ALCÂNTARA HOMENAGEIA PAULO FREIRE



A memória do professor Paulo Freire voltou a ser homenageada no Senado, dessa vez pelo senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), para quem esse educador,falecido há dois meses, "foi um brasileiro comprometido com a vida, que pensou a existência e o contexto em que ela se faz história, para extrair desse contexto os elementos da praxe humana, para reflexão e retotalização como descoberta da liberdade".

Alcântara lembrou que Paulo Freire deixou o legado de cerca de 50 livros, além de "uma singular experiência de pedagogo que trabalhou no Brasil e pelo mundo". O senador lembrou que foi no Rio Grande do Norte que Paulo Freire começou a mudar as perpectivas da educação brasileira, por intermédio de seu método de alfabetização de adultos. Em Angicos, um grupo de cerca de 300 agricultores, mecânicos, parteiras e comerciantes aprendeu a ler em 40 horas.

De acordo com Alcântara, o educador atingiu esse resultado ensinandono contexto da realidade dos alunos, do qual tirou algumas palavras, extraindo delas idéias de interesse social e político e provocando uma visão crítica dessa mesma realidade. A seu ver, "o método se constituiu num instrumento para lançar a semente da cidadania e da liberdade em solos áridos, integrando camadas da população, transformando-as em sujeitos da própria história, dentro de um processo que Paulo Freire chamou de conscientização".

Conforme disse, a originalidade do processo motivou milhares de brasileiros a inscrever-se nos cursos de capacitação de coordenadores. O Plano Nacional de Capacitação pretendia implantar, em 1964, 20 mil círculos de cultura e alfabetizar 2 milhões de pessoas. No entanto, o Plano durou apenas dez anos, pois com os acontecimentos de 1964, Paulo Freire foi exilado para o Chile, só retornando 15 anos depois. De volta ao Brasil lançou o MOVA, programa que alfabetizou 35 mil pessoas.

O senador destacou que "Paulo Freire deixou o Brasil com uma realidade ainda longe dos seus sonhos, pois os analfabetos com mais de 14 anos somam 19 milhões; a educação para jovens e adultos está reduzida a programa de segunda classe; grande parte da população ainda não tem visão critíca da realidade nacional e professores desmotivados ensinam sem vontade, havendo muito pouco contéudo pedagógico no trato da educação".



01/07/1997

Agência Senado


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