Unicamp: Pesquisador cria PET para cerveja brasileira



Invento é uma adaptação da embalagem plástica às condições em que é produzida a bebida no País

A indústria cervejeira nacional já dispõe da tecnologia necessária para garantir mais uma roupagem à famosa loirinha. Após anos de pesquisa, o professor do Departamento de Tecnologia de Embalagens da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, Carlos Alberto Rodrigues Anjos, criou uma embalagem PET adequada à bebida nacional. Apreciador da bebida, o pesquisador enumera as vantagens do vasilhame: elevada resistência mecânica, que gera economia no enchimento, transporte e empilhamento, é inerte (não passa gosto à bebida), pois é uma embalagem segura para ser utilizada em aglomerações (dez vezes mais leve que o vidro e com boa preservação física) e o seu material tem índices de reciclagem crescente. Além disso, o professor atesta que, diferentemente do vidro e do alumínio, a PET pode ser produzida na linha de enchimento dos vasilhames, à medida que é utilizada. “Isso dispensa o estoque de embalagens compradas de empresas especializadas, característica interessante para as cervejarias regionais menores, que hoje são mais de cem no país”, diz.

Embora comum em outros países, como EUA, Holanda, Bélgica, Canadá, Luxemburgo, Alemanha e República Checa, a adoção da embalagem plástica por aqui era um desafio. O impedimento estava no processo de fabricação da bebida no país, que requer pasteurização em altas temperaturas, às quais a PET comum não resiste. Já nos países que utilizam a embalagem plástica, a cerveja é acondicionada assepticamente a frio ou filtrada em membranas.

Instigado, o professor passou a estudar o assunto. Resolveu que a pesquisa precisaria seroi desenvolvida em conjunto com a indústria, para que desencadeasse num produto viável. Juntou-se à uma cervejaria, a Frevo, que fez experiências na sua própria linha de produção. O pesquisador enfatiza a importância dos testes realizados. “Durante todo o processo, submetemos a embalagem ao túnel de pasteurização, com a bebida, para que ela em seguida fosse degustada por cervejeiros experientes”, conta.

Temperaturas altas e distâncias

O processo de produção da cerveja brasileira envolve a passagem das embalagens contendo a bebida por um túnel de 40 a 50 metros, durante um tempo pré-determinado e numa temperatura alta, para garantir qualidade e estabilidade à bebida até ser consumida. Carlos Anjos esclarece que esse procedimento é necessário por causa das condições de transporte e armazenamento que ocorrem aqui. “No Brasil, há temperaturas muito altas e as distâncias são muito longas, o que dificulta a conservação do líquido”, explica.

As tentativas foram realizadas até que a própria indústria atestasse a obtenção de uma embalagem plástica resistente ao túnel e que mantivesse inalteradas as características da cerveja durante o seu “tempo de prateleira”. “O desafio foi achar o que somar ao PET, e em que proporção, para chegar a um produto que resistisse às condições de pasteurização, com um desenho que lhe garantisse solidez, porém sem comprometer o seu peso e o sistema de fechamento”, conta o pesquisador.

O resultado é do esforço é um PET modificado, resultante da mistura do polietileno tereftalato (o PET convencional) com nylon, mecanicamente resistente, que retarda a perda e gás carbônico e a entrada de oxigênio e pode ser pigmentado para evitar a ação das radiações, fator fundamental em bebidas fermentadas. A garrafa ainda traz uma tampa com rosca, eficiente na vedação e prática na utilização. “Dentro do prazo possível de conservação, que é em trono de três meses em temperatura ambiente, a embalagem Pet apresenta características muito próximas da embalagem de vidro”, acrescenta o professor.

Para ele, o produto é mais uma opção no mercado, “pois o vidro e o alumínio deverão manter seus segmentos”, afirma. “Agora, o uso é apenas uma questão de interesse”, avisa. A novidade não vai ser patenteada. Para seu uso, as empresas deverão aderir ao pacote tecnológico desenvolvido.

Processo de produção

A produção da cerveja passa por vários estágios. Após a fabricação, o produto deve maturar por no mínimo 13 a 15 dias, período necessário para que adquira um padrão de qualidade sensorial adequado ao consumo. Depois de maturada, a cerveja vai para garrafas de vidro, latinhas de alumínio ou embalagens de long neck. Só então acontece o processo de pasteurização.

A temperatura utilizada deve ser controlada para cada tipo de embalagem, pois a transmissão de calor ocorre diferentemente no vidro, no alumínio e no plástico. Nos três casos, o tempo e a temperatura devem ser mantidos em um intervalo considerado ideal. Para as latinhas as condições estão mais próximas do mínimo deste intervalo e, para as garrafas, do máximo.

Esse procedimento é fundamental para determinar a qualidade sensorial final e a estabilidade da bebida e foi justamente nisso que se baseou a pesquisa do professor.

“No Brasil, interessa às cervejarias a pasteurização no mesmo túnel que utilizado para a lata e o vidro. Por isso que era importante criar uma embalagem PET que resistisse às deformações que o calor pode provocar”, conclui.

Reciclagem

Outra vantagem da Pet é que, assim como a lata de alumínio, pode ser aproveitada em uma grande gama de produtos. Segundo dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), entidade sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem, o Brasil consumiu 360 mil toneladas de resina PET na fabricação de embalagens em 2004. A demanda mundial é de cerca de 7 milhões de toneladas por ano.

O maior mercado para o PET pós-consumo no Brasil é a produção de fibra de poliéster para indústria têxtil (multifilamento), para aplicação na fabricação de fios de costura, forrações, tapetes e carpetes, mantas de TNT (tecido não tecido), entre outras. Também é frequentemente usada na fabricação de cordas e cerdas de vassouras e escovas (monofilamento).

Outra parte é destinada à produção de filmes e chapas para boxes de banheiro, termo-formadores, formadores a vácuo, placas de trânsito e sinalização em geral. Também é crescente o uso das embalagens pós-consumo recicladas na fabricação de novas garrafas para produtos não alimentícios.É possível utilizar os flocos da garrafa na fabricação de resinas alquídicas ( usadas na produção de tintas) e resinas insaturadas, para produção de adesivos e resinas poliéster. As aplicações mais recentes estão na extrusão de tubos para esgotamento predial, cab

09/24/2006


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