USP testa medicamento contra doença de Chagas



Substância começou a ser experimentada em animais

Depois de anos sem um medicamento realmente eficiente para tratar da doença de Chagas, surge uma perspectiva a partir de experimentos realizados na Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadores das Faculdades de Medicina de Ribeirão Preto e do Instituto de Química de São Carlos desenvolveram um composto químico à base de óxido nítrico e rutênio que, testado em animais, mostrou-se eficaz na eliminação do parasita causador da doença. O próximo passo é testá-lo em humanos.

Nesse composto, o óxido nítrico (um gás) é a substância responsável por matar o Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença. O elemento químico rutênio funciona como o agente que transporta, para o interior das células infectadas, o radical liberador de óxido nítrico, facilitando a eliminação dos parasitas.

É a primeira vez que se utiliza óxido nítrico e rutênio associados para tratar da doença. A propriedade do rutênio de adentrar as células era conhecida desde 1980. Já as descobertas sobre a capacidade do óxido nítrico em destruir o parasita datam dos anos 1990.

Coordenador da equipe que estuda o novo composto, o professor João Santana da Silva, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Faculdade de Medicina da USP, explica que a finalidade da pesquisa é encontrar uma droga efetiva, capaz de matar o parasita, sem ser tóxica para as pessoas. Atualmente, há vários relatos de substâncias que eliminam o parasita, mas, em geral, são tóxicas e não se conhecem os efeitos colaterais que desencadeiam. Uma das drogas mais utilizadas é o benzonidazol. Outro medicamento, embora menos eficaz e muito mais tóxico, é o nifurtimox.

Segundo o pesquisador, não dá para se falar em porcentual de cura dessas duas drogas, porque o mal de Chagas é uma doença crônica, com a qual a pessoa convive durante longo tempo, sem necessariamente morrer dessa enfermidade. Resta a questão: quantos dos que consomem esses medicamentos deixam de ter anticorpos contra a doença, universo este estimado entre 50% e 60%. Mas, mesmo nesses casos, observa Silva, não se tem certeza de que estejam curados de fato. 

Perspectivas positivas – Com relação ao novo composto, experiências com camundongos realizadas no final do ano passado mostraram que ele tem eficácia de 100% na eliminação do parasita. Nos homens, os testes ainda não começaram, pois aguardam experimentos finais de toxicidade em cobaias. “Pode ser, inclusive, que a substância seja tóxica para humanos e não possa ser utilizada”, avalia o professor. Caso se confirme em humanos resultados similares aos obtidos nos testes, as perspectivas de produção de um novo medicamento com esse princípio ativo são grandes.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores estão desenvolvendo outra droga derivada dessa que foi descoberta, mas bem menos tóxica. “Estudos-piloto mostraram que podemos melhorar o composto (óxido nítrico e rutênio) pelo menos mil vezes ainda. Com isso, é possível que tenhamos em mãos, muito rapidamente, uma droga capaz de eliminar o parasita com eficiência muito maior do que essa que conseguimos”, revela o pesquisador. 

Pioneirismo

Os estudos sobre a nova droga são desenvolvidos por um grupo de 31 pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, coordenados pelo professor João Santana da Silva, e dez do Instituto de Química da USP de São Carlos, orientados pelo professor Douglas Wagner Franco.

A primeira unidade realiza a parte biológica da pesquisa, e a segunda, a química. Além de recursos da própria USP, a maior parte dos estudos é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto é pioneira em pesquisas sobre o mal de Chagas no País, tendo iniciado seus trabalhos em 1952.

Além dela, outras instituições – como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal de Goiás – desenvolvem pesquisas sobre o tema. 

Da Agência Imprensa Oficial com IB



04/30/2008


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