Armínio tranqüiliza PT sobre acordo com FMI









Armínio tranqüiliza PT sobre acordo com FMI
A informação do presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, de que não há negociação em curso para um novo acordo entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou satisfeito o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP).

O parlamentar inaugurou ontem a série de reuniões que Armínio pretende fazer com representantes da oposição, com o objetivo de dar transparência ao mercado em relação à transição. Na próxima semana, o convidado será Ciro Gomes, candidato do PPS.

O encontro entre Armínio e o representante do PT começou pouco depoisdo meio-dia, muito tenso, segundo Mercadante.

– Certamente porque estávamos com fome. Depois, a conversa se desenrolou de forma tranqüila e muito positiva – contou o deputado.

Confira o que foi discutido, segundo Mercadante:

ACORDO COM O FMI
Conforme o parlamentar, Armínio disse que não há negociação em curso sobre um novo acordo com o FMI. O presidente do BC não descartou, no entanto, a possibilidade de o acordo vir a ocorrer no futuro. O deputado afirmou que o PT pretende fazer todos os esforços para evitar que isso seja necessário.

– O FMI representa uma UTI, e vamos fazer de tudo para sair dessa UTI – disse.

Apesar de se dizer feliz pela negativa de Armínio, Mercadante foi evasivo ao responder sobre a possibilidade de um acordo de transição entre o atual governo, o próximo e o FMI:

– Isso não está sendo discutido no momento. Ele (Armínio) não me fez nenhuma proposta sobre um acordo de transição.

Segundo Mercadante, ele e o presidente do BC concordaram que não há urgência em se discutir essa questão.

METAS DE INFLAÇÃO
O deputado petista disse que é favorável ao sistema de metas de inflação para o momento de transição do país, mas com um sistema de bandas para que, quando houver um choque de oferta, o governo possa usar a banda larga.

ESTABILIDADE FISCAL
Mercadante disse que o PT tem um “padrão de responsabilidade fiscal muito maior que o do governo atual”. Ele lembrou que a bancada do partido votou a favor do superávit primário das contas públicas de 3,75% do PIB em 2003 e que esse é um “compromisso público”.

REFORMA TRIBUTÁRIA
Mercadante defendeu a aprovação de uma minireforma tributária pelo Congresso ainda neste ano. Segundo ele, isso seria fundamental para impulsionar o comércio externo do país e alavancar as exportações, com o fim da cumulatividade das contribuições sociais.

SUGESTÕES DE FRAGA
Segundo o parlamentar petista, Armínio quer voltar a se reunir, porque teria sugestões a dar sobre os rumos do BC em um próximo governo.


Bernardi convoca famílias ao combate às drogas
Com os olhos marejados e sob o som de cantos religiosos, o postulante do PPB ao governo do Estado, Celso Bernardi, anunciou ontem seu programa para o combate às drogas.

Em uma cerimônia na Comunidade Terapêutica Fazenda do Senhor Jesus, em Viamão, a assessoria do candidato distribuiu um documento com 19 propostas, no qual a família é definida como “principal agente de reação ao problema”.

Bernardi considera a fazenda uma entidade-modelo na recuperação de usuários de entorpecentes. O documento não chegou a ser lido diante da platéia formada por um grupo de internos da instituição, reunidos numa capela com paredes de tijolo à vista e decorada com pequenos quadros retratando as 12 estações da crucificação de Cristo. Em breve discurso, o candidato preferiu ressaltar a importância de Deus no tratamento.

– Quero agradecer a Deus por ter reconduzido vocês. Nós criamos as dificuldades, mas Deus nos ampara – disse Bernardi, depois de ouvir uma canção religiosa entoada pelos pacientes, acompanhados de três violonistas.

Antes de Bernardi, a candidata a vice, Denise Kempf (PPB), havia recomendado aos pacientes a lembrança de Deus e arrancado as primeiras lágrimas de alguns dos presentes:

– Deus vai estar ao lado de vocês o tempo inteiro.

Propiciar tratamento “com técnicas modernas aos dependentes” e orientação aos familiares é uma das sugestões de Bernardi. No texto, o candidato também ressalta a importância de atividades esportivas e culturais destinadas aos jovens para “afastar o fantasma do consumo de drogas”. Ele promete agir “sem tréguas” contra os traficantes e celebrar convênios com organizações policiais de outros Estados e internacionais envolvidas na repressão ao narcotráfico.

Oração, disciplina e trabalho são os fundamentos do tratamento de nove meses de duração oferecido pela Fazenda do Senhor Jesus. A área de 50 hectares, cedida em regime de comodato pelo Serviço Social da Indústria (Sesi) e pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), é mantida pela Pastoral de Auxílio Comunitário ao Toxicômano (Pacto), vinculada à Arquidiocese de Porto Alegre. Em 12 anos, cerca de 1,1 mil pessoas passaram pela casa. Atualmente, 65 homens vivem no local, trabalhando na produção de hortigranjeiros, na criação de bovinos e suínos, na limpeza e na cozinha. A jornada de trabalho vai das 6h30min às 22h.

– Cheguei aqui como um verme, me arrastando. Hoje consigo caminhar pelas minhas pernas. Nunca aceitei Deus. Esse trabalho me aproximou Dele – disse um interno.


Candidatos buscam votos dos fiéis da Assembléia de Deus
O prédio localizado na Rua 14 de Julho, 246, no centro de Ijuí, palco de cultos religiosos, ontem serviu de palanque para pregações políticas. Em pouco mais de qutro horas, passaram por lá quatro candidatos em campanha, um à Presidência da República e três ao governo do Estado.
O presidenciável Anthony Garotinho (PSB) e os postulantes ao Piratini Caleb de Oliveira (PSB), Tarso Genro (PT) e Antônio Britto (PPS) disputaram a atenção e o possível voto dos participantes da Convenção das Igrejas e Pastores da Assembléia de Deus do Rio Grande do Sul.

O evento reuniu cerca de 500 pastores e 300 evangélicos de todo o Estado, onde a Igreja tem cerca de 400 mil fiéis. No Brasil, a Assembléia de Deus soma cerca de 30 milhões de seguidores.

– Eles não foram convidados pela presidência, talvez algum pastor amigo deles os tenha convidado. Os candidatos revelaram desejo de estarem presentes e nós não queremos fazer discriminação – explica o presidente da Convenção das Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembléia de Deus (Ciepadergs), João Ferreira Filho.

Tarso foi o primeiro a palestrar para os religiosos, às 10h. O candidato do PT falou durante 15 minutos e evitou temas religiosos. O candidato petista preferiu abordar assuntos como a visão da sociedade atual e o tipo de organização social desejado para o futuro. Tarso almoçou com correligionários e depois viajou para Santo Ângelo, onde realizou uma coletiva.

– Sou amigo pessoal há mais de 40 anos do pastor João Ferreira. Fui apenas fazer uma visita. Não falei sobre eleições, não falei sobre política – diz Tarso.

Garotinho desembarcou em Ijuí por volta das 11h e também se dirigiu para o altar da Igreja Assembléia de Deus. O ex-governador do Rio se diz representante oficial da Igreja na disputa presidencial, pois teria sido o candidato mais votado pelos fiéis depois de um debate realizado durante a convenção geral da Assembléia de Deus, em Brasília. Garotinho disse que recebeu um convite do presidente da Ciepadergs para participar do encontro.

– Os líderes não podem falar em nome dos membros da Igreja, os irmãos são livres. Existe apenas uma tendência de apoio por ele ser evangélico. Não temos política partidária na nossa Igreja – garante Filho.

Intercalando passagens bíblicas e propostas de governo, como o aumento do salário mínimo e a construção de casas po pulares, Garotinho falou durante 45 minutos para os pastores. Antes de seguir para Santo Ângelo, Garotinho pediu para os fiéis rezarem por ele e apoiarem publicamente a sua candidatura.

– Não existe voto secreto para quem é crente. Voto secreto pode ser para esse povo aí fora, para nós é sim é sim, nãoé não.Tudo que passar disso é de procedência maligna – afirmou.
Britto passou pela convenção no início da tarde e conversou com os religiosos durante 20 minutos. Destacou a importância da parceria entre governo e igreja e a importância do voluntariado.

– Temos um vínculo antigo, de mais de 10 anos, com os evangélicos, que se repete quando tem eleição e quando não tem eleição – disse.


Garotinho apresenta propostas de governo na Capital
Em sua segunda visita oficial ao Estado no período de uma semana, o candidato à Presidência da República Anthony Garotinho (PSB) preferiu divulgar propostas a atacar os concorrentes.
Disposto a apresentar aos gaúchos tópicos de seu programa governo, o ex-governador do Rio deixou de lado as recentes críticas feitas a Ciro Gomes, candidato do PPS, e pediu apoio financeiro aos filiados do PSB.

Garotinho assumiu a crise financeira de sua campanha e divulgou que lançará hoje, na Baixada Fluminense (RJ), a campanha do “bônus de R$ 1”, onde pretende arrecadar contribuições dos filiados e simpatizantes para a sua candidatura.

O candidato do PSB permaneceu cerca de duas horas em Porto Alegre, depois de cumprir roteiros em Ijuí e Santo Ângelo. Às 17h30min comandou uma caminhada pelo centro da cidade, cumprimentou pedestres e comerciantes na Rua da Praia, visitou as bancas do Mercado Público e recebeu apoio de representantes do Sindicato dos Fiscais de Tributos do Estado.

Reafirmando que os boatos de que retiraria sua candidatura são falsos, Garotinho não quis tecer comentários sobre os demais candidatos nem sobre os baixos índices apresentados nas pesquisas.

– Minha candidatura é irreversível e vitoriosa. Não sou candidato a fofoqueiro, e sim a presidente. Por isso não falo mais dos outros candidatos – afirmou.

Ressaltando seu comprometimento com o aumento do salário mínimo (R$ 280 em maio de 2003 e R$ 400 no ano seguinte), o candidato aproveitou a inauguração do comitê regional de sua campanha, na Avenida Alberto Bins, para apresentar os principais tópicos de seu programa de governo. Garotinho garantiu ainda que já planeja novos roteiros pelo Estado, respeitando a “grande importância política que o Rio Grande exerce no Brasil”.


Partidos vetam apoio a Collor
O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) à Presidência, Ciro Gomes, e o presidente do PSDB, José Anibal (SP), proibiram as alianças com o ex-presidente Fernando Collor (PRTB) em Alagoas.

A pedido de Ciro Gomes, o PPS, partido do candidato, e o PTB anularam a aliança fechada com o partido de Collor.

Em nota oficial divulgada ontem, o diretório do PPS de Alagoas informou que “irá contestar na Justiça” a decisão do partido de impedir a coligação. Pelo lado dos tucanos, a prefeita de Arapiraca (AL), Célia Rocha, voltou atrás ontem da decisão de apoiar Collor, depois de ser ameaçada de expulsão.

O líder do PTB na Câmara, deputado Roberto Jefferson (RJ), negou que seu partido tenha deixado a aliança com Collor. Jefferson disse que conversou sobre a aliança com o presidente nacional, José Carlos Martinez, e conseguiu convencê-lo a manter a aliança.


Roseana declara apoio a Ciro
A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PFL) tornou público ontem o apoio ao candidato da Frente Trabalhista (PDT-PTB-PPS), Ciro Gomes, à Presidência.

Numa reunião dos candidatos da coligação Maranhão Segue em Frente, que reúne sete partidos, o governador José Reinaldo Tavares acabara de aclamar Roseana como candidata ao Senado, quando a ex-governadora sussurrou-lhe:

– E para presidente?

Reinaldo repetiu a pergunta e ouviu a resposta da platéia:

– Ciro, Ciro!

A manifestação de Roseana foi interpretada como uma reação à decisão Polícia Federal (PF) de denunciá-la por formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato por suposto envolvimento em fraudes com recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Roseana culpa o tucano José Serra pela investida da PF.

O pai da ex-governadora, o senador José Sarney, não quis revelar quem apoiará para presidente. Seu irmão, Sarney Filho, ainda mantém conversas com a cúpula do PSDB.


Professores realizam manifestação
Denúncias contra doze vereadores motivaram o protesto

Quatro horas antes do início da sessão da Câmara Municipal de São Leopoldo, que definiria a abertura ou não de uma comissão processante para apurar a conduta de três vereadores flagrados em fitas de vídeo ao receber dinheiro no gabinete da presidência da Casa, a população saiu às ruas para protestar contra a corrupção.

O primeiro ato, às 16h, reuniu dezenas de professores municipais que pediam reajuste salarial e ironizavam as denúncias contra o secretário municipal de Educação, Fernando Henning (PMDB), também flagrado na fita. O secretário está afastado do cargo desde segunda-feira. A saída ocorreu depois da divulgação das imagens, no dia 12. Um total de nove vereadores da legislatura 1997-2000 aparece na fita, investigada pela Promotoria Especializada Criminal.

À noite, a Câmara ficou lotada, e a Brigada Militar reforçou a segurança em volta do prédio. Por volta das 20h30min, a sessão foi interrompida. Ontem, o ex-vereador Mário D´Avila (PFL) disse que outros três vereadores teriam recebido propina.

Quatro envolvidos que participavam da administração municipal, o diretor do Hospital Centenário, Fernando Fusquine (PMDB), o diretor da subsecretaria da Zona Leste, Angelo Magro (PMDB), e o diretor da Unidade Básica de Atendimento Médico (Uban) Feitoria, João Palharini (PTB), foram afastados pelo prefeito Waldir Schmidt (PMDB).

Carregando faixas, os professores rumaram à São Leopoldo Fest, que ocorre num ginásio a cem metros da Câmara Municipal. Ao passar pelo prédio da Câmara, pararam e fizeram um ato público.

Segundo os manifestantes, em razão das denúncias contra o secretário, os professores teriam passado a sofrer afrontas dos alunos .

A presidente do Sindicato dos Professores Municipais, Rosane Figueiredo, 39 anos, foi enfática:

– Os alunos começaram a nos desafiar no nosso trabalho como educadores. O magistério está de luto por causa do escândalo e do descaso da prefeitura – disse a sindicalista.


Vereadores aprovam comissão processante
Decisão foi tomada por unanimidade e pode resultar na cassação de parlamentares

Por unanimidade e sob aplausos, foi criada ontem uma comissão processante para apurar denúncias contra quatro dos vereadores supostamente envolvidos na compra de votos para a eleição da presidência da Câmara Municipal de São Leopoldo em 2000. Foram 19 votos favoráveis.

As investigações irão durar 90 dias e podem resultar no pedido de cassação de Valmor Tavares (PL), Jorge da Silva (PMDB), Joni Jorge Homem (PFL) e Fernando Henning (PMDB).

Todos cumprem mandato na Câmara. Eles e os demais envolvidos nas denúncias são investigados pela Promotoria Especializada Criminal, que interditou o prédio do Legislativo local, na sexta-feira passada, para o recolhimento de computadores e de outros materiais. A comissão será presidida pelo vereador Laerte Luís Gershwertner (PDT) e terá relatoria do vereador Ronaldo Vieira (PT).

Com exceção de Homem, os vereadores e ex-vereadores sob investigação aparecem em fitas de vídeo recebendo dinheiro dentro do gabinete da presidência. As gravações são do e x-vereador Mario D’Ávila (PFL), que entregava os valores. Elas teriam sido feitas no segundo semestre de 2000, quando Ávila exercia a função de assessor informal de Homem, então presidente da Câmara.

Com o plenário e a Praça do Imigrante tomada por manifestantes e curiosos, a sessão foi interrompida por gritos estridentes. A presidente do Legislativo, Iara Cardoso (PMDB), paralisou os trabalhos quatro vezes em duas horas e meia de sessão. Silva chegou a discutir com o público, ao ser acusado de corrupção.

Vinte PMs foram deslocados à Câmara para evitar tumulto. Antes da votação, no entanto, Silva e Tavares foram retirados da sessão, a pedido da assessoria jurídica do Legislativo. A saída foi aplaudida de pé pela platéia. A decisão dos vereadores só foi anunciada às 22h40min.

– Não foi fácil chegar aqui e vai ser muito mais difícil a partir de agora. Não tenho medo que minha cidade seja conhecida como a cidade da corrupção. Vamos limpar isso aqui – disse o vereador Alexandre Roso (PHS), que apresentou o vídeo com as denúncias.

Quatro horas antes do início da sessão da Câmara, professores municipais saíram às ruas para protestar contra a corrupção. Na passeata, manifestantes pediam reajuste salarial e ironizavam as denúncias contra o ex-secretário municipal de Educação, Fernando Henning (PMDB), também flagrado na fita. Henning está afastado do cargo desde segunda-feira.

Carregando faixas, os professores rumaram para a São Leopoldo Fest, que ocorre num ginásio a cem metros da Câmara. Ao passar pelo prédio do Legislativo, pararam e fizeram um ato público. Segundo os manifestantes, em razão das denúncias contra o secretário, os professores teriam passado a sofrer afrontas dos alunos.


FH recorda Sérgio Buarque
A quebra de protocolo marcou ontem em Brasília a cerimônia em comemoração ao centenário do historiador Sérgio Buarque de Holanda, a começar por seu filho mais velho, Sérgio Buarque de Holanda Filho . Ao iniciar seu discurso, ele não cumprimentou o presidente com o tradicional “excelentíssimo senhor presidente da República”, mas chamou-o pelo nome.

Emocionado, Buarque Filho chorou ao lembrar histórias da vida do pai. Numa delas, recordou que o historiador, em 1969, pediu aposentadoria em solidariedade aos professores universitários perseguidos pela ditadura militar:

– Entre os professores cassados estava o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

Ao agradecer ao governo pelas homenagens, Buarque Filho fez uma pequena brincadeira:

– Dizem que o nosso presidente da República é um homem vaidoso. Meu pai, com certeza, era e ficaria muito feliz por esta homenagem.

FH comemorou a quebra de protocolo e leu aos presentes um texto enviado pela víuva de Sérgio Buarque, Maria Amélia, no qual lamentava a impossibilidade de estar presente à solenidade. Além de Buarque Filho, outra filha de Sérgio, Maria do Carmo, esteve presente.


Artigos

Um compromisso da sociedade
José Carlos Carvalho

A Agenda 21 é um dos principais resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Assinada por 179 chefes de Estado e de governo, é um instrumento fundamental para a construção do desenvolvimento sustentável e a contenção da degradação ambiental. Passados 10 anos da Rio 92, o Brasil é um dos únicos países a concluir o documento com sua Agenda 21. O resultado são recomendações concretas de como acelerar de forma consistente, gradual e negociada, a substituição dos padrões de produção e consumo vigentes por padrões sustentáveis. A partir das propostas iniciais elaboradas pela Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, da contribuição de especialistas temáticos e das consultas estaduais e regionais, que mobilizaram cerca de 40 mil pessoas, estamos entregando à sociedade ações e recomendações precisas, que deverão traduzir-se em compromisso ético e político, a ser assumido por todos os brasileiros.

A primeira grande inovação da Agenda 21 é o objetivo comum a ser atingido, que não está restrito à preservação do meio ambiente, mas sim ao desenvolvimento sustentável ampliado e progressivo, introduzindo, na discussão, a busca do equilíbrio entre crescimento econômico, eqüidade social e preservação ambiental. Trata-se, portanto, da procura por uma nova racionalidade que garanta a solidariedade e a cooperação, tanto quanto a continuidade do desenvolvimento e da própria vida para as gerações futuras, ameaçadas pelo consumismo perdulário e pela exploração predatória dos recursos naturais.

A Agenda 21 é um processo no qual toda a sociedade avalia o presente e aponta os rumos para o futuro

Ao redefinirmos o conceito de desenvolvimento, assegurando-lhe dimensão não apenas quantitativa mas também qualitativa, a ênfase recai no aumento da produtividade, aliada à conservação dos recursos naturais, cujas perdas crescentes devem ser consideradas contribuição negativa ao Produto Interno Bruto (PIB) e às contas nacionais. Tal esforço exige mudanças culturais de comportamento, inovação tecnológica e uma poderosa rede de cumplicidade que se irradie nos planos global, nacional e local.

Na prática, o maior desafio da Agenda 21 é internalizar, nas políticas públicas do país e em suas prioridades regionais e locais, os valores e princípios do desenvolvimento sustentável, como meta a ser atingida no mais breve tempo possível. Para tanto, é necessário um compromisso coletivo, envolvendo os mais diferentes atores, inclusive os meios de comunicação, para a produção de grandes impactos que a todos contagiem. A chave de seu sucesso depende da capacidade coletiva de mobilizar, integrar e dar prioridade a algumas ações seletivas de caráter estratégico, que concentrem esforços e desencadeiem grandes mudanças.

Mas o processo deve ser ininterrupto, pois a Agenda 21 se propõe ser um emblema da democracia participativa, na qual a sociedade organizada influencia diretamente as políticas de governo. Portanto, as ações, que foram selecionadas a partir da consulta nacional, realizadas ou não, deverão, no futuro, ser submetidas a revisão, complementação ou serem substituídas por outras, mais ousadas e atualizadas, como vem sucedendo em diversos países e cidades do mundo.

Foram definidas seis áreas temáticas, de modo a abranger a complexidade do país e de suas regiões dentro do conceito da sustentabilidade ampliada e progressiva. Os temas escolhidos foram: Agricultura Sustentável, Cidades Sustentáveis, Infra-Estrutura e Integração Regional, Gestão dos Recursos Naturais, Redução das Desigualdades Sociais e Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável.

O que devemos ter sempre em mente é que a Agenda 21 é um processo no qual toda a sociedade avalia o presente e aponta os rumos para o futuro. Não é um documento de governo, mas sim a instalação de um fórum permanente que permite à sociedade diagnosticar seus problemas ambientais, econômicos e sociais e manifestar sua opção pelo desenvolvimento sustentável, estabelecendo metas para sua implementação.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

A utilidade da eleição
O voto é a arma poderosa do cidadão, usada para eleger candidatos que, a seu juízo, tenham condições de bem representá-lo e defender propostas de interesse coletivo. Não é demais ressaltar a importância do processo eleitoral para o fortalecimento democrático e para a renovação das lideranças políticas e, também, das nossas esperanças em futuro melhor. No interior do Planalto Central, um ditado traduz, na sabedoria popular, outra utilidade do pleito. Dizem os caipiras da roça que o sucesso da atividade depende de três coisas: plantação de eucal ipto, mulher caprichosa e eleição. Eucalipto é pau para toda a obra, mulher competente no comando da propriedade dispensa comentário e eleição porque tudo que no foi feito em quatro anos é realizado com presteza pelos prefeitos e governadores na véspera da eleição.

A região noroeste do Rio Grande do Sul sente os efeitos da proximidade da eleição. Três ministros (Sérgio Amaral, Luciano Barbosa e José Abrão) que nunca botaram o pé naquela área confirmam presença a partir de hoje e até a próxima semana, numa programação que tem o apoio dos deputados Osmar Terra e Augusto Nardes. O ministro do Desenvolvimento participa hoje, em Santo Ângelo, de encontro sobre comércio exterior.

O objetivo é apresentar às empresas locais oportunidades para a exportação, explica o ex-prefeito de Santa Rosa Osmar Terra, responsável pelo envolvimento do BNDES nos financiamentos para estimular novos empreendimentos na Região Noroeste, como ocorre na Metade Sul. Hoje, o ministro Sérgio Amaral anuncia que o BNDES, a partir de agora, até 2003, concederá os financiamentos nas mesmas condições do Reconversul. Pelo menos 60 empresas se candidataram e duas cooperativas – a Copermil e a Cotrimaio – terão contratos assinados hoje.
No plano estadual, repetem-se iniciativas com os mesmos propósitos. Inauguração de obras na capital gaúcha, anúncio de novos programas de incentivo à produção compõem o calendário de “fatos novos” na administração Olívio Dutra. Agenda montada com objetivos legítimos, mas com interesse eleitoral. A própria decisão do Banco Central em reduzir a taxa de juros foi interpretada pelos adversários do candidato da situação como uma medida de caráter político. É assim e será sempre assim. O fato é que a eleição opera milagres. As notícias boas são trombeteadas, e as ruins, consideradas sempre “jogo da oposição”.


JOSÉ BARRIONUEVO

Tarso atrai eleitores de Garotinho
Mesmo tendo Caleb de Oliveira como candidato a governador, o PSB faz uma aliança branca com Tarso Genro já no primeiro turno no Rio Grande do Sul. O partido usa o espaço dos candidatos majoritários (tem também Marcos Cittolin concorrendo ao Senado) para divulgar as propostas da sigla.

O entrosamento ficou visível no encontro de Tarso com Anthony Garotinho ontem em Ijuí, junto com Beto Albuquerque, presidente estadual do partido, e Cittolin, durante a convenção estadual da igreja Assembléia de Deus.

Olívio é notificado para dar reajuste
O governador Olívio Dutra foi notificado pelo não-cumprimento da lei que determina revisão geral anual dos vencimentos do conjunto dos funcionários do Estado, sem distinção de índices, repondo as perdas da inflação. A notificação resulta de ação patrocinada pelo Fórum em Defesa do Serviço Público, coordenado por Carlos Alberto Pacheco de Campos. O Fórum representa diversos setores do serviço público estadual, entre eles os técnico-científicos, que há seis anos não recebem nenhum reajuste, havendo uma defasagem hoje superior a 56%. O desembargador Stangler Pereira, que acolheu o pedido, determinou a notificação do governo.

O Fórum pretende dar um prazo de 30 dias para que o governador cumpra a lei. Se Olívio não tomar nenhuma providência, Carlos Alberto Pacheco entende que possa ser enquadrado em crime de responsabilidade.

Maioria do PPB catarinense apóia Ciro
A repórter Adriana Baldissarelli, do Diário Catarinense, informa que a imagem do governador e candidato à reeleição Esperidião Amin (PPB) ao lado de Leonel Brizola (PDT) e Jorge Bornhausen (PFL), na foto acima, teve efeito instantâneo sobre as principais lideranças do PPB, que se sentiram à vontade para assumir o voto no presidenciável Ciro Gomes (Frente Trabalhista).
Praticamente todos os deputados estaduais devem se engajar na campanha de Ciro. Entre os federais, há maior hesitação, já que manifestaram publicamente o apoio a José Serra, em junho. Mas, como dois deles – Eni Voltolini e Hugo Biehl – compõem a chapa majoritária da coligação Melhor Santa Catarina, é uma questão de tempo que se alinheme ao PFL, arquiteto do acordo com o PDT e o PTB.

Dos três prefeitos pepebistas das 20 maiores cidades, apenas a prefeita Angela Amin, da Capital, deve manter seu apoio a Serra, acompanhando o marido. O governador nem de longe manifesta contrariedade com a adesão dos correligionários a Ciro. “Que trairada. Estão seguindo a tese do Aldo Rosa de fazer tudo o que eu recomendo que não façam”, divertiu-se Amin ontem ao saber que a maioria dos deputados já revisou o voto. “Eles estão liberados pelo partido”.

Tocador de obras
Três obras de porte foram lançadas em Canoas pelo prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) para desespero dos seus adversários: o Hospital de Pronto Socorro, no valor de R$ 14 milhões; construção do posto do Corpo de Bombeiros com recursos próprios, no valor de R$ 350 mil; asfaltamento das ruas 25 de março, Antônio Nichelle e João Wobeto, mais compra de 5 mil metros cúbicos de tubos de concreto, no valor de R$ 4,2 milhões (e diversas apontadas como prioridade em consulta popular). Não há investimento similar nos municípios. Cartas para a coluna sobre iniciativas comunitárias.

Cacique ungido por Brizola
Foi idéia de Brizola a candidatura do cacique Mário Juruna, que se elegeu deputado federal no embalo da vitória do líder pedetista para o governo do Rio em 1982, na primeira eleição após o retorno do exílio, quando enfrentou a fraude da Proconsult.

Dentro do slogan que adotou num trocadilho com o jogo do bicho, deu “Brizola na cabeça”. Juruna foi o primeiro e único parlamentar indígena no Congresso. O ex-governador suspendeu viagem ao Uruguai para ir ao velório do cacique da tribo xavante.

Reforço – O PDT gaúcho espera uma visita de Brizola na primeira semana de agosto para embalar a campanha. A presença de Ciro Gomes está confirmada apenas para o dia 24 de agosto, quando irá a São Borja com Brizola, no aniversário da morte de Getúlio Vargas.

A bola da vez
Em queda nas pesquisas, José Serra e Rita Camata decidiram concentrar fogo em Ciro Gomes, o único candidato que cresce nas pesquisas, com melhores condições no momento de chegar ao segundo turno. A campanha do tucano passa por uma fase difícil, com a transferência de muitos apoios para Ciro, que também está na alça de mira do PT.

Mirante
• Carlos Chaise (PDT) inaugura hoje, às 19h, seu comitê central como candidato à Assembléia. Na Bento, 1.581.

• Prefeitura quer derrubar um belo guapuruvu na Avenida Guaíba, em frente ao número 4.290. Os moradores colocaram uma faixa com um pedido: “Ligue para a Smam e proteste contra o corte desta árvore sadia”.

• Caminhonete S-10, placas IGK-7432, cheia de adesivos, estava estacionada em local proibido ontem, às 18h45min, em frente ao número 1.697 da João Pessoa, em frente ao comitê do candidato do PT com a mais forte presença nos postes da Capital. Foi poupado pela EPTC.
• Livro de autoria do jornalista Antônio Feldmann, Uma disputa que não terminou, é lançado hoje, às 18 h, na Livraria do Maneco em Caxias. Aborda o confronto entre Pepe e Sartori em 2000.


ROSANE DE OLIVEIRA

Sinal dos tempos
Quem diria que o ex-guerrilheiro José Dirceu de Oliveira e Silva, um dos homens trocados pelo embaixador Charles Elbrick, seqüestrado no Rio de Janeiro, em 1969, viesse a ser escalado para acalmar os investidores americanos, temerosos de uma vitória da esquerda no Brasil? Dirceu, que voltou ao Brasil com o nome falso de Carlos Henrique Gouvea Melo e só retomou sua identidade original no final dos anos 70, foi aos Estados Unidos, conversou com representantes de bancos privados, dirigentes de organismos internacionais e assessores do governo George Bush. E, segundo o relato do correspondente da Agência Estado, Paulo Sotero, o presidente nacional do P T deixou uma impressão favorável em seu périplo americano.

O Dirceu que tanto protestou contra o imperialismo ianque na juventude entrou nos Estados Unidos como interlocutor do candidato que lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Conversou com funcionários do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Fundo Monetário Internacional. Como manda a boa diplomacia, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, acompanhou o dirigente petista. A agenda incluiu encontros com executivos de instituições financeiras que dão as cartas em Wall Street e terminou com um encontro com Lawrence Lindsey, assessor econômico de Bush.

É cedo para dizer se esses contatos servirão para acalmar os investidores, mas pelo relato do economista Paulo Vieira da Cunha, do banco de investimentos Lehman Brothers, a primeira reação foi positiva. O que ficou da visita foi a impressão de que a visão do PT sobre o futuro do Brasil é sensata e que o diagnóstico e as propostas apresentadas por Dirceu não sugerem uma mudança radical de rumos.

Numas das reuniões em Washington, Dirceu teria dito que se o senador José Serra ficar fora do segundo turno, o presidente Fernando Henrique Cardoso apoiará Lula. A menos que tenha sido um problema de tradução, Dirceu falou demais. É legítimo que o PT espere o voto de FH se a disputa for com Ciro Gomes, dada a agressividade dos ataques do candidato do PPS ao governo, mas poderia guardar o anúncio para momento mais adequado – ou deixar que o próprio presidente o faça, se for o caso.


Editorial

TRANSIÇÃO E DEMOCRACIA

O período pré-eleitoral é propício ao surgimento de críticas que, não raro, descambam para o negativismo e põem em dúvida até mesmo as virtudes da democracia como mecanismo de governo. A campanha eleitoral brasileira deste ano tem tido momentos em que isso ocorre. As denúncias de corrupção e as dificuldades de administrar as crises acabam ganhando espaço às vezes predominante no debate político. Mas, mais destacáveis do que esses momentos são os gestos positivos que engrandecem o sistema representativo. O bom nível geral da campanha, a qualidade dos principais candidatos, a responsabilidade com que as propostas partidárias contemplam problemas sensíveis como a turbulência dos mercados e os projetos bem-intencionados em relação aos passos necessários para a retomada do crescimento, todos eles colaboram para o amadurecimento desse modo de governar que, mesmo com insuficiências, ainda é a mais engenhosa maneira descoberta pelo homem para gerenciar a convivência.

A essa série de gestos, soma-se agora o do governo federal que, em portaria publicada no Diário Oficial da União, define os prazos para que os ministérios preparem o processo de transição. Entre os procedimentos determinados pela administração estão, por exemplo, a indicação dos responsáveis, em cada ministério, pelo fornecimento das informações às equipes do presidente a ser eleito em outubro e, mais importante ainda, as pelas informações que deverão constar do relatório da atual gestão. Já a partir de 1º de agosto, essa equipe de transição deverá montar os dados dos projetos com dificuldades específicas, indicando em página da internet as ações e decisões que serão exigidas do eleito nos primeiros cem dias do próximo governo. Todas as grandes questões da administração estarão listadas, desde os acordos com o Fundo Monetário Internacional ou a tramitação das questões que afetam a diplomacia e o comércio até os compromissos com os projetos nacionais. Os encontros que o presidente do Banco Central promove com representantes dos candidatos presidenciais fazem parte desse processo.

As transições devem ser tidas como uma rotina que integra
o processo administrativo

Da mesma maneira que a possibilidade de alternância no poder é parte essencial do processo democrático, as transições devem ser tidas como uma rotina que integra o processo administrativo e compõe o ritual dessa mesma democracia. Por isso, a transparência dos governos deve estar também a serviço dos candidatos tanto da situação como da oposição, pois um deles acabará sendo levado ao comando da nação. São gestos assim que ajudam a amadurecer a democracia.


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07/19/2002


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