Unicamp divulga pesquisa sobre os efeitos do consumo de anabolizante



Altas doses do produto e exercícios físicos resultam no aumento de colesterol e dificultam bombeamento cardíaco

Pesquisa constata que uso de esteróide anabolizante, conhecido pelos jovens como “bomba”, associado a treinamento físico intenso, resulta em deficiência do bombeamento cardíaco, aumento de colesterol LDL (colesterol ruim) e alterações de comportamento. Estas são algumas conclusões do trabalho da bióloga Fernanda Klein Marcondes, professora de Fisiologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp.

Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa foi feita para analisar as causas e os efeitos cardiovasculares, metabólicos e comportamentais do consumo em alta dosagem do anabolizante mais usado no Brasil e no mundo, o decanoato de nandrolona (nome comercial Deca-durabolin).

Fernanda e sua equipe iniciaram o trabalho em 2002, com a colaboração de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, da Universidade Federal de São Carlos e da área de Histologia da FOP.

O estudo foi realizado em ratos, separados em quatro grupos. O primeiro submeteu-se a treinamento de força e ingeriu placebo (substância neutra, sem efeito farmacológico), o segundo, não-treinado, recebeu a nandrolona; o terceiro, consumiu nandrolona e não realizou treinamento e, o último, participou das atividades e foi tratado com anabolizante.

Rato de colete – Os animais consumiram a substância duas vezes por semana, durante um mês e meio, o equivale à superdosagem em ser humano (cerca de 800 mg por semana). O treinamento de força ocorreu num tanque com 38 centímetros de altura, com água à temperatura de 30º C (ideal para atividade física na água). Cada animal recebeu colete que pesava entre 50% e 70% do seu peso. Com o adereço nas costas, o rato afundava na água e saltava para respirar. A cada dez saltos ele era retirado do tanque para descansar por um minuto. O procedimento foi repetido quatro vezes ao dia.

Em todos os grupos, com exceção dos sedentários que não receberam anabolizante, a parede da cavidade cardíaca ficou mais espessa e seu diâmetro interno, menor. O resultado é menor espaço para a entrada de sangue a ser bombeado pelo coração.

Esse efeito causado pelo fisiculturismo já é conhecido pela comunidade científica. Fernanda afirma que até certos limites, essa alteração não causa prejuízo à função cardíaca. Porém, os pesquisadores fizeram um exame cardiológico nos ratos e constataram que o anabolizante associado ao treinamento intenso gera hipertrofia do músculo e deficiência no bombeamento cardíaco.

Mais gordura – Na literatura médica certos estudos apontam mortes súbitas de fisiculturistas usuários de anabolizantes, relacionadas ao aumento do coração. “Nossa pesquisa mostra que uma parcela disso se deve ao anabolizante e outra, ao treinamento intenso de força; os dois fatores juntos amplificam os efeitos”, garante Fernanda.

O trabalho da professora analisou não apenas o coração, mas também o sistema vascular, para saber se o uso de anabolizante altera a capacidade do vaso sangüíneo, se há dilatação ou contração, conforme a necessidade do organismo.

“A função dilatadora é extremamente importante para manter a pressão sangüínea e a temperatura corpórea reguladas diante de movimentos do corpo ou de alterações da temperatura do ambiente, assim como para fazer o sangue chegar a todos os tecidos corpóreos”, informa Fernanda.

Nos grupos que realizaram treinamento físico, o resultado foi a diminuição da resposta de uma substância vasoconstritora. A docente observa que é um efeito benéfico do exercício, pois evita o aumento da pressão arterial enquanto se pratica a atividade.

No entanto, nos ratos treinados e tratados com anabolizante o efeito benéfico foi bloqueado. Segundo Fernanda, houve diminuição da produção de óxido nítrico na aorta, associada ao aumento de colesterol ruim, ao lado do aumento no número de placas de gordura no vaso.

Da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



10/05/2008


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