Workshop abre canais para parceria entre Brasil e Japão na área de biocombustíveis
Evento promovido pela Unicamp reunirá cientistas, empresários e representantes dos governos dos dois países.
A Unicamp promove, de 29 de outubro a 1 de novembro, o V Workshop Brasil-Japão: Biocombustível, Meio Ambiente e Novos Produtos da Biomassa. A quinta edição do evento vai reunir, no Centro de Convenções da Universidade, especialistas de instituições de ensino e pesquisa, empresários e representantes dos governos e de agências de fomento dos dois países. O objetivo do encontro é abrir novos canais de cooperação bilateral de interesse estratégico nas áreas de combustíveis alternativos, cogeração de energia, biomassa, sustentabilidade e mercado de crédito de carbono, entre outras. A produção de etanol estará no centro dos debates.
Segundo Carlos Kenichi Suzuki, presidente da comissão organizadora do workshop, o momento não poderia ser mais oportuno para o estabelecimento de parcerias, de intercâmbios e de troca de experiências entre cientistas, empresários e agências governamentais dos dois países. “A grande abrangência temática do workshop deve-se ao cenário atual. O aquecimento global exige que a ciência procure alternativas para mitigar o problema”, afirma Suzuki, que é professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (FEM). A expectativa do docente e dos organizadores é que o workshop funcione como um “catalisador” de programas bilaterais de grande magnitude.
Na avaliação do pesquisador, a emissão de CO2 causada pela queima de combustíveis fósseis já cobrou sua fatura. O advento de novas tecnologias, observa Suzuki, é fundamental para a reversão de um quadro que vem se agravando ao longo das últimas décadas. “As soluções precisam ser de curto prazo. Nesse contexto, os combustíveis renováveis ocupam um papel central. A substituição vai ser gradativa, mas ela precisa ser iniciada já”.
Além do problema ambiental, prossegue o especialista, os aspectos econômicos precisam ser colocados na balança. Suzuki lembra que o etanol já era mais vantajoso economicamente quando a unidade de barril ainda não havia ultrapassado a marca dos 30 dólares. “Hoje, o preço já bateu em mais que o dobro desse valor”, contabiliza.
O especialista observa que a área de biomassa contempla uma infinidade de produtos derivados da biorrefinaria – os plásticos biodegradáveis são um exemplo. Suzuki projeta que eles gradativamente ocuparão o espaço que ainda hoje é predominantemente ocupado por milhares de subprodutos oriundos da petroquímica. Essa tendência, avalia Suzuki, é irreversível. “Grandes corporações multinacionais que vêm investindo maciçamente em pesquisas na área estão iniciando parcerias com empresas brasileiras”.
Nesse contexto, afirma Suzuki, o workshop vem sacramentar o que o especialista classifica de “casamento perfeito” entre o Brasil e o Japão. “A complementaridade nessa área é muito grande. Cada país tem uma coisa. As trocas são vantajosas para os dois lados”, afirma o pesquisador, revelando que uma série de iniciativas empresariais nesse campo já estão em curso. Uma das quais, exemplifica, é o consórcio formado entre a Petrobrás e um grande grupo empresarial japonês. Os brasileiros já instalaram uma empresa no Japão, enquanto o grupo nipônico planeja investimentos.
A aposta da empresa brasileira no mercado do país asiático mira o cenário futuro. O governo do Japão acaba de instituir uma legislação, conhecida como “E-3”, que prevê a colocação no mercado de 3% de etanol em toda a demanda de gasolina.
Outro ponto destacado pelo docente da FEM são as pesquisas desenvolvidas no mundo todo que visam transformar fibras vegetais em energia, em processo conhecido como hidrólise. Embora difundida em laboratórios, a técnica ainda não é economicamente rentável.
O especialista lembra que se trata de um mercado a ser explorado. Um terço de toda a colheita de cana, por exemplo, é constituída de bagaço. Mesmo queimando os resíduos para a geração de energia, há um excedente considerável. “Boa parte dessa queima pode ser otimizada e transformada em etanol”, diagnostica. Nesse sentido, o workshop, na opinião de Suzuki, pode viabilizar parcerias vantajosas para ambas as partes.
Segundo o docente da FEM, o evento reunirá renomados especialistas em conversão de biomassas e, conseqüentemente, em hidrólise. Entre os representantes japoneses, estão dois nomes que contemplam da cadeia produtiva, passando pela ciência até chegar a instância governamental – o professor Yasuo Igarashi, da Universidade de Tóquio, que é presidente da Comissão Japonesa de Biomassa, organismo responsável por políticas públicas e investimentos na área e Hajime Uchida, diretor do Banco Sumitomo-Mitsui.
Especialistas de outras universidades do Japão, entre as quais de Kyoto, Gifu e Kyushu, instituições que desenvolvem pesquisas de ponta na área, participarão do evento. Uma missão do governo japonês em biotecnologia e biomassa também estará presente.
Na opinião do cônsul geral do Japão, Masuo Nishibayashi, o workshop possibilitará a troca de informações entre cientistas que se dedicam integralmente a temas de interesse do mundo inteiro. “Minha expectativa é que este workshop contribua para a solução de problemas ambientais do mundo e para o estreitamento das relações acadêmicas e econômicas dos dois países que, em 2008, comemoram os cem anos da imigração japonesa”, afirmou Nishibayashi.
Do lado brasileiro, entre outros especialistas, falará o professor Rogério Cerqueira Leite, que é coordenador do Projeto Etanol, do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), cujo objetivo é substituir de 5% a 10% de toda a gasolina do mundo pelo etanol, até 2025.
O presidente da comissão organizadora lembra que a presença de empresas do porte da Petrobrás e da Toyota na relação de patrocinadores e apoiadores é emblemática das novas tendências mundiais, inclusive as de consumo. “O ‘carro verde’ da Toyota, cujo sucesso foi muito grande, demonstra que a estratégia da companhia é partir para uma tecnologia mais avançada e limpa”, constata o cientista, referindo-se ao lançamento de um veículo cujo interior é composto de plástico biodegradável. A presença de representantes da Sanasa na relação de patrocinadores, reforça o cientista, demonstra essa preocupação com o meio ambiente.
Suzuki enfatiza também a apresentação de contribuições técnico-científicos no âmbito da temática do evento. Até o último dia 19 de outubro, cerca de 120 trabalhos tinham sido inscritos. “Teremos pesquisadores de todo o país”. Os temas são os mais variados: biodiesel, etanol, plástico biodegradável, conversão da biomassa, tratamento de resíduos e de efluentes, mercado de crédito de carbono de água, entre outros. Os melhores trabalhos, revela o Suzuki, serão premiados.
Álvaro Kassab e Ronei Thezolin
(M.S.)
10/28/2007
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