Uergs não deverá oferecer cursos tradicionais



A 17º audiência pública do Fórum Democrático, realizada na manhã de hoje em Montenegro, abrangendo todos os municípios do Vale do Caí, serviu para ratificar a importância da decisão da Assembléia Legislativa de debater com a sociedade gaúcha o projeto do Governo estadual que cria a Universidade Estadual (Uergs). Depois de um mês e meio de discussão do projeto, em razão das sugestões e propostas recolhidas nos encontros regionais, evolui de tal maneira que segundo o coordenador da Comissão de Implantação da Uergs, José Clóvis de Azevedo, “não pertence mais ao Governo e sim ao povo gaúcho”. Esse avanço já possibilita visualizar um esboço de como será a nova universidade, caso o projeto seja aprovado pela Assembléia Legislativa. Dentre os pontos considerados por Clóvis Azevedo como definidos estão a de que a Uergs será multicampi, ou seja, não terá um único campus ou um prédio central, apesar de estar decidido de que a sede será na Capital; que irá trabalhar com a estrutura do Estado e, mediante convênios, com a da rede de instituições de ensino superior existente; que por ter uma filosofia inovadora e voltada para o atendimento das vocações, potencialidades e necessidades regionais, não irá oferecer cursos tradicionais como Medicina, Direito e outros. Outros pontos definidos são que os níveis de formação oferecidos irão abranger as áreas de graduação, pós-graduação, doutorado e mestrado; que a eleição do reitor se dará de forma direta e com a participação da comunidade universitária; que o critério de ingresso não irá se restringir apenas a avaliação do conhecimento, mas sim considerará também a situação sócio-econômica do candidato; e que além da garantia de acesso os estudantes irão receber apoio para manterem-se na universidade, tais como moradia, alimentação e transporte. A manifestação do representante do Governo do Estado de que a Uergs não irá ofertar cursos tradicionais foi contestada nos pronunciamentos da platéia e pela deputada Iara Wortmann (PMDB). Ela afirma que “se a Uergs não disponibilizar cursos tradicionais, estará praticando uma injustiça social, pois estará excluindo os estudantes carentes de ter uma formação profissional superior nestes cursos”.Para o vereador de Triunfo, Antônio Cleber de Paula (PTB), “se esta posição se confirmar, estará sacramentado que no Rio Grande do Sul filho de pobre não pode ser doutor, pois não terá condições de ser médico, advogado, engenheiro, dentista, etc.” Iara Wortmann discordou ainda de outra manifestação de Clóvis Azevedo: a de que o Governo considera que na discussão da Uergs não deve ser incluída a necessidade de aprimoramento da oferta de bolsas de estudo e de crédito educativo. “Não é momento de debater tais assuntos, pois eles fogem da filosofia pretendida que é a de fazer com que a universidade estadual inove na oferta de cursos”, disse Azevedo. Discordando dessa posição, a deputada Iara disse que é justamente por inovar que o Governo deveria oportunizar que os estudantes que pretendem freqüentar outros cursos, em outras universidades, pudessem contar com o apoio das bolsas de estudo e do crédito educativo. “Pretendo apresentar emendas que corrijam esta distorção”, afirmou a deputada. O deputado Edson Portilho (PT) não concorda que a filosofia da Uergs seja de exclusão. Para ele, é justamente o contrário, pois o que o Governo pretende é permitir que setores excluídos, como negros, índios e filhos dos trabalhadores tenham acesso à universidade. Da mesma forma disse que ao priorizar cursos voltados às necessidades regionais o Governo do Estado está não só possibilitando a redução das disparidades regionais, gerando desenvolvimento, como estará criando condições para que os jovens permaneçam nas suas localidades de origem. Portilho disse, ainda, que a Uergs será estratégica para a formação de docentes. Participaram da audiência de Montenegro, realizada na Casa de Cultura Athaide Cardona, os deputados Onyx Lorenzoni (PFL), presidente da Comissão de Educação da Assembléia, Edson Portilho (PT), Paulo Azeredo (PDT), Iara Wortmann (PMDB) e Jussara Cony (PcdoB).

05/17/2001


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