Unesp testa soro contra picadas de abelhas



Antídoto será aprovado pela Anvisa após testes clínicos realizados Nos hospitais das Clínicas e Vital Brazil

Está em teste em hospitais paulistanos o primeiro soro capaz de neutralizar o veneno de abelhas no organismo humano. Inteiramente desenvolvido no País, o produto, que deverá evitar o sofrimento físico de vítimas de múltiplas ferroadas do inseto, resulta de estudos conduzidos por um grupo de pesquisadores liderado pelo bioquímico Mario Sergio Palma, docente do Instituto de Biociências (IB), câmpus de Rio Claro.

Segundo Palma, a aprovação do antídoto pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só ocorrerá após as verificações clínicas, a serem realizadas no Hospital Vital Brazil, ligado ao Instituto Butantan, e no Hospital das Clínicas da USP, ambos em São Paulo (SP). Por recomendação da Organização Mundial da Saúde, o soro precisa ser testado em um número mínimo de 30 vítimas de abelhas antes de ser colocado no mercado.

Após a liberação, segundo Palma, o soro será distribuído pela rede pública de saúde de todo o País, como já ocorre com outros tipos de antídotos. “Mas ainda não temos previsão”, destaca.

O docente avalia que a avançada tecnologia para a produção de soros antiofídicos contra envenenamento por animais peçonhentos, principalmente cobras e aranhas, não foi suficiente para conseguir o antiveneno de abelhas. Para produzir esse antídoto, ainda segundo Palma, foi preciso avançar nos estudos moleculares para conhecer a composição do veneno e seus mecanismos de ação. Palma e seus colaboradores precisaram definir a estrutura e a função de cada uma das 134 proteínas que o compõe. “Esse conhecimento nos ajudou a desenvolver diversos testes até que o soro pudesse neutralizar totalmente a ação do veneno”.

Início - O trabalho que deu origem ao soro antiveneno de abelhas foi iniciado em 2005, por meio do Instituto de Investigações em Imunologia (iii), criado dentro do programa Institutos do Milênio do Ministério da Ciência e Tecnologia. O professor de Rio Claro destaca a importância do iii para o projeto, que possibilitou a interação entre grupos de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento.

A rede de pesquisadores é composta por membros do Centro de Estudos de Insetos Sociais (CEIS), do Instituto de Biociências, câmpus de Rio Claro; da Fundação Instituto Butantan; da Disciplina de Alergia e Imunologia da Faculdade de Medicina da USP; Laboratório de Imunologia do Instituto de Coração e do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, também da USP. Os financiamentos foram pagos pela Fapesp, Finep, CNPq e Capes.

Tratamento – Semelhante aos casos de picadas de cobras, aranhas e outros animais venenosos, a vítima de múltiplas picadas de abelhas deve iniciar o tratamento com doses pequenas de soro, cuja ação é sentida assim que atinge corrente sangüínea. O cientista avalia que o soro seja eficaz contra a picada da maioria das abelhas da espécie Apis mellifera pelo fato de estar presente em mais da metade do planeta.

Atualmente, por falta de uma medicação adequada, os acidentados são medicadas com corticóides, broncodilatadores, vasodilatadores e hemodiálise, entre outras estratégias terapêuticas. “O veneno pode circular no organismo por até três dias após o ataque”, explica Palma. Nesse período, a vítima pode sentir dor de cabeça, taquicardia, sudorese, diarréia e, em caso extremo, evoluir para o óbito.

Ataques – Dados do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo apontam que, em 2005, cerca de 3,5 mil pessoas foram atacadas por abelhas e vespas no Estado. No mesmo período, também em São Paulo, a taxa de mortalidade passou de 0,35 para 1,15 por 100 mil habitantes.

O problema também ocorre em países como os Estados Unidos. Entre 1991 a 2001, 533 norte-americanos morreram em conseqüência de ataques de abelhas e vespas, a maioria em até 22 horas após o acidente. “Além da taxa de mortalidade, nos preocupamos com as seqüelas de um ataque em massa, tais como insuficiência renal crônica, doenças cardíacas, problemas neurológicos, entre outros”, assinala o Palma. 

Da Unesp



10/13/2008


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