Um ator que virou campeão de votos
Um ator que virou campeão de votos
Com 190.392 votos, Eliseu Padilha retorna à Câmara dos Deputados a dar continuidade ao trabalho iniciado em 1994
– Dulce! Eu voltei! Eu voltei!
A exclamação de Gumercindo, personagem do monólogo As Mãos de Eurídice (1949), do dramaturgo Pedro Bloch, ecoam na memória de Eliseu Ramos Padilha, o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul.
Aos 14 anos, integrante de uma trupe de artistas amadores de Canela, o jovem Padilha soltava a voz na cena final. Era o Gumercindo entre 20 jovens que sonhavam com o estrelato nos palcos. O destino abortou a carreira dramática do promissor artista, mas a frase poderia ser repetida hoje, aos 56 anos.
Carregado por 190.392 votos, o ex-ministro dos Transportes volta a Brasília disposto a dar continuidade ao trabalho iniciado em 1994. Na época, eleito pela primeira vez à Câmara, abriu mão do mandato para assumir a Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social do governo Antônio Britto. Desta vez, afirma, não pretende fazer o mesmo no caso de Germano Rigotto (PMDB) vencer a eleição ao governo do Estado.
– Vou para Brasília. Estaria traindo meus eleitores se não for – afirma.
Padilha atribui novo mandato ao trabalho na pasta dos Transportes
O corre-corre da vida política faz de Padilha um homem dedicado exclusivamente à família nos escassos momentos de lazer. Nessas horas, para agradar à mulher, Eliane, abre mão da alimentação baseada em salada e carne branca para assar churrasco ao lado do filho Thales, nove anos. É também diante da churrasqueira, que, para desespero da filha Taoana, 14 anos, Padilha ouve música gauchesca. Não são raras as vezes em que o político decide ir para a praia apenas para agradar aos filhos.
– No final de semana, esse time é que manda – brinca.
Nem é a ausência o maior motivo de reclamação dos filhos de Padilha. O problema, dizem, é que o pai não pára de ler quando está em casa. Atualmente, devora o livro O Sonhador que Faz, de José Serra. Comprou também a biografia de Ciro Gomes, mas ainda não começou a ler.
A volta a Brasília, Padilha atribui ao reconhecimento dos eleitores pelo trabalho à frente do Ministério dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso e à atuação no municipalismo. Filho de uma família de trabalhistas de Canela, teve sua base política formada nos grêmios estudantis. O jovem Eliseu aliava a militância e o teatro a outro hobby: a banda do Ginásio Maria Imaculada. O ouvido apurado e a intimidade com a corneta e o pistão valeram-lhe o primeiro emprego como afinador em uma fábrica de acordeões.
Em 1966, a escolha do paraninfo da turma de Contabilidade acabaria determinando em parte o futuro político. Elegera como padrinho Pedro Simon, que na época montava a comissão executiva provisória do incipiente MDB. Logo, foi alçado a secretário executivo da comissão.
A carreira política, no entanto, só começaria a consolidar-se à beira-mar. Aos 21 anos, Padilha mudou-se para Tramandaí, onde desenvolveu trabalhos no ramo da construção civil. Ao lado do empresário Affonso Penna Khury, criou a marca Khury Padilha, que idealizou na década de 50 o balneário de Nova Tramandaí, hoje maior em extensão até do que a própria praia de Tramandaí – ainda hoje há milhares de lotes de propriedade de Padilha à venda. Em 1988, elegeu-se prefeito.
Com participação decisiva na campanha que elegeu Britto em 1994, o aproveitamento de Padilha no governo estadual era mais do que esperado. Ele nem teve tempo de exercer seu mandato na Câmara. A idéia inicial era permanecer apenas um ano na equipe de Britto, mas 10 meses depois da posse deixou o cargo e assumiu sua cadeira na Câmara.
Em Brasília, a ascensão foi meteórica. Eleito vice-líder do PMDB na Câmara, Padilha entrou para o alto círculo governista e ocupou o espaço deixado pelo deputado Germano Rigotto, que saiu da liderança do governo para disputar a prefeitura de Caxias do Sul. Apelidado de The Flash pelos companheiros por sua agilidade nas articulações políticas, o deputado teve um papel de destaque no acompanhamento dos votos pró-reeleição. Com sua dedicação e fidelidade ao governo, Padilha conquistou definitivamente a confiança do deputado Michel Temer, então líder do PMDB, e trilhou seu caminho para a Esplanada dos Ministérios. Estreante na área dos transportes, na qual ficou até o ano passado, traçou uma estratégia para driblar a pouca experiência antes de assumir:
– Peguei uma mala, coloquei os regimentos internos de todos os órgãos e fui com minha família para o Pantanal. Passava os dias lendo. Voltei sabendo o que tinha de fazer.
À frente do ministério, enfrentou as denúncias de esquema de propina para antecipar a liberação do pagamento de precatórios do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). Padilha determinou a abertura de uma sindicância interna e pediu ao Ministério da Justiça que a Polícia Federal que investigasse as denúncias. Dois diretores foram exonerados. Deixou o ministério sem ser derrubado pelo escândalo. Este ano, com uma campanha para a Câmara orçada em R$ 550 mil, afirma ter traçado a disputa como uma maratona, onde “o importante é a chegada”. O dinheiro empregado, diz, é proveniente de doações e de investimento próprio.
Horário eleitoral volta na sexta-feira
Por acordo, candidatos à Presidência começam seus programas apenas na segunda-feira
A nova fase do embate entre Germano Rigotto (PMDB) e Tarso Genro (PT) no rádio e na TV terá início sexta-feira, quando recomeça o horário eleitoral gratuito no Estado.
Por falta de acordo entre os partidos, os programas eleitorais gaúchos começarão três dias antes da veiculação da propaganda para presidente da República.
Rigotto, por ter sido o candidato mais votado, abrirá a nova rodada de propaganda eleitoral.
Embora o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tenha sugerido às coligações que fechassem acordo para iniciar a propaganda na segunda-feira, nos moldes do que ocorreu entre as coordenações de campanha de José Serra (PSDB) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Frente Popular (PT-PCB-PC do B- PMN) manifestou a intenção de respeitar o prazo legal determinado por lei. De acordo com a Justiça Eleitoral, o horário político só pode ser iniciado 48 horas depois da proclamação oficial dos resultados do pleito. No Estado, essa divulgação ocorreu na noite de ontem.
Cada um dos candidatos a governador terá direito a um espaço de 10 minutos, em cada bloco, no rádio e na TV. A programação será diária, incluindo domingos e feriados. A partir de segunda-feira, quando se inicia a propaganda para presidente, o tempo total de veiculação será acrescido de mais 20 minutos (10 para cada um dos candidatos, em cada bloco).
No total, serão 160 minutos diários para os quatro candidatos, mais 60 minutos (15 minutos para cada cargo) de inserções na programação ao longo do dia. Os programas serão veiculados em quatro blocos, às 7h e 12h, no rádio, e às 13h e 20h30min, na TV, até o dia 25 de outubro. No entanto, os três primeiros programas para o governo do Estado (sexta, sábado e domingo) serão iniciados 20 minutos depois do horário previsto por lei, já que não haverá a exibição do horário para presidente.
O CALENDÁRIO
11 DE OUTUBRO
Início da propaganda eleitoral no rádio e na TV dos candidatos ao governo do Estado
Último dia para o encerramento dos trabalhos de apuração (1º turno) das Juntas Eleitorais, e remessa de documentos ao TRE
14 DE OUTUBRO
Início da propaganda eleitoral no rádio e na TV para os candidatos à Presidência da República
24 DE OUTUBRO
Último dia para a realização de comícios e reuniõe s públicas
25 DE OUTUBRO
Último dia para a realização de debates e divulgação da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV
26 DE OUTUBRO
Último dia para divulgação de propaganda mediante alto-falantes e amplificadores de som e para distribuição de qualquer material de propaganda política
27 DE OUTUBRO
Dia do segundo turno das eleições
NOVEMBRO
6 DE NOVEMBRO
Último dia para o encerramento dos trabalhos de apuração das Juntas Eleitorais
7 DE NOVEMBRO
Último dia para remessa de documentos da apuração ao TRE
14 DE NOVEMBROI
Último dia para os TREs e TSE divulgarem o resultado final das eleições, proclamarem os candidatos e último dia de plantão da Justiça Eleitoral aos finais de semana e feriados
DEZEMBRO
5 DE DEZEMBRO
Último dia para o eleitor que não votou no 1º turno apresentar sua justificativa à Justiça Eleitoral
19 DE NOVEMBRO
Último dia para a diplomação dos eleitos
26 DE NOVEMBRO
Último dia para o eleitor que não votou no 2º turno apresente sua justificativa à Justiça Eleitoral
TRE faz auditoria em urnas de três cidades
A contagem dos votos em urnas com impressoras foi retomada ontem em três cidades gaúchas: São Leopoldo, Esteio e Sapucaia do Sul, todas na Região Metropolitana. A auditoria já estava prevista pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e percalços ocorridos domingo tornaram o assunto motivo de mais controvérsia. Somente em São Leopoldo, em 35 das 359 sessões eleitorais houve pane nas impressoras acopladas às urnas. Nesse tipo de equipamento com voto impresso, cada vez que o eleitor apertava duas vezes o botão “corrige”, a votação passava a ser em cédula de papel. Segundo a juíza eleitoral de São Leopoldo, Maria Cláudia Cachapuz, pelo menos em cem sessões da cidade houve esse tipo de problema, além das falhas. O resultado foi atraso e formação de filas. O presidente do TRE, desembargador Marco Antônio Barbosa Leal, acompanhou os trabalhos.
Em São Leopoldo, o último eleitor só conseguiu votar às 20h40min de domingo, depois de enfrentar mais de três horas de espera. Este também foi o último município a encerrar a apuração, conforme o TRE, ao meio-dia de segunda feira.
Onze urnas de São Leopoldo foram ontem auditadas. Em Sapucaia do Sul, foram oito e, em Esteio, seis. É o equivalente a 3% do total de urnas em cada um desses municípios, os únicos do Estado a experimentar a urna com voto impresso. Ao todo, eram 147 no país inteiro.
Morre coordenador da campanha de Tarso
O ex-secretário da Fazenda de Porto Alegre José Eduardo Utzig morreu por volta de 0h, de enfarte, aos 42 anos, em sua casa, na Capital.
Como coordenador político da campanha de Tarso Genro (PT) ao Piratini, Utzig era um dos principais interlocutores do candidato. Como o ex-prefeito, ele pertencia ao grupo Rede.
A proximidade entre os dois vem desde os anos 80. Na época, Utzig era um dos principais dirigentes da corrente estudantil Resistência, ligada à dissidência do PC do B encabeçada por Tarso e pelo deputado federal José Genoino. Do grupo, faziam parte o jornalista e vereador Adelmo Genro Filho, irmão de Tarso morto em 1988, e o deputado federal Marcos Rolim (PT).
Em 1982, o grupo organizou o Partido Revolucionário Comunista (PRC), organização semiclandestina que se dividia entre o PMDB e o PT. No mesmo ano, Utzig ocupou a presidência do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e em 1983 assumiu a vice-presidência Sul da União Nacional dos Estudantes (UNE). No ano seguinte, com a formação da Aliança Democrática em torno da candidatura de Tancredo Neves à Presidência, o PRC rompeu com o PMDB e passou a integrar o PT.
Utzig assessorou o atual candidato ao governo de São Paulo pelo PT, José Genoino, por oito anos. Natural de Tapera, era sociólogo, com pós-graduação em Gestão Pública pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston (EUA). Como secretário de Captação de Recursos da prefeitura em 1996, foi um dos responsáveis pela fundação do Banco Portosol. Na administração Raul Pont na prefeitura, Utizg permaneceu à frente da Secretaria de Administração, deixando o cargo para morar no Exterior (Inglaterra e EUA). Retornou ao Brasil em 1999 e assumiu no governo do Estado o cargo de secretário adjunto de Ciência e Tecnologia. Na gestão de Tarso, ocupou a Secretaria Municipal da Fazenda. Ontem, antes de se recolher para casa, Utzig participou de reuniões de organização da campanha. Utzig era casado e tinha uma filha. No início da madrugada de hoje, o PT comunicou que o velório seria realizado na Câmara Municipal da Capital.
OS OUTROS NOMES DE TARSO
Sem Utzig, a campanha do PT assume outro rumo a partir de hoje, nas mãos dos seguintes personagens:
Paulo Ferreira
É o homem forte do homem forte de Lula – o presidente do PT, José Dirceu – no Estado. Integra o PT Amplo e coordena a campanha de Lula no Rio Grande do Sul. Foi candidato a presidente estadual do PT em 2001, mas perdeu a eleição para David Stival.
David Stival
Engenheiro das negociações políticas internas e acordos externos, é ex-seminarista, formado em Filosofia, com mestrado em Educação. Integra a Articulação de Esquerda e é ligado aos movimentos eclesiais de base. Tem perfil conciliador.
Francisco Vicente
Uma das cotas da Democracia Socialista no comando da campanha, é metroviário e já presidiu a CUT-RS. Coordenou a campanha na Região Metropolitana e também participou das decisões estratégicas da coligação.
Miguel Rossetto
Companheiro de chapa, integrante da DS – a principal corrente vencida nas prévias – foi escolhido para compor a chapa e apaziguar o clima interno do partido. Garante a ligação da campanha com as realizações do governo Olívio Dutra. Participa decisivamente do debate das estratégias. Licenciado do cargo, cumpriu uma agenda de comícios e atos públicos durante todo o primeiro turno.
Daniel Bordignon
Tarso superou Olívio por 1.058 votos nas prévias de março. Em Gravataí, largou com uma vantagem de 973 votos, por ação do prefeito da cidade, Daniel Bordignon. É da corrente Rumo Socialista e na campanha cumpriu uma função decisiva na mobilização da Região Metropolitana.
Jorge Buchabqui
Ex-sócio de Tarso no escritório de advocacia e secretário de Administração do governo Olívio, foi alvo de ataques dos adversários no primeiro turno. Mesmo sendo amigo de Tarso, na estrutura de campanha era um dos advogados da assessoria jurídica, sob a coordenação de Antônio Castro.
Vera Spolidoro
Jornalista, embora integre a mesma corrente do ex-prefeito de Porto Alegre, não é um “quadro partidário”, no jargão da política. Uma das estrategistas do núcleo central da campanha, esteve em todas as reuniões mais delicadas. Foi assessora de imprensa na primeira gestão de Tarso e coordenadora de comunicação na segunda.
Luis Alberto dos Santos
Advogado, é amigo de Tarso e em todas as campanhas executa uma das missões mais delicadas: a captação do dinheiro para financiar a disputa. Era colega de Tarso do curso de Direito da UFSM. Apesar de ser um componente da Rede, não participa do cotidiano do partido.
Jairo Jorge
Jornalista do PT Amplo, está de volta ao Estado para coordenar a produção dos programas de rádio e TV da Frente Popular. Integrava, nos anos 80, um grupo do movimento estudantil chamado Caminhando, vinculado politicamente a Tarso. Foi candidato a prefeito de Canoas pelo PT em 1985 e por duas vezes perdeu ao tentar chegar à Assembléia.
Tereza Campelo
Economista, próxima do grupo de Flávio Koutzii, acompanhava Tarso nas participações em debates. Abastece o núcleo de coordenação de campanha com informações sobre as principais políticas e realizações do governo Olívio, já que trabalha na Secretaria-geral de Governo.
Estilac Xavier
No primeiro turno, envolvido com a eleição à Assembléia, não pôde estar próximo da cúpula da campanha, embora seja vinculado a Tarso, tanto que era o líder do governo na Câmara de Porto Alegre. No segundo turno, vai ampliar a participação e ganhar influência. É do PT Amplo.
Antônio Castro
Advogado, coordenador jurídico da campanha, está na linha de frente da guerra de liminares e de processos durante a campanha. É dirigente antigo do PT, compõe a Rede e aproximou-se de Tarso na primeira gestão na prefeitura da Capital
João Ferrer
Jornalista próximo a Tarso desde os tempos do movimento estudantil. Nos dois governos do candidato na prefeitura de Porto Alegre, exerceu cargos na área de relações internacionais. Coordenou a campanha de Tarso a deputado federal em 1986, no Vale do Sinos. Acompanha Tarso em todas as agendas e administra a relação com a imprensa.
Pepe Vargas
Único prefeito do PT entre os 35 do Estado a se licenciar para participar da campanha de Tarso, Pepe atuou na caça aos votos em Caxias do Sul, que ele governa desde 1996. É da DS e trabalhou contra Tarso nas prévias. No segundo turno, terá um papel fundamental para tentar reverter a situação eleitoral na terra de Rigotto
Os onze nomes de Rigotto
No início da campanha, sobrava espaço no imenso comitê de Germano Rigotto (PMDB) instalado no número 973 da Avenida Sertório, em Porto Alegre. Eram apenas 20 pessoas contratadas para fazer todo o trabalho. Dois meses depois, os índices do candidato nas pesquisas teimavam em congelar nos 4%, o que convencia os coordenadores de que a equipe enxuta estava de bom tamanho.
Com o início dos programas de rádio e TV, Rigotto conseguiu a proeza de subir dos magros 4% para mais de 40% e surpreendeu ao ir para o segundo turno quando tudo parecia perdido. Com isso, a equipe se tornou pequena diante da agitação em que se transformou o prédio da Sertório.
Ontem, faltava espaço na frente do comitê para tantos carros. Deputados eleitos que agora já não precisam correr atrás de eleitores passaram a se aglutinar à campanha. Os parlamentares não deverão ter funções estratégicas no segundo turno – apenas emprestarão sua imagem em comícios e carreatas.
Apesar do entra-e-sai de estrelas do PMDB, 11 pessoas integram o staff de confiança do candidato, mais precisamente 10 homens e uma mulher, que podem ser chamados a qualquer momento para solucionar problemas de última hora e garantir o voto dos eleitores no próximo dia 27.
OS ONZE NOMES DE RIGOTTO
Vitor Bertini
Engenheiro eletricista, administrador e secretário-geral da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, trabalhou em praticamente todas as campanhas eleitorais do partido desde 1982. Ficou mais próximo a Rigotto na atual campanha, quando foi chamado para fazer a ligação entre a Fundação e a agência Fischer América Sul, responsável pelos programas de rádio e TV. Sua função é garantir a unidade da linha política da campanha. Segundo ele, esse trabalho foi fundamental para garantir que a campanha de Rigotto saltasse de 4% para 40% das intenções de voto nas pesquisas sem alterar a estratégia política.
Alberto Oliveira
Filiou-se ao MDB em 1974 quando ainda era do movimento estudantil. Dois anos depois, conheceu Rigotto no partido. Contador e corretor de imóveis estabelecido em Flores da Cunha, na Serra, além de correligionário tornou-se um dos grandes amigos de Rigotto. Agora, foi convidado para ser coordenador-geral da campanha e é o homem de confiança do candidato. Sem dúvida, tem a rotina mais pesada no comitê e está sempre com um telefone celular ao ouvido.
Mauro Dorfman
Publicitário, diretor de criação da agência Fischer América Sul, é o responsável pelos programas de rádio e TV do horário eleitoral gratuito. Sua tarefa é transformar em discurso acessível para os eleitores os pontos principais do programa de governo do candidato. Dorfman diz que tem a missão de ilustrar um conjunto de idéias, posturas e propostas do candidato, num trabalho realizado a várias mãos, inclusive as de Rigotto.
João Carlos Brum Torres
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, é o coordenador da equipe que trabalhou na formulação do plano de governo de Rigotto. É um dos pensadores do PMDB e por isso também peça importante na estratégia de campanha. Peemedebista histórico, ex-secretário do Planejamento do governo Antônio Britto, participa das reuniões mais importantes, nas quais são tomadas as decisões sobre o rumo da campanha.
Paulo Michelucci Rodrigues
Funcionário de carreira da Fazenda e com 33 anos de serviço público, é formado em Administração de Empresas e já foi professor de Educação Física. Atuou como fiscal da Fazenda em vários municípios gaúchos, foi diretor da receita pública estadual, diretor financeiro e presidente da Corsan, secretário substituto do Desenvolvimento e secretário da Fazenda. Hoje está cedido para a Assembléia, onde ocupa o cargo de coordenador da bancada do PMDB. Na campanha de Rigotto, é o coordenador-geral substituto e responsável pelas finanças.
Luiz Carlos Leivas Mello
Conhecido como Mellinho, o técnico em eletrônica acabou se envolvendo com política desde que ingressou no PMDB e passou a exercer funções bem diferentes de sua formação. Conheceu Rigotto em 1982, mas já integrou a equipe de Antônio Britto no governo do Estado, quando era responsável pelos roteiros de viagens do governador. Na campanha de Rigotto ao Piratini voltou a organizar roteiros e mobilizar militantes nos locais por onde passa o candidato. É dele a responsabilidade pela logística da campanha.
Gertrudes Pelissaro dos Santos
Ex-prefeita de Paraí, na Encosta Superior do Nordeste, é advogada e conheceu Rigotto em 1983, quando administrava o município. Na campanha, é a pessoa responsável pela distribuição e controle de materiais, de adesivos e bandeiras a cartazes. Filiada ao PMDB desde 1982, é a primeira vez que trabalha no comitê central de campanha do PMDB. Por ter sido prefeita, também é um dos elos entre a equipe de Rigotto e os prefeitos do Interior.
Paulo Renato Moraes
Advogado, trabalha para o partido desde 1975, quando assessorava a bancada do MDB na Assembléia Legislativa. Em 1978 passou a assessorar o diretório estadual, onde está até hoje. Trabalhou em todas as campanhas eleitorais do partido, trabalho árduo se levada em conta a grande quantidade de ações impetradas na Justiça Eleitoral com pedidos de direitos de resposta, de busca e apreeensão de panfletos ofensivos ou defesas sobre supostas propagandas irregulares. Está atento aos programas eleitorais e acontecimentos da campanha 24 horas por dia e divide seu tempo entre o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e o computador redigindo petições.
Ricardo Forgiarini
Filiado ao PMDB de Cachoeira do Sul desde 1981, é conhecido pelo apelido de Ratão, dado por uma professora quando ainda era criança. Todo o visual da campanha é de sua responsabilidade, desde a colocação de banners nos palanques para os comícios, passando pelo protocolo de autoridades presentes nos eventos até os CDs com os jingles usados em carreatas. Quando chega ao comitê, seguidamente Rigotto procura por Ratão, a quem o candidato não conhece pelo nome.
Gilberto Jasper Júnior
Responsável pela equipe de imprensa, coordena um grupo de oito pessoas que trabalha das 6h30min à meia-noite. Seu trabalho envolve a relação com os veículos de imprensa, entrevistas do candidato e mobilização das rádios, jornais e TVs do Interior por onde Rigotto passará. Tudo o que acontece na campanha e é noticiado é imediatamente informado ao candidato por sua equipe, que faz rádio-escuta e acompanha noticiários de TV e dos jornais.
Ricardo Forgiarini
Filiado ao PMDB de Cachoeira do Sul desde 1981, é conhecido pelo apelido de Ratão, dado por uma professora quando ainda era criança. Todo o visual da campanha é de sua responsabilidade, desde a colocação de banners nos palanques para os comícios, passando pelo protocolo de autoridades presentes nos eventos até os CDs com os jingles usados em carreatas. Quando chega ao comitê, seguidamente Rigotto procura por Ratão, a quem o candidato não conhece pelo nome.
Tal pai, tal filho
Herdeiros de políticos seguem passos paternos e assumem vagas na Câmara e na Assembléia
Uma particularidade diferencia Luciana Genro (PT), Márcio Biolchi (PMDB) e Nelson Marchezan Jr. (PSDB) da maior parte dos deputados eleitos: seus sobrenomes são mais conhecidos dos eleitores quando acompanhados do nome paterno.
Mas a herança não incomoda. O respeito à trajetória política dos pais é a primeira coisa que apontam quando o assunto é a política no sangue.
– Temos posições diferentes, mas ele teve muita influência no meu despertar político – conta Luciana, filha do candidato petista ao governo do Estado, Tarso Genro.
– Tive a chance com ele de ver como o trabalho político pode ser benéfico para a sociedade – diz Márcio, filho do deputado federal Osvaldo Biolchi.
– Me senti com a responsabilidade de continuar o trabalho desenvolvido pelo pai – explica Marchezan Jr., filho de Nelson Marchezan.
Aos 30 anos, Marchezan Jr. é estreante na política. Advogado, não tinha maiores pretensões de vida pública até o início deste ano, quando morreu seu pai, no dia 12 de fevereiro. Já no enterro, surgiram convites para continuar a carreira de Marchezan.
– Nas homenagens ao meu pai, comecei a perceber o tamanho do trabalho que ele tinha deixado e decidi que deveria segui-lo – relata.
Os 40 anos de vida pública de Marchezan, eleito cinco vezes para a Câmara dos Deputados, fizeram com que a busca por votos em uma campanha de apenas quatro meses fosse encarada com naturalidade. Marchezan Jr. conta que cresceu em meio às campanhas do pai, que vivia a política 24 horas por dia.
As fortes divergências políticas entre Luciana e Tarso Genro exigiram um acerto: assuntos mais polêmicos devem ser evitados nos tradicionais almoços de domingo da família. A deputada tem posições mais à esquerda dentro do PT, enquanto o pai tem um perfil mais moderado. Mas a norma não é radical: política é assunto recorrente em família.
Márcio Biolchi, 23 anos, não nutria muita simpatia pela política. A partir da atuação do pai e com a influência dos amigos, candidatou-se a vereador em Carazinho, em 2000. Elegeu-se com votação recorde. Márcio evita ligar sua carreira à do pai, e conta que, quando os dois se encontram em casa, aproveitam o tempo como pai e filho normais.
– Tenho algumas posições diferentes das do Biolchi. Temos muita afinidade, mas linhas de trabalho distintas – ressalta.
CÂMARA INDISCRETA
LUCIANA GENRO
Conflitos da adolescência
A entrada de Luciana Genro na política, aos 14 anos, foi marcada pelo clássico choque de gerações. Louca para começar na política, Luciana decidiu cursar o Ensino Médio na Escola Julio de Castilhos, o Julinho, na Capital. O pai queria a filha em uma escola particular.
Foi o primeiro sinal de um afastamento gradual entre as posições dos dois.
Passado o momento de dificuldade, aprenderam a conviver com as diferenças e mantêm uma relação mais tranqüila. Luciana até agora não teve problemas semelhantes com o filho Fernando, de 14 anos.
– Ele é politizado, mas mais tranqüilo – conta.
MÁRCIO BIOLCHI
Relação de parceria
Longe de encarar o pai Osvaldo como um mentor, Márcio Biolchi conta que os dois estabeleceram uma relação de parceria desde que entrou na política. A campanha deste ano foi marcada por muita conversa sobre os problemas da região e propostas.
–. Ele não é meu conselheiro, aproveitei a experiência dele em Brasília, e ele aproveitou as informações que c Márcio procura manter um olhar “de eleitor” sobre o debate político, que desenvolveu durante o tempo em que não se interessava muito pela função.
– Temos uma parceria, mas mantemos o vínculo partidário na porta de casa – afirma.
NELSON MARCHEZAN JR.
Meta é honrar o trabalho paterno
A entrada na política de Nelson Marchezan Jr. prevista apenas para daqui a alguns anos, foi apressada pelo sentimento de obrigação para com a história do pai, cinco vezes deputado federal. O novo integrante da Câmara dos Deputados acha que seria um desrespeito não ter aceitado o convite do PSDB para concorrer.
– É como se meu pai tivesse deixado uma empresa, e eu jogasse fora. O nome Marchezan é uma marca, um patrimônio que eu devo manter – afirma.
A responsabilidade de cidadão também pesou. Marchezan Jr. diz que não poderia jogar fora a chance de atuar de forma prática na política.
Rigotto tem apoio integral do PPB
Líderes progressistas decidiram apoiar candidato do PMDB ao governo no segundo turno
A visita relâmpago do candidato Germano Rigotto (PMDB) à sede do diretório estadual do PPB, no final da manhã de ontem, apressou a decisão que a própria cúpula do partido acreditava levar mais tempo para ser costurada no Interior, onde as siglas ocupam trincheiras opostas em alguns municípios.
O apelo de Rigotto ao presidente estadual do PPB, Celso Bernardi, na sala da presidência, ecoou até o local onde se reunia a executiva estadual, dois andares acima. Cinco horas depois, o peemedebista voltou ao reduto do PPB para receber, formalmente, o reforço dos progressistas.
Na breve aparição de cortesia, Rigotto foi comunicado publicamente por Bernardi – que não negava sua preferência de apoio incondicional, sem qualquer exigência de contrapartida – de que o PPB estava reunido já havia uma hora para tomar uma decisão. As divergências em algumas cidades gaúchas não poderiam ser ignoradas, mas, desde que reconheceu sua derrota no primeiro turno, em entrevista no domingo, deixava clara a opinião de que o futuro do Estado deveria se sobrepor às históricas rivalidades locais.
Durante a rápida visita pela manhã, Rigotto frisou que estava “humildemente” pedindo a força do PPB não só para vencer a eleição, mas para governar o Estado a partir do dia 1º de janeiro, de olho no apoio da nova bancada progressista na Assembléia Legislativa, composta por 10 deputados.
– Colocamos o interesse do Rio Grande do Sul acima do partidário, por isso optamos pelo apoio incondicional à candidatura de Germano Rigotto, que é o melhor projeto para o Estado – manifestou Bernardi à tarde, quando foi divulgado o Manifesto do PPB para o segundo turno das eleições.
Controlando o discurso anti-PT, que não poupou durante o primeiro turno da campanha, Bernardi conclamou que os pepebistas “deixem de lado” as pequenas questões municipais até as 17h do dia 27. Vencida a disputa, o PPB tomará nova decisão sobre a posição que tomará frente a um possível governo de Rigotto:
– Até o dia 6, procurávamos mostrar nossas diferenças. Até o dia 27, somos iguais, que é o interesse supremo do Estado.
Dizendo-se surpreso e agradecido com o anúncio, pois acreditava haver sido convocado para se reunir com os principais líderes do PPB para costurar a aliança, Rigotto voltou a insistir na necessidade do reforço progressita não só para vencer a eleição.
Da calorosa recepção, Rigotto partiu todo suado para costurar novas alianças, na Câmara Municipal. O peemedebista adiantou que já está em tratativas com PL, PV, PDT, PPS, PFL e PTB.
SAIBA MAIS
Em busca de novas adesões
Formalizado ao apoio irrestrito do PPB, Germano Rigotto (PMDB) bateu à porta da Câmara Municipal de Porto Alegre para garimpar ainda mai s adesões. Com o aval do presidente da Casa, José Fortunati (PDT), para quem telefonou ontem pela manhã solicitando uma reunião com as bancadas possivelmente favoráveis, o peemedebista foi recebido por 16 vereadores na sala da presidência no final da tarde de ontem.
Recepcionado por funcionários pedetistas do Legislativo, Rigotto foi seguido por militantes pedetistas que bradavam seu nome, carregando bandeiras e repletos de adesivos:
– PDT tem história. Rigotto é para a vitória.
Entre os vereadores do PDT, só Fortunatti – Isaac Ainhorn não compareceu porque estava doente
– manteve sua preferência na eleição ao Piratini a sete chaves, assegurando que cumprirá a decisão da executiva estadual, que deverá ser anunciada hoje. Para a Presidência da República, entretanto, não negou que está em plena campanha para o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Ciro e Brizola apóiam Lula
Dois aliados de peso declararam ontem apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial.
Em Fortaleza, depois de uma reunião da executiva nacional do PPS, o candidato derrotado do partido, Ciro Gomes, anunciou que dará apoio eleitoral a Lula e não descartou a possibilidade de vir a participar de um eventual governo petista. No Rio, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, declarou “apoio pleno e sem qualquer exigência” ao petista.
– O apoio é eleitoral. Depois se discute se vamos assumir responsabilidades em um eventual governo. Isso é algo a posteriori – afirmou, ao lado de Ciro, o presidente da sigla, Roberto Freire.
Segundo Freire, a decisão foi unânime entre os representantes da legenda que participaram de reunião em Fortaleza.
– Estamos aqui para apontar à nossa militância um apoio irrestrito e entusiástico à candidatura Lula, a despeito de nossas divergências no primeiro turno – disse Ciro, que, durante toda a campanha, criticou o petista por sua falta de experiência administrativa, inclusive referindo-se à candidatura da legenda como uma “aventura”, e o PT, pela falta de projetos.
– Se não tivesse divergências com o Lula teria votado nele. Mas agora não é hora de ressaltar divergências. É assim que se organizam as forças no segundo turno. Isso não quer dizer que nossas divergências foram superadas. Apenas não é hora de expô-las – afirmou.
O candidato do PPS também se colocou “à disposição” do PT para qualquer colaboração na campanha.
– Como participar, eles vão dizer – declarou o ex-governador, que deve se encontrar com Lula hoje, em São Paulo.
No Rio, Brizola revelou que conversou por telefone com o presidente nacional do PT, José Dirceu, a respeito do apoio:
– O PDT apoiará incondicionalmente o candidato Lula porque cultiva a esperança de que a vitória do petista represente melhores dias.
A tomada de posição das direções nacionais do PPS e do PDT provocou reações entre os representantes gaúchos da sigla. O candidato derrotado do partido a governador do Estado, Antônio Britto, disse que a sigla se reúne na terça-feira para tratar do assunto. Já o deputado Vieira da Cunha (PDT) avisou que o apoio a Lula não significa adesão a Tarso Genro, candidato do PT ao governo do Estado. A maioria dos deputados do PDT tende a apoiar Rigotto.
Lula adverte PT contra vetos a novos apoiadores
Candidato afirmou que deseja votos “até de quem não quer mudança”
O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que não colocará veto ideológico nem fará distinção entre esquerda e direita para conseguir os votos para vencer no segundo turno.
– Não quero nenhum veto a ninguém, porque a hora que o voto aparece no computador do TSE, não tem perfil ideológico, classe social, nada. Está lá apenas o 13 (número do PT), o 13 que faz bem a esse país, sendo voto de direita ou voto de esquerda. O que é importante é que o 13 esteja lá no resultado final – disse, em encontro com militantes em São Bernardo do Campo.
O petista vinha dizendo desde antes do primeiro turno que queria o voto de todos os eleitores do Brasil e que não recusaria voto de ninguém. Ontem, ele voltou a explicitar esse ponto.
– Tendo 16 anos de idade, título de eleitor, gostando ou não do PT, gostando ou não do meu programa e tiver obrigação de ir a uma urna digitar um número, quero que digite 13.
No mesmo discurso, Lula convocou a militância a continuar trabalhando e recomendou que o partido adote um discurso diferenciado para atingir eleitores que não optaram por sua candidatura no primeiro turno. Sem especificar o que exatamente queria dizer, o petista afirmou que é necessário um “discurso mais seletivo, mais dirigido”.
– O que precisamos, além da campanha já feita, é ter um discurso mais seletivo, tentando convencer os eleitores indecisos e aqueles que ainda não votaram em nós a votar – declarou o candidato do PT.
Dirigindo-se ao candidato do partido ao governo de São Paulo, José Genoino, que havia dito que iria atrás de todos os eleitores desejosos de mudança, Lula afirmou, entre risadas:
– Eu estou querendo voto até de quem não quer mudança.
Petista visita centro de apoio a crianças com HIV
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, cumpriu ontem um compromisso de campanha em terreno inimigo. Ele visitou a Casa Vida, entidade que presta assistência a crianças e adolescentes portadores de HIV, no bairro Belém, em São Bernardo do Campo, na região do ABC, onde vive e iniciou sua carreira como sindicalista, nos anos 70.
O candidato estava acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e do candidato do PT ao governo do Estado, José Genoino. Ele disse que, se eleito, vai mudar a relação do governo com a sociedade no que se refere às verbas para assistência social.
– Minha visita é simbólica, de gratidão, para olhar na cara das pessoas que cuidam dessas crianças. Olhar para essas crianças e sair daqui com a alma renovada, com a esperança renovada – afirmou Lula.
FH pede a aliados que se engajem em favor de Serra
Presidente pressiona para que campanha assuma defesa do governo federal
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu se empenhar pessoalmente para viabilizar a eleição do candidato do governo, José Serra. Mas da forma mais discreta e indireta possível.
Fernando Henrique dedicou, por exemplo, os dois últimos dias a fazer contatos com os governadores aliados que já se elegeram no primeiro turno além de outros líderes políticos estaduais para pedir o engajamento deles na campanha do tucano.
Tasso Jereissati, do Ceará, Jarbas Vasconcelos e Marco Maciel, de Pernambuco, Marconi Perillo, de Goiás e Aécio Neves, de Minas Gerais já conversaram com Fernando Henrique desde o último domingo. Receberam parabéns do presidente e ouviram o pedido para que ajudem agora o candidato governista.
O presidente manterá o estilo discreto que prevaleceu durante o primeiro turno da campanha presidencial. Não fará uma campanha ostensiva para Serra, mas já é fato que está agora muito mais empenhado. Na sexta-feira, por exemplo, vai participar da inauguração do Rodoanel, em São Paulo, uma das maiores obras do Estado em parceria com o governo federal. Na inauguração, embora não possa contar com a presença de Geraldo Alckmin, governador paulista, nem de Serra, já que os dois são impedidos pela legislação eleitoral de participarem deste tipo de evento, Fernando Henrique terá oportunidade no discurso de enaltecer as realizações da parceria tucana.
Em situações como esta, a propaganda subliminar está sempre presente. O presidente usou esta mesma tática durante o primeiro turno das eleições em diversos discursos, quando não poupava elogios à iniciativa dos ministros e governadores do partido, e criticava a oposição.
Mas o presidente, que tem conversado diariamente com o candidato do PSDB, espera também uma mudança categórica de postura por parte do comando de campanha do tucano. Ele ainda demonstra ter ficado chateado com a recusa de Serra de usar sua imagem nos programas no horário eleitoral. Para o presidente não há mais espaço, a partir de agora, para o candidato tucano mostrar-se eqüidistante do governo.
Serra vai hoje a Brasília para tentar ressuscitar a aliança que apoiou FH. O tucano já tem encontros marcados com políticos do PMDB, PPB e PSDB. Além disso, será anunciada a decisão do PFL sobre qual candidato irá apoiar no segundo turno. O vice-presidente da República, Marco Maciel, que esteve reunido na tarde de ontem com Serra, afirmou que é possível recuperar a aliança pró-FH.
– Do ponto de vista programático é possível recuperar esta aliança – disse Maciel, que defende o apoio do PFL a Serra.
O presidente do PMDB, deputado federal Michel Temer (SP) disse acreditar que é possível aumentar a adesão do partido à candidatura.
Tucano desafia petista para debates
Um dos motivos é porque deseja mostrar como pretende enfrentar algumas questões críticas, tais como o quadro econômico internacional adverso.
Segundo ele, o segundo turno não é uma prorrogação de jogo, como dirigentes do PT têm afirmado:
– O jogo começa agora, na direção do debate e no aprofundamento das propostas – reiterou ele durante pronunciamento de 15 minutos que fez após encontro com o comando de sua campanha e líderes políticos.
Uma das principais estratégias de campanha no segundo turno será o confronto e o debate de propostas com o adversário do PT, Luiz Inácio Lula da Silva:
– O Brasil está cheio de problemas, temos de olhar para o futuro e ver quem tem competência para executar as propostas. Por isso, o debate no segundo turno é essencial para que a população possa confrontar as experiências dos candidatos.
Serra disse ainda que a coligação obteve uma vitória no Rio Grande do Sul, governado pelo PT, que mostraria a disposição dos eleitores em confrontar as propostas do PT.
Frente Popular articula novos apoios
PT planeja buscar votos entre prefeitos do PPB, em função das divergências políticas locais com o PMDB
Apesar do anúncio oficial do PPB de Celso Bernardi de apoio à candidatura de Germano Rigotto (PMDB), a política de alianças da Frente Popular (PT– PC do B-PCB-PMN) para o segundo turno já colocou no alvo prefeitos do partido com dificuldades de votar no PMDB, em função de brigas políticas locais.
Segundo o presidente estadual do PT, David Stival, estão na mira 16 prefeitos de municípios recém-emancipados, cuja economia está baseada na agricultura familiar e que tiveram um “excelente relacionamento” com o governo Olívio Dutra. Édson Silva, do PC do B, é o emissário encarregado de costurar o apoio dos pepebebistas.
– Vamos buscar o apoio de todos os partidos e setores de partidos que querem a manutenção do nosso programa e não o retorno do modelo neoliberal – justificou Stival, antecipando o tom do debate do segundo turno.
O PT pretende organizar até amanhã um ato político com os partidos com os quais já acertou a composição para a segunda fase da disputa eleitoral ao Palácio Piratini. O PSB anuncia hoje às 13h o enlace à Frente Popular. PSC, PV e PSTU estão praticamente acertados. O acordo com o PDT está menos avançado. Stival já manteve contato com Pedro Ruas, presidente estadual do partido, e acredita que o apoio do presidente nacional, Leonel Brizola, a Luiz Inácio Lula da Silva facilite o entendimento.
– Já temos uma parte do apoio da base do partido e certamente vamos ampliar – explicou.
Ontem à tarde, 150 integrantes da executiva estadual do partido, prefeitos e candidatos eleitos e derrotados no dia 6 reuniram-se no Hotel Embaixador por mais de quatro horas. Líderes de todas as correntes analisaram o desempenho nas urnas e, principalmente, alinhavaram as novas estratégias.
Quanto ao resultado, a conclusão, segundo o candidato a vice-governador, Miguel Rosseto, é de que houve conquistas, como a ampliação da bancada na Assembléia Legislativa, a manutenção da condição de maior representação gaúcha na Câmara dos Deputados e a eleição do primeiro senador pelo PT no Estado. Quanto ao segundo turno, está otimista com o debate:
– Fico perplexo quando vejo a oposição criticar os problemas sociais do Estado. O PMDB, que demitiu dois mil brigadianos, não tem autoridade política para falar de segurança – provocou Rossetto.
Na avaliação de Tarso Genro – que saiu da reunião às 15h, rumo a Caxias do Sul, o primeiro compromisso externo de campanha do segundo turno –, o debate vai produzir uma polarização novamente, mas entre dois programas. De acordo com o Tarso, a necessidade de uma segunda rodada de disputa para eleger Luiz Inácio Lula da Silva vai auxiliar o debate dos projetos. Confiante, Tarso disse que vai absorver votos dados a Antônio Britto (PPS):
– Há quem vote em Britto por causa da capacidade dele como gestor público, não por ser anti-PT. Quero buscar estes votos com o meu currículo – disse.
O Brasil é notícia
O jornal norte-americano The New York Times afirma em sua edição de ontem que Lula está confiante de que vencerá as eleições presidenciais brasileiras no final do mês.
Segundo o jornal, Lula, com 46,44% dos votos no primeiro turno das eleições, ficou com uma “dianteira confortável” em relação a Serra, com 23,20%.
O britânico Financial Times e o espanhol El País prevêem uma maior participação do presidente Fernando Henrique na campanha de José Serra. O Financial Times afirma que a incerteza eleitoral ainda “deverá atemorizar os mercados” por mais um tempo.
O argentino La Nación comenta as incertezas do mercado financeiro no Brasil em função do segundo turno das eleições e prevê o apoio de Ciro Gomes e Garotinho para a candidatura petista. O periódico destacou trechos da entrevista que Lula deu na segunda e afirma que o candidato mostrou-se “orgulhoso e emocionado”.
Números
Depois do “Lulinha Paz e Amor”, chegou a vez do “Tarsinho Paz e Amor”.
Ontem, durante entrevista ao Jornal do Almoço, na RBS TV, o candidato do PT ao governo do Estado, Tarso Genro, deu
15 sorrisos em cinco minutos.
Giannetti
Avaliação do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Ibmec, em entrevista à Agência Estado: a probabilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar o segundo turno da eleição presidencial é maior que a de José Serra (PSDB), mas a vitória do petista não está assegurada. Segundo o economista, pode haver uma reviravolta na disputa.
Diz Giannetti que nem mesmo os 46% de votos dados a Lula no primeiro turno estão consolidados. Muitos desses votos poderão emigrar para o tucano.
– Eleição é um espaço de grande volatilidade – analisa.
A disputa, segundo ele, é como “um jogo de imagens” em que “pequenos acidentes podem ter grande impacto”.
Giannetti aconselha Lula a não fugir dos debates, por exemplo:
– Se fugir, isso terá um preço.
Entrevista
O médico homeopata Vanderlei Assis acaba de se eleger deputado federal por São Paulo com... 274 votos.
Assis é um dos cinco candidatos do Prona puxados pela histórica votação do fundador do partido, Enéas Carneiro.
Em entrevista ao programa Bom Dia, Brasil, da Rede Globo, Assis comentou a façanha:
Pergunta – O sr. acha justo o resultado da eleição?
Vanderlei Assis – Justíssimo. A lei é essa. Nós somos uma equipe. Vocês pensam muito em número de votos. O mais votado é o dr. Enéas.
Pergunta – Que projetos o sr. quer apresentar na Câmara?
Assis – A idéia do dr. Enéas é a minha idéia. Nós somos uma equipe.
Pergunta – Qual é a sua idéia?
Assis – A idéia dele. Ele já cansou de dizer. Ele fala isso na televisão há 12, 13 anos.
Pergunta – O sr. poderia dizer da sua boca essa idéia?
Assis – Estamos aí para brigar por um Brasil melhor. Exatamente isso.
Pergunta – Melhor em que sentido? O que o sr. pensa em fazer na Câmara?
Assis – A gente não faz nada, a gente briga, tenta fazer o que é certo. Esse negócio de dizer o que vai fazer, o que não vai, isso depende muito do momento, da hora.
O chute de cada um
Antes da votação de domingo, Zero Hora ouviu candidatos a deputado estadual e federal e sugeriu-lhes um desafio: quantos votos calculavam fazer ao final da desgastante campanha eleitoral? Houve previsões de candidatos que escondiam um sentimento de humildade e que acabaram por surpreender o candidato no momento da abertura das urnas. Outras apostas ficaram muito abaixo das expectativas. Veja chuta melhor.
Votação dobrou
O deputado estadual Vieira da Cunha (PDT) deixou a humildade de lado e declarou:
– Dobrei no último pleito, espero aumentar um pouco.
Ao comemorar 20 anos de disputas eleitorais, ele conseguiu outra façanha. De 32 mil votos, em 1998, passou para os 62.904 de agora. Mesmo surpreso, confessou a falsa modéstia:
– Minha meta secreta era de 50 mil.
Queria ser o primeiro
Com 126.346 votos nas urnas, o deputado federal Beto Albuquerque (PSB) conquistou a reeleição, seu principal objetivo. A outra missão era obter a maior votação individual no Estado – uma proeza que pertenceu a Eliseu Padilha (PMDB). Ficou em 10º na corrida para a Camara.
Alegria e tristeza
Segundo deputado mais votado na última eleição, com 145.140 votos, Nelson Proença (PPS), estava receoso em fazer projeções este ano.
Obteve 87.693 votos e garantiu novo mandato. A satisfação, porém, não foi total:
– Eu vivi um misto de felicidade pelo meu resultado e de tristeza pelos companheiros do meu partido que não se reelegeram.
Acima do previsto
A campeã de votos do PT, Maria do Rosário, pretendia repetir os 76.800 votos do pleito de 1998. A deputada federal conseguiu o dobro da sua expectativa e alcançou 143.882 votos. Ela e o partido esperavam uma colocação entre os mais votados.
Fez a sexta melhor campanha.
Boa visão
O presidente estadual do PT, David Stival, havia declarado antes do pleito: pelo menos oito candidatos apresentavam potencial para mais de 40 mil votos a deputado federal. Adão Pretto, Luciana Genro (foto) e Henrique Fontana estariam entre eles.
Stival acertou os três escolhidos. Errou nos números. Tantos os oito eleitos como os suplentes passaram dos 50 mil. Os dois primeiros citados fizeram mais que o dobro. Pretto foi a 86.949, Luciana chegou a 99.618. Fontana ficou com 79.478.
Acerta previsão e fica fora
Marcos Rolim (PT) esperava fazer 60 mil e garantir-se na Câmara. Praticamente acertou: obteve 58.889 votos, ficou como quarto suplente e o título de melhor chutador.
O campeão estadual
O pepebista Vilson Covatti queria fazer o mínimo de 60 mil votos para garantir a cadeira. Não apenas estará na Assembléia Lgislativa pelos próximos quatro anos como foi o deputado estadual mais votado no Rio Grande do Sul, com 94.094.
– A surpresa foi o primeiro lugar. Servirá como garantia que darei o melhor de mim. E passo um recado: não vou envergonhar.
Mais do que esperava
A primeira-dama de Novo Hamburgo, Floriza Rosa dos Santos (PDT), mulher do prefeito Aírton dos Santos, mostrou carisma e recebeu 51.133 votos. Foi eleita deputada estadual com desempenho acima das expectativas.
Esperava fazer 25 mil votos na sua cidade e Região Metropolitana e outros 10 mil fora. Conseguiu muito mais do que isso
Yeda se supera
Segundo o presidente regional do PSDB, Bercílio da Silva, a deputada Yeda Crusius devia puxar a votação do partido com um desempenho entre 100 mil a 150 mil votos. Ou seja, não havia a menor dúvida sobre a sua eleição. Obteve bem mais do que isto: chegou a 170.735 votos.
Três eleitos entre quatro secretários
Dos 16 integrantes do governo Olívio Dutra candidatos aos Legislativos estadual e federal, cinco obtiveram sucesso nas urnas.
O mais votado foi o ex-secretário dos Transportes Beto Albuquerque, do PSB, com 126.346 votos para a Câmara dos Deputados.
Outros quatro nomes concorreram à Câmara. Tarcísio Zimmermann, ex-secretário do Trabalho, foi eleito com 107.226 votos. Ligado à corrente Democracia Socialista (DS), Tarcísio testemunhou a depredação do Relógio dos 500 Anos, em Porto Alegre, tendo determinado a retirada da cavalaria da Brigada Militar do local. Último classificado entre os eleitos, Ary Vanazzi, que comandou a pasta da Habitação, parte para o segundo mandato, com 73.248 votos. O ex-secretário da Administração Marco Maia ficou como o primeiro suplente da bancada petista, apesar dos 71.169 votos.
Abaixo está o ex-secretário da Agricultura José Hermeto Hoffmann, com 30.099 votos. O governador Olívio Dutra, em parceria com seu chefe de gabinete, Laerte Meliga, chegou a publicar na imprensa uma nota recomendando o voto no ex-secretário. Hoffmann também contou com Lauro Magnago, que se licenciou do cargo de secretário-substituto da Secretaria da Justiça e da Segurança para assumir a campanha do correligionário.
Dos 11 nomes para a Assembléia, apenas dois se elegeram. Flávio Koutzii, ex-chefe da Casa Civil e Adão Villaverde, ex-secretário do Planejamento, será um dos novos nomes do PT na Casa.
PT recua nas grandes cidades
Uma das principais missões do candidato Tarso Genro no segundo turno das eleições para governador será recuperar os votos perdidos em grandes cidades administradas pelo Partido dos Trabalhadores.
O PT contabiliza seis prefeituras entre os 10 maiores colégios do Estado. Somente em Porto Alegre, porém, Tarso levou vantagem sobre Germano Rigotto (PMDB) no primeiro turno. Nas outras cinco cidades, Rigotto está na dianteira: Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria, Gravataí e Viamão.
Em compensação, Tarso recupera parte do prejuízo em três prefeituras dirigidas por partidos da coligação de seu oponente, onde ficou em primeiro lugar na votação: Canoas (PSDB), São Leopoldo (PMDB) e Rio Grande (PMDB). Não foi o suficiente, porém, para superar Rigotto na soma dos 10 maiores municípios, justamente um dos trunfos petistas na eleição passada. Rigotto recebeu um total de 878.424 votos, contra 832.217 de Tarso.
A situação é inversa à da eleição de 1998, quando os principais eleitorados consagraram o PT. Quando Olívio Dutra disputou o governo com o então candidato pelo PMDB, Antônio Britto, venceu em sete das 10 prefeituras.
Em 1998, o candidato petista havia somado 968.507 votos nas 10 maiores cidades. No primeiro turno deste ano, houve um decréscimo de 14% em relação ao último pleito.
O coordenador-geral da campanha de Rigotto, Alberto Oliveira, vê insatisfação da população com as administrações do PT.
– O voto no Rigotto também pode ser a resposta dos eleitores a uma proposta nova – acrescenta.
Para o coordenador de campanha petista, José Eduardo Utzig, os números não indicam reprovação:
– É fruto da polarização em que o Rigotto correu por fora. Vamos dar atenção especial a essas cidades com maior peso.
Serra tem no RS segunda maior votação
O Rio Grande do Sul, administrado pelo PT desde 1998, conferiu a José Serra (PSDB), a segunda maior votação do candidato do governo.
O tucano obteve 32,41% dos votos dos gaúchos, índice só superado no Tocantins, onde Serra teve 33,97%.
O candid ato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, venceu as eleições no primeiro turno em todos os maiores colégios eleitorais gaúchos.
Os números mostram que, mesmo onde os gaúchos não votaram em Tarso para governador, apostaram em Lula para assumir o comando do país.
Uma comparação entre este primeiro turno e o da eleição de 1998 traz à tona algumas mudanças no perfil do eleitorado gaúcho. Embora há quatro anos Lula tenha ficado atrás de Fernando Henrique Cardoso em um município (Caxias do Sul), neste ano as votações do candidato do PT foram percentualmente menores em todas as 10 prefeituras.
Em Porto Alegre, por exemplo, Lula ficou em primeiro em 1998 com 55,3% dos votos válidos. Este ano, embora tenha mantido a liderança, acumulou 46% do eleitorado. O candidato do governo federal, porém, não se beneficiou com a queda percentual de Lula.
José Serra também registrou marcas percentualmente menores que Fernando Henrique à época em todos os maiores eleitorados gaúchos. Em Gravataí, por exemplo, a votação do representante do governo caiu de 46,2% há quatro anos para 30,6% agora.
A explicação para o fenômeno está na maior distribuição dos votos nessas regiões.
Artigos
Liberdade, a suprema ideologia
Vicente Maia Filho
Na Grécia antiga, mais precisamente no sétimo século a.C, avultou um sentimento que não mais suportava as diferenças e injustiças que subjugavam e escravizavam os próprios homens: a liberdade. A causa era a atmosfera da sociedade humana em que homens fortes, usando a união, a força e a astúcia, assumiam uma forma de poder hegemônico: o poder absoluto. Este sentimento era a evolução intrínseca do espírito humano, que transportava sua alma das limitações físicas para a amplidão do universo. O encontro da alma humana com a abstração é o maior acontecimento da história do homem e o sentimento que desabrochou naquela época mostrou ao homem a sua identidade.
Desde o início, a liberdade revelou-se uma força complexa inerente ao homem. E com ela a igualdade, a verdade e a razão surgiram de pronto como instrumentos fundamentais da construção abstrata. Cedo evidenciou-se que a liberdade, por ter nascido como reação à injustiça, gerava respeito, solidariedade, justiça, e o indivíduo, fortalecido por esses valores, crescia em iniciativa e criatividade, fermentando-se, assim, as ações humanas para a conquista das riquezas materiais e do conhecimento. Naquela época, Atenas tornou-se o centro comercial e cultural do mundo antigo.
Sólon (638 – 558 a.C) foi o primeiro a abrir caminho para esse ideal de viver. Aboliu as leis de Dracon (conhecidas como as leis da morte) e humanizou as leis. Criou o Areópago (Conselho Superior) com finalidade de custodiar as leis de costumes e a Eclésia (Assembléia Popular) que igualava os indivíduos no trato da pólis. A liberdade ganhava aí o status de realidade. As leis gregas influenciaram Roma, o Areópago tornou-se Senado e, a Eclésia, a Assembléia popular (hoje, Câmara dos Deputados).
Os países que adotaram este sistema de equilíbrio de poderes são os que compõem o chamado Primeiro Mundo
Como um poderoso ente, a liberdade foi percebida pelo absolutismo, que determinou destruí-la no nascedouro. A guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C), vencida por Esparta sobre Atenas, foi a primeira guerra de fundo ideológico. Um ano mais tarde, Atenas libertou-se, vencendo os espartanos.
Mas o absolutismo continuou dominante, afora os períodos das repúblicas grega e romana. A verdadeira retomada do pensamento grego, para a organização da sociedade humana, acontece na Inglaterra, no século 17, com John Locke e outros pensadores ingleses. Nas lutas que geraram muito sofrimento àquele povo, a liberdade foi o fulcro das disputas. Não se tratava de apenas uma palavra, mas sim, de um complexo de valores intrínsecos ao homem que equiparavam sua estatura ao poder da sociedade. Essas duas ideologias nasceram e cresceram no tempo, na Inglaterra, e se amalgamaram na tempestade que culminou na chamada revolução gloriosa de 1668 – a segunda guerra ideológica. A liberdade venceu as resistências do absolutismo, para trilhar, junto com o poder da sociedade, na conquista do ideal de viver, consagrando, assim, a representação popular sediada no parlamento, que seria o lugar para criar e custodiar as leis. A justiça agiria como crivo e administrador das leis. A administração da sociedade, que tornou-se obediente às leis e ficou a cargo de um conselho de ministros, devido ao fato de que o Rei Jorge I (1714 – 1727), herdeiro do trono, não falava inglês. Assim se iniciou o sistema de gabinete, formado por três poderes – Legislativo, Judiciário e Executivo, este último, na realidade, poder delegado do Legislativo. Esse equilíbrio, harmonia de poderes, ficou consagrado quando a nação americana fez a primeira Constituição escrita, com os fundamentos que limitavam o poder Legislativo.
Hoje, todos os países que adotaram este sistema de equilíbrio de poderes são os que compõem o chamado Primeiro Mundo.
Contudo, mesmo depois de uma dialética no tempo que somou 2,7 mil anos, o absolutismo pinçou os ideais do jacobinismo, nascido e sepultado em Paris em 1771. Depois renascido e desenvolvido na Alemanha, o produto sob a forma de “ismo” foi implantado na Rússia, Alemanha e Itália: comunismo, nacional-socialismo e fascismo.
A ação seqüenciada era igual: a partir da massa e negação da unidade, era tomado o poder da sociedade, o Estado, que logo se tornava absoluto. Uma nova elite surgia e uma nova massa logo delineava... marchando. Levou à II Guerra Mundial, que correspondeu à terceira guerra ideológica, a maior e mais destruidora guerra de todos os tempos. Enfim, uma ideologia muito difícil de interpretar, porque tem sido a repetição de muitos fracassos.
Até quando o absolutismo inventará máscaras, pretextando o bem comum, mas, na verdade, subjugando o indivíduo e apoderando-se da riqueza e poder da sociedade?
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Mercado real
Já foi feito muito terrorismo com a disparada do dólar. Culpa, em parte, da própria mídia que abre tanto espaço para discutir as causas que levam esse “ente amorfo”, a provocar tanto alvoroço. A alta do dólar tem várias explicações. Umas de caráter econômico-financeiro, outras de natureza política. Foi sempre assim. E os especuladores tomam conta desse ambiente propício para auferirem lucros fabulosos em cima de investidores incautos. É claro que dólar alto não incomoda muito os exportadores, por exemplo. Produtos cotados em dólar estão fazendo a alegria dos que comercializam olhando a variação cambial. É o caso da soja, que está levando a prosperidade de volta ao campo.
Telespectadores e leitores de jornal não escondem o inconformismo com a exagerada importância que a mídia empresta ao mercado financeiro, exatamente porque isso é apenas especulação, argumenta José Willibaldo Thomé. Atento observador do noticiário diário, acha que o melhor que a mídia faria para o interesse nacional seria (e ele tem toda a razão) abordar as questões relacionadas aos mercados objetivos, como o mercantil. No caso da economia gaúcha, por exemplo, teria mais sentido falar sobre cotação da soja e do preço da arroba de carne.
De Chicago (EUA), o internauta Julio Lerm envia mensagem sobre o assunto, na mesma linha de raciocínio. Para ele a função da mídia é reportar ao público a realidade, sem atenção exagerada como faz agora ao dar demasiada ênfase ao comportamento do mercado financeiro. Julio Lerm diz, que lendo as nóticias de última hora, quase se convence de que o “mercado” é uma pessoa que está sendo monitorada na UTI. As mínimas mudanças de sinais vitais são alardeadas em manchetes, ironiza o internauta. A especulação é uma jogatina de uns poucos para a exploração descarada da população contribuinte honesta, completa José Willibaldo Thomé.
JOSÉ BARRIONUEVO
Maioria do PDT vota em Lula e Rigotto
Com a liberação dos filiados no segundo turno, a maioria dos detentores de mandato do PDT antecipa apoio a Germano Rigotto no segundo turno, cruzando o voto com Lula para presidente. Presidente da Câmara, com vários mandatos conquistados pelo PT, José Fortunati foi o primeiro pedetista a anunciar que vota em Rigotto, ao receber o candidato do PMDB ontem na Câmara. Entre os sete deputados estaduais e três federais, existem apenas duas dúvidas, de acordo com levantamento feito ontem: o líder Giovani Cherini e o representante de Montenegro, Paulo Azeredo. João Luiz Vargas contatou com vários prefeitos do PDT que também votarão em Rigotto e Lula.
Presidente estadual do PDT, Pedro Ruas disse ontem ao colunista que a liberação dos filiados para votar em Rigotto ou Tarso na sucessão estadual “é a posição mais sensata”. Ruas foi o único pedetista do secretariado de Olívio que largou o cargo para permanecer no PDT.
Senado continuará com uma gaúcha do PT
A derrota de Emília não encerra a presença da mulher gaúcha no Senado. Serys Marly Slhessarenko, do PT, natural de Cruz Alta, foi eleita senadora por Mato Grosso. Três vezes deputada estadual, advogada, pedagoga, conhecida por Serys, 57 anos, foi vitoriosa num Estado que também será governado por gaúcho: Blairo Maggi (PPS), maior produtor de soja do mundo, que reside em Rondonópolis (220 quilômetros de Cuiabá), onde votou domingo.
Candidatos de Olívio derrotados
Os integrantes do governo mais ligados a Olívio foram derrotados na eleição: o secretário José Hermeto Hoffmann – que publicou anúncios com o apoio de Olívio, de Laerte Meliga, Guaracy Cunha e Dirceu Lopes – e o coordenador do OP, Ubiratan de Souza. Dos 16 que se licenciaram do governo, 12 não se elegeram, entre eles Marco Maia e Milton Zuanazzi. Dirceu Lopes e Lucia Camini retiraram em tempo seus nomes da lista de candidatos. Quatro tiveram sucesso: Tarcísio Zimmermann, Ary Vanazzi, Flávio Koutzii (os três reeleitos) e Adão Villaverde, sendo que apenas o último não era detentor de mandato. Respaldado na máquina do OP, Ubiratan estava nos cálculos do PT como um dos mais votados. Fez 9 mil votos.
RS impede vitória no primeiro turno
Reportagem publicada ontem na Folha de S.Paulo diz que, “o quinto maior colégio eleitoral do país e Estado considerado modelo para administrações do PT, o RS foi um dos trunfos” de Serra para ampliar a votação e impedir o crescimento de Lula na reta final da campanha. Na carona de Rigotto, Serra fez 32,41% da preferência dos gaúchos, o segundo melhor índice, inferior apenas ao Estado de Tocantins. A reportagem diz que Tarso terá uma “dura missão pela frente” diante do que considera “um pendor antipetista, independentemente do adversário”. Fala no desgaste da gestão de Olívio Dutra, que enfrentou uma CPI por supostas irregularidades ligadas ao jogo do bicho.
Mais jovem deputado
Com 26 anos, Jerônimo Goergen será o mais jovem deputado da Assembléia na próxima Legislatura, seguido na idade por Luis Augusto Lara (PTB) e Frederico Antunes. Goergen esteve ontem na Assembléia buscando a orientação de Antunes, que obteve uma expressiva votação que o credencia como o principal representante do setor agropecuário na Assembléia. Eleito por Santo Augusto, Jerônimo Goergen é natural de Palmeira das Missões. É advogado com pós-gradução em Direito Empresarial.
Villaverde articula
Ex-secretário do Planejamento, Adão Villaverde esteve ontem no plenário da Assembléia conversando com deputados do PDT na busca de apoio a Tarso no segundo turno. Foi direto ao encontro de Vieira da Cunha, nome de maior expressão na bancada, que assumiu em agosto uma posição contrária à retirada da candidatura de José Fortunati, entendendo que o PDT deveria ter candidato próprio.
Mirante
• Embalada pela extraordinária votação obtida por Collares, Neuza Canabarro prepara uma candidatura a vereador em Porto Alegre. Pretende retomar pela base.
• Eleito deputado pelo PFL, Marlon, vereador em Cachoeira, é um médium conceituadíssimo no Estado.
• Novidade na praça: carros com adesivos de Lula e Rigotto. Paz e amor.
• No exercício do mandato, Fetter Júnior ficou irritado com o comando estadual por não ter sido convidado para a reunião do PPB com Germano Rigotto.
• Assessoria do PMDB está sugerindo a realização do mesmo número de debates a serem propostos por Lula. Afinal, ambos despontam como favoritos.
• José Otávio Germano foi a maior surpresa com a votação obtida em 490 municípios. Ninguém imaginava que faria mais de 100 mil votos. Dos 180 mil obtidos, 21,5 mil estão em Porto Alegre.
• O segundo deputado federal do PPB mais votado na Capital fez 7 mil.
• Eleito federal, Onyx Lorenzoni avisa que vai acabar com o que define como “praga de madrinha” que recai sobre todos os eleitos pelo PFL para a Câmara. Arno Magarinos foi para o PPB, Jair Soares também e Roberto Argenta, que não se reelegeu, trocou o PFL pelo PHS.
• Comando da BM pediu degravação de todos os discursos e entrevistas do Capitão Medina. Vem retaliação.
ROSANE DE OLIVEIRA
Conflito de interesses
A comparação dos números obtidos pelos quatro principais candidatos à Presidência no Brasil sugere que a eleição está perdida para o senador José Serra, depois do apoio de Ciro Gomes a Luiz Inácio Lula da Silva. A se confirmar o prometido apoio de Anthony Garotinho, o favoritismo de Lula estaria mais do que consolidado. É cedo, porém, para cantar vitória. Ninguém pode garantir que o eleitor de um candidato derrotado siga a sua orientação.
O segundo turno é uma nova eleição e a campanha está recomeçando agora, com a busca de apoios de parte a parte. As duas principais adesões à candidatura de Lula anunciadas ontem já eram esperadas – como era previsível o apoio do senador baiano Antonio Carlos Magalhães. A questão é: até que ponto essas adesões representarão votos novos para Lula?
Tome-se o caso de ACM. Na Bahia, Lula teve 2.899.280 votos, equivalente a 55,28% dos válidos. Como candidato ao Senado, ACM fez 2.995.559. Ciro Gomes, seu candidato não passou de 738 mil. Não se sabe qual é o perfil dos 10 milhões de brasileiros que votaram em Ciro.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o PPS é inimigo do PT. Os líderes do partido e os eleitores de Antônio Britto têm muito mais afinidade com José Serra do que com Lula e já estão comprometidos com Germano Rigotto para governador.
A situação não é diferente no PDT. Embora as bases rejeitem o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a fidelidade a Brizola já não é a mesma dos velhos tempos. Para evitar constrangimentos, o PDT vai exigir apoio a Lula, mas liberou os filiados nas eleições estaduais. O palanque de Lula é o mesmo de Tarso Genro – e a maioria dos deputados do PDT está com Rigotto.
Editorial
DEFORMAÇÕES ELEITORAIS
Em meio à justa celebração democrática em que o país está envolvido nestes dias de apuração dos resultados da eleição dos novos deputados e senadores, nada justifica que se fechem os olhos para algumas distorções que o processo evidenciou. A mais escancarada delas ocorreu em São Paulo onde a surpreendente votação de Enéas Carneiro, de mais de 1,5 milhão de votos, acabou arrastando para a Câmara Federal candidatos que conseguiram apenas algumas centenas de votos e um deles terá assento na casa que já abrigou João Neves da Fontoura, João Mangabeira ou Raul Pilla armado de insignificantes 274 sufrágios.
É urgente que se reformule a legislação com a introdução de novos modelos
Mas há outras distorções além dessa que é patrocinada por uma legislação que valoriza os chamados puxadores de votos. A proliferação de candidatos eleitos nas costas de familiares famosos é uma anomalia que não pode deixar de ser registrada. Filhos, esposos ou irmãos de políticos famosos embarcam nessa popularidade, que não é conquistada mas herdada, para eleger-se. Abanam com o chapéu alheio. Sem falar de outra apropriação familiar de cargos públicos: a da indicação de familiares para a suplência dos candidatos a senador. É óbvio que nem todos os casos representam distorções. Há políticos que conquistaram seu espaço e merecem os mandatos que conquistaram. Aí está, por exemplo, o caso do neto de Tancredo Neves que, por méritos próprios, chega no primeiro turno ao comando do segundo maior Estado da federação. As anomalias do processo estão nos casos de meteóricas carreiras políticas obtidas unicamente à sombra de pais ou maridos.
O processo eleitoral exige aperfeiçoamentos para dificultar essas evidentes incongruências. Uma reforma política, que há décadas se faz necessária, precisará levar em conta situações que importam em sub ou super-representação de regiões dentro de um mesmo Estado e, no país, a esdrúxula anomalia de uma legislação que permite a eleição em Roraima ou Amapá de deputados com número de votos três ou quatro vezes menor que o exigido para parlamentares eleitos em Estados do Sul e do Sudeste. No primeiro caso, há cidades, como Santa Maria, que acabam super-representadas, elegendo vários deputados estaduais e federais, enquanto outras, como Caxias ou Pelotas, não conseguem impor sua importância demográfica nos plenários da Assembléia ou da Câmara. Já a disparidade existente entre Estados de populações diferentes reflete igualmente uma distorção na representação. O princípio democrático de “um homem, um voto” acaba evidentemente ferido.
Assim, a bem da seriedade e da qualificação do processo democrático, é urgente que se reformule a legislação com a introdução de novos modelos – por que não o voto distrital misto, como praticado na Alemanha? –, da fidelidade partidária, da cláusula de barreira, do princípio da igualdade do voto, dentre outras medidas relevantes. Nossa democracia merece isso.
Topo da página
10/09/2002
Artigos Relacionados
João Osório: PMDB continua campeão de votos no RS
'Cara pintada' e campeão de votos disputará Presidência do Senado com Sarney
Itamar diz que FH já virou cadáver
Dilma lamenta a morte do ator Paulo Goulart
Funarte lamenta a morte do ator Rodolfo Bottino
Músico e ator David Bowie é homenageado em mostra do MIS