A bossa nova vai ao Carnegie Hall



Os preparativos que antecederam a viagem da bossa nova para o concerto no Carnegie Hall ficariam marcados na memória dos músicos, intérpretes e compositores que viajaram para Nova York, tal a confusão como a coisa foi feita, no que pese o interesse e a ajuda do Itamaraty para que o "grande acontecimento" tivesse êxito.

De acordo com Ruy Castro, "quem acompanhou o pandemônio no Rio que antecedeu a viagem para o Carnegie Hall teve a sensação de que nem a escalação dos tripulantes nas caravelas de Pedro Álvares Cabral, para se decidir quem iria descobrir o Brasil, comportou tantas trapalhadas". A situação se complicou - prossegue o autor - porque, após o convite feito por Sidney Frey, presidente da Audio-Fidelity, para uma noite de bossa nova no dia 21 de novembro de 1962, no Carnegie Hall, "de repente, todo mundo por aqui tornara-se bossa nova: seresteiros, repentistas, conjuntos de lundu, harpistas e até bem intencionados jazzistas, as conversões foram em massa na vigésima quinta hora."

Sobre a apresentação da bossa nova, na noite de 12 de novembro em um dos palcos mais cobiçados do mundo, os críticos, em geral, concederam que algumas apresentações, como as de Tom Jobim, João Gilberto, Oscar Castro Neves e outros poucos, tenham se diferenciado daquele certo clima de feira, com o violonista Bola Sete tocando violão nas costas, tipo da coisa que não tinha nada a ver com bossa nova. Aquela noite não faltou, sequer, a exibição de passistas e percursionistas de escolas de samba do Rio de Janeiro.

O jornalista, escritor e pesquisador da música popular brasileira Sérgio Cabral diz que "a intenção era a melhor possível, mas que foi um dos shows mais caóticos já apresentados pelo austero Carnegie Hall, foi". Em rara entrevista, concedida ao jornalista e crítico musical Tárik de Souza, João Gilberto confirma: "A sensação foi que não tinha ficado nada depois da festa. Nem os copos no chão nem as cinzas no tapete".

A repercussão do evento na imprensa americana foi a pior possível. A revista The New Yorker rotulou a bossa nova de hotel music, a música incolor e inodora para o jantar dos hóspedes e encerrou com a frase: "Bossa nova, go home!".

O espetáculo no Carnegie Hall, porém, é considerado um marco na história da música popular brasileira no exterior. Apesar de alguns críticos, no Brasil, terem se mostrado ainda mais contundente do que seus colegas americanos sobre o fracasso do show no Carnegie Hall, após a apresentação a bossa nova foi recebida na Casa Branca, pela primeira-dama Jacqueline Kennedy. De tão bem impressionado com a esposa do presidente - diz a história -, Carlinhos Lyra quase se esqueceu de sua aversão ao imperialismo ao ouvi-la dizer que uma de suas canções favoritas era Maria Nobody.

Jorge Frederico / Agência Senado

Obras consultadas:

Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, de Sérgio Cabral (Editora Lumiar -1997)

Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, de Sérgio Cabral (Editora Lumiar -1997)

Antônio Carlos Jobim - Uma Biografia, de Sérgio Cabral (Editora Lumiar -1997)

Chega de Saudade - A Histórias e as Histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro (Editora Companhia das Letras - 1990)

A Onda que se Ergue no Mar - Novos mergulhos na Bossa Nova, de Ruy Castro (Editora Companhia das Letras - 2001)

A Vida de Tom Jobim - Depoimento. Editora Rio Cultura

Uma Promessa Ainda não Cumprida - artigo de Lorenzo Mammi, publicado no Caderno Mais - Jornal Folha de S. Paulo, 2000.

Anatomia de um Disco - artigo de Ruy Castro, publicado na revista Brasileiros - 2008.

(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)



01/08/2008

Agência Senado


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