Antônio Britto troca hoje o PMDB pelo PPS



Antônio Britto troca hoje o PMDB pelo PPS BRASÍLIA. O ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Britto deixa hoje o PMDB para filiar-se ao PPS e deve anunciar sua candidatura ao governo estadual numa aliança com o PTB. Britto levará para o novo partido sete deputados federais. Entre eles Nelson Proença. A saída do ex-governador já era esperada desde que seu grupo foi derrotado na eleição para presidente do PMDB no Rio Grande do Sul pela ala apoiada pelo ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, e pelo senador Pedro Simon. A filiação pode complicar a aproximação entre o PDT e o PPS. O presidente nacional pedetista, Leonel Brizola, disse no sábado, no interior do Rio Grande do Sul, que não apoiará a candidatura de Britto por causa das diferenças ideológicas entre os dois. ‘É preciso ser mais afirmativo’ Se o presidente Fernando Henrique Cardoso tivesse que lançar hoje o candidato à sua sucessão, não teria um nome. Ele reclama da timidez dos postulantes da base governista, que, ausentando-se do debate, não conseguiram até agora construir suas candidaturas. O presidente afirma que é preciso que a sociedade saiba o que o candidato do governo quer fazer com o país. E elogia o ministro Pedro Malan por debater idéias. Ele voltou a dizer que a democracia brasileira é sólida o bastante para agüentar qualquer governo. Mas provoca o PT ao informar que tentará aprovar o projeto que torna o Banco Central independente, contra o qual o partido já se manifestou. Falso anúncio fúnebre revela rede de intrigas e traições em São Paulo SÃO PAULO. Um falso anúncio fúnebre publicado ontem em jornais revela uma rede de traições e escândalos envolvendo executivos da construtora Andrade Gutierrez, o ex-prefeito Paulo Maluf e o ex-governador Oestes Quércia. Intrigados com o texto cifrado, os promotores que apuram as suspeitas de que Maluf teria mais de US$ 200 milhões em contas no exterior abrirão uma investigação paralela para desvendar o que há por trás do anúncio. A Andrade Gutierrez é uma das maiores construtoras de obras públicas do país. Atribuído a Roberto Amaral, um dos mais poderosos executivos da empresa até o ano passado, o anúncio afirma que, no dia 24 de setembro, ocorreu "a missa de qüinquagésimo dia da morte de José Rubens (Dolly)". Na verdade, José Rubens Goulart Pereira, presidente da Andrade Gutierrez, está vivo e é casado com uma sobrinha de Amaral. — É um anúncio cifrado. Queremos saber o que ele quer dizer. Estudamos a possibilidade de convocar Roberto Amaral para depor e esclarecer o que ele quis dizer quando citou Maluf e Quércia — disse o promotor Silvio Marques, da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo. José Rubens teria traído compromissos de Amaral Amaral e José Rubens teriam rompido a amizade de 17 anos há 50 dias, numa briga na Fazenda Guanabira, de propriedade do primeiro, em Bananal, na divisa de São Paulo com o Rio. Quando se aposentou, Amaral fez o marido da sobrinha seu sucessor na empreiteira. José Rubens teria traído Amaral, deixando de honrar compromissos de seu antigo padrinho. O que despertou a atenção dos promotores, levando-os a investigar o anúncio, é uma referência ao "Banco Helvético (suíço) Cordier". Maluf é investigado pela polícia financeira da Suíça por suspeita de lavagem de dinheiro. Entre 1995 e 1997, Maluf manteve uma conta no Citibank de Genebra. Depois o dinheiro foi transferido para outra conta nas Ilhas Jersey, um paraíso fiscal no Canal da Mancha. No anúncio cifrado, no entanto, há uma informação distorcida. O banco Cordier citado no texto na verdade é o Bordier, um banco privado de gestão de grandes fortunas. O polêmico anúncio foi produzido pela agência de publicidade Manager, do jornalista e colunista Gilberto di Pierro, conhecido como Giba Um. O texto causou polêmica: — O Roberto Amaral está louco — disse um importante político com cargo no governo federal e que já teve campanhas eleitorais financiadas pelo executivo. Segundo fontes do setor, Amaral está mesmo é irritadíssimo com José Rubens, que é chamado pelos mais próximos de Dolly. Amaral foi diretor da empresa em São Paulo durante 28 anos. Ao longo desses anos, a Andrade Gutierrez fez as mais importantes obras no estado, construindo pontes, túneis, estradas e hidrelétricas. O executivo tornou-se também um dos homens mais poderosos nos bastidores da política no estado. Amaral teria ajudado na campanha do prefeito Jânio Quadros (1985 a 1988) e depois atuou nos bastidores durante os governos dos peemedebistas Orestes Quércia (86 a 90) e Luiz Antônio Fleury Filho (90 a 94). — Ele só começou a perder força com as obras públicas durante o governo dos tucanos, pois aí começou a se destacar a presença de José Rubens — diz uma fonte do setor. Quando Amaral se aposentou, no ano passado, comprou uma briga com donos da Andrade Gutierrez (os irmãos Gabriel Donato de Andrade e Sergio Andrade) para indicar José Rubens para substituí-lo no cargo de diretor em São Paulo. José Rubens, que se casou com Vera, sobrinha de Amaral, cresceu tanto na empresa que acabou superando Amaral, assumindo a presidência da empresa. No anúncio, Amaral só poupa outro dono da empreiteira, Eduardo Andrade, com quem ainda mantém relações. A assessoria de José Rubens na Andrade Gutierrez, em Belo Horizonte, não retornou ligações para falar sobre o caso. Quércia diz que Amaral era amigo dos governantes Amaral atualmente é sócio da RV Consultoria Empresarial, com sede em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Na Fazenda Guanabira, um funcionário disse que Amaral está no exterior. Em sua casa, em São Paulo, um funcionário que se identificou como Bonfim disse que ele está na Suíça, mas seu sócio na RV Consultoria, Reinaldo Andrade Costa, não confirmou a informação. Citado por Amaral, o ex-governador Orestes Quércia não quis comentar o assunto e viajou para o interior do estado. — O Roberto não era meu amigo. Era amigo do governador Quércia. Ele era amigo dos governantes. Adorava obras dos governos estaduais — disse Quércia a assessores. Maluf também não quis comentar o caso. Outro citado no anúncio, o pianista João Carlos Martins, dono da empresa Pau-Brasil, que financiou campanhas do ex-prefeito, afirmou: — Não falo com essas pessoas há dez anos. Nos últimos oito anos só me dedico à música e, no meu repertório, não há espaço para funeral. Fogaça recusa a pasta da Integração Nacional BRASÍLIA. O senador José Fogaça (PMDB-RS) recusou ontem convite para ser o ministro da Integração Nacional. Ele foi recebido no início da noite pelo presidente Fernando Henrique e pelo secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira. Sua indicação tem o apoio do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e do líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Com a recusa, os cotados passam a ser o secretário de Governo de Pernambuco, Dorani Sampaio, e o senador José Alencar (PMDB-MG). — A nossa tese é a de unir o partido e desfazer a imagem de que há um grupo fechado no comando — disse Temer. Segundo assessores de Fernando Henrique, Fogaça preenche os requisitos por ser senador do PMDB e defender a política econômica do governo. Comissão vai apurar denúncias contra CPI BRASÍLIA. O presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG), criou ontem uma comissão de sindicância com representantes de cinco partidos para apurar em dez dias as denúncias de tentativa de extorsão a empreiteiros por parte de membros da CPI das Obras Inacabadas. A comissão será presidida pelo corregedor da Casa, Barbosa Neto (PMDB-GO), e composta por quatro deputados de PT, PFL, PSDB e PPB. Os primeiros a depor serão o presidente da CPI, Damião Feliciano (PMDB-PB), o relator, Anivaldo Vale (PSDB-PA), e o líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA). — É fundamental que apareçam testemunhas. Se não, o processo acabará sendo arquivado — disse Barbosa Neto. Empresário disse a Jutahy que foi vítima de chantagem Ontem, pela primeira vez, Jutahy admitiu que foi procurado por um empresário baiano, no aeroporto de Salvador, no dia 14. Este teria confidenciado ter sido chantageado por um deputado da CPI, que teria exigido R$ 1,5 milhão para não incluir o nome do empresário no relatório final. Jutahy recusou-se a dar o nome do empresário e do deputado. — Nem perguntei quem era o deputado porque me pareceu óbvio. Liguei para esse empresário e apelei para que ele viesse depor, mas ele negou-se — disse Jutahy. Outro parlamentar disse ter ouvido a mesma história de um empreiteiro. Esse empresário teria dito ainda que cada membro da CPI receberia R$ 100 mil. O deputado não só duvidou da participação de todos os integrantes da comissão no esquema como desaconselhou o pagamento da propina. Os líderes também foram informados por um parlamentar pefelista de que a OAS, empreiteira baiana responsável pela obra do aeroporto de Salvador, teria sofrido tentativa de achaque. Sobre se a construtora baiana a que se referia era da OAS, Jutahy negou. Deputado suspeita de plano para atrapalhar CPI Enquanto não aparece uma testemunha formal, as suspeitas vão crescendo sobre outros membros da CPI. Ontem já havia parlamentares defendendo a prorrogação dos trabalhos. Jutahy, que articulou com os outros líderes o fim da CPI, lembrou que a decisão foi unânime e que avisou a todos os líderes que havia denúncias informais de tentativa de extorsão. — Suspeitamos que foi uma manobra para empastelar a CPI, uma jogada do poder econômico com o poder público. Temos que dar continuidade aos trabalhos — disse o líder do PPS, Rubens Bueno (PR). Jader recorre ao STF contra relatório do Senado BRASÍLIA. Esgotados os recursos no Senado para impedir a votação, no Conselho de Ética, do relatório que propõe a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) apelou para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ciente de que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) deve rejeitar hoje recurso para que o peemedebista seja ouvido pelo conselho, Jader entrou com mandado de segurança para impedir a votação do relatório da comissão de investigação no Conselho de Ética. Os advogados do senador sugerem que outro relatório seja feito “obedecendo as fronteiras legalmente impostas”. Eles afirmam que a comissão deveria investigar se houve quebra de decoro e não se Jader teria culpa nos desvios de dinheiro do Banpará. Os advogados também afirmam que o senador não teria faltado com a verdade no Senado, pois o Banco Central não teria provas contra Jader. Para o presidente da CCJ, senador Bernardo Cabral (PFL-AM), o pedido é absurdo. — Não existe um processo, mas apenas um inquérito e nessa fase não procede o pedido de Jader. O Supremo sabe melhor do que ninguém que a solicitação do senador não pode ser aceita — disse Cabral. — Esse processo está capenga. Se eu não for ouvido, esse processo será uma violência. Por que não querem me ouvir publicamente? Porque não querem aguardar o resultado da perícia judicial que solicitei para os relatórios do Banco Central? — perguntou Jader. Para relatar o caso, o Supremo nomeou o ministro Maurício Corrêa. O STF deve responder até amanhã. Preocupados com a repercussão negativa que as manobras em favor de Jader vêm tendo, os peemedebistas pareciam ontem arrependidos. — Se ficar caracterizada qualquer manobra, mando desfazer a indicação — disse o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, sobre a escolha de Jader para integrar a CCJ. Ao entregar ontem seu parecer contra o recurso de Jader, o senador Osmar Dias (PDT-PR) afirmou que, caso a CCJ o rejeite, o que é pouco provável, estará caracterizada a abertura do processo. Isso poderia inviabilizar a decisão do senador de renunciar para evitar a possível cassação e a perda de direitos políticos. Jader está disposto a ir hoje à sessão do CCJ que julgará o recurso. Informou, porém, que não pretende participar da votação. Quer apenas defender sua opinião. Pesquisas: Roseana lidera entre governistas BRASÍLIA. Duas pesquisas sobre intenção de voto para presidente da República, divulgadas ontem, confirmam a liderança do petista Luiz Inácio Lula da Silva, com mais de 30%, e mostram que, entre os governistas, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), está em melhor situação. Pesquisa do Ibope divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra Lula com 30% (subiu dois pontos em relação à consulta de junho), seguido de Roseana e do ex-ministro Ciro Gomes (PPS), empatados em segundo lugar com 12% dos votos cada. Roseana subiu cinco pontos em relação à consulta de junho e Ciro caiu um. Em seguida aparecem os governadores de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), e do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), ambos com 10%; e o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), com 6%. Itamar e Garotinho perderam dois pontos em relação à pesquisa de junho e Serra se manteve estável. Votos em branco e nulos somam 9%. O Ibope ouviu duas mil pessoas em todas as regiões, de 13 a 17 de setembro. Pelo Sensus, Roseana subiu 3,2 pontos percentuais Em outra pesquisa, do Instituto Sensus, divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Lula lidera com 31,3% (na anterior, em agosto, tinha 27,9%), seguido por Roseana, com 14,4% (tinha 11,2% na pesquisa anterior do instituto). A governadora do Maranhão passou Ciro, que ficou em terceiro lugar com 12% (perdeu 1,9 ponto percentual). Na consulta do Sensus, Serra aparece com 4,2% das intenções de voto (tinha 7% na anterior), ficando atrás — mas tecnicamente empatado — de Enéas, do Prona, que aparece com 4,3%. Numa outra simulação feita pelo Sensus, tirando Roseana e Serra da lista de presidenciáveis e incluindo Pedro Malan, o ministro da Fazenda ficou com 2%. O Sensus ouviu duas mil pessoas em todo o país de 14 a 20 de setembro. O desempenho de Roseana é motivo de festa no PFL, mas setores do partido começam a ficar assustados com o crescimento acima das expectativas. Há um temor, ainda restrito a alguns grupos, de que a governadora atinja 20%, o que tornaria sua candidatura irreversível, prejudicando a possibilidade de se reeditar a aliança governista. — O crescimento de Roseana reflete o pensamento internacional de levar as mulheres ao poder. Mas queremos a coligação dos partidos da base aliada. Defendo as prévias para a escolha do melhor candidato, independentemente de ser ou não do PFL. Se Roseana estiver mais bem colocada nas pesquisas, acho que tem que ser ela a candidata. Caso contrário, poderá ser outro — disse Jorge Bornhausen, presidente do PFL. O baixo desempenho de Serra foi minimizado pelos aliados. O presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que teve seu nome incluído pela primeira vez e conseguiu 1,6% numa das simulações, afirmou: — Resultado de pesquisa agora é pouco definitivo. Quanto à inclusão do meu nome, acho uma perda de tempo, porque não sou candidato. Garotinho disse que considerou positivo o resultado das pesquisas. — Há apenas dois meses minha candidatura foi lançada, e os outros candidatos estão há mais tempo na disputa — afirmou. Lula disse que o crescimento de Roseana dá ao PFL o direito de ter voz mais ativa no bloco governista, brigando até pela cabeça de chapa. O petista evitou comentar um possível segundo turno entre ele e a pefelista, mas elogiou a governadora. — A Roseana é experiente, calejada, tem uma boa imagem. Já foi deputada duas vezes e é governadora pela segunda vez — disse. Lula afirmou, porém, que o desempenho de Roseana é fruto também de sua exposição nos programas do PFL na TV, e que, nesses programas, só foram mostradas as coisas boas: — Os indicadores sociais do Maranhão não condizem com as coisas boas que aparecem na TV. O Maranhão é um dos estados mais pobres e a fome campeia por lá — disse. O petista manifestou dúvida sobre a competitividade de Serra. Disse não ter certeza de que ele alcançaria bons índices nas pesquisas se passasse por exposição semelhante. Popularidade de FH melhora nas duas consultas Nas duas pesquisas, a popularidade do presidente Fernando Henrique melhorou. Na do Ibope/CNI, a avaliação positiva passou de 19% em junho para 22% em setembro e a negativa caiu de 45% para 36%. Na Sensus/CNT, a avaliação positiva ficou em 21,7%, mesmo índice de agosto; e a negativa caiu de 40% para 39,4%. Entrevistados pelo Ibope, 13% dos eleitores disseram que votariam no candidato que mantivesse a atual política econômica. Artigos O Rio exige respeito ANTHONY GAROTINHO O Rio de Janeiro é o segundo estado em arrecadação de impostos em nosso país: perde apenas para São Paulo na quantidade de recursos encaminhados para os cofres da União. É realidade antiga, como antiga é a falta de reciprocidade: parcela mínima desse dinheiro volta para o estado na forma de investimentos federais. No Orçamento de 2002, a União prevê menos de R$ 100 milhões a serem investidos no Rio, um quarto do previsto para Pernambuco e Bahia, metade dos investimentos para a Paraíba ou o Piauí. Essa evidente discriminação será combatida no Congresso pelo governo estadual e pela bancada do Rio de Janeiro, mas é necessária reflexão de toda a sociedade — fluminense e brasileira — sobre essa verdadeira perseguição estabelecida desde o tempo da mudança da capital para Brasília. Durante a construção da nova capital, o presidente Juscelino Kubitschek prometeu que a transferência administrativa seria feita lentamente, para não causar transtornos à economia do novo Estado da Guanabara, que, ao contrário, teria ressarcimento por esses prejuízos. Isso só valeu até 1964: após o golpe militar, apressou-se a mudança das elites administrativas e dos órgãos federais para Brasília, principalmente para manter os novos quadros dirigentes longe da insatisfação popular com o regime. O Rio de Janeiro era — como ainda é — a capital da política e da cultura do país, e aqui multiplicaram-se as manifestações de resistência à supressão da liberdade e da democracia no Brasil. A proposta de fusão entre a Guanabara e o antigo Estado do Rio foi embalada como nova fase para a antiga capital, que finalmente seria ressarcida por todos os prejuízos da transferência apressada. Foram prometidos investimentos federais em infra-estrutura, saneamento, transporte público, estradas, nas vocações econômicas do Rio, como indústria naval e turismo. Muito pouco foi cumprido: a única grande obra foi a construção do metrô. A malha viária federal no antigo Estado do Rio — fundamental para o desenvolvimento da agricultura e do turismo — permaneceu abandonada; a rede de saneamento da região metropolitana não recebeu um tostão; a indústria naval quebrou; e os investimentos em turismo sempre foram menores do que em outras regiões do país. Se não fosse descoberto petróleo na Bacia de Campos, a economia do Rio de Janeiro estaria estrangulada antes mesmo dos anos 90. Mas até mesmo o petróleo acabou usado contra o nosso estado. Na Constituinte, já em pleno regime democrático, provavelmente por cochilo de parte da bancada do Rio, ficou decidido que, ao contrário de outros produtos, como o próprio álcool, o petróleo seria taxado no consumo e não na produção. Com isso, o Rio de Janeiro perde centenas de milhões de reais por ano em arrecadação de impostos, transferidos para São Paulo, o grande estado consumidor. Ninguém pode negar a importância de São Paulo para a economia brasileira, mas, na última década, os interesses do grande capital — industrial e financeiro — estabelecido em território paulista acabaram sendo privilegiados em detrimento de uma política econômica voltada para o desenvolvimento das vocações regionais diversas, tão diversas como as riquezas do nosso país. O Rio de Janeiro vem sendo prejudicado, mas outros estados também sofrem com essa miopia da política de investimentos federais. Nos anos de FH, a discriminação contra o Rio parece só ter crescido: seguidamente, em 1995, 1996 e 1997, nosso estado recebeu parcela irrisória do total de investimentos federais. Regras absurdas na repartição do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios causaram graves prejuízos à economia fluminense. Em 1998 chegamos ao fundo do poço: considerando-se os investimentos federais efetivamente empenhados em relação à população, o Rio de Janeiro ficou em 26 lugar entre 27 estados, de acordo com estudo realizado pelo economista e hoje secretário de Saneamento, Luís Henrique Lima. A discriminação, reparem, não é contra o governo, mas contra o Rio: de 1995 a 1998 o estado tinha um governador tucano como Fernando Henrique. Também no governo Marcello Alencar foi assinado acordo com a União para renegociação da dívida que faria o Rio estar quebrado já agora em 2001, com a destinação de 20% da receita para o pagamento. Quando assumi o governo estadual, em 1999, retomei a negociação da dívida, discutimos em alto nível durante nove meses e assinamos acordo que beneficia, ao mesmo tempo, o Rio e a União. Mas os investimentos federais, sempre prometidos, jamais aparecem no Orçamento. E pior, quando aparecem, não são efetivamente executados. No Orçamento de 2000, elaborado pelo governo federal e debatido pelo Congresso em 1999, a previsão de investimentos para o Rio de Janeiro foi seis vezes menor do que a de Minas e cinco vezes menor do que a previsão para São Paulo: nosso estado ficou em 23 lugar no ranking de investimentos da União. Escaldados, parlamentares do Rio de Janeiro mobilizaram-se ano passado para garantir mais verbas para 2001: em articulação com nosso governo e com setores da sociedade, a bancada do Rio conseguiu triplicar as verbas destinadas no Orçamento da União para 2001. Parecia grande vitória. Saltamos para R$ 416 milhões, que garantiriam, por exemplo, dois novos hospitais no Norte Fluminense e a recuperação das estradas federais. Entretanto, na hora da execução orçamentária, o governo federal novamente prejudicou o Rio de Janeiro: dos mais de R$ 400 milhões, apenas 2,5% foram efetivamente liberados — cerca de R$ 10 milhões. Para São Paulo, as liberações chegaram a 23% — mais de R$ 130 milhões; no Ceará, a 16%; em Pernambuco, a 11,5%. São números chocantes, que obrigam o governo estadual e os municípios a peregrinarem a Brasília atrás dos investimentos previstos. O Rio de Janeiro precisa dar um basta a essa discriminação. E esta resposta deve ser de toda a sociedade: administradores públicos, políticos, empresários, trabalhadores. É pelo esforço dos fluminenses que o estado tem crescido, mesmo com essa adversidade: a economia tem a maior taxa de crescimento, empurrada pelos setores de petróleo e telecomunicações, este atraído graças aos incentivos do governo estadual. O Rio tem a menor taxa de desemprego entre as regiões metropolitanas; após reorganizar suas finanças, nosso governo tem feito investimentos pesados em saneamento, na malha viária, em saúde e em projetos sociais. O Rio de Janeiro está fazendo a sua parte, até arrecadando mais impostos para a União. E, por isso, nosso estado pode e vai exigir reciprocidade e respeito. Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL Vazio programático As duas novas pesquisas de intenção de voto para presidente trouxeram como novidade o salto de Roseana Sarney, do PFL, para o segundo lugar, com boa dianteira sobre os pretendentes tucanos. Há porém algo que transforma todas essas sondagens em meros “retratos parados”: mudos por conveniência, os postulantes governistas têm evitado expor suas idéias e propostas ao país. Não se sabe o que tem a dizer Roseana Sarney sobre o modelo econômico ou sobre a questão social, se teria compromisso com a continuidade de todas as políticas de FH ou se proporia alguma mudança de rota. Claro que ela tem suas idéias e o PFL tem seu programa, mas não estão sendo apresentados. Ninguém desconhece a abrangência do pensamento do ministro José Serra, mas, mesmo tendo idéias sobre tudo, ele só tem falado de saúde e das políticas de sua pasta. Ontem, por sinal, estreou na defesa da política econômica. O mesmo pode-se dizer do governador do Ceará, Tasso Jereissati. Já o PMDB, que tem três possíveis candidatos (Itamar Franco, Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos), encomendou uma proposta de programa de governo a um ex-ministro tucano, Luiz Carlos Mendonça de Barros. O que só confirma o vazio programático da coalizão governista. Logo, as intenções de voto em presidenciáveis governistas foram até aqui manifestadas por mera empatia, a partir da avaliação do desempenho nos cargos atuais ou da origem partidária e regional. Não decorrem ainda da identidade com suas idéias gerais ou com seus projetos para o país, sejam de continuísmo, continuidade ou mudança. Diferentemente de Lula, percebido por 61% dos entrevistados, na pesquisa CNT/Sensus, como o candidato que representa a oposição a FH e, logo, a possibilidade de mudança. Ainda que o PT não tenha apresentado um programa definitivo e que o ministro Malan continue cobrando resposta para algumas ambivalências (que devem ser esclarecidas agora que os moderados confirmaram sua hegemonia no partido). Ciro e Itamar também encarnam o sentimento de mudança, mas assim são percebidos por um universo bem menor. O próprio presidente Fernando Henrique, em entrevista ontem ao GLOBO, admitiu esse vazio programático que cerca os candidatos da base aliada e de certa forma reclamou dele. Acha que a intenção de voto só terá mais nitidez quando o eleitor puder comparar propostas de governo e aferir as vantagens da continuidade com as esperanças na mudança. Na sua avaliação, ele ganhou a eleição de 1994 não apenas porque fez o Real, mas porque apresentou um projeto de transformações que foi ao encontro das expectativas do país no momento. Hoje, acredita que as mudanças ocorridas em seu governo estão assimiladas como conquistas pela sociedade. Mais do que todas, o fim da inflação. Para o futuro, a demanda que vislumbra é por um país mais justo. Em sentido amplo, que vá do fim da impunidade e dos privilégios à justiça social e econômica. Mas a tradução disso em propostas de ação de governo compete aos postulantes, embora nunca em contradição com os fundamentos de seu governo. Quem buscar temperos oposicionistas, avisa, não será seu candidato. Espera que essa exposição ao debate comece a acontecer daqui para dezembro. Aí, outras pesquisas virão, e o retrato será outro.Lula vai à Europa Prosseguindo com seu projeto de “diplomacia partidária”, o PT organiza uma nova viagem internacional para Lula. Ele e o deputado Aloizio Mercadante embarcam para a Europa na primeira semana de outubro, onde já têm pelo menos dois encontros agendados. Com o primeiro-ministro socialista francês Lionel Jospin, no dia 2, e com o primeiro-ministro português António Guterres, no dia 4. Outros encontros poderão ser marcados até lá. Jospin é um antigo interlocutor do PT, desde antes de sua ascensão ao poder. Na agenda, naturalmente, o quadro internacional criado depois do atentado terrorista do dia 11, a reação militar americana, suas conseqüências políticas e econômicas para o mundo. Em nota, o PT condenou o terrorismo e manifestou apoio aos Estados Unidos. Agora vem advertindo sobre os riscos da guerra desconhecida que também assusta os europeus. Mas, como nas viagens anteriores, aos Estados Unidos e à China, o PT estará buscando interlocutores para seu candidato a presidente e espaços para expor suas propostas, afastando os receios de governos, investidores e organismos internacionais sobre as mudanças que faria no modelo econômico caso ganhe a eleição de 2002. O momento é bom, dizem os petistas, por seguir-se à eleição direta de uma nova direção partidária de orientação moderada, que não prega nem a reestatização nem a suspensão do pagamento da dívida externa.FILIA-SE hoje ao PSDB do Ceará o ministro Martus Tavares. Pode concorrer ao governo, ao Senado ou a deputado federal. Mas entra devagar-com-o-andor o ministro na arena competitiva da política. Já existem até tucanos reclamando que agora toda semana ele tem agenda de trabalho em Fortaleza. REPARO de Walter Pomar, da esquerda do PT, à afirmação de que depois do último programa do PT cessaram as restrições ao trabalho do publicitário Duda Mendonça: “Tanto pelo que foi ao ar como pelo que não foi, continuamos contra sua contratação”. FH TRANQÜILIZOU os presidentes da Câmara e do Senado: o Brasil não deve envolver-se militarmente na ação americana. E nada, nessa área, será feito sem consulta ao Congresso. Editorial Questão vital A abertura econômica foi fundamental para que o Brasil vencesse o processo inflacionário que se arrastava por décadas e impedia o crescimento sustentável a longo prazo. Mas, como tudo em economia, a abertura teve um custo: dívida em moeda estrangeira. O passivo externo atingiu tal volume que não é fácil financiá-lo nos mercados internacionais. Assim, o país terá de procurar um caminho que leve ao crescimento sustentável com menos dependência de financiamento externo. Esse desafio é hoje especialmente complexo, porque o brasileiro não abre mão da estabilidade monetária. Qualquer que seja o novo modelo, ele incluirá um incremento das exportações capaz de reduzir as necessidades de financiamento externo. A taxa de câmbio não pode ser a alavanca para esse impulso, pois o enfraquecimento da moeda nacional reativa a inflação e desestimula a poupança interna (e nesse caso o país volta a depender de poupança externa, realimentando o círculo vicioso). A exportação terá de ser estimulada por outros mecanismos. É boa a idéia de se constituir no governo uma espécie de força-tarefa para eliminar obstáculos e ajudar os exportadores a conquistarem novos mercados. Trata-se de questão tão urgente que, durante reunião segunda-feira no Planalto, vingou a proposta de usar para a força-tarefa o modelo do grupo formado para gerir o bem-sucedido racionamento de energia. Os entraves às exportações envolvem problemas conjunturais — até de caráter administrativo — e estruturais. Os primeiros podem ser removidos mais rapidamente. Mas os estruturais dependem de um esforço no Congresso para que se avance na reforma tributária. Os juros altos são outro fator que reduz a competitividade da economia brasileira e afetam direta e indiretamente as exportações. A força-tarefa não terá pouco trabalho pela frente, principalmente porque o ambiente internacional não é favorável à expansão do comércio. Mas o aumento das vendas externas tornou-se fundamental para a economia e todos os esforços se justificam. Topo da página

09/26/2001


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