Tensão pré-eleitoral







Tensão pré-eleitoral
Pefelistas, peemedebistas e tucanos sofrem em silêncio, mas travando uma dura briga por espaços, enquando Jarbas mantém suspense sobre 2002

A aliança política que sustenta o Governo de Jarbas Vasconcelos (PMDB) vive a síndrome da Tensão Pré-Eleitoral (TPE). A patologia pode ainda não estar incluída entre os verbetes da literatura política e nem estar sendo percebida pelo leitor/eleitor mais desatento. Mas pefelistas, peemedebistas e tucanos sentem muito bem os efeitos da cólera e agonizam, em silêncio, para não antecipar o último suspiro da união de forças que os sustentam, e a única ainda capaz de mantê-los no Poder.
Se o leitor/eleitor não entendeu nada, basta conferir os sinônimos que Aurélio Buarque de Holanda atribui à palavra tensão. E observar se eles não definem exatamente os sintomas da TPE que castiga a aliança PMDB/PFL/PSDB.

1- Tensão é o estado em que se é levado além de um limite normal de emoção; 2– tensão é o estado de grande aplicação ou concentração física e/ou mental; 3– tensão é a sensação de apreensão, de incerteza.
É ou não um diagnóstico preciso do momento vivido pela aliança governista? Se não, vejamos.
Nos últimos dias, pefelistas, peemedebistas e tucanos não fizeram outra coisa se não se remoerem, uns contra os outros, na base do cada um por si. Ainda que todos permaneçam em favor do governador Jarbas Vasconcelos, o único ‘tranqüilizante’ ao estado de tensão.
Houve pefelistas e peemedebistas que rifaram o vice-governador Mendonça Filho (PFL) da vice, na chapa da reeleição, lançaram o tucano Sérgio Guerra (PSDB) ao cargo, e provocaram a impaciência peculiar do ‘pai’ da aliança (e do vice), o deputado federal José Mendonça (PFL).
Não pararam por aí e ainda incluíram o PPS na composição para ocupar uma das vagas ao Senado, sob o argumento de que a legenda traria os votos da esquerda, na pessoa do presidente nacional da legenda, o senador Roberto Freire.

Os tucanos responderam, na voz do seu maior cacique, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Sérgio Guerra, que jogou o PFL na condição de partido que “não caracteriza uma política de mudanças para o Brasil”. É o PSDB se movimentando para fazer parte da aliança, não mais como um aliado de “última hora”, como tantas vezes o discriminaram.
O ingresso do ex-prefeito Roberto Magalhães ao PSDB ainda se mantém no topo das razões que serão sempre motivos para tucanos e pefelistas não se bicarem. Mas a inquietação pessoal do ex-prefeito – diante da desatenção que tem recebido do Palácio (leia-se Jarbas) e que aumentou com a iniciativa do Governo de alterar a permanência na ativa da alta cúpula da Polícia Militar – tem jogado Magalhães no conjunto de ameaças à tranqüilidade da aliança. Aliados do ex-prefeito asseguram que ele só terá olhos para a sua candidatura de deputado federal.

ALERTA NA BASE – A tensão que atormenta a cúpula governista também está fazendo a aliança se remoer nas entranhas. Não precisa andar muito pelos corredores da Assembléia Legislativa para ouvir o desabafo de deputados governistas que reclamam atenção às suas bases (prefeitos). Segundo relatam, o estrago só ainda não está maior na instância dos prefeitos porque nenhum deles, nem o mais rudimentar politicamente, percebe outra alternativa real de Poder que não seja o governador Jarbas Vasconcelos.
“O Governo elegeu as obras estruturadoras como prioridade e esqueceu das pequenas obras que as bases conseguem alcançar”, critica um governista.

“Essa tensão entre os prefeitos é muito maior. E vai aumentar ainda mais, se os secretários candidatos não aliviarem na política desequilibrada que vêm adotando no interior”, chia outro parlamentar.
Os desentendimentos – naturais se se considerar que são aliados que sempre estiveram em campos opostos – não serão capazes de ruir o palanque governista da eleição de 2002.
Mas de duas coisas o governador Jarbas Vasconcelos fique certo: primeiro, a aliança que o elegeu não é a mesma que fará a sua reeleição; e segundo, ganhar a sucessão de 1998 com a aliança é uma coisa, governar com ela até o fim do mandato, com uma sucessão no meio, é outra bem diferente.
Os problemas foram contidos, não superados. E, se a disputa de 2002 ainda será na base do “só vamos unidos se você (Jarbas) for”, para 2004, 2006 ..., só o tempo dirá.


A origem da TPE está na dúvida em relação ao destino político de Jarbas
Invasão às bases, desatenção aos caciques, movimentação individual de cada partido na busca por espaço. Tudo ainda está muito aquém da razão maior que tenciona a aliança PMDB/PFL/PSDB. A origem da Tensão Pré-Eleitoral tem endereço certo na incerteza em torno do destino político do governador Jarbas Vasconcelos.
Pergunte a dez governistas, seja de qualquer um dos partidos, quem arrisca assegurar que o governador irá mesmo para a disputa à reeleição e a resposta será a mesma entre todos os dez: “não teria segurança para afirmar isso”. No momento em que é admitida a possibilidade de Jarbas Vasconcelos sair da disputa, todos os partidos se acham credenciados a titular a chapa União Por Pernambuco. “A sucessão zera e todo mundo vira chinês”, compara um governista.

Diante da dúvida da reeleição, nem os estrategistas do Governo arriscam esperar pelo tempo. Fontes palacianas garantem que composições alternativas estão sendo testadas ao gosto do eleitor, em pesquisas de intenção de voto que orientarão os rumos da aliança governista. A dobradinha Raul Henry (PMDB)/Mendonça Filho (PFL) é um dos caminhos testados para uma possível disputa sem Jarbas na cabeça de chapa.
O alvoroço dos tucanos também é motivado pelo tormento da dúvida da reeleição. O PSDB não aceita mais ser renegado ao terceiro plano. O partido argumenta que o PFL não tem mais o tamanho de antes para querer usufruir do mesmo poder de decisão. E o PMDB, para os tucanos, não é nada sem Jarbas. Por isso, o PSDB ‘canta de galo’ com a estrutura eleitoral que acumulou nesses três anos de Governo e até joga com a capacidade, que acredita ter, de nomes para uma chapa própria – Roberto Magalhães seria o titular. Tudo isso para ir se mexendo até o final da partida.


Como em 98, ritmo palaciano reforça as incertezas
Não dá para comparar as condições de governabilidade dos dois, nem tampouco as alternativas políticas que ambos dispõem. Mas o fato é que a mesma incerteza, se deve ou não disputar a reeleição, vivida pelo governador Jarbas Vasconcelos, varou as madrugadas de insônia do ex-governador Miguel Arraes (PSB) em 1998.
A 18 dias do encontro que homologaria as chapas majoritária e proporcional da Frente Popular, o ex-governador Miguel Arraes ainda mantinha o suspense se seria ou não candidato à reeleição. O clima era de total contrariedade à mais uma tentativa de governar Pernambuco. Arraes amargava índices altíssimos de rejeição e reprovação do seu Governo. Mas o ex-governador não tinha outra opção de mandato para pleitear no voto das urnas de 98.

O suspense da reeleição provocou na Frente Popular de Arraes a mesma Tensão Pré-Eleitoral que hoje angustia a aliança, União Por Pernambuco, de Jarbas. Petistas e pedetistas defendiam o ex-governador como a única alternativa viável ao sucesso da Frente.
Somente depois de sucessivas reuniões que vararam toda a madrugada do dia 17 de junho de 1998 – três meses antes da eleição – com intervalo apenas para o jogo Brasil x Marrocos pela Copa do Mundo, é que o ex-governador Miguel Arraes se rendeu à reeleição. Na cúpula que argumentou a necessidade do novo mandato, estava nada menos do que o atual secretário jarbista Sérgio Guerra.

O martelo em favor da reeleição de Arraes foi batid o em meio a um tiroteio de números nada animadores: Jarbas Vasconcelos despontava com 56% das intenções de voto, enquanto Arraes alcançava 24% e índices de rejeição superiores a 50%, segundo consulta Datafolha realizada na ocasião.
Aliados do ex-governador alimentavam a esperança de reverter os números e se submeteram às condições impostas por Arraes para disputar a reeleição: carta-branca para compor a chapa. Será que por aí a história se repetirá?


Governo motiva greve na PM, diz Zaverucha
O Governo Jarbas está sendo muito mal assessorado na área de segurança e, no caso específico do projeto que altera os critérios de promoções da PM, está abrindo o caminho para a terceira greve na corporação. Quem analisa é o cientista político Jorge Zaverucha, do mestrado de Ciência Política da UFPE e estudioso da questão militar. Em entrevista ontem a Andréa Tavares, Ciro Carlos Rocha e Paulo Sérgio Scarpa, Zaverucha afirmou que o projeto traz danos à PM e à democracia. Questionou também a atitude dos oito coronéis que – só depois do projeto – apresentaram denúncias contra o comandante Iran Pereira. “Por que não antes?”, indagou, certo de que, neste jogo, ninguém está pensando no bem da corporação.

O “Projeto da PM”
“O governador diz que esta medida é para oxigenar a PM, mas você não oxigena desse modo. Como qualquer outro governador, Jarbas está querendo fazer o seu grupo (na PM) e, enquanto houver essa visão, quem sairá perdendo é a Polícia Militar e a democracia. Essa medida tira o critério meritocrático para a promoção das pessoas e leva o oficial a atuar de acordo, não com o que é melhor para o Estado, mas com o que é melhor para a carreira dele e para os partidos que estiverem no poder. Os políticos é que estão dilapidando a PM, porque cada um deles está querendo formar sua guarda pretoriana. Na Polícia Civil é a mesma coisa. São muitos os delegados que obedecem a orientações políticas.”

As conseqüências
“Os danos das medidas adotadas pelo Governo são irreparáveis. Estamos abrindo uma brecha para a terceira greve da PM em Pernambuco. Afinal, querer que os coronéis permaneçam em seus cargos por apenas quatro anos é um fato que não existe em nenhuma Polícia Militar do País, salvo engano. Ou seja, o coronel chega ao ápice da carreira e quando pode devolver à sociedade tudo que foi investido (nele), é limitado. Que critérios estão sendo usados? Somos um Estado, um País, pobre. Isso é ruim para a corporação e para o bolso do contribuinte. Certamente, essa decisão não foi tomada pensando-se na corporação.”

A exoneração dos coronéis
“Na minha interpretação legal, você não pode afastar coronel das suas funções porque a lei militar é diferente da lei civil. Se temos 14 coronéis, significa que o corporação terá que ter 14 funções para eles. O cargo é inerente à carreira. O afastamento dos oito (que denunciaram Iran Pereira) vai gerar uma disputa legal, porque esses coronéis vão ingressar na Justiça e, provavelmente, devem ganhar. Isso vai custar caro ao contribuinte, porque agora eles vão ficar atrás das suas mesas de braços cruzados e ganhando R$ 5 mil. Outro detalhe: os tenentes-coronéis que vão assumir suas vagas vão ser tidos como aqueles que, de fato, serão promovidos futuramente. Isso vai gerar um problema com os candidatos ao coronelato – cerca de 50. A insatisfação seguirá em efeito dominó”.

A quebra da hierarquia
“A hierarquia dentro da PM já deixou de existir com a realização das greves. Pernambuco foi o único Estado que registrou duas greves, mostrando que o tecido da corporação está desgastado. Temos uma situação de extrema fragilidade. O fato de Jarbas querer aprovar seu projeto, atingindo inclusive alguns desses coronéis, é jogar mais lenha na fogueira.”

Coronéis X comandante
“O que os coronéis estão fazendo não é um motim, porque eles não estão se rebelando meramente contra a figura do comandante da PM. Eles estão dizendo que o comandante (Iran Pereira) está cometendo um ilícito e que não querem ser acusados de omissão. Mas isso não impede que perguntemos: por que essas denúncias não foram apresentadas antes?”

Jarbas e a segurança
“O governador fez uma aposta e perdeu. Ele pegou toda a liderança grevista de 97 e a colocou em posição chave, achando que com isso estaria evitando uma nova greve. No momento em que estourou a segunda greve, todo o castelo ruiu. Todas aquelas pessoas que, de maneira correta ou errada, violaram a legalidade foram as beneficiadas. Criou-se um imbróglio para o Governo.

Os erros do Governo
“O Governo deve estar sendo extremamente mal assessorado, ele comete sucessivos erros. Por exemplo: Iran Pereira era Chefe do Estado Maior, subordinado a Roberto Carvalho, que foi líder grevista. O Iran não foi líder grevista e poderia ter sido uma aposta de Jarbas se, naquele momento, Iran tivesse sido chamado para comandar a PM. No entanto, Jarbas colocou Carvalho. Depois, enquanto Carvalho estava viajando, o Governo nomeou Iran para secretário. Isso, no meio militar, repercutiu pessimamente. Jarbas colocou um subordinado acima daquele que era o chefe. Em seguida, assistimos à postura equivocada de Iran, já à frente da SDS. Durante a greve, Iran vestiu roupa de campanha (traje típico de guerra). Ele estava num cargo político e passou para a tropa esta mensagem: ‘eu não sou um integrante da tropa representando o Governo, mas sim um representante do Governo integrando a tropa’. Vestiu-se para guerrear contra a tropa e acabou sendo visto como inimigo. Depois, Jarbas coloca Iran, completamente desgastado, à frente dessa mesma tropa. Não poderia dar certo.”


Magalhães dá 10 ao estadista FHC e 3 à política de Everardo Maciel
Um ano após ser derrotado por João Paulo (PT) como candidato à reeleição à Prefeitura do Recife, o ex-governador Roberto Magalhães diz nesta entrevista a Inaldo Sampaio que dá “nota 10” ao presidente Fernando Henrique Cardoso por seu desempenho como “chefe de Estado no exterior”, mas em compensação, atribui apenas “nota 3” à política fiscal que está sob o comando do pernambucano Everardo Maciel. “Taxar um assalariado, na fonte, em 27,5% de Imposto de Renda, representa para mim um verdadeiro confisco”, disse o ex-prefeito do Recife, que deixou o PFL dois meses atrás e se filiou ao PSDB para ser candidato à Câmara Federal. Ele deu “nota 7” à política social do presidente da República, embora ache que o Governo Federal tem sido muito ingênuo na execução desses programas, porque quem tira proveito político deles são os governadores e os prefeitos, e afirma que um país com 40 milhões de pessoas vivendo em condições sub-humanas não pode em hipótese nenhuma abdicar de uma política desenvolvimentista. Sobre a eleição presidencial, a posição do ex-prefeito é exatamente a mesma do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB): defende a manutenção da aliança governista, não importando quem seja o candidato nem o partido político a que ele pertença. Neste sentido, admite apoiar, inclusive, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), desde que ela comprove aos outros partidos a sua viabilidade eleitoral. Eis a entrevista:

JORNAL DO COMMERCIO - Quando o senhor perdeu a eleição para o Senado, em 1986, foi convidado por três candidatos a presidente para ser o vice. Como é que o senhor se sente hoje após o insucesso do ano 2000? A aliança que governa Pernambuco lhe trata bem?
ROBERTO MAGALHÃES - Eu acho que este assunto não está em pauta porque eu não tenho nenhuma postulação perante a aliança da qual faço parte. Hoje, a minha preocupação é outra: se estou bem ou não com o eleitorado, porque estou a caminho de dar a volta por cima, reconquistando um mandato popular. Aliás, eu estou tão acostumado a disputar eleições que quando me falta um mandato eletivo é co mo se me faltasse uma parte do corpo. Em todo caso, não se pode fazer uma comparação entre a minha situação de 86 e a minha situação do ano 2000 porque as circunstâncias são diferentes. Naquela época, eu era um político com muitos planos, com muito chão pela frente para caminhar. Hoje, estou mais preocupado em contribuir com a minha experiência de vida para tentar melhorar as coisas em nosso País. Não estou pensando em vôos mais altos e sim num mandato de deputado federal a fim de preparar uma pessoa ou um grupo político para, no futuro, representar o meu trabalho, as minhas idéias.

JC - O senhor chegou a pensar no nome do seu filho Carlos André Magalhães para ser o seu herdeiro na política. Anunciou-se inclusive a candidatura dele a deputado estadual e depois ele desistiu. O que houve?
MAGALHÃES - Foi o óbvio. Ele, que é muito inteligente, verificou que pai e filho candidatos - a não ser que tenham colégios eleitorais pré-estabelecidos - não se ajudam mutuamente e terminam excluindo um ao outro.

JC - Por que?
MAGALHÃES - Porque um candidato a deputado federal que tem um filho candidato a estadual acaba estreitando as alianças. Os outros estaduais não querem acordo porque sabem que o preferencial do federal não serão eles, e sim o filho. Da mesma forma, se o pai for estadual e o filho federal, os federais também fogem dos acordos. Então o meu filho, por vontade própria, resolveu adiar o seu projeto. Eu concordei plenamente com ele porque me convenci de que, adiando o seu projeto, ele poderá ser muito mais ambicioso.

JC - O senhor já se sente totalmente familiarizado com seu novo partido, o PSDB?
MAGALHÃES - Eu estou muito à vontade no PSDB porque no meu ex-partido, o PFL, eu tinha um problema crucial: espaço. Eu não via como refazer minhas bases interioranas porque todas elas já estão ocupadas por representantes pefelistas. No PSDB dá-se o contrário: há uma grande aceitação do meu nome, por parte das bases, como candidato à Câmara Federal, e eu não serei jamais acusado de estar invadindo os redutos alheios. Os votos que terei serão os votos do meu partido.

JC - O senhor não sente saudade do PFL?
MAGALHÃES - Eu saí do PFL sem mágoas, sem ressentimentos e sem rompimentos e continuo conversando com as mesmas pessoas que deixaram de ser correligionários. Hoje são apenas aliados. Eu não os trato de maneira diversa, embora saiba que alguns pefelistas não aceitaram ainda a minha opção. Tenho certeza todavia de que a maioria do partido compreendeu o meu gesto. Sabia que se eu permanecesse no PFL teria duas dificuldades para continuar na vida pública: somente contar com os votos metropolitanos e não poder crescer no interior, além da impossibilidade de fazer campanha ao lado do meu filho, então candidato a deputado estadual. Afora isto, já se anuncia uma ampla reforma através da qual qualquer filiado a partido político que solicitar desligamento dele passará quatro anos inelegível. Como eu me considero um social-democrata, fiz logo opção pelo PSDB.

JC - Como o senhor imagina o palanque de 2002 levando-se em conta que o PSDB não foi aliancista em 98?
MAGALHÃES - Nada em política é fácil. Mas é evidente que a aliança cresceu e está apoiando unanimemente o Governo Jarbas Vasconcelos. Essa aliança enfrenta um problema, que é melhor ter do que não ter: excesso de apoios. O problema se complica quando faltam apoios, mas quando esses apoios estão sobrando, fica muito mais fácil de se administrar.

JC - O que o PSDB reivindicará na chapa majoritária de 2002?
MAGALHÃES - Eu não posso falar pelo PSDB. Isso terá que ser o resultado da manifestação coletiva do partido e não de vontade de um líder isolado, por mais expressivo que ele seja. Que eu saiba, o partido ainda não se reuniu para decidir o seu futuro em um eventual segundo Governo Jarbas. Agora, o que eu já ouvi falar dentro do partido e estou plenamente de acordo é que o PSDB não tem postulações de maior vulto a serem feitas ao atual Governo.

JC - Nem a candidatura de Sérgio Guerra ao Senado?
MAGALHÃES - A candidatura de Sérgio a senador não é consensual apenas no PSDB e sim no conjunto da aliança. Não me consta que dentro da aliança haja alguém trabalhando para que o PSDB não tenha um representante na chapa majoritária de 2002.

JC - Para a outra vaga de senador já é consensual na aliança a candidatura de Marco Maciel?
MAGALHÃES - Se Marco Maciel quer ser candidato, eu não vejo por que alguém ser contra, tanto no PFL como fora dele.

JC - Saltemos agora para a questão nacional. Serra ou Tasso?
MAGALHÃES - Eu acho que o candidato do PSDB a presidente da República deve ser escolhido com uma visão ampla, e não intrapartidária, ou seja, deve-se trabalhar com a hipótese de um nome que não seja apenas do partido, mas que seja capaz de receber o apoio dos outros partidos da aliança - PFL e PMDB.

JC - Qual o “time” ideal, em sua opinião, para a escolha desse candidato?
MAGALHÃES - Acho que o “time” deve ser igual ou aproximado ao “time” fixado pelo PMDB. O PMDB não vai fazer uma prévia no mês de janeiro para a definição do seu candidato? Acho que janeiro é o prazo ideal para que o PSDB escolha um candidato que seja realmente competitivo a fim de que ele possa sentar à mesa com os outros partidos da aliança. Acho que não é uma regra política inteligente partir-se da premissa de que determinado partido político deva dar necessariamente o candidato. Não, o candidato à presidência pode pertencer a qualquer partido da aliança. Tem de ser o candidato natural, o mais forte e o mais competitivo.

JC - Entre os três partidos da aliança, quem tem hoje a melhor performance é a governadora Roseana Sarney (PFL). O senhor acredita que os outros partidos da aliança poderão apoiar o nome dela?
MAGALHÃES - Esta pergunta não deve ser feita a mim e sim aos presidentes dos três partidos. Agora, a minha opinião pessoal é que ela pode ser candidata, sim, por que não? Desde que ela se revele até fevereiro uma candidata efetivamente competitiva. Você acha que faz sentido alguém com 6% na pesquisa estar candidato à Presidência e uma pessoa com 20% estar candidata a vice? Em princípio, isto fere a lógica política e eleitoral.

JC - Mas os líderes do PSDB, como o governador Geraldo Alckmin (SP), dizem que o partido não abre mão de ter candidato próprio à presidência. O que o senhor acha disso?
MAGALHÃES - Bom, aí nós temos que mudar o enfoque. Eu estou respondendo às suas perguntas partindo do pressuposto de uma aliança. Você agora coloca outro cenário. Aí eu tenho que pensar diferentemente. Se é para admitir que não vai haver uma aliança, que cada um vai ter seu candidato, que o PMDB vai lançar o seu e o PFL o dele, o PSDB, obviamente, terá também que buscar o seu. Aí seria, na minha opinião, um cenário que eu não consigo assimilar porque entendo que os três partidos - PFL, PMDB, PSDB - têm quadros, lideranças, experiência e muita capacidade política e sabem que esta dispersão só favoreceria o candidato do PT, que é o adversário principal.

JC - Não lhe parece que dos três partidos da aliança o único verdadeiramente interessado num entendimento é o PFL, que lançou o nome de Roseana Sarney, mas admite retirá-la do páreo para negociar?
MAGALHÃES - Isso é verdade. O PFL é o único partido que tem colocado prioritariamente a questão da aliança. Mas é preciso lembrar também que o governador Jarbas Vasconcelos deu uma entrevista aos jornais aplaudindo a postura do PFL. Embora eu não tenha o peso do governador e de outros políticos da aliança, comungo inteiramente com esta colocação. Para mim ela é correta. Acho que só devemos descartar a aliança a partir do momento que ela se tornar inviável. Quando se disputa o poder nacional, não se pode agir nem com amadorismo nem com personalismo, pois trata-se de uma coisa da mais i mportância para o destino do País. Aí descabem personalismos e o sentimento sectário.

JC - Como integrante do PSDB, mais cedo ou mais tarde o senhor terá que fazer uma opção por um dos pré-candidatos do partido. Quem, a seu ver, poderia juntar as mesmas forças que ganharam a eleição com Fernando Henrique?
MAGALHÃES - Não sei. Rigorosamente eu não sei. O partido é nacional e eu pertenço a uma seção estadual. Entrei no partido há muito pouco tempo e não tenho condição nenhuma de fazer uma avaliação desta natureza.

JC - Em resumo, o senhor não tem preferência ainda nem por Serra e nem por Tasso. É isso?
MAGALHÃES - Veja bem, eu acho que Serra é um candidato muito preparado para exercer a presidência da República. Apenas está faltando a ele o necessário apoio em termos de pesquisas. Reconheço que Tasso é outro candidato muito bom porque foi três vezes governador do Ceará e é um homem bem-sucedido na iniciativa privada, o que para mim é muito relevante. Agora, uma coisa é você escolher um candidato dentro do partido, outra coisa é escolher um candidato para apresentá-lo a uma aliança. Se porventura até janeiro o Serra e o Tasso não apresentarem uma performance melhor nas pesquisas de opinião, acho que as lideranças do PSDB poderiam testar o nome de Aécio. É outra boa alternativa. Também não quero discriminar o ministro da Educação, Paulo Renato, que está colocando a sua candidatura e nós não podemos ignorá-lo. Apesar do seu desgaste em virtude da greve (das Universidades Federais), ele é um grande ministro da Educação.

JC - Desde os seus tempos de prefeito, o senhor tem sido um crítico declarado da política econômica do ministro Pedro Malan. Como imagina fazer sua campanha com FHC a tiracolo?
MAGALHÃES - O PSDB de Pernambuco já decidiu: vai procurar mostrar as coisas boas que foram feitas no atual Governo, entre elas a estabilidade da moeda, um antigo sonho do País. O Plano Real foi o grande instrumento desta vontade coletiva da sociedade de não mais conviver com a inflação. Vamos propor retificações na política econômica, procurando afastar essa preocupação quase que obsessiva do ministro Malan com a estabilidade da moeda, em detrimento do desenvolvimento econômico. Um País que tem 165 milhões de habitantes, com 30 ou 40 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza, não pode deixar para o segundo plano o desenvolvimento econômico.

JC - Que nota o senhor daria a Fernando Henrique, considerando os seus erros e acertos?
MAGALHÃES - Eu não me considero um iluminado que possa julgar um presidente da República. Isso tem que ser feito unicamente levando-se em consideração a perspectiva histórica. O presidente teve pontos brilhantes, como a estabilidade da moeda e o reconhecimento do País no exterior. Mas na medida em que delegou à área econômica decisões políticas, ele pagou um alto preço, como, por exemplo, no aumento da alíquota do Imposto de Renda. Eu acho que 27,5% de imposto de renda na fonte, de um assalariado, é confisco. Isso para mim é um desastre e revela que houve insensibilidade política, social e eleitoral. Respondendo portanto a sua pergunta, eu daria nota dez ao presidente no quesito “controle da moeda”, dez ao seu desempenho como “chefe de Estado” no exterior, sete aos seus “programas sociais” e três à “política fiscal”. O Governo Federal, no entanto, tem sido ingênuo na execução desse programa. Os governos estaduais e municipais se apropriaram destes projetos e, o que não é o caso do Governo de Pernambuco, não dão o devido crédito ao presidente da República.

JC - O senhor acha então que ainda não é tempo de julgar o Governo Fernando Henrique?
MAGALHÃES - É exatamente isso e eu vou lhe dizer por quê. Os dois grandes estadistas brasileiros que chegaram à presidência da República foram Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Ambos chegaram ao final de suas carreiras sofrendo amargamente a reprovação de uma parte dos brasileiros. Getúlio, o maior de todos, eleito pelo voto popular, suicidou-se para não sair deposto do Palácio. E Juscelino Kubitschek, o homem que deu um salto qualitativo neste País, de 50 anos em cinco, passou 20 anos da sua vida no ostracismo, no exílio e sofrendo inclusive humilhação de ser levado à prisão e a depoimentos em vários IPMs. Como a minha geração assistiu esses dois grandes homens chegarem ao final de suas vidas sem estarem reabilitados, eu estou convencido de que o julgamento imediato é um julgamento provisório. O julgamento definitivo é o da história.


Artigos

Tempos de Olinda
FRANCISCO BANDEIRA DE MELLO

O futuro e o passado estão presentes em todos os recantos e encantos da cidade de Olinda. Matriz da civilização tropical da América Portuguesa, isso é passado; matriz da civilização “apolíneo-dionisíaca da meta-raça brasileira”, isso é futuro. Futuro/passado, aliás, que já se manifesta na alegria de seus artistas, do seu artesanato, nas cores de seu casario, na beleza de suas festas profanas ou religiosas, no verde de seus verdes, nos sabores e saberes que formam, enfim, uma certa maneira de ser habitante, ou visitante, de uma das mais belas cidades brasileiras.

Futuro e passado, sonho e memória constituem, portanto, numa soma ou suma enriquecedora, o próprio modo de ser olindense, o próprio modo de ser da cidade de Olinda – cidade síntese de uma certa maneira de ser Pernambuco. E é dentro dessa perspectiva dual e ao mesmo tempo unitária que (permitam relembrar) o Governo Marco Maciel, na área da Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes, como aliás noutras áreas, realizou uma série de ações na cidade de Olinda – no litoral e nos montes ou “em todas as Olindas”, na feliz expressão de seu grande enamorado Barreto Guimarães.

A perspectiva do futuro, por exemplo, se materializava na construção (iniciada no Governo Moura Cavalcanti) do Centro de Convenções de Pernambuco – até então a maior obra física do turismo no Nordeste e a mais funcional para realização de congressos, feiras e exposições na opinião generalizada de técnicos/profissionais do setor. Centro de Convenções que vem dando a Olinda, a Pernambuco e ao Brasil, desde o início das suas atividades, extraordinários dividendos na área do turismo, vale dizer, na área social, na área cultural, na área econômica. Centro de Convenções, ressalte-se, que abriu finalmente em 1979/80, com os congressos da American Society of Travel Agents/ASTA e do Brazil Travel Mart/BTM, as portas pernambucanas para o turismo internacional.

O esforço de memória se materializou em várias e importantes obras de restauração, como, dentre outras, a da velha Sé, a da Igreja de N. S. da Graça, do Mercado da Ribeira, da casa 160 da Rua de S. Bento; ou na iluminação turística das igrejas de S. Pedro e N. S. de Guadalupe; no apoio ao Carnaval, Natal, São João, à Corrida de Jangadas; e até na realização do Encontro Nacional para a Defesa de Olinda ou nos reiterados estudos sobre o problema do deslizamento dos morros. E também na realização do Encontro Brasileiro de Corais ou na impressão de folhetos ou na realização de filmes e outros audiovisuais; em exposições e mostras como a de presépios e ex-votos e outras mais no Museu de Arte Sacra (também restaurado pela Fundarpe); e as várias coletivas e individuais no Museu de Arte Contemporânea, cujo acervo começava a ser enriquecido pelo Governo Marco Maciel com a aquisição de uma tela de Cândido Portinari retratando o ex-governador Carlos de Lima Cavalcanti.

Esforço de memória, enfim, que se materializou também na restauração, para sede do Fórum Lourenço José Ribeiro, de duas casas do princípio do século vinte – que marcam, de alguma forma, o início da moda do banho de mar (banho salgado) ou seja, por assim dizer, o início também da moda do turismo em Olinda; e, que, de todo modo, e xibem um agradável estilo arquitetônico – sob a forma neogótica, dizem os especialistas – que as gerações presentes, em nome do futuro, tinham o dever de preservar. E foi o que fizeram na determinação do Governo do Estado, através de um esforço integrado de duas secretarias – a de Justiça (Luiz Gonzaga Vasconcelos) e a de Turismo, Cultura e Esportes (dirigida por mim).

PS. Aproveito, no espaço de hoje, texto (adaptado) de um discurso que pronunciei na inauguração (Governo Marco Maciel) do Fórum Lourenço José Ribeiro/Olinda em 27/3/80. Aproveito ainda para relembrar a boa luta de que tanto participei (também deflagrada no Governo MM) para a outorga, pela Unesco, do título de Patrimônio Cultural da Humanidade à cidade de Olinda. Luta, claro, que somou esforços nos três níveis governamentais: estadual, federal e municipal-olindense. E que, infelizmente, teve um mártir: Aloísio Magalhães (faleceu na Itália, defendendo essa bela candidatura de Olinda).


Colunistas

Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio

De alma nova
Sob certos aspectos, o insucesso eleitoral do ano 2000 melhorou o “homem” Roberto Magalhães. Ele está mais leve como pessoa e mais humilde como político. Curvou-se sem reclamações à voz das urnas, que optaram por uma altenância de poder na prefeitura do Recife, porque o pernambucano é assim mesmo: nunca dá tudo ao mesmo grupo. Se os conservadores já tinham o Governo do Estado, através de Jarbas Vasconcelos, convinha que se entregasse aos partidos de esquerda a prefeitura da capital. Essa tem sido a regra no Recife desde que Joaquim Francisco se elegeu prefeito em 1988: o candidato do governador perde a eleição.
Procurado pelo redator desta coluna para uma entrevista, Magalhães a princípio relutou. “Falar sobre o quê se eu estou sem mandato?” Convencido de que ainda é um político de grande peso e agora uma das principais estrelas do PSDB regional, accedeu. Desde que a conversa se circunscrevesse a questões políticas nacionais.
Não falaria, disse ele, sobre problemas políticos estaduais, malgrado seja amigo e aliado de Jarbas Vasconcelos, e nem tampouco sobre João Paulo. “Qualquer crítica que eu porventura fizer ao prefeito dirão por aí que eu estou ressentido”.

Na última hora
Jarbas (PE) não deixa de ter um pouco de razão quando faz restrições ao temperamento imprevisível do governador Itamar Franco. Eleito prefeito de Juiz de Fora, pelo MDB, em 72, Itamar foi convidado pelo partido para candidatar-se a senador (74). Manteve-se indefinido até o último dia do prazo para a desincompatibilização. Perto da meia noite, pediu 15 minutos para consultar a mulher e, no trajeto entre a prefeitura e a residência, pediu a opinião do seu motorista.

Eleitor decisivo
Fernando Bezerra Coelho (Petrolina) tem procurado tranquilizar os seus seguidores, cada vez mais desanimados com a perspectiva de sucesso de Ciro Gomes (PPS), com um argumento pragmático: “Mesmo que ele não chegue ao segundo turno será um eleitor privilegiado”. Ou seja, terá o cacife necessário para decidir a eleição.

O novo Lula
Arraes votou três vezes em Lula, para presidente, mas só votará a 4ª se não houver outra alternativa. Ele acha que Lula mudou muito porque não sustenta mais determinadas posições que sustentou no passado. Aliás, estudo do Bank of America do Brazil, sobre 2002, diz que o candidato do PT ameaça menos o “capital estrangeiro” do que Itamar.

Deputado do PSDB “caça” os prefeitos do PSB
O deputado Fernando Lupa (ex-PSB) já transferiu uma parte dos prefeitos que o apoiaram em 98, para o PSDB, mas deseja mais. No momento tenta cooptar um dos mais ligados a Eduardo Campos: Sandoval Cadengue (Brejão).

Ex-prefeito deTimbaúba já está de volta à terra
O ex-prefeito de Timbaúba Alfredo Campos (PFL) estava morando nos EUA desde que perdeu a eleição para Galvãozinho (PMDB). Mas depois da guerra do Afeganistão arrumou as malas e veio embora.

Recordista mundial
A Câmara Federal deve ao Nordeste, na série “perfis parlamentares”, um exemplar com a história política do ex-deputado pernambucano (de Floresta) Manoel Novaes. Até prova em contrário, ele foi recordista no mundo em número de mandatos: 12. Sendo que três deles conjuntamente com a mulher (Nancy).

Bendito Felipão
Com a experiência de quem já disputou cinco eleições, o prefeito João Mendonça (Belo Jardim), do PFL, diz que os candidatos a deputado devem agradecer a Felipão por ter classificado a Canarinha. É que em ano de Copa do Mundo, segundo ele, a campanha só começa depois que se conhece o campeão.

Da coluna “Painel”, da Folha de São Paulo: “O Planalto só deverá nomear em janeiro, época das prévias do PMDB, o substituto de Eliseu Padilha no Ministério dos Transportes. Jarbas Vasconcelos (PE) fará a indicação para o cargo. Até lá, o secretário-executivo Aderico Lima ficará no comando”.

Com base em parecer da Corregedoria, Jarbas demitiu da Secretaria da Fazenda, “a bem do serviço público”, um auditor fiscal com muitos anos de casa. Espera-se que proceda desta mesma forma em relação à Polícia Militar, que passa no momento por uma crise moral. Medidas diferentes para pesos iguais a população reprovará.

Rodovalho (PSC) prometeu em maio aos servidores públicos de Jaboatão que anunciaria um reajuste de salário em 28/10. Como houve uma queda na receita e ele não pôde honrar o compromisso, pediu uma reunião com os funcionários para se explicar. Falou cerca de uma hora e ainda saiu aplaudido.

Mais entendidos do que muita gente pensa, Roseana Sarney (MA) e Tasso Jereissati (CE) querem reunir os 19 governadores da “base aliada”, na primeira quinzena de dezembro, para começar a tratar da sucessão. Se Geraldo Alckmin (SP) comparecer, a reunião terá importância. Se não, será um mero encontro social.


Editorial

O mundo não pára

A última edição do caderno Turismo & Lazer deste Jornal do Commercio traz reportagens otimistas, de um otimismo realista, que mostram como a vida continua, mesmo após a tragédia de 11 de setembro, que, entre outras conseqüências até mais graves, em muito afetou a indústria do turismo e o transporte aéreo. ‘O mundo não pára’ é o título de sua matéria de capa, que propõe roteiros alternativos. Também ressalta as vantagens do turismo interno no Brasil, mais barato, devido ao alto preço do dólar, e mais seguro, pelo fato de o nosso País não estar na alça de mira do terrorismo (ao menos por enquanto, e esperamos que continue). Aliás, mais barato teoricamente. Já se registram aumentos de até 40% nos preços de pacotes para o verão que se aproxima. Ainda não é desta vez que os que fazem o negócio do turismo estão dispostos a cativar clientes, consolidando a opção Brasil para além de eventuais mudanças nos humores internacionais. Pode ser que ainda aprendam alguma coisa com seus congêneres europeus e americanos.

Independentemente desses humores, nosso País tem muito o que mostrar a seus habitantes e aos estrangeiros. Com seu tamanho semicontinental, abriga as mais diversas regiões, climas, temperaturas, desde a Floresta Amazônica aos pampas do Sul, da extensa costa ao Pantanal, passando pelos calores do Norte e Nordeste, pelos frios do Sul (onde até cai neve), pelas grandes cidades do Sudeste mais desenvolvido. E não é somente a variedade de climas, mas também de culturas, com as ruínas das Missões, no Rio Grande; as artes e cantorias dos índios e caboclos; o barroco no Nordeste, Rio, Minas e outros Estados; tradições africanas; as colônias de imigrantes europeus; o Grande Sertão imortalizado por Guimarães Rosa; a MPB e a música erudita; o variado e rico artesanato; o Carnaval etc.

Nosso ponto fraco é, sobretudo aqui no Nordeste, a deficiência educac ional, que leva à poluição do meio ambiente, prejudicando moradores e também turistas nas praias e outros pontos de atração turística; à exploração desenfreada dos turistas em hotéis, restaurantes, pousadas, albergues, bares, barracas de ‘comes e bebes’, lojas de artesanato, enfim, no lazer que o turista busca. O baixo nível de ensino também produz baixa qualidade profissional de pessoas encarregadas do atendimento aos turistas. Tudo isso prejudica a consolidação do negócio do turismo no Nordeste e também em outras regiões.

Nosso caderno semanal dedicado ao turismo destaca que, no Brasil de 2001-2002, as regiões Nordeste e Sul estão em alta. Recomenda que, com o incremento do turismo doméstico, mais do que nunca temos que melhorar a qualidade do atendimento, aproveitar racionalmente a grande fatia de mercado e não exagerar nos preços, pois está surgindo uma boa oportunidade de crescimento no setor. Também no de turistas procedentes do exterior. Lembra ainda a intensificação da vinda de navios estrangeiros, no verão brasileiro, para vender cruzeiros pelo nosso litoral, com o Recife como uma das cidades de parada obrigatória.

O caderno também aborda o turismo com destino ao estrangeiro, um segmento vital para nossas companhias aéreas e agências de turismo. Como diz sua manchete de capa, o mundo não parou nem vai parar, pelo menos até o Apocalipse; que esperamos não seja now, como no filme. As companhias aéreas americanas estão oferecendo preços promocionais. Esperamos que as nossas também tenham o bom senso de fazê-lo. Em Nova Iorque, a Broadway continua oferecendo seus espetáculos. Na Europa, está parte das nossas raízes culturais. Mas a hora é mesmo do turismo doméstico e de trazer turistas de fora para cá.


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11/18/2001


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