'A história julgará o meu papel', responde Sarney às críticas da revista 'The Economist'



O presidente do Senado, José Sarney, respondeu nesta quinta-feira (19) a artigo publicado na revista inglesa The Economist no último dia 5, com referências negativas à sua carreira e atuação política. Carta de sua autoria foi publicada no site do periódico e será veiculada na edição impressa desta semana, depois que o parlamentar acionou a empresa de advocacia Marriott Harrison naquele país para obter direito de resposta.

The Economist, que apontou a vitória de Sarney para a Presidência do Senado com "uma vitória para o semifeudalismo", afirma que o parlamentar tornou-se presidente do Brasil de forma "acidental e sem distinção" e liga os problemas do Maranhão à gestão da família Sarney no estado. Na carta, o presidente do Senado rebate as críticas da revista e lembra seu papel como primeiro presidente depois da ditadura militar:

"A história julgará o meu papel, mas sou reconhecido como o presidente da transição democrática, da convocação da assembleia constituinte e que priorizou o desenvolvimento social, o que permitiu o surgimento de uma sociedade verdadeiramente democrática e levou um operário a ser eleito presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva", explicitou.

Abaixo, a tradução da carta publicada originalmente em inglês, no site da revista:

Carta do presidente do Senado, José Sarney, publicada na edição digital de 19 de fevereiro de 2009 da revista The Economist

"Senhor - Seu artigo sobre a minha carreira política ("Where dinosaurs still roam") deixou de mencionar que nos últimos sete anos um grupo político rival controla o governo estadual do Maranhão, no Brasil. Nos últimos 40 anos diversos governadores do estado pertenceram a outros grupos políticos, sobre os quais eu não tive influência. Eu não concorro a uma eleição no Maranhão há 30 anos. Assim, não creio que se possa dizer que eu controlo o estado como um feudo. Concordo completamente que o estado de conservação da cidade de São Luís é lamentável, mas é um absurdo debitar-me este fato, uma vez que meus adversários políticos administram a capital há 20 anos. Qualquer referência a meu domínio político é incorreta.

"A revista se pergunta se seria hora de eu me aposentar da vida pública, mas não é da tradição brasileira, nem britânica, limitar a atuação na vida pública devido à idade. A Economist estará ciente do tempo em que estiveram na política Churchill (64 anos) e outros como David Lloyd George e Benjamin Disraeli. Tampouco há algo de original na participação de membros de uma mesma família na política de um país. Os exemplos britânicos incluem os Pitts e os Churchills e, nos Estados Unidos, as famílias Adams, Kennedy e Bush.

"Quanto a ter sido o presidente 'acidental e sem distinção' do Brasil, não é este o julgamento do povo brasileiro, que nas pesquisas sobre ex-presidentes me colocou em terceiro lugar. Na qualidade de Vice-Presidente, sucedi Tancredo Neves conforme a Constituição. A história julgará o meu papel, mas sou reconhecido como o presidente da transição democrática, da convocação da assembleia constituinte e que priorizou o desenvolvimento social, o que permitiu o surgimento de uma sociedade verdadeiramente democrática e levou um operário a ser eleito presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

"E finalmente, a afirmação de que senadores 'se reportam' a mim é evidentemente sem base. Eles se reportam ao seu eleitorado, à Constituição e a uma legislação que pune qualquer comportamento atentatório da sua independência.

José Sarney"



19/02/2009

Agência Senado


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