UE quer fechar parceria com Fiocruz para combate à Aids na África
Em visita à Fundação Fiocruz, o comissário de Saúde da União Europeia Tonio Borg demonstrou interesse em firmar cooperação com a instituição para fortalecer a capacidade de Moçambique na resposta à epidemia de Aids. A ideia é ajudar a financiar iniciativas no campo, tendo como modelo o projeto de instalação da fábrica de medicamentos no país, que contou com apoio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz).
Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, Borg falou sobre a possível parceria e comentou alguns dos principais desafios vivenciados pela União Europeia no campo da saúde.
AFN: A visita à Fundação foi feita com interesse em conhecer mais sobre a cooperação com a África e a produção de medicamentos. Por que o interesse nesses assuntos?
Borg: Consideramos os projetos na África e o projeto com Moçambique conduzido pela Fiocruz e acredito que há maneiras através das quais poderíamos ajudar a Fundação nesse trabalho. Esse poderia ser um excelente exemplo de cooperação triangular entre o Brasil, Moçambique e a União Europeia. Esse projeto se encaixa bem em nossos objetivos, principalmente no que diz respeito ao combate ao HIV/Aids. A doença é uma das nossas principais preocupações, particularmente por uma razão: quanto mais criamos e desenvolvemos medicamentos na busca por seu controle, mais há o perigo de que, nas prioridades políticas, o HIV e a Aids não ocupem uma ampla posição, uma vez que já há medicamentos desenvolvidos. Vamos lançar um segundo Plano de Ação em Saúde contra o HIV/Aids, pois, em algumas regiões da União Europeia, temos observado um sutil aumento no número de casos, então temos que estar em alerta. Essa seria uma excelente iniciativa: a tentativa de combater o HIV em um país africano, usando o projeto conduzido pela Fiocruz em Moçambique como modelo, pois ele tem um elementos de pesquisa, de política de combate à Aids e de apoio ao país.
Os assuntos relacionados à saúde têm uma forte dimensão de subsídios, o que significa que a maior parte dos assuntos no campo são tomadas pelos Estados-Membros. Meu trabalho não é interferir nessas decisões, mas coordenar, harmonizar essas ações. Estamos interessados nos elementos de saúde de outros campos de trabalho. Por exemplo, há um programa de pesquisa que envolve bilhões de euros que tem um componente de saúde nesse programa. Então, apesar de eu não estar na comissão responsável pela pesquisa , tenho interesse em observar se há fundos suficientes de pesquisa que possam ser alocados para a saúde.
AFN: Por que a Fiocruz foi escolhida como possível parceira e que contribuição a instituição poderia dar a essa cooperação?
Borg: Escolhemos a Fiocruz basicamente por conta do projeto que desenvolve com Moçambique e por conta de sua experiência. Há uma ausência do HIV/Aids na agenda política de certos países. Eles investem somente na ajuda financeira externa, mas não investem de fato parte de seu orçamento nacional para combater o HIV/Aids. Essa atitude deve ser mudada. Agora há cooperações internacionais que mostram que não é possível lutar contra a Aids somente dependendo da ajuda externa. Ela é importante, mas deve ser acompanhada por um projeto e plano nacionais, principalmente em países severamente afetados pela doença.
AFN: Quais são os principais problemas atualmente enfrentados pelos sistemas de saúde na UE? E o que tem sido feito para combatê-los?
Borg: As tendências demográficas atuais (o envelhecimento da população) têm provocado enorme pressão sobre os nossos planos de saúde e sistemas de saúde, pois, quanto mais se vive, maior é a probabilidade de se contrair uma doença crônica, como câncer e diabetes, e outras doenças. Isso demanda maior custo. O grande desafio é como gastar menos sem perdermos padrões de excelência. Por exemplo, com o uso de tecnologias modernas. Temos na União Europeia atualmente estabelecida uma rede de E-Health (práticas de saúde com o suporte de comunicação e processos eletrônicos), para a promoção da saúde no bloco regional. Por exemplo, na Irlanda, há um programa do governo que usa sms em celulares para lembrar pacientes de sua consulta. Isso resultou em um significativo declínio no número de faltas a consultas, o que implica a redução de custos, de milhões de euros. É claro que há problemas na difusão da E-Health, como, no caso, quando envolve pessoas mais velhas, que não têm hábito de usar meios eletrônicos. É importante encorajá-los no uso disso e mostrá-los que é um meio seguro.
Na União Europeia, temos atualmente essa diretriz de ter critérios comuns em termos do que deve ser incluído como relatório médico eletrônico, na medida em que se, você viaja de um ponto a outro no bloco regional, você possa ter relatórios médicos de e-health que sejam interoperáveis. Estamos desenvolvendo isso. Temos também trabalhado em uma diretriz para, em até cinco anos, reduzir o número de fumantes. Isso reduziria os custos com o tratamento voltado a doenças decorrentes do cigarro e mais dinheiro para o governo e os indivíduos.
Fonte:
27/01/2014 12:58
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