, quinto lugar no Mundial Júnior em 2013, na Lituânia, o melhor resultado do remo nacional na competição desde 1979, e que garantiu o País na prova do Single Skiff Feminino (1x) nos Jogos Olímpicos da Juventude em Nanjing, na China, em agosto.

“O remo brasileiro está tanto tempo sem identidade que precisamos criar um modelo no País, como fizeram o vôlei e o handebol”, afirma, lamentando “as restrições do passado em relação à situação financeira, para possibilitar o agrupamento de todos os remadores da Seleção em um mesmo local de treinamento”. Segundo Julio, “o atleta de Seleção tem de se sentir da Seleção, e fica difícil criar isso com eles treinando apenas nos próprios clubes, que serão os maiores beneficiados com essa mudança de postura, pois o atleta vai voltar com essa nova visão e transmitir essa maneira de agir e de pensar ”, conta.

Maior nome do remo nacional, Fabiana Beltrame treinou com Julio dos 15 aos 24 anos, quando participou da sua primeira Olimpíada, em Atenas 2004, seguindo juntos, em 2005, de Santa Catarina para o Vasco, no Rio de Janeiro. A experiência baseou a dissertação de mestrado de Julio.

Entre as medidas adotadas pela Comissão Técnica da CBR, que inclui o ex-treinador do Flamengo Marcos Amorim, está a estruturação da Seleção em três categorias: Olímpica, Sub-23 e Júnior. Os barcos-alvo do grupo olímpico até 2015 serão o Double Skiff (2x) e o Dois Sem (2-) no masculino e no feminino aberto, Double Skiff e Quatro Sem (4-) no masculino Peso-Leve, e Double Skiff no Peso-Leve feminino. O Sub-23 terá foco nos mesmos barcos da categoria Olímpica, com alguns barcos “satélites” que possam ser desdobrados ou associados para compor novas guarnições.

“Pensando nas Olimpíadas de 2016, o que nós temos oficialmente hoje é metade de um Double Skiff Peso-Leve Feminino, com a Fabiana Beltrame. Foi isso que nós herdamos, os demais estão sendo garimpados”, diz Julio. Para ganhar tempo, a Comissão convocou 12 atletas em novembro, com base nos resultados da Seletiva Nacional de 2013. “Começamos considerando atletas que tivessem medalhado em Mundiais (nenhum), seguimos para finalistas em Mundiais (duas) e fomos baixando a exigência, chegando aos resultados da Seletiva. Formar esse primeiro grupo pela seletiva nacional demonstra que o remo do Brasil, infelizmente, não tem índices internacionais, e precisamos mudar isso.”

Com 25 atletas já convocados, sete deles abaixo de 23 anos, a Comissão deve divulgar até o fim de março a relação dos que irão disputar a regata de qualificação para os Jogos Olímpicos da Juventude (até 18 anos) de 14 a 18 de abril, e o Sul-Americano Sub-23, de 19 a 20 do mesmo mês, ambos em Montevidéu, no Uruguai.

“Precisamos resgatar primeiramente os barcos juniores. Estudamos formas de usar o Campeonato Brasileiro deste ano como recurso de observação técnica para possíveis selecionados, para darmos início à formação de um grande grupo pensando no Mundial Júnior de 2015, que será no Rio de Janeiro”, explica. A participação brasileira na principal competição internacional para remadores com até 18 anos diminuiu de cinco barcos, em 2011, para apenas um no ano passado.

“Está muito em cima, mas pensamos em fazer um camping para fortalecer os barco-alvo e formar outros. Em 2015, participaremos de duas regastas internacionais, em Munique e Hamburgo, na Alemanha, para definir os barcos A e B da categoria”, diz Julio. Ele considera possível formar guarnições em todas as classes (de 1x a 8+), “mas como o nível é muito heterogêneo, é difícil saber quais terão nível internacional até o Mundial”.

O desnível ocorre também na equipe principal, com remadores mais jovens tendo superado veteranos na Seletiva Nacional. “Os atletas do meio para o fim da carreira precisam conviver com os mais novos para transmitir conhecimento e vivência. Essa cultura o nosso remo perdeu. O atleta melhora pela permanência na Seleção, adquirindo experiência que os outros não têm. Ele amadurece, se diferencia dos demais e perdura o tempo que quiser, salvo o estouro de algum novo talento, que entra no grupo e é aperfeiçoado”, analisa o técnico.

Mesmo com pouco tempo de trabalho, ele já vê sinais de mudança. “A Seleção está criando uma identidade, as mesmas situações já têm respostas diferentes, positivamente falando, desde coisas simples, ligadas a comportamento.” O primeiro desafio serão os Jogos Sul-Americanos, dias 8 e 9 de março, no Chile, onde o Brasil terá 13 atletas em seis barcos. “Trabalhamos da forma possível”, diz Júlio, de olho num futuro cada vez menos distante.

Fonte:
Ministério do Esporte



26/02/2014 17:26


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