Uso de célula-tronco de embrião é debatido na Rádio Senado



Entre a ansiedade de doentes e cientistas e as ponderações de religiosos, o Parlamento terá a responsabilidade de encontrar uma saída que preserve o direito à vida saudável e as implicações éticas dos tratamentos com base na mudança de genes. Esta a conclusão a que chegou nesta segunda-feira (7) o senador Tião Viana (PT-AC) durante debate realizado no programa Conexão Senado, da Rádio Senado, sobre o uso de células-tronco de embriões humanos no tratamento de doenças genéticas e degenerativas.

- Temos de achar esse caminho do meio - afirmou Tião Viana que apresentará proposta para criação do Conselho Nacional de Bioética para as Ciências da Vida.

Outra participante do debate, a diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, é favorável ao uso das células de embriões não utilizados nos processos de fertilização artificiais. Ela argumenta que esses embriões serão em algum momento descartados e que as células-tronco dessa fonte têm mais chance de se diferenciar em todo o tipo de tecido humano, facilitando a regeneração.

- Torço para que possamos encontrar em humanos adultos e em cordões umbilicais células tão eficientes, mas enquanto isso não é possível, seriam muito úteis os embriões a serem descartados - afirmou Mayana.

Para o frei Antônio Mozer, presidente da Editora Vozes, é preciso refletir mais sobre o tema, a fim de que o -mistério da vida- não seja violentado e que interesses comerciais não venham a prevalecer sobre o interesse da sociedade. Para Mozer, a cura é um processo que vai além da correção de uma deficiência, mas que significa o encontro dos homens com Deus, consigo próprios e com a criação. O mais importante, em sua visão, é humanizar a vida, ainda que esse ou aquele indivíduo continuem padecendo de alguma doença.

- Por que Jesus não curou a todos? Talvez porque a cura seja algo mais amplo - ponderou o frei.

Tanto a professora da USP quanto mães de crianças com problemas genéticos apelam justamente para a imagem de um Cristo que estaria mais propenso a defender a vida do que uma discussão prolongada sobre quando começa um ser humano. -Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância- foi o versículo da Bíblia recitado por uma cidadã de Mato Grosso do Sul, mãe de duas filhas deficientes.

Para o senador Tião Viana, o estabelecimento de legislação clara sobre o assunto e a criação de bancos genéticos públicos destinados armazenar material de transplante evitará problemas éticos e a comercialização da vida. Tanto ele quanto Mayana são contra a produção de embriões para a utilização das células-tronco. Ou seja, são a favor de que se usem apenas os embriões congelados e sem chance de geração de bebês. Mozer disse não acreditar na inocência da pesquisa científica e questionou a necessidade da fertilização artificial.



07/06/2004

Agência Senado


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