Trabalho de médicos brasileiros em Angola reduz casos de transmissão do vírus da Aids de mãe para filho



Menos de 3% das mulheres grávidas portadoras do vírus da Aids que participam de programa de prevenção da transmissão materno-fetal, conduzido em Angola por médicos brasileiros, tiveram seus filhos infectados pela doença. No restante da África, quase metade das mães infectadas transmite Aids ao feto. Os resultados positivos do trabalho realizado em Angola foram apresentados pelo infectologista David Everson Uip e pelo neurologista Rogério Tuma, em audiência pública realizada nesta quarta-feira (10) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS).

O programa já atendeu 1.200 angolanas, cujos filhos são acompanhados por pelo menos um ano e meio, conforme explicações de David Uip, presidente da Fundação Zerbini e diretor-executivo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O trabalho, iniciado em 2002, é hoje uma referência e motiva parcerias com outros países africanos, como Congo e Cabo Verde, disse.

De acordo com o infectologista, o trabalho em Angola inova por preconizar o parto normal e o aleitamento materno, além de doses extras de medicamentos fornecidas à gestante. No tratamento convencional, disse, prevalecem o parto cirúrgico (cesariana) e o aleitamento artificial. Conforme Uip, a mudança adotada em Angola foi motivada pela falta de condições para realização de cesarianas e pela impossibilidade de aquisição de leite por parte da maioria das famílias.

- Quebramos os paradigmas da recomendação mundial não por desejarmos, mas pelas condições disponíveis. Além do fornecimento de mais remédio para a mãe: ao invés de um, três - afirmou, referindo-se ao aumento de dosagem.

O especialista ressalta que o índice de transmissão materno-fetal obtido em Angola é equivalente ao verificado em países desenvolvidos, sendo inclusive inferior ao obtido no Brasil, que é de 8%.

Para Rogério Tuma, especialista do Hospital Sírio-Libanês, as dificuldades técnicas e materiais de Angola são compensadas pela grande disposição de trabalho dos profissionais de saúde que atuam naquele país. O neurologista participou, em agosto, da formação de médicos, enfermeiros e técnicos, em Luanda.

- Não fomos vender produtos ou promover o aumento de gastos para o serviço de saúde angolano. Fomos capacitar as pessoas e ajudá-las a melhorar o processo de atendimento aos pacientes e a aproveitar suas potencialidades - afirmou.

Durante a audiência pública, Rogério Tuma leu carta elaborada após a experiência em Angola, onde destaca a força do povo angolano, que enfrenta com coragem o sofrimento inerente às doenças, lá agravado pelas precárias condições do país. Para o especialista, a experiência em Angola mostra a importância da continuidade da cooperação entre especialistas brasileiros e angolanos.

O trabalho dos médicos foi elogiado pela presidente da CAS, senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), e pelos senadores Flávio Arns (PT-PR), José Sarney (PMDB-AP), Romeu Tuma (PTB-SP), Rosalba Ciarlini (DEM-RN) e Papaléo Paes (PSDB-AP).



10/12/2008

Agência Senado


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