Aliado de Olívio confirma ação em favor de bicheiros
Aliado de Olívio confirma ação em favor de bicheiros
Diógenes Oliveira, que intercedeu por bicheiros em gravação
O economista Diógenes Oliveira, 57, presidente do Clube de Seguros da Cidadania -empresa criada por petistas e simpatizantes do PT que ajudou a arrecadar verbas para a campanha do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT)-, afirmou que não recebeu autorização do governador para tratar da repressão ao jogo do bicho com o ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino.
Oliveira, que retornou no final de semana de uma viagem à Europa, admitiu ter dado "um carteiraço" para convocar o delegado para uma conversa em sua casa.
"Falei indevidamente em nome do governador", afirmou. Segundo Oliveira, seu objetivo era pedir que a polícia parasse de achacar apontadores do jogo do bicho.
Na conversa, ocorrida em janeiro de 1999 e divulgada na última sexta pela CPI da Segurança Pública, Oliveira sugeria que o delegado usasse menos rigor na repressão e afirmava que o PT sempre teve "relação muito boa, muito estreita, com esse pessoal do Carnaval e do jogo do bicho".
Após a divulgação da conversa, Olívio afirmou que jamais deu autorização para que Oliveira falasse "em nome do governo ou do PT".
Para o relator da CPI, deputado Vieira da Cunha (PDT), a situação de Diógenes e do governo se complicou. "No momento em que alguém que priva da intimidade do poder peita o chefe de polícia para ele não reprimir o jogo, admitindo que deu um "carteiraço", para mim não resta dúvida do comprometimento do governo com o jogo do bicho", afirmou.
Vieira da Cunha disse que já esperava que Oliveira tentasse isentar o governo de responsabilidade no episódio e assumisse sozinho "a responsabilidade pelos fatos gravíssimos que vieram à tona".
"Mas não há como desvincular a figura do Olívio e do Diógenes. Para nós, eles estão umbilicalmente ligados; o Diógenes sempre foi figura de copa e cozinha do Palácio Piratini (sede do governo estadual)", afirma o deputado, mencionando documentos que estão sendo analisados pela CPI.
Segundo o relator, responsáveis por empresas que contribuíram com o Clube de Seguros e Cidadania disseram que foram procurados por Oliveira, em nome do governo, com pedido de doações para obras sociais do Estado.
Filiado ao PT, Oliveira foi secretário de Transportes na primeira administração petista em Porto Alegre (1989-92) e também no primeiro mandato de Tarso Genro na prefeitura (1993-96).
O PT admite que o economista Oliveira ajudava o partido na arrecadação de recursos para campanhas, mas diz que ele jamais exerceu a função de coordenador.
Vieira da Cunha não descarta a possibilidade de o relatório final da CPI, previsto para o próximo dia 14, pedir abertura de processo de impeachment contra Olívio. Segundo ele, a CPI está de posse de um "conjunto probatório" que pode incriminar o governador.
PARA ENTENDER O CASO
17 de maio
Em depoimento à CPI da Segurança Pública, instalada em abril de 2001, delegados dizem que banqueiros do jogo do bicho doam dinheiro para o PT e para obras sociais do governo
18 de maio
O ex-tesoureiro do PT Jairo Carneiro dos Santos, expulso do partido por desvio de verbas, diz que bicheiros doaram R$ 600 mil à campanha de Olívio Dutra (PT) em 98, por meio do Clube de Seguros da Cidadania, formado por petistas e simpatizantes do PT
19 de maio
Dirigentes do clube e do PT negam as acusações. Diógenes Oliveira, presidente do clube, diz que prédio foi comprado por R$ 310 mil por meio de doações legais ao partido
26 de junho
Santos depõe à CPI e diz que inventou as declarações
Agosto
São quebrados os sigilos bancário, telefônico e patrimonial dos dirigentes do clube, de Santos e do ex-chefe de polícia Luís Fernando Tubino
22 de outubro
Carlos Zignani, representante da empresa Marcopolo, faz declarações que contradizem o Clube de Seguros. Segundo Carlos Zignani, o dinheiro foi doado diretamente para o PT, e não para o Clube de Seguros. A empresa, então, não deveria estar na lista do clube
26 de outubro
CPI divulga CD com gravações de uma conversa entre o ex-chefe de polícia Tubino e Diógenes Oliveira, do Clube de Seguros. Na gravação, Oliveira diz que fala em nome de Olívio e sugere que Tubino use menos rigor na repressão ao jogo do bicho. Tubino reconhece a gravação. Olívio nega que tenha dado autorização para Oliveira falar em nome do governo
Foi "caso isolado", diz presidente do PT no Estado
O presidente do PT no Rio Grande do Sul, Júlio Quadros, classificou como "fato isolado" a conversa entre Diógenes de Oliveira e o ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino. Para ele, a CPI da Segurança Pública está agindo com fins políticos para tentar atingir o partido e o governo Olívio Dutra.
Quadros afirmou que o PT "não tem relação com a contravenção" e que "sempre recebeu recursos de acordo com o que a lei permite". Para ele, a meta da CPI, que "já faz parte da disputa eleitoral", é investigar o PT, e não a "banda podre" da polícia.
A executiva regional do partido se reúne hoje em Porto Alegre. O partido ainda não definiu que atitude tomará em relação a Oliveira, mas admite que ele errou.
"Diógenes já prestou inúmeros serviços [ao PT", só que nesse episódio teve uma conduta equivocada. Mesmo sendo uma conversa informal, ele não poderia ter usado o nome do governador", afirmou Quadros.
Olívio viajou ontem para Dacar (Senegal), onde participa de reunião do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. Ele deve voltar ao Brasil nesta sexta.
Para petistas, denúncias são "caso de polícia"
Com um discurso ensaiado, lideranças do PT defenderam ontem, em São Paulo, o governador petista do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, das acusações de suposto envolvimento com o jogo do bicho em seu Estado.
"É um episódio circunscrito a área policial. O governador não tem nada a ver com isso. Mas, se alguém no PT ou no governo teve algum contato ilegal, que pague a culpa", disse o deputado federal José Genoino, um dos pré-candidatos do partido para a disputa do governo de São Paulo.
O mesmo argumento foi repetido pela prefeita paulistana, Marta Suplicy. "É um caso de polícia. Já foi dito que o governador não tem nada a ver com isso, muito menos o PT. Que a polícia investigue e que isso seja apurado", declarou.
Genoino afirmou estar preparado inclusive para que o episódio no Rio Grande do Sul seja usado na campanha do próximo ano, quando as atuais administrações petistas deverão servir de vitrine para as disputas estaduais e para a eleição presidencial.
"Vamos para uma campanha pesada, muito radicalizada. Estou preparado para o vale-tudo. Não serei o primeiro a usá-lo, mas aprendi na política a dançar conforme a música."
Favorito
Apoiado pelo provável candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e por Marta Suplicy, Genoino participou ontem de prévia interna para escolher o candidato da sigla à sucessão estadual.
Estrela da ala moderada da legenda, o deputado é favorito absoluto na disputa, que ainda conta com a participação do deputado estadual Renato Simões, do setor radical do partido. O PT promete divulgar o resultado da prévia até amanhã. Ontem à noite, a apuração parcial em 150 cidades registrava 87% dos votos para Genoino e 13% para Simões.
A obtenção do quórum mínimo é a maior dúvida da eleição interna. O partido previa que apenas 20 mil filiados, de um colégio eleitoral potencial de 200 mil, comparecessem às urnas em 410 municípios. Para que a prévia seja válida tem de haver 15% de votantes em pelo menos metade das cidades.
Caso esse número não seja atingido, o candidato será definido pelo encontro estadual, no início de deze mbro. De acordo com Genoino, hoje já será possível verificar se o quórum foi atingido.
Falando como pré-candidato antes mesmo do final da votação, o deputado criticou o PSDB, o malufismo e ressaltou a possibilidade de alianças com o PSB, o PDT e o PC do B já no primeiro turno da eleição.
"Defendo que a chapa majoritária deva ser aberta a esses partidos", explicou.
Afirmou ainda que pretende procurar prefeitos do PPS do presidenciável Ciro Gomes e do PV.
Genoino negou que os baixos índices de aprovação da administração de Marta o prejudiquem.
"Acho até muito positivo que o PT se apresente dizendo que sabe governar porque pegou a maior cidade da América Latina destruída. Tenho a maior honra de estar com a Marta em um palanque."
Retribuição
A prefeita devolveu os elogios e prometeu participar ativamente da campanha estadual. "No ano que vem já começarão a aparecer muito mais nossas ações, tanto na área social quanto as obras. E eu estou disponível para o que ele precisar."
Sobre o fato de o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) ter indiretamente se referido a seu namorado, o assessor internacional do PT, Luis Favre, como "gigolô", Marta foi lacônica. "Vindo de Paulo Maluf, tudo é possível."
Impressão de voto está sob ameaça
Está sob ameaça a adoção do voto impresso nas eleições de 2002, medida que daria mais segurança ao sistema da urna eletrônica. A impressão de votos, que permite a recontagem em caso de suspeita de fraude no resultado, deverá ficar restrita a um teste em no máximo 5% das 405 mil urnas usadas no país.
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Nelson Jobim, considera-se desobrigado de fazer essa adaptação na votação informatizada por causa da demora do Congresso em aprovar o projeto que introduzirá a mudança na legislação eleitoral.
Jobim alertou vários senadores e deputados que a lei precisaria estar sancionada até 6 de outubro último, um ano antes do primeiro turno, para valer obrigatoriamente naquele momento. O entendimento dele é que, desde então, essa providência tornou-se facultativa para a Justiça Eleitoral.
Suspeitas
Houve sucessivos encontros com políticos, como o presidente do PDT, Leonel Brizola, desde que o escândalo da violação do painel eletrônico do Senado [leia texto nesta página" disseminou suspeitas sobre os outros sistemas informatizados de votação, especialmente o da Justiça Eleitoral.
Nas conversas com congressistas, o ministro disse que tomaria as medidas necessárias para a impressão de pelo menos parte dos votos no ano que vem desde que tivesse tempo e condições.
Atualmente, o TSE está concluindo um edital de licitação para a compra de 51 mil novas urnas eletrônicas. A expectativa é encerrar a concorrência neste ano.
O tribunal quer que essas máquinas já sejam fabricadas com algum mecanismo de impressão do voto para uso em 2006.
Na época, seria necessário adaptar as já existentes.
A fabricação com essas características depende da rápida aprovação do projeto. Sem a sanção da lei, o edital da concorrência não poderá fazer a exigência.
Teste
Em 2002, o provável teste do voto impresso envolverá apenas uma parte delas: de 8.000 a 20 mil. Será uma experiência para verificar, por exemplo, a provável demora dos eleitores na digitação dos votos para os seis cargos em disputa: presidente da República, dois senadores, deputado federal, governador e deputado estadual.
As urnas eletrônicas estão em uso desde 1996. Inicialmente, elas estavam restritas a apenas a um terço dos eleitores. Em 2000, chegaram à totalidade das seções.
O sistema atual não permite a recontagem de votos. Esse fato gera dúvida sobre a possibilidade de os dados digitados pelo eleitor não serem devidamente computados no resultado das eleições.
O voto impresso criará a possibilidade de recontagem nas seções eleitorais onde houver suspeita de fraude.
Durante a votação, o eleitor poderá verificar, por meio de um visor, se as informações impressas correspondem aos dados digitados para confirmar ou cancelar a operação. Se anunciar que não foi bem sucedido na segunda tentativa, será conduzido pelo mesário a votar em cédula.
Andamento
A tramitação do projeto ainda não atingiu a sua fase final. O Senado o aprovou em 2 de outubro, quatro dias antes do prazo máximo para a sua sanção, segundo o entendimento de Jobim.
Na Câmara, ele foi apreciado na última quarta-feira pela Comissão de Constituição e Justiça e deverá ser votado pelo plenário nesta semana. Se forem mantidas alterações incluídas pela CCJ, precisará voltar ao Senado.
As mudanças nas normas eleitorais precisam ocorrer até um ano antes de determinada eleição para valerem naquele momento. Para Jobim, o fato de a adoção do voto impresso ser uma medida de caráter meramente operacional não elimina essa necessidade.
Debate voltou após fraude no painel do Senado
A discussão sobre a impressão do voto na urna eletrônica foi retomada após o escândalo da violação do painel eletrônico do Senado.
Durante a cassação de Luiz Estevão (PMDB-DF), em junho de 2000, a ex-diretora do Prodasen Regina Célia Peres Borges chefiou a violação do painel do Senado.
Ela deu a lista de votos a José Roberto Arruda (ex-tucano, hoje no PFL-DF), que a levou ao então presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Em fevereiro deste ano, ACM disse a procuradores que tinha visto a lista. A conversa, revelada pelo procurador Luiz Francisco de Souza, levou o Senado a investigar o caso. Depois que a Unicamp confirmou a violação, Regina confessou o crime e acusou Arruda e ACM.
O Conselho de Ética pediu a cassação dos dois. Arruda renunciou no dia 24 de maio último, e ACM no dia 30.
No Rio, encontro pró-Itamar reúne políticos, artistas e intelectuais
Pré-candidato do PMDB à Presidência, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, teve ontem uma demonstração de prestígio ao reunir cerca de 400 pessoas, entre políticos do PSB, PMDB e PDT, artistas e intelectuais no apartamento do ex-embaixador José Aparecido de Oliveira, em Copacabana (zona sul do Rio).
Durante o encontro, Itamar voltou a defender a união das esquerdas no primeiro turno das eleições presidenciais e disse que sua vitória nas prévias do PMDB não será obstáculo para uma candidatura única da oposição.
Ele ressaltou a importância de os candidatos discutirem os programas. "Não vamos discutir um nome, e sim um programa. Uma ação específica contra o governo que está aí. Todos os partidos deveriam se unir", disse Itamar. O governador de Minas disse que essa discussão deveria começar após as prévias do PMDB, em janeiro. Ao ser questionado se teme um boicote do partido caso saia vencedor das prévias, Itamar disse que a "traição tem dois lados".
"A traição tem via dupla. Eu, por exemplo, se for o escolhido, sei que vou ser traído em Pernambuco, então vou procurar outros amigos", afirmou.
O peemedebista chegou à Copacabana por volta das 19h15.
Ele estava acompanhado da major Doralice Leal Lorentz. Entre os convidados, estavam o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, o economista Celso Furtado, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, a atriz Lucélia Santos, o ator José Lewgoy e o cartunista Ziraldo. O anfitrião, José Aparecido de Oliveira, disse que o encontro não se tratou de um apoio político e sim de uma manifestação de solidariedade às idéias de Itamar. O governador deixou o coquetel às 21h40 e seguiu para o restaurante Fiorentina.
PSB quer renegociação da dívida e promete acabar com desemprego
Erradicar o desemprego em oito anos, aumentar o investimento em educação de 3,9% para 7,4% do PIB, criar uma lei que torne o analfabetismo ilegal e reabrir negociações sobre a dívida externa.
Essas são algumas das propostas que o PSB do Rio fez para o programa de governo de Anthony Garotinho, candidato do partido à Presidência da República. As propostas foram divulgadas durante o 9º Congresso Estadual do partido, realizado sexta-feira e sábado na Tijuca (zona norte do Rio). Garotinho foi eleito vice-presidente estadual do PSB - ocupando o lugar do senador Saturnino Braga, que era contra a filiação do governador e sua pré-candidatura à Presidência.
A lei contra o analfabetismo seguiria os mesmos moldes daquela que tornou obrigatória a escola fundamental para crianças de 7 a 14 anos. O projeto prevê que pessoas - físicas ou jurídicas, civis ou militares - sejam punidas criminalmente caso tenham uma criança analfabeta sob sua tutela.
Para pressionar a renegociação da dívida externa, o PSB propõe uma articulação brasileira com outros países do Terceiro Mundo.
No sábado, o PSB promoveu um debate com três dos quatro pré-candidatos do partido ao governo do estado do Rio - Tito Ryff, Fernando Lopes e Paulo Baltazar. Todos defenderam candidatura própria do PSB ao governo do Estado, ao Senado e à Presidência. Foi uma resposta à possibilidade de Garotinho vir a apoiar o presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Cabral Filho (PMDB), numa provável candidatura do peemedebista ao governo do Estado do Rio.
Embora não tenha lançado a sua pré-candidatura ao governo do Estado, o ex-prefeito Luiz Paulo Conde, que trocou o PFL pelo PSB, é outra opção para a disputa estadual
Para Itamaraty, FHC entrou na "intimidade do Primeiro Mundo"
Mal o presidente Fernando Henrique Cardoso levantou-se da mesa do brunch no refinado Hotel Ritz de Madri, a Folha ouviu do Itamaraty a avaliação de que um presidente brasileiro conseguira afinal "entrar para a intimidade do Primeiro Mundo".
Era uma alusão à conjugação dos seguintes fatores, todos presentes nas três etapas de sua viagem à Europa:
1) Ontem, FHC jantou com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na casa de campo oficial de Chequers. Só ele e respectivas mulheres, Ruth Cardoso e Cherie Blair. Além do ex-presidente americano Bill Clinton, que passou para um drinque, conforme FHC contou antes de embarcar. São de fato poucos os governantes que Blair leva para a intimidade da casa de campo. E FHC ainda ficou para dormir.
2) Da mesma forma, são poucos os governantes convidados para fazer um discurso na Assembléia Nacional da França, como ocorrerá amanhã com FHC, que fala a partir das 15h (12h de Brasília).
3) Na véspera, FHC janta com o primeiro-ministro francês, o socialista Lionel Jospin, na sua casa, o Hôtel de Matignon. Também é um ato de alguma maneira íntimo, para poucos convidados.
Íntimo do primeiro mundo, como quer o Itamaraty, ou não, FHC aproveitará a viagem à Europa e a audiência que tem entre os governantes para exercitar o tradicional equilibrismo da diplomacia brasileira entre Europa e EUA, os dois grandes pólos de poder no planeta. Equilibrismo em políticas concretas e também nas negociações comerciais.
Exemplo do primeiro ponto: a visita à França servirá para que o ministro designado da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira Filho, se informe dos detalhes do projeto de reorganização da Polícia Federal na região amazônica, financiado pela França e outros países europeus. São quase US$ 500 milhões, que formam um contraponto ao Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), tocado pela norte-americana Raytheon.
Exemplo na área comercial: FHC criticará, na França, mas com todo o cuidado, o protecionismo agrícola europeu, do qual os franceses são o maior baluarte.
A liberalização do setor comercial é a principal reivindicação do Mercosul nas negociações com a União Européia para formar uma zona de livre comércio que, de novo, será o perfeito contraponto para a Alca, da qual os EUA são o principal inspirador. O discurso de FHC na assembléia servirá para enfatizar o aspecto político das negociações entre a Europa e o Mercosul, ao contrário do que ocorre com a Alca, que não vai além do âmbito comercial.
O presidente deve reafirmar o que já disse na semana passada na OAB, ou seja, que o acordo com a UE parece menos agressivo para muitos setores brasileiros do que o entendimento com os EUA em torno da Alca. O brunch no Ritz, a 59,80 euros per capita (US$ 54), foi o último ato da visita de FHC a Madri, que embarcou para o Reino Unido.
Artigos
Visão petista
FERNANDO RODRIGUES
BRASÍLIA - Vigora dentro do PT a idéia de que o Palácio do Planalto tem jogado muito bem o balé sucessório até agora.
A atitude recalcitrante dos partidos governistas, a estratégia comedida de José Serra, a ocupação da mídia por Roseana Sarney e, agora, Tasso Jereissati têm sido suficientes para impedir Lula de passar dos seus atuais 35%. Não é pouco.
A avaliação da cúpula petista é que existe uma tendência natural para a aglutinação dos governistas quando chegar a hora da decisão, no início do ano que vem.
A cédula eleitoral -ou a lista de candidatos na urna eletrônica, uma vez que não existe mais a cédula propriamente- tem chance de ser a menor possível. É nisso que acreditam os petistas. Para o bem ou para o mal, pois enxergam nesse cenário a chance de vencer ou perder já no primeiro turno.
A cédula mínima conteria uma quase repetição de 1998: Lula (PT), Ciro Gomes (PPS), um governista e Enéas (Prona). Itamar Franco ficaria na estrada, visto que já deu mais de um sinal sobre sua indefinição.
Quando disse semana passada que Lula pode vencer no primeiro turno, Itamar teria dado um recado, na visão dos petistas, de que não está entrando nessa para perder.
Anthony Garotinho (PSB) é outro que poderá ser atropelado pela conjuntura, na opinião da cúpula do PT. Seu partido acabaria lhe negando o apoio necessário. O governador do Rio de Janeiro também evitaria o risco de um fracasso na sua carreira.
E qual a cédula dos sonhos do PT? É aquela na qual José Serra aparece como o candidato governista. Políticos e publicitários petistas aproveitam para tirar uma casquinha do tucano: acham que ele já foi testado e reprovado em São Paulo.
Pode ser apenas conversa de campanha? Pode, mas é a análise dos petistas para consumo externo.
Colunistas
PAINEL
Apoio limitado
FHC está convencido de que não terá condição para bancar sozinho o nome do candidato governista na sucessão de 2002. Vai ter de gastar muita saliva para emplacar o seu preferido.
Voto útil
José Serra tem a preferência de FHC para a sucessão. Mas o presidente vai ser pragmático na hora da decisão do nome. Ficará com aquele que reunir maiores condições políticas e eleitorais.
Plataforma esquecida
Ao lançar sua candidatura a presidente na semana passada em SP, Tasso Jereissati (PSDB) pintou um quadro cor-de-rosa do Ceará após as suas gestões. Só não disse que o Estado é o terceiro pior em distribuição de renda no Brasil, à frente apenas do Piauí e da Paraíba.
Sem medo de optar
Do deputado Antonio Pannunzio (PSDB-SP), ironizando o PT: "É salutar para o PSDB ter pelo menos dois nomes à Presidência. Não é como outros partidos, que têm o mesmo candidato há 16 anos e, quando aparece outro, ele é torpedeado no interior da própria sigla".
Com sede ao pote
Novo ministro da Integração Nacional, Ney Suassuna (PMDB-PB) não deixou ninguém de seu gabinete sair para almoçar na quinta-feira. Adepto do lema "um ano em um mês", comprou umas quentinhas e distribuiu aos auxiliares.
Calendário eleitoral
Aliados de Itamar Franco podem entrar na Justiça caso a direção governista do PMDB decida adiar as prévias presidenciais, marcadas para janeiro.
Primeiras impressões
O novo diretor de Comunicação Social do Sen ado, Mário Marona, ex-Globo, levanta os serviços do órgão para estudar possíveis cortes. Descobriu que o Senado imprime CDs e edita jornalzinho interno. Há cerca de 500 funcionários no setor.
Bons antecedentes
Luiz Estevão achou "paradoxal" o Conselho de Ética do Senado não investigar o senador Luiz Otávio porque as irregularidades teriam ocorrido antes do mandato: "Se eu tivesse dito na tribuna que tinha roubado R$ 169 mi do TRT e que era amigo desde criança do juiz Nicolau, não teria sido cassado".
Questão de ordem
"Disse a verdade e, sem provas, roubaram o meu mandato", afirma Luiz Estevão. O ex-senador aguardará o desfecho da ação penal a que responde em SP antes de tentar reverter a sua cassação. Diz que há indícios de violação e alteração dos votos.
Embaixo do nariz...
"Se fosse uma cobra, ela picaria você". Com essa frase o senador democrata norte-americano Zell Miller, da Georgia, abriu artigo publicado no jornal "Miami Herald", dizendo que o perigo do terrorismo não se encontra num mundo distante, mas "bem debaixo do nariz" de Tio Sam.
...na terra sem lei
Segundo Zell Miller, o perigo está na fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai, "um lugar sem lei onde integrantes do Hamas e Hezbollah, além de membros de outros grupos terroristas ligados a Osama bin Laden, estão provavelmente planejando outros ataques terroristas".
Decisão no voto
Aécio Neves deve colocar em votação nesta semana projeto que restringe a imunidade parlamentar, texto sem consenso entre os líderes: "Consenso absoluto não existe. Vamos para o voto. Está mais do que na hora".
Herança autoritária
O senador Roberto Freire defende o fim da exigência de que os candidatos estejam filiados a algum partido político um ano antes da eleição. Segundo ele, a regra cassou 100 milhões de brasileiros. "Como pode ser considerada progressista uma regra criada pela ditadura militar?"
TIROTEIO
Do ex-governador Cristovam Buarque (PT-DF), ao analisar os pré-candidatos a presidente:
- A esquerda tem candidatos com causa e outros sem causa. Itamar Franco só tem uma: a soberania nacional. Ciro Gomes e Anthony Garotinho não têm nenhuma. Respeito mais um nome de direita com causa do que um de esquerda sem.
CONTRAPONTO
Cota preenchida
Quando montava o ministério, em 1992, Itamar Franco escolheu seu futuro consultor-geral da República, José de Castro Ferreira, como alvo de um tipo de brincadeira.
Castro conta no livro "Itamar: o homem que redescobriu o Brasil" que um dos primeiros nomes que vieram à cabeça de Itamar para o ministério das Relações Exteriores foi o de Fernando Henrique Cardoso, uma escolha que já era prevista.
Num dia agitado, quando ainda se discutiam as nomeações, Itamar virou-se para Castro e perguntou:
- E as Relações Exteriores?
- É óbvio que você vai nomear FHC - respondeu Castro.
Foi o que bastou. Daí em diante, sempre que Castro mencionava um nome para qualquer ministério, Itamar disparava:
- Você, não. Você já nomeou o ministro das Relações Exteriores...
Editorial
O FOME ZERO
O Brasil não é um país rico, mas já poderia ter resolvido ou amenizado bastante o problema da fome, algo básico para o bem-estar da população. Nesse sentido, é louvável que o principal partido de oposição decida expor sua proposta de como combater esse flagelo.
No entanto, o programa Fome Zero, publicado recentemente pelo PT, mostra que essa iniciativa é muito mais um ato de voluntarismo e de simples propaganda política do que uma proposta tecnicamente viável para acabar com a fome.
Há dois aspectos especialmente complicados. Um deles foi a pouca atenção dada aos custos da proposta. Especialistas calculam que ela exigiria um aumento dos gastos públicos da ordem de R$ 70 bilhões -6% do PIB!. O programa não teve, porém, o devido cuidado de indicar as fontes de financiamento.
Outra passagem infeliz foram as declarações de Luiz Inácio Lula da Silva na esteira do lançamento do Fome Zero. Lula reiterou que o Brasil deveria restringir as exportações de gêneros agrícolas enquanto houver cidadãos brasileiros sem o mínimo para comer. Não se deve ignorar que houve no Brasil períodos em que o excessivo direcionamento da produção agrícola para o exterior se deu em detrimento do mercado doméstico, provocando elevações de preços dos alimentos no país.
Mas a vulnerabilidade externa de que o país padece exige a obtenção de expressivos saldos comerciais, necessidade que vem sendo destacada por praticamente todas as forças que disputarão a Presidência em 2002, inclusive o PT. Decerto é preciso um programa de incentivo às exportações que torne o país menos dependente do agronegócio. Mas abrir mão dessas vendas externas levaria a uma estagnação econômica ainda maior, o que, como sempre, atingiria com força os mais pobres.
De resto, o programa tem vezo assistencialista. Desvaloriza boas iniciativas empreendidas pelo próprio PT, como o Bolsa-Escola, que associa educação ao combate à miséria.
Reformular o Fome Zero e adequá-lo ao bom senso seria altamente recomendável.
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10/29/2001
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