Aliado de Serra reage a Tasso e defende Aníbal







Aliado de Serra reage a Tasso e defende Aníbal
BRASÍLIA. Um dos principais aliados do ministro José Serra, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), considerou as declarações do governador do Ceará, Tasso Jereissati, ofensivas ao presidente do partido, José Aníbal (PSDB-SP). Em entrevista ao GLOBO, Tasso cobrou clareza e caráter do partido. Os serristas interpretam que a crítica foi dirigida a Aníbal.

— É uma agressão ao presidente do partido, que tem conduzido todo esse processo — afirmou Jutahy.

Jutahy também disse acreditar que a crise que se instalou no PSDB por causa do programa de TV será resolvida:

— Deve ter havido um grande mal-entendido. A reação do Tasso deve ter surgido a partir de intrigas, de fatos que não aconteceram. O acertado na reunião da executiva é que todos que quiserem poderão participar do programa. É fácil contornar essas dificuldades — disse ele, que defende a candidatura de Serra.

Aliado de Tasso, o senador Lúcio Alcântara (CE) defendeu o governador, argumentando que o problema no PSDB é a falta de critérios e regras para a escolha do candidato à sucessão do presidente Fernando Henrique:

— O Tasso exteriorizou seu desconforto. Para evitar uma crise maior, a primeira coisa que todos devem fazer é expor o que estão pensando. Os tucanos têm tradição de ficar em cima do muro, mas, na hora desses processos decisórios, o antagonismo aparece.

Serra não será representado por cadeira vazia

Jutahy disse ainda que o ministro da Saúde, José Serra, não quis aceitar a idéia de publicitários do PSDB de marcar sua presença com a imagem de uma cadeira vazia. O objetivo seria dizer que o ministro trabalha muito pelo país e não tem tempo para gravar sua participação.

— Não há hipótese de o Serra fazer isso. Seria uma grosseria com todas as pessoas do PSDB. Posso garantir que não passa pela cabeça do ministro fazer isso — disse o líder tucano.


Roseana protesta contra exploração política de crimes: ‘Ninguém é bobo’
BRASÍLIA. Embora reconheça que o caso do assassinato e da castração de 19 crianças no Maranhão desde 1991 é muito grave, o PFL e o governo maranhense afirmam que ele só ganhou repercussão nacional porque a governadora Roseana Sarney (PFL) cresceu nas pesquisas presidenciais. Anteontem, o Ministério da Justiça propôs a intervenção da Polícia Federal nas investigações no estado.

A governadora protestou ontem:

— Eu quero crer que não há componente político nessa discussão no Ministério da Justiça. O ministro Gregori não me procurou para tratar do assunto, mas posso garantir que há todo o empenho em concluir as investigações o mais rapidamente possível — disse Roseana.

Ela afirma, porém, que os crimes no estado ganharam notoriedade depois que seu nome cresceu como uma opção para as eleições presidenciais.

— Ninguém é bobo, isso só surgiu depois dos resultados das pesquisas — afirmou Roseana.

Segundo a governadora, dos 19 assassinatos de crianças que ocorreram no Maranhão desde 1991, 13 já foram elucidados pela polícia do estado e os responsáveis foram julgados. Seis casos continuam sendo investigados, sendo que dois deles já estariam em fase final.

Os pefelistas disseram que casos semelhantes ocorreram em cinco estados, mas que só o Maranhão tem merecido a atenção do ministro da Justiça, José Gregori. Eles citam o Pará do governador tucano Almir Gabriel como um dos estados onde ocorreu o mesmo tipo de crime.

— Em proporção muito maior, assassinatos como esses ocorreram em Altamira, no Pará. Lá foram 26 casos e nenhum foi esclarecido até agora. No Maranhão, dos 19 casos, 13 já foram elucidados pela polícia. Se há necessidade de intervenção da Polícia Federal é no governo do PSDB no Pará — disse o secretário-executivo do PFL, Saulo Queiroz.

Para ele, está claro que o enfoque maior nos casos do Maranhão é uma exploração política que decorre do fato de Roseana estar em evidência. Saulo Queiroz diz que isso faz parte do jogo que a governadora vai enfrentar daqui para a frente.

O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Raimundo Cutrim, que teve uma reunião anteontem no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça, repetiu ontem que uma comissão especial criada pela governadora está cuidando especificamente de concluir as investigações. Embora afirmando não ter como dizer se há exploração política, ele também lembrou que em Altamira nenhum dos 26 assassinatos de crianças, em situações semelhantes, foi esclarecido.

Cutrim, que é delegado especial da Polícia Federal, mantém a afirmação, apoiada pela governadora, de que não há necessidade de agentes federais entrarem na investigação.

— Já temos parceria com a Polícia Federal por meio da Secretaria de Segurança — afirmou Roseana.

Agripino diz que objetivo é atingir Roseana

Um dos vice-presidentes do PFL e novo líder do partido no Senado, Agripino Maia (RN) engrossa o coro dos que acreditam que o assunto está sendo discutido no Ministério da Justiça para atingir Roseana.

— Dá para desconfiar de tamanho interesse. Por que só agora esse assunto surge com tanta ênfase? É, no mínimo, curioso — afirma Agripino.

Os dirigentes pefelistas e a governadora dizem que estão preparados para enfrentar possíveis desgastes que o jogo político poderá impor. Sabem que a administração de Roseana será criticada, até com acusações a seus parentes.

— Estou preparada para tudo o que vier. Não tenho medo de nada — disse Roseana.


Presidência proíbe ‘lobby’ e segundo emprego para servidores do Planalto
BRASÍLIA. Depois de descobrir que uma secretária da Casa Civil trabalhava para o lobista Alexandre Paes dos Santos, o governo decidiu ontem proibir as atividades de lobistas na Presidência. A partir de hoje, a solicitação de audiências terá que ser feita diretamente por empresas e associações interessadas. Também fica vedada a intermediação de escritórios de representantes comerciais ou de relações públicas.

O chefe da Casa Civil, Pedro Parente, admitiu que o governo decidiu tomar essas medidas uma semana depois da denúncia de que a secretária da Casa Civil Ana Cristina Felipe Inproise trabalhava também para Santos, investigado pelo Ministério Público Federal por tentar chantagear funcionários do Ministério da Saúde.

Servidores não poderão divulgar informação sigilosa

Pela portaria assinada ontem por Parente, os servidores da Presidência ficam proibidos de ter um segundo emprego e de passar a terceiros informações sigilosas sobre assuntos do Palácio do Planalto.

— Estamos simplesmente vedando a atuação dos lobistas. Não é juízo de valor, mas uma medida para não criar mais problemas — disse.

Parente disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso gostaria de ver regulamentada a atividade do lobby. O chefe da Casa Civil admitiu que as audiências eram marcadas por terceiros. Parente citou como exemplo o fato de o escritório de Santos ter marcado uma audiência com o ministro em nome da Associação Brasileira de Gases Industriais.

— Não sabia que certas audiências eram marcadas por escritórios. Isso não será mais permitido — disse.

A partir de agora, empresas ou associações terão que enviar ao Planalto um documento, deixando claro o tema do encontro. Além disso, terão que mandar, com pelo menos um dia de antecedência, a lista dos participantes da audiência e seus respectivos cargos. Um assessor do Planalto ficará encarregado de fazer uma ata das audiências. Sobre os servidores, Parente disse que é inaceitável que um funcionário da Presidência da Re pública tenha dois empregos.

Palácio do Planalto terá código de ética especial

Parente anunciou que será elaborado um código de ética especial para os servidores do Planalto. Até a conclusão, os funcionários que ocupam cargos de confiança a partir do nível DAS-3 (variam de 1 a 6) terão que cumprir o Código de Conduta da Alta Administração Federal, destinado apenas a ministros, secretários-executivos e assessores com DAS-6.

Trabalham na Presidência 2.146 servidores. Desses, 347 têm DAS de 3 a 5. O Código de Conduta foi criado em agosto de 2000 e fixa regras de comportamento para autoridades de primeiro e segundo escalões, proibindo o recebimento de presentes e a participação em jantares ou viagens pagos por empresas.


Simon critica a aliança de Itamar com Quércia
BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. Pré-candidato a presidente da República pelo PMDB, o senador Pedro Simon (RS) condenou ontem, em discurso no Senado, a aliança entre o governador de Minas, Itamar Franco, e o ex-governador paulista Orestes Quércia contra a ala do partido ligada ao Palácio do Planalto.

— Não concordo com a linguagem usada pelo Itamar. E não acredito que o Quércia seja a pessoa mais indicada para pegar o chicote de Cristo e entregar ao Itamar para que venha aqui expulsar os vendilhões. Não aceito a linguagem de Itamar no sentido da radicalização, de que vai ser oposição, de que vai abrir guerra contra o PMDB ou coisa que o valha. Não aceito isso — afirmou Simon.

O senador gaúcho criticou ainda o fato de Ney Suassuna (PMDB-PB) ter aceitado a indicação para ministro da Integração Nacional. Para Simon, o PMDB já começou a desembarcar do governo.

— Convém esclarecer que se o senhor Ney Suassuna assumir o ministério, estará preenchendo a cota pessoal do presidente. Não será da cota do PMDB. Mas se poderá dizer que o governo de Fernando Henrique, no fim, terá a cara do senador Ney Suassuna — acrescentou Simon.

Para garantir a realização das prévias do PMDB, Itamar disse ontem que está disposto a ir de casa em casa e “lutar em trincheiras bem cavadas”. Falando para cerca de 200 pessoas na sede do partido em Minas, ele criticou o governo federal e a imprensa e deu sinais de que teme o efeito que as pesquisas eleitorais podem ter nesse momento.

Sem saber das críticas de Simon, Itamar disse que, perdendo ou ganhando do senador nas prévias que escolherão o candidato do PMDB, os dois continuarão unidos.


‘Sou contra homossexualismo mas amo os homossexuais’
SÃO PAULO. O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), disse em São Paulo, em um programa de televisão, que é contra o homossexualismo mas ama os homossexuais. Citando a Bíblia, ele deu sua versão para a diferença entre o pecado e o pecador:

— Eu odeio o pecado e amo o pecador. Sou contra o homossexualismo mas amo os homossexuais. Sou contra porque não gostaria para os outros o que não desejo para mim — disse.

O pré-candidato do PSB à Presidência afirmou que tem amigos que são homossexuais com os quais convive e a quem respeita e ama. Com a reação de um telespectador, insatisfeito com a resposta, completou:

— Algumas pessoas exercem (o homossexualismo) de uma forma tão elegante que eu até admiro.

Governador também faz campanha contra a maconha

Garotinho disse que também é contra a maconha. Segundo ele, se liberar as drogas fosse uma boa idéia, já teria sido adotada em outros países. O governador citou o caso da Holanda, onde o consumo foi legalizado, numa experiência que considera um desastre.

No programa “Em Questão”, da TV Gazeta, Garotinho afirmou que não teme perder votos por causa de suas opiniões:

— Isso é falar a verdade. O Brasil precisa de gente com opinião. Ninguém vai ser enganado por mim. O que eu penso, eu digo.

Preconceito contra gays pode virar crime hediondo

A discriminação contra o homossexualismo não é considerada crime pela legislação brasileira. Mas isso pode mudar em breve. Está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara um projeto de lei que transforma o preconceito contra homossexuais em crime hediondo. Nesse caso, se for preso em flagrante, o réu tem direito a pagar fiança para responder ao processo em liberdade. A proposta foi apresentada pelo deputado Nilmário Miranda (PT-MG) e já recebeu parecer favorável do relator, deputado Marcos Rolim (PT-RS).

Segundo Rolim, o relatório está pronto para ser votado pelo plenário da comissão. A sugestão de Nilmário é incluir na que trata dos crimes contra o racismo um novo trecho transformando o preconceito sexual em crime.

Na entrevista, Garotinho também ironizou as declarações do pré-candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a união das esquerdas já no primeiro turno das eleições presidenciais:

— Agora, que a coisa está engrossando, eles estão querendo união. Acho que devemos lançar todo mundo e, no segundo turno, vamos ver o que acontece.


Mão Santa resiste e ocupa o palácio para tentar impedir posse de Napoleão
TERESINA. O governador cassado do Piauí, Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa (PMDB), foi recebido por milhares de pessoas ontem no aeroporto de Teresina, ocupou o Palácio de Karnak e ainda conseguiu liminar do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para suspender a diplomação de seu sucessor, Hugo Napoleão (PFL), que estava marcada para as 9h de hoje. Napoleão recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, ao desembarcar no estado, à noite, discursou para três mil pessoas que foram apoiá-lo. O TRE fará sessão extraordinária hoje, às 9h, para marcar a nova data da diplomação.

Cinco mil militantes de PMDB, PSDB e PCdoB cercaram o Palácio de Karnak em protesto contra a cassação do governador por abuso do poder econômico nas eleições de 1998. Mão Santa dirigiu-se para o gabinete do governador, alegando não ter sido notificado oficialmente da cassação, e ficou assinando decretos.

— Vou continuar despachando até que seja notificado. Não vou tirar as pessoas que estão no palácio. Nunca fiz isso e não vou fazer agora. Fui criticado por abrir o palácio para carroceiros, garçons, professores e soldados. Até os sem-terra entraram no palácio e ficaram dançando nos tapetes — disse Mão Santa.

Segundo os cálculos da Polícia Militar e dos organizadores do movimento, dez mil pessoas participaram de passeata de oito quilômetros do Aeroporto Petrônio Portella até o palácio, no Centro da cidade, acompanhando Mão Santa. Os manifestantes invadiram o aeroporto para receber Mão Santa na pista e quebraram os vidros do setor de desembarque.

Prefeito de Teresina, do PSDB, comanda protesto

O organizador da passeata foi o prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), que pretende disputar o governo do estado em 2002. Ele disse que a cassação pelo TSE foi legal, mas uma medida ilegítima.

— Não existe uma relação causal entre o uso do poder econômico e o resultado das eleições, não existe prova fazendo essa relação. Foram os votos do PSDB que deram maioria para Mão Santa no segundo turno — afirmou Firmino Filho, que foi para a passeata com a cara pintada.

Para evitar saques de dinheiro e destruição de disquetes e documentos, a Polícia Federal recebeu reforço de Brasília para pôr dois carros e duas equipes fazendo ronda nas repartições que funcionam no Centro Administrativo.

Os funcionários da Secretaria de Fazenda fecharam o prédio para evitar a entrada dos deputados governistas e empresários que estavam indo para reunião com o subsecretário Antonio Gonçalves.

Hugo Napoleão disse que sua primeira medida é saber qual o tamanho do rombo deixado pela administração de Mão Santa, principalmente na área de saúde, que sofrerá uma devassa.

Napoleão deve renunciar ao mandato de senador minutos antes de ser diplomado pela Assembléia Legislativa. Napoleão se despediu ontem de manhã dos colegas num emocionado discurso da tribuna do Senado. O senador garantiu que assumirá o governo do Piauí com espírito de paz.

— Este é um momento de despedidas. Estou assumindo um governo que ganhei. Gostaria de dizer ainda que chegarei com os olhos da paz, da concórdia e da bonança — prometeu.


Dirigentes admitem erro do PT gaúcho
Pela primeira vez desde o início da crise no PT gaúcho, detonada pelas denúncias de favorecimento ao jogo do bicho, dirigentes petistas admitiram ontem que houve erros e afirmaram que o partido deve aperfeiçoar seus mecanismos de controle. O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, da direção nacional, disse que o PT não deve ter relações com entidades como o Clube da Cidadania, presidido por Diógenes de Oliveira. Numa conversa gravada com o ex-chefe da Polícia Civil, Diógenes pediu em nome do governador Olívio Dutra que a repressão ao jogo do bicho fosse amenizada.

— O Clube da Cidadania não tem ligação formal com o partido, não sofre fiscalização do partido e estava captando recursos para a compra da sede do partido. Essa relação não é ilegal, mas tornou-se uma relação equívoca — disse Tarso.

Déda diz que Diógenes errou e merece punição

O prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, defendeu uma apuração rigorosa, com direito a ampla defesa. Mas disse que, pelos dados de que dispõe, Diógenes cometeu um erro grave e merece punição. Segundo Déda e Tarso, o PT pode ficar com a imagem comprometida se não aperfeiçoar seus métodos de controle.

— O fato de alguém colocar uma estrelinha na lapela não o põe acima do bem e do mal. Devemos refletir sobre isso e ver que tipo de mecanismo de vigilância na ação de nossas administrações temos que melhorar — disse.

Os dois criticaram a oposição ao PT na Assembléia. Disseram que não há provas do envolvimento de Olívio com as irregularidades. Para Tarso, os deputados estaduais cometeram uma ilegalidade ao desviar a atuação da CPI da Segurança para atacar Olívio.

— Porém, acho natural que façam isso, porque se trata de um elemento da luta política. Mas temos que mostrar que, se houve erros, as pessoas que erraram devem ser rigorosamente punidas — disse.

Ex-funcionário negadoação ao clube

Em depoimento à CPI, o ex-funcionário da Corretora da Cidadania Silvio Dubal disse que seu nome foi usado numa lista de doação ao Clube da Cidadania, mas que ele não contribuiu com R$ 500, como consta da lista entregue por Diógenes à CPI.

Dubal afirmou que autorizou a inclusão de seu nome na lista a pedido de Janice Foschiera, que, em 98, prestava serviços ao clube. Sobrinho de Daniel Verçosa, um dos diretores do clube, Dubal afirmou também que foi ameaçado no dia 30 para não comparecer à CPI.

Para o vice-presidente da CPI, deputado Elmar Schneider (PMDB), o depoimento reforçou mais a convicção dos integrantes da oposição na comissão de que “o Clube da Cidadania é na realidade uma fachada para arrecadação de fundos, inclusive ilícitos, para o PT”.

Além de Durbal, também depuseram ontem o filho do governador Olívio Dutra, Espártaco Dutra, e um grupo de delegados. Espártaco trabalhou como diretor administrativo na Corretora Condor, de propriedade de Daniel Verçosa, durante três anos. O filho do governador disse apenas que conhecia pouco as atividades do Clube da Cidadania e que só mantinha com Diógenes relações partidárias.


Prefeito, mulher e seguranças são mortos
NATAL. O prefeito de Caraúbas (RN), Agnaldo Pereira da Silva (PPB), de 58 anos, foi assassinado anteontem à noite, juntamente com o seu motorista Everlândio da Silva, de 26 anos, e os policiais militares Cláudio Pereira do Nascimento e Ronaldo Rafael da Silva, quando foram interceptados por supostos pistoleiros que jogaram o veículo dele, um Santana placa MYD-4307, para fora da estrada que liga os municípios de Apodi e Mossoró, a 270km da capital do Rio Grande Norte. A mulher do prefeito, Antônia Gurgel Nóbrega Pereira, de 51 anos, morreu ao ser jogada para fora do carro.

O coordenador da Polícia Civil do Interior, delegado Sérgio Teixeira Leocádio, informou que o prefeito, o motorista e os dois PMs foram executados com vários tiros.

— Eles não tiveram nem tempo de reação —- disse.

O prefeito tinha proteção policial desde 1999, quando seu irmão, João Pereira, foi morto por pistoleiros, em Caraúbas. O prefeito, que morava em Mossoró, fora a Caraúbas inaugurar um posto da Cosern, a companhia de energia.

A polícia vai investigar a família Carneiro, denunciada pelo prefeito em 99 como mandante da morte do seu irmão. Os irmãos Carneiro — Valdetário e Francimar — estão foragidos da Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal, desde 4 de novembro do ano passado. Segundo a polícia, a rivalidade entre as duas famílias aumentou depois que a família Silva denunciou que na propriedade dos Carneiro havia um desmanche de carros roubados.


Artigos

A crise das empresas aéreas
ALFREDO BUMACHAR

Aatual legislação brasileira discrimina as empresas de transportes aéreos e precisa ser mudada com urgência, diante da crise internacional que está afetando diretamente o setor de viagens, lazer e turismo. O decreto-lei 496, de 1969, que inexplicavelmente continua em vigor, impede essas companhias de pedirem concordata ou autofalência com continuidade de negócio.

É uma norma absurda e ditatorial, baixada em plena ditadura militar pelo então presidente Costa e Silva, sob justificativa de que era necessário manter a segurança dos transportes aéreos. Este argumento é absurdo, porque a segurança dos vôos sempre foi suficientemente garantida pelo Departamento de Aeronáutica Civil (DAC), que obriga as empresas aéreas brasileiras a seguirem rigorosos padrões internacionais de manutenção e revisão dos aviões e de seus motores, além de impor também severas regras de controle às tripulações, submetidas a avaliações e exames médicos periódicos.

Portanto, não é por mera coincidência que todas as companhias aéreas brasileiras estejam passando graves dificuldades. A principal delas, a Varig, anuncia que demitirá 1.700 empregados, entre os quais 150 pilotos. Na verdade, as empresas nacionais têm sido duplamente punidas, porque já pagam impostos extorsivos, que lhes tiram a competitividade diante das companhias estrangeiras. Além disso, não podem pedir concordata, que é um recurso mais do que legítimo para enfrentarem crises. Basta analisar o caso da Swissair, empresa suíça que entrou em concordata logo após o atentado às torres do World Trade Center, está demitindo cinco mil empregados e já teve absorvida pela subsidiária Crossair sua frota de 26 aeronaves.

É preciso entender que a atual crise tende a se prolongar, atingindo duramente as empresas nacionais, inclusive a Embraer, com a ameaça de cancelamento da venda de US$ 2 bilhões recentemente feita à Crossair, que até então só operava vôos regionais na Europa e tinha planos de substituir toda sua frota pelos jatos fabricados no Brasil.

A situação é tão grave que a indústria inglesa Rolls Royce, que produz turbinas, acaba de anunciar a demissão de cerca de cinco mil empregados, em suas unidades espalhadas pelo mundo. A Embraer também já está demitindo 1.800 trabalhadores, causando efeito cascata em cerca de 50 outras indústrias que produzem peças para os aviões brasileiros.

Em meio a este quadro, o apoio até agora oferecido pelo governo brasileiro às empresas do setor chega a ser inexpressivo. Os Estados Unidos anunciaram um pacote de US$ 15 bilhões para socorrer as companhias americanas . A Suíça está injetando mais de US$ 2,3 bilhões na Swissair, inclusive aumentando o capital de sua subsidiária Crossair. A empresa Air Canada está solicitando um aporte especial de US 2,6 bilhões. O governo de Hong Kong anuncia que injetará US$ 100 milhões na Cathy Pacific, somente para cobrir os aumentos dos seguros. Enquanto isso, o governo brasileiro limita-se a baixar um decreto isentando do IPI as peças nacionais destinadas à fabricação e manutenção de aeronaves.

Um país continental como o Brasil necessita preservar suas empresas aéreas, pois prestam serviços que deveriam ser considerados vitais para o desenvolvimento nacional, como ocorre nos EUA. Por isso, é preciso que essas companhias operem, pelo menos, nas mesmas condições das concorrentes estrangeiras, não somente no que diz respeito à tributação mas também no que se refere aos benefícios legais, como a possibilidade de pedirem concordata ou autofalência com continuidade do negócio.

Ironicamente, a atual legislação brasileira de falências e concordatas é, em grande parte, baseada nas normas vigentes na Suíça, onde não há quaisquer restrições às empresas aéreas, como se comprova no caso da Swissair. E o Congresso Nacional, inexplicavelmente, vem retardando a aprovação da nova Lei de Falências e Concordatas, que elimina todas essas distorções.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL

Serra: duas questões

Soube o ministro José Serra, em algum lugar a caminho de Qatar, das declarações do governador Tasso Jereissati em entrevista ao repórter Jorge Bastos Moreno, do GLOBO, acusando-o, entre agressivo e irônico, de ter tentado impedi-lo de participar do programa televisivo do PSDB. Mesmo estranhando a contundência de Tasso, Serra limitou-se a dois esclarecimentos. Primeiro, não vetou a participação de ninguém. Reservou-se apenas o direito de ser coerente com a posição que vem defendendo, de que ainda é cedo para deflagrar a sucessão no PSDB.

O segundo diz respeito à informação de que teria deixado pronta uma gravação provocativa para ser usada no programa. Em cena, uma cadeira vazia, enquanto o locutor enunciava seus feitos na Saúde, dizendo-o ausente por estar fora, trabalhando. Pois Serra acha que é hora de trabalhar e não de discutir eleição, diria ainda o locutor.

Esse script, mais que uma prova de inabilidade e estupidez política, seria uma ofensa aos demais participantes do programa. Seria chamá-los de ociosos e desocupados. Por isso mesmo, se alguém cogitou fazer essa gravação, jamais teria sua autorização, garante o ministro. Ainda que sua delicadeza política seja limitada, nunca lhe faltaria educação e cortesia.

Por telefone, Serra falou com uns poucos tucanos, inclusive com o presidente do partido, José Aníbal. Não responderá a Tasso, por mais espantado que esteja com sua reação, com a construção da idéia de que tenha sido movido pela mesquinharia política: tendo sua própria mídia como ministro, recusou-se a gravar para privar os demais da mesma oportunidade. Esse o resumo do que disse Tasso. Mas contestá-lo seria alimentar o mar de intrigas que está envenenando o partido. Mais não dirá.

Sobram intrigas, mas, além de votos (ou intenção de voto nas pesquisas), está faltando estratégia aos tucanos. Recordava Serra ontem ter conversado com o publicitário Nizan Guanaes sobre a conveniência de dar mais exposição aos presidenciáveis como tais. À moda do PFL com Roseana Sarney. Discordou, acha cedo e inconveniente para um partido que ainda não escolheu seu candidato. Diferentemente do PFL, que resolveu investir apenas em um nome. Além do mais, já combinara com o próprio presidente FH dedicar o programa a valorizar o governo e suas políticas sociais. O que a executiva tentou arbitrar na noite de anteontem foi o conflito entre duas estratégias, a de protelar e a de acelerar a escolha do candidato. Prevaleceu a meia-medida: o programa apresentará Tasso, Serra, Paulo Renato, Dante de Oliveira, Aécio Neves e outras figuras do partido. Mas não como presidenciáveis, e isso é que deve ter irritado Tasso.

Há um compromisso pouco mencionado entre o PSDB e o presidente FH de não pôr o candidato na rua este ano. Mas esses incidentes sugerem que o adiamento está sendo danoso. Poderão esperar até janeiro, jamais até março.O bode dos tucanos

Telefona o publicitário Nizan Guanaes para contestar os tucanos que andam lhe atribuindo a culpa pela confusão armada em torno do programa televisivo do PSDB. Teria ele, movido pelo impulso de duelar profissionalmente com Duda Mendonça, que trabalha para o PT, inoculado em setores do PSDB a idéia de que precisam pôr logo seus candidatos na rua.

— Entendo que seja mais confortável apontar um culpado, mas o argumento é pífio. Se fosse movido apenas por exibicionismo profissional, já estaria satisfeito com o trabalho que estou fazendo com Roseana Sarney. Ela saiu do nada para quase 20% nas pesquisas.

Nizan reafirma sua opinião favorável à maior exposição dos pré-candidatos tucanos, para que possam ser mais conhecidos e avaliados. Muitos compartilharam essa opinião. Conversou pessoalmente com Serra, que discordou. Mas daí a ser responsável pelo conflito de estratégias vai uma superestimação de seu papel, diz Nizan.Sem despeito

Diferentemente da maioria dos tucanos, Aécio Neves fala da candidatura presidencial de Roseana Sarney, do PFL, sem nota de desdém ou ceticismo.

— Ela conseguiu demonstrar suas qualidades e ocupar um vazio no espectro das candidaturas, no qual o nome do PSDB não está oficialmente posto. Não devemos subestimar sua candidatura nem esquecer que ela é do campo governista, não da oposição.

Pouco antes de embarcar para os EUA com o presidente FH, Aécio foi chamado a gravar para o programa do PSDB. No conflito Serra-Tasso, voltou a ser lembrado como terceira via.Desconto-moradia

No esforço para chegar a um acordo com o Congresso sobre a tabela do Imposto de Renda, o secretário da Receita, Everardo Maciel, admitiu a criação de uma dedução que lhe foi apresentada ontem pelo relator, deputado Ney Lopes: a volta de um desconto (fixo) para os gastos com aluguel e prestação da casa própria. Já vigorou, depois as deduções foram sumindo e o imposto subindo. Everardo ficou de fazer simulações. Nessa hipótese, haveria correção das deduções (talvez de 11%, jamais de 35%, como quer o Congresso) e seriam criadas as alíquotas para a classe média alta.

O PFL diverte-se com a brigalhada entre os tucanos.


Editorial

Esperança no Qatar

O livre comércio tem um fundamento básico: a competição induz as diferentes economias a um aumento de eficiência, o que, por sua vez, gera um processo de desenvolvimento consistente. A teoria, defendida com ardor pelos liberais desde Adam Smith ao fim do século XVIII, sempre esbarrou em muitos obstáculos na prática. No fundo, o mundo ainda não se livrou do velho mercantilismo de quinhentos anos atrás: todos são a favor do livre comércio até o momento em que os competidores começam a tomar seus mercados. Aí o protecionismo ressurge com força total.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada, em acordo sufragado inicialmente por 136 países, para evitar essas recaídas. Embora existisse o temor de que a OMC só conseguisse manter o rigor contra as economias emergentes, mais frágeis, tal expectativa não se confirmou. O Brasil, por exemplo, uma das maiores vítimas do protecionismo das nações mais ricas, teve até agora 85% dos seus pleitos atendidos pela OMC.

A própria OMC tem sido um importante aliado na batalha contra o protecionismo das nações ricas. Na nova rodada de negociações que se inicia hoje em Doha, capital do Qatar, estarão em discussão as barreiras na agricultura — em que o Brasil tem larga vantagem comparativa — e o tema incandescente das patentes dos medicamentos. Ainda há fortes resistências em ambos os casos, mas a posição inicial da OMC coincide com a defendida pelo Brasil. Por isso, nosso embaixador junto à organização, Celso Amorim, se declara razoavelmente otimista de que a reunião de Doha não venha a ser um fracasso como a anterior, em Seattle.


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11/09/2001


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