Alvaro Dias nega ter vazado informações sobre gastos de FHC com cartão



O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) defendeu-se, durante a reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Cartões Corporativos desta quinta-feira (3), de acusações de parlamentares da base do governo de que teria deixado vazar para a revista Veja informações sigilosas de gastos com cartão de crédito do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Parlamentares da base governista chegaram a pedir a saída de Alvaro Dias da comissão. Os parlamentares oposicionistas, por sua vez, apontaram a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, como responsável pelo vazamento das informações.

Alvaro Dias reconheceu ter tido acesso ao dossiê, mas negou que tenha sido a fonte de informações da Veja para a reportagem. O senador destacou seu direito constitucional de proteção à fonte de informações, caso tivesse sido o responsável por divulgar as informações para a imprensa. Além disso, garantiu que as informações que constam do suposto dossiê não são sigilosas e, por isso, não haveria crime em sua divulgação.

No início da reunião, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) chegou a apresentar um requerimento convocando o senador Alvaro Dias para prestar esclarecimentos à CPI Mista sobre o assunto.

- A ministra Dilma nada tem a ver com isso. A Casa Civil tinha, sim, um banco de dados, de onde informações foram roubadas. Agora surgem notícias de que o responsável pelo crime foi o senador Alvaro Dias - acusou a deputada.

Em sua defesa, Alvaro Dias elogiou a atuação da imprensa investigativa brasileira e duvidou que um jornalista da revista Veja tenha se valido de apenas uma fonte para produzir a reportagem em questão. O senador lembrou que funcionários públicos, parlamentares, "todos somos fontes a municiar a imprensa no exercício da liberdade plena em que cobre a sua missão".

O senador leu um texto do jornalista Reinaldo Azevedo, publicado no site da revista Veja, que destaca: "se Alvaro Dias sabia ou não do dossiê é irrelevante, uma coisa posso afirmar, ele não é a fonte da Veja, até porque uma revista tem muitas fontes. Ainda que Alvaro Dias estivesse entre as fontes, e não está, não padeceria de solidão."

- Não fui eu. Não sou réu. Não me questionem. Não empurrem para mim o que fizeram de mau. Não joguem nas minhas costas a responsabilidade que não tenho. Não há direito que garanta questionar um parlamentar por informações recebidas - afirmou, citando a Constituição Federal, que resguarda o sigilo da fonte.

O senador informou que, desde fevereiro, são publicadas notas na imprensa sobre a existência do suposto dossiê. Para Alvaro Dias, quem deveria estar na CPI Mista, prestando informações ao país, deveria ser a ministra da Casa Civil, órgão responsável pela guarda das informações vazadas para a imprensa.

- Dilma é a ordenadora, a responsável por essas informações, não o assalariado que manipulou informações e as armazenou no Palácio, e sim a ministra que o comanda. Não me cobrem fontes, autores, busquem no Palácio do Planalto os responsáveis por esse crime de usar a máquina pública para golpear adversários políticos - afirmou ainda.

O senador argumentou também que as informações sobre gastos do presidente Fernando Henrique Cardoso com cartão corporativo nunca foram sigilosas.

- Não são dados sigilosos, nunca foram. Foram inclusive auditados pelo Tribunal de Contas da União [TCU], onde foram aprovados sem ilícitos, sem irregularidades - disse.

Durante a discussão, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) prestou apoio a Alvaro Dias e pediu a presença da ministra Dilma Rousseff na CPI Mista para esclarecer o assunto. O senador José Agripino (DEM-RN) pediu que a comissão voltasse a focar seu trabalho na investigação do uso irregular de cartões corporativos. O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) destacou o direito constitucional de Alvaro Dias de proteger suas fontes.

Apesar de não ser membro da comissão, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pediu a palavra e destacou a importância histórica das CPIs na denúncia de irregularidades. Simon fez um apelo aos parlamentares da CPI Mista para que chegassem a "um mínimo de entendimento".

- O que está faltando aqui, e o que sempre encontramos no passado, são bom senso e equilíbrio. Cada parte tem que ceder um pouco. Se não temos capacidade para fazer, se não houver clima, termina a CPMI - sugeriu.

O senador João Pedro (PT-AM) também pediu que o foco das investigações voltasse a ser o uso irregular de cartões corporativos. O senador lamentou a "sede" da oposição de querer trazer a ministra Dilma à CPI Mista, destacou que os dados relativos à Presidência da República são protegidos por sigilo de Estado e classificou a tentativa de quebrar esse sigilo como uma "estratégia desesperada da oposição para tentar atingir um governo que vai muito bem na opinião pública nacional".

03/04/2008

Agência Senado


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