ABDIAS NASCIMENTO MOSTRA QUE MOVIMENTO AFRO-BRASILEIRO TEM ORIGEM NO PRÓPRIO PAÍS



O senador Abdias Nascimento (PDT-RJ) afirmou que a fundação, já em 1931, da Frente Negra Brasileira mostra que o movimento afro-brasileiro tem fortes raízes no próprio país. Esse fato, a seu ver, contesta os que atribuem as ações dos negros brasileiros pela sua inserção social plena a "um mero reflexo" do que acontece em outros países e, em especial, nos Estados Unidos.

- A experiência da Frente Negra, da qual tive oportunidade de participar,foi a melhor expressão dos anseios de uma população excluída, destituída de oportunidades, sem possibilidades de construir seu próprio destino, impedida que estava pelas mãos férreas do racismo, ainda hoje o mais terrível algoz dos afro-brasileiros - disse.

Na opinião de Abdias Nascimento, a incorporação e adaptação pelos afro-brasileiros de temas e táticas utilizados fora do Brasil "significa apenas que estamos alerta e informados, dispostos a usar todos os meios necessários para libertar e promover nossa comunidade".

Abdias Nascimento explicou que a Frente Negra foi a única organização de massas jamais criada pelos afro-brasileiros que conseguiu agregar dezenas de milhares de descendentes de africanos em torno de ideais de justiça e igualdade.

Conforme o senador, para o surgimento da Frente Negra concorreram tanto as transformações sociais da década como "a não-concretização das esperanças que os negros depositavam na Revolução de 30". Além disso, também foi relevante o agravamento das condições de vida dos afro-brasileiros a partir da crise de 1929.

- Na verdade, a frente negra não nasceu num vácuo político-social, tampouco foi fruto de geração espontânea. Muito pelo contrário, constituiu a culminação de uma série de organizações que, desde o início do século, buscavam congregar os descendentes africanos, sobretudo em São Paulo -explicou.

Abdias Nascimento esclareceu que a Frente Negra Brasileira foi transformada em partido político em 1936, e extinto logo depois pelo Estado Novo. A sua existência, entretanto, "não passara em branco. Suas idéias e práticas, ajudaram a forjar um novo tipo de afro-brasileiro, menos acomodado diante das manifestações racistas e mais competitivo no mercado de trabalho".



20/10/1997

Agência Senado


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