Aécio Neves diz que ‘tudo parece fora de lugar’ no governo de Dilma Rousseff



O senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez nesta quarta-feira (28) um balanço negativo dos primeiros 15 meses do governo da presidente Dilma Rousseff. Para o parlamentar, “tudo parece fora de lugar”.

De acordo com o representante mineiro, foi vendida à população “a ilusão de nova versão do espetáculo do crescimento, um sem-número de obras faraônicas e a continuidade das benemerências tradicionais do Estado nacional”. Vendeu-se, também, segundo o senador, “a imagem de uma gestora implacável e impositiva, que por si só seria capaz de tomar, heroicamente, as rédeas do país e transformar em realidade os tantos sonhos prometidos em vão”.

Aécio Neves disse que, “para onde quer que se olhe, o cenário é desolador”. Afirmou que o Brasil alcançou “o impensável”: deixou de liderar o processo de crescimento da América Latina e hoje puxa o desempenho de todo o continente para baixo.

O parlamentar criticou a demora do governo em reagir “ao gravíssimo processo de desindustrialização” em curso no país. Citou a indústria de transformação, que já chegou a responder por 26% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, mas que, em 2011, representou apenas 14.6%.

- Essa é uma das perversas, para não dizer malditas, heranças que esse governo do PT deixará para o futuro – afirmou, acrescentando que o Brasil voltou “à era pré-JK”.

O parlamentar criticou ainda a formação da base do governo, “a expensas da cessão de áreas inteiras da administração federal aos partidos”. Citou os vários ministros que foram demitidos após denúncias de corrupção.

Para Aécio Neves, “a esmagadora maioria congressual” do governo serviu apenas “para aprovar um sem-número de medidas provisórias (MPs) que aqui chegam a cada dia sem o mínimo respeito ao preceito constitucional da relevância e urgência”. Ele cobrou a aprovação das “reformas constitucionais tão necessárias ao país”, como a reconstrução do pacto federativo, as regras de tramitação das MPs, a revisão do pagamento dos royalties do petróleo e do minério e das dívidas dos governos estaduais.

O senador chamou a saúde pública de “maior tragédia nacional” e criticou as ações em segurança pública, citando o cancelamento do programa das Unidades de Polícia Pacificadora, anunciado nesta quarta-feira (28) pelo Ministério da Justiça.

Aécio Neves afirmou também que o governo impõe aos estados e municípios um número cada vez maior de obrigações, ignorando suas dificuldades, e determina cortes em áreas vitais ao futuro do país, como a de pesquisa, ciência e tecnologia. Além disto, criticou a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dizendo que apenas 8% do total de recursos aplicados em 2011 saíram diretamente do Orçamento da União.

O ex-governador de Minas Gerais citou o aumento de custos de obras como a transposição do rio São Francisco, que passou de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões, e a ferrovia Transnordestina, que deveria ter sido finalizada em 2010 e cujo custo, projetado para R$ 4,5 bilhões, já chegou a R$ 7 bilhões. O trem-bala, acrescentou, deveria ser inaugurado em 2014 ao custo de R$ 20 bilhões, mas agora seu funcionamento foi postergado para 2016 e seu custo estimado já atinge R$ 53 bilhões.

- Multiplicam-se números; multiplicam-se promessas, impossíveis, a maioria delas, de serem cumpridas – afirmou o senador.

Tempo

Durante o pronunciamento de Aécio Neves, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), que comandava os trabalhos, prorrogou por três vezes seu tempo, mas, na última vez, alertou para que finalizasse seu discurso. Após Aécio encerrar sua fala, o senador Mário Couto (PSDB-PA), em questão de ordem, perguntou a ela o que diferenciava o presidente da Casa, senador José Sarney (PMDB-AP), dos demais senadores, lembrando que o presidente falou por mais de 45 minutos da última vez que utilizou a tribuna, em outra sessão.

Marta Suplicy respondeu que havia agido com liberalidade para que Aécio Neves pudesse terminar seu discurso, e que havia, por decisão própria, feito uma liberalidade ainda maior para que o presidente José Sarney terminasse seu pronunciamento. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) respondeu no microfone que “o Regimento do Senado Federal não existe” e o que se quer é “fazer os outros de idiota”.



28/03/2012

Agência Senado


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