Aliado xinga aliado na turma de Ciro
Aliado xinga aliado na turma de Ciro
Roberto Freire, ACM e Roberto Jefferson, integrantes da salada ideológica que apóia o candidato do PPS a presidente da República, acusam-se mutuamente e antecipam disputa de poder em eventual governo
A Frente Trabalhista, coligação entre PPS, PTB e PDT que sustenta a candidatura presidencial de Ciro Gomes, enfrenta turbulenta baixaria. As brigas entre os aliados estão cada vez mais explícitas. Os bons modos foram deixados de lado e os líderes da coligação não escondem mais as divergências. Ontem, a disputa ganhou um novo incendiário: o ex-senador Antonio Carlos Magalhaes (PFL-BA), que aderiu à candidatura de Ciro e prepara um comício para ele na Bahia, amanhã.
Inimigo declarado do senador Roberto Freire (PPS-PE), que preside o PPS, partido ao qual Ciro é filiado, ACM abriu um bate-boca com o desafeto que compromete a unidade da coligação no momento em que o candidato consolida a segunda posição nas pesquisas eleitorais. Para Freire, o ex-senador baiano é ‘‘golpista’’ e só se aproximou de Ciro porque é ‘‘governista, sente faro de poder e se aproxima de quem vai ganhar’’. ACM rebateu. Disse que Freire trabalha pela derrota de Ciro ao criticá-lo e que, por isso, “está a serviço de Fernando Henrique Cardoso”. Disse ainda que o senador pernambucano é ‘‘fujão’’ porque teve ‘‘medo de disputar a reeleição para o Senado’’.
As críticas de Freire a ACM provocaram a reação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), integrante do comando da campanha de Ciro e favorável ao apoio do PFL — especificamente do ex-senador baiano. ‘‘Freire está sendo inábil e sua reação é doentia. Ele está atrapalhando. Tem que tomar um Gardenal, porque isso é coisa de epiléptico’’, disse Jefferson ao Correio, tratando a doença como um xingamento. Informado sobre as declarações de Jefferson, que integrou a tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor de Mello, Freire recusou-se a comentá-las. ‘‘Não dou resposta e não aceito lições dele’’, disse o senador. Dentro da campanha de Ciro, Jefferson foi destacado para contrabalançar os movimentos de Roberto Freire contrários ao PFL.
Panos quentes
O destempero verbal não é uma exclusividade dos líderes da Frente Trabalhista. O candidato, que apesar de ter optado pelo silêncio nesta questão, já ofendeu o presidente Fernando Henrique Cardoso e chamou seu adversário, José Serra, do PSDB, de ‘‘mau caráter’’. O próprio ACM já foi vítima das críticas de Ciro. Há cerca de dois anos, quando o ex-senador baiano trocava acusações de improbidade administrativa com o ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA), ele foi considerado por Ciro como sendo ‘‘mais sujo do que pau de galinheiro’’.
Agora, porém, Ciro ameaça intervir para acabar com a confusão e planeja assumir, pessoalmente, o comando da campanha. Com isso, afastaria também o coordenador político José Carlos Martinez, deputado e presidente do PTB que não consegue explicar empréstimo feito nos anos 90 junto a Paulo César Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor.
A briga entre Roberto Freire e ACM antecipa a disputa por espaço de poder caso Ciro seja eleito presidente. Freire reage à presença cada vez maior do PFL na Frente Trabalhista porque teme que o PPS se torne mero coadjuvante na composição de um eventual governo Ciro Gomes.
A conta que ele faz é simples. Embora seja o partido ao qual o candidato é filiado, o PPS é nanico. Tem só 13 deputados federais. Já o PFL é um gigante de 105 parlamentares. Só da Bahia, a bancada liberal conta com 18 integrantes. Ou seja, ACM, sozinho, tem mais deputados do que o PPS no Brasil inteiro. Assim, se a aliança vencer a eleição, o PFL ditará o ritmo do governo no parlamento e o PPS influirá pouco.
Sem Serra, PMDB irá de Lula no 2º turno
Apesar da distância histórica com o PT, a cúpula peemedebista decidiu que apoiará Lula se Serra não passar do primeiro turno. Partido teme ser alvo de retaliações do PFL em caso de vitória de Ciro Gomes
O livro O Mapa da Corrupção no Governo FHC tem onze capítulos. Cinco deles, quase a metade, dedicam-se a casos que envolvem a cúpula governista do PMDB. O livro foi editado pela Fundação Perseu Abramo, o braço de estudos acadêmicos do PT. Foi a base de uma cartilha distribuída no início da campanha do candidato do partido à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. É um exemplo claro da distância que guarda o PT da ala peemedebista que apóia Fernando Henrique Cardoso. Apesar disso, desde a semana passada a cúpula do PMDB, toda governista, resolveu que na hipótese de o candidato do PSDB, José Serra, não passar para o segundo turno, o destino do grupo será o palanque de Lula.
Os peemedebistas concluíram que a fúria petista contra eles é, no máximo, retórica de campanha. Perigosa mesmo pode ser a ira do PFL. Na hipótese de uma vitória do candidato do PPS, Ciro Gomes, o PFL voltará a ser o partido mais poderoso do país. Ciro pertence ao pequeno PPS. Seus aliados PDT e PTB são partidos médios.
O partido que conferirá governabilidade a Ciro é o PFL. Grande, comandará o Congresso. O PFL atribui ao PMDB a responsabilidade no processo que levou o partido a romper com o governo e amargar um momento de decadência política. E, acima de todos no PFL, partilha dessa idéia o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (BA). De volta ao poder, ACM fará de tudo para demolir o PMDB.
Na semana passada, conversaram sobre essa hipótese o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), os líderes do partido na Câmara e no Senado, Geddel Vieira Lima (BA) e Renan Calheiros (AL), e o presidente do Instituto Ulysses Guimarães, Moreira Franco. O processo que culminou com o rompimento do PFL com Fernando Henrique começou há dois anos. Na busca por tirar o PFL do posto de parceiro preferencial do PSDB, o PMDB apoiou Aécio Neves (PSDB-MG) para presidir a Câmara. Como resposta, ACM atacou o então presidente do PMDB, Jader Barbalho. Os dois renunciaram ao mandato para não serem cassados. É provável que ACM volte ao Senado em 2003. Se Ciro vencer, chegará tão poderoso quanto no início do governo Fernando Henrique. E, em seus planos de vingança, terá a solidariedade do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, e da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney.
Serra vai no popular
Candidato do PSDB à Presidência pega carona no palanque de Roriz e faz campanha no Bandejão de Samambaia. Tucano ensaiou sorrisos, mas não dispensou o garçom: ele servia guarnição especial
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se esforçou mais uma vez para incorporar o estilo popular característico do governador Joaquim Roriz (PMDB) em busca de votos no Distrito Federal. No segundo evento conjunto dos dois candidatos desde o início da campanha, o tucano almoçou com o governador no restaurante comunitário de Samambaia. Mas mesmo no galpão onde diariamente duas mil pessoas se alimentam a R$ 1, ou 28,8 centavos de dólar na cotação de ontem, o candidato oficial não dispensou tratamento vip.
Serra montou um bandejão com arroz, feijão, purê de batatas, lingüiça e salada de alface, tomate e pepino. O candidato ensaiou seguir o ritual dos freqüentadores do restaurante. Sentou-se à mesa e deu boas garfadas. Até que desfrutou de uma regalia a que ninguém tem direito. Um garçom, que não atende aos clientes, serviu ao presidenciável frango assado e uma salada especial que incluía até flores de tomate.
As guarnições especiais foram encomendadas pela equipe de Roriz porque o governador, por recomendação médica, não pode ingerir alimentos gordurosos. Depois de almoçar, Serra elogiou a comida e prometeu apoiar prefeituras e governos estaduais que quiserem abrir restaurantes popula res a um R$ 1 o prato. ‘‘Eu gostei bastante. A comida é decente e limpa. O restaurante popular é uma solução útil e que cria empregos’’, avaliou.
Ao contrário do comício realizado em Ceilândia no início de julho, Serra e Roriz dispensaram a caravana de candidatos a deputado distrital e federal que costuma seguir o governador na campanha. Acompanhados apenas das candidatas a vice Rita Camata (PMDB) e Maria de Lourdes Abadia (PSDB), os dois permaneceram 55 minutos no restaurante comunitário. Tempo suficiente, entretanto, para o presidenciável tucano ensaiar sorrisos, distribuir abraços em eleitores e constatar o empenho de Roriz como seu cabo eleitoral.
Serra e Roriz chegaram ao restaurante às 13h. O galpão, com capacidade para 800 pessoas sentadas, não estava lotado. Ficou cheio graças aos cabos eleitorais do PSDB, transportados no ônibus de campanha de Maria Abadia, e a simpatizantes do governador e do deputado distrital Carlos Xavier (PSC). Logo na entrada, os candidatos se depararam com uma faixa que dizia ser ‘‘proibido atividades políticas no interior do restaurante’’. A proibição, ao que parece, só serve para a oposição.
Cercados por cabos eleitorais e jornalistas, os candidatos furaram a fila do bandejão. Sentados na mesma mesa, trocaram poucas palavras enquanto comiam. Após a refeição, o governador comandou a campanha dentro do restaurante. Passeou pelo galpão e fez questão de pedir votos para Serra. ‘‘Quero dizer a vocês que o meu candidato a presidente é o doutor José Serra’’, informou. Depois do primeiro aviso, Roriz parou outras três vezes para elogiar o presidenciável do PSDB. E conferiu se a estratégia estava dando resultado. ‘‘Quem é que vai nos presidir?’’, perguntou. ‘‘É Serra!’’, responderam os eleitores.
Ataque a Ciro
Antes de deixarem o restaurante, os dois candidatos foram ao banheiro. Quando saiu, Roriz foi abraçado pelo garoto Juan Freitas da Silva, 10 anos. Serra também fez questão de abraçar o menino, que chorou de emoção. ‘‘Tenho orgulho de abraçar o governador’’, justificou o garoto, que mora com a família em Samambaia.
A aposentada Carmosina Carvalho da Silva, 63, por sua vez, representava uma minoria no restaurante: votará em Serra por causa do presidente Fernando Henrique Cardoso, e não a pedido de Roriz. ‘‘Não teve presidente melhor que o Fernando Cardoso’’, disse. Depois de terminar a refeição, ela esperou o tucano se dirigir à saída do restaurante para cumprimentá-lo.
Serra só deixou a simpatia de lado na saída do restaurante ao ser
perguntado sobre a crise econômica. Imediatamente, o candidato disparou contra Ciro Gomes (PPS), principal adversário por uma vaga no segundo turno. ‘‘Eu fico espantado com candidatos que neste momento estão jogando no quanto pior melhor. É o caso do Ciro Gomes. Toda vez que ele abre a boca o dólar sobe e uma fábrica fecha’’, criticou.
Antes de ir embora, Serra pediu a palavra a Roriz para retribuir o empenho do governador em pedir votos. ‘‘Meu candidato a governador é Joaquim Roriz e a vice é a Maria Abadia’’, discursou, demonstrando que os conflitos com Roriz ficaram no passado. Em 1998, Serra promovia solenidades do Ministério da Saúde, em plena campanha, ao lado do governador-candidato Cristovam Buarque (PT).
Palanque rachado
Apoio de Jofran Frejat à reeleição de Joaquim Roriz faz com que partidários do vice-governador Benedito Domingos peçam votos para outro candidato ao Senado, o petista Cristovam Buarque
O candidato do PPB ao Governo do Distrito Federal, Benedito Domingos, convocou uma reunião para cobrar união no partido e distribuir puxões de orelha entre os candidatos pepebistas que andam fazendo campanha para o governador Joaquim Roriz (PMDB). O encontro, no entanto, acabou expondo ainda mais os desentendimentos internos que rondam a candidatura de Benedito.
Insatisfeitos com o apoio do candidato do partido ao Senado, Jofran Frejat, à reeleição do governador Joaquim Roriz (adversário de Benedito), setores do PPB se engajaram na campanha de Cristovam Buarque (PT), concorrente do pepebista.
A crise de Frejat com a coligação de Benedito teve início no ano passado, quando o PPB rompeu com o governo e resolveu lançar chapa própria nas eleições de outubro. Frejat, que era secretário de Saúde, já havia acertado o valioso apoio do governador para sua corrida ao Senado. O próprio Benedito admite que a mudança prejudicou o candidato pepebista. ‘‘Nossa candidatura trouxe prejuízo político para Frejat’’, disse.
Com o início da campanha, o ex-secretário não teve dúvidas em assumir lugar de destaque no palanque de Roriz. A atitude despertou ciúmes no PPB, e Benedito convocou a reunião ontem justamente para mostrar esse descontentamento. A executiva regional e todos os candidatos a cargos eletivos estiveram presentes no comitê eleitoral do partido.
Na reunião, o clima era de desconfiança e ameaças de radicalização. Antes do encontro, o deputado Wigberto Tartuce chegou a afirmar que, se Frejat não saísse do encontro com a autorização para buscar apoio fora do partido, haveria uma ‘‘dissidência de pelo menos 30 pessoas’’. O deputado distrital João de Deus, candidato à reeleição, emendou: ‘‘se o partido insistir no racha, ninguém ganha a eleição’’.
Com a pressão, o partido acabou liderando Frejat para participar das duas campanhas. A solução foi um acordo de cavalheiros a que o partido chegou para evitar um racha. ‘‘Só esperamos que ele também vincule sua campanha ao PPB, que, afinal, é o seu partido. Se ele faz corpo-a-corpo com Roriz, que faça comigo também’’, cobrou Benedito. Na prática, Frejat poderá participar de comícios e pedir votos para o governador, mas continua impedido — pelos limites impostos na lei eleitoral — de elaborar material de campanha conjunto ou participar da propaganda eleitoral gratuita da coligação do PMDB.
Os outros candidatos do PPB não terão tanto espaço para circular entre outros palanques. ‘‘Faz parte do acordo, Frejat está rigorosamente liberado, mas nós não podemos nem flertar com outras coligações’’, revelou o deputado federal Wigberto Tartuce (PPB), que vai concorrer à Câmara Legislativa.
Agenda dos candidatos a presidente
Lula • PT
De manhã, faz campanha em São Bernardo do Campo (SP). À tarde, grava seu programa para o horário eleitoral gratuito, em local reservado.
Ciro • PPS
Pela manhã, faz campanha em Campo Grande (MS). À tarde, grava programas de TV e vai para Minas Gerais (Varginha e Poços de Caldas).
Serra • PSDB
Passa a manhã em São Paulo, reunido com assessores.
Garotinho • PSB
À tarde, participa, no Rio de Janeiro, do debate promovido pelos jornais O Dia e Jornal do Brasil e pela revista Forbes.
José Maria • PSTU
Participa do lançamento de sua candidata a vice, Dayse Oliveira, em Niterói (RJ).
Rui Costa Ppimenta • PCO
Ministra um curso para a juventude do partido em São Bento do Sapucaí (SP).
Agenda dos candidatos a governador
Benedito domingos • PPB
Às 11h, reúne-se com o presidente do PMDB de Santo Antônio do Descoberto (GO). À noite, participa de culto na igreja Luz Divina, em Ceilândia Norte.
Carlos Alberto • PPS
À tarde, participa de sessão na Câmara dos Deputados. Às 18h, participa de debate com alunos da UnB.
Geraldo Magela • PT
Às 11h, lança seu programa para a educação no Centro Cultural de Brasília ( 601 Norte). À noite, faz comício no Gama.
Joaquim Roriz • PMDB
Não forneceu a agenda.
Rodrigo Rollemberg • PSB
Às 15h, participa de sessão de abertura dos trabalhos da Câmara Legislativa. À noite, comparece a churrasco no Clube Tiradentes e
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