Representante do Governo reafirma que Uergs não terá cursos tradicionais



Mais uma vez o representante do Governo do Estado, José Clóvis de Azevedo, coordenador da comissão de implantação da Uergs, conseguiu surpreender a atenta platéia e autoridades, durante a audiência plública do Fórum Democrático realizada, hoje pela manhã, em Taquara, ao reafirmar que a universidade não irá oferecer cursos tradicionais, e que o Estado não pretende financiar, através do crédito educativo, o acesso de estudantes carente nas faculdades convencionais. A comunidade do Vale do Paranhana não disfaçou a sua contrariedade com a palavra de Azevedo. A expectativa local, como de outras comunidades, é de que a Universidade Estadual sirva aos estudantes carentes, que se vêem excluídos do processo de formação superior. A audiência do Fórum em Taquara também serviu para que os representantes da região do Vale do Paranhana manifestassem sua preocupação pelo fato de que algumas escolas de segundo grau, apesar de estar terminando o primeiro semestre, ainda não contam com professores em algumas disciplinas. Também a região do Vale dos Sinos, no encontro realizado em Novo Hamburgo, na semana passada, havia reclamado do mesmo problema. A abordagem do tema resultou dos debates sobre a proposta do Governo de criar a universidade estadual (Uergs), realizados no auditório da Faculdade de Taquara (Faccat). O primeiro a falar sobre a falta de professores foi o prefeito de Igrejinha e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Paranhana, Elir Girardi. Segundo ele, se para viabilizar o funcionamento da Uergs será preciso contratar professores, por que não é dada a mesma prioridade para o ensino fundamental e médio, segmentos que obrigatoriamente o Estado deve atender? “Precisamos ter certeza de que a universidade estadual não é apenas um sonho ou uma situação de conveniência política, mas que realmente atenda a necessidade dos gaúchos, dentre elas a garantia de que nas instituições públicas de ensino não faltarão professores”, afirmou Girardi. O diretor-geral da Faccat, Delmar Backes, ratificou a posição do prefeito de Igrejinha, dizendo que a universidade estadual não pode ser caracterizada como uma utopia, pois se criada, terá que atender as necessidades dos estudantes carentes, caso contrário estará trancando o sonho da juventude gaúcha, “o que será um ato desumano”. Segundo ele, é preciso que os estudantes saibam que a Uergs não terá condições de atender toda a demanda reprimida de ensino superior. “São mais de 100 mil candidatos a vagas em universidades e a Uergs terá condições de absorver no máximo 10 mil”, declarou Backes. Sobre esta manifestação do diretor da Faccat o reitor da Universidade Regional da Campanha (Urcamp), Morvan Ferrugem, um dos palestrantes do encontro, afirmou que se os R$ 100 milhões que dizem serão aplicados pelo Governo do Estado no primeiro ano da Uergs fossem revertidos na compra de vagas em universidades comunitárias, o número de beneficiados triplicaria, ou seja, seriam 30 mil novos universitários. O reitor da Urcamp disse ainda que a prioridade do Governo de incentivar cursos voltados à pesquisa é louvável mas que só isto não basta. Segundo ele, a Índia conseguiu atingir um patamar científico, em termos de formação de doutores, tanto em número como em qualidade, que pode ser comparado com a situação dos Estados Unidos. “Entretanto, apesar disto, a maioria do povo indiano é analfabeto”. Em resposta ao que ouviu, José Clóvis de Azevedo disse não haver nenhum problema em potencializar o ensino superior em conjunto com o ensino fundamental e médio. “Não se consegue qualificar o ensino básico sem que o mesmo esteja articulado com o ensino superior, e a história mostra isto”, afirmou. Sobre os cursos que serão ofertados pela Uergs Azevedo confirmou que o carro chefe será a pesquisa, e que a Uergs não deverá oferecer cursos nas áreas tradicionais como Medicina,Direito, Engenharia, Odontologia, entre outras. A sua declaração surpreendeu os participantes da audiência pública, assim como a afirmação de que " não vê sentido no Governo do Estado financiar os cursos excluídos da Uergs, já que estes podem ser cursados pelos alunos em universidades tradicionais". A sistemática de escolha dos cursos, segundo ele, será selecionar primeiro as áreas de maior potencialidade para depois definir o curso a ser criado. “Aqui no Vale do Paranhana, por exemplo, os cursos terão que ter capacidade de intervir positivamente nas cadeias produtivas da região, gerando profissionais para a área calçadista e outras”. Quanto a comparação de custos entre a universidade pública e as comunitárias o representante do Governo do Estado disse que os números apresentados não podem ser considerados, pois em relação aos apresentados pelas universidades privadas não são considerados gastos como o da manutenção de hospitais universitários e outros mais. Participaram do encontro de Taquara os deputados Onyx Lorenzoni (PFL), José Gomes (PT), Jussara Cony (PCdoB), Paulo Azeredo (PDT), Edson Portilho (PT), Ronaldo Zulke (PT) e Iara Wortmann (PMDB).

05/18/2001


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