Arquivada denuncia contra governador e secretários









Arquivada denuncia contra governador e secretários
O procurador Geral de Justiça, Claúdio Barros Silva, divulgou ontem as primeiras conclusões sobre os indiciamentos da CPI da Segurança Pública da Assembléia Legislativa. As denúncias contra o governador Olívio Dutra por crime de responsabilidade e improbidade administrativa foram arquivadas. O procurador disse que o julgamento de crimes políticos é responsabilidade do Legislativo e não função do Ministério Público (MP).

Os processos contra o vice-governador Miguel Rossetto e os secretários Flávio Koutzii e Arno Augustin também foram arquivados pelo MP. O processo contra o filho do governador, Espártaco Dutra, indiciado pela CPI por falsidade ideológica, permanece sob investigação, tendo o MP solicitado novas diligências.
No relatório da CPI, além do governador, 41 pessoas haviam sido indiciadas. Destas, apenas o capitão Airton de Oliveira Cardoso, enquadrado em vários itens do código militar, e o presidente do Clube da Cidadania, Diógenes de Oliveira, enquadrado em estelionato, foram denunciados pelo MP. Os delegados de polícia Luiz Fernando Tubino, José Antônio Araújo e Carlos Santana e os diretores da Lotergs, Antônio Carlos Contursi e José Vicente Goulart Brizola, também tiveram os seus processos arquivados.

Governador comemora decisão do Ministério Público
Após tomar conhecimento da decisão do Ministério Público, o governador Olívio Dutra (PT) disse que o relatório da CPI foi fruto de interesses contrariados. Em entrevista coletiva, no Palácio Piratini, Olívio anunciou o arquivamento das denúncias sob uma salva de palmas dos servidores e militantes que lotaram o salão Negrinho do Pastoreio.

De acordo com Olívio, o parecer do Ministério Público mostrou nada mais do que a verdade. O governador afirmou que a CPI da Segurança Pública foi fruto de uma parcela da oposição contrariada e inconformada com a derrota nas eleições para o governo do Estado. "Interesses contrariados, vilania política e interesses políticos tinham resultado num relatório que, ao invés de contribuir para nossa administração, tentou nivelar por baixo a nossa conduta política" disse o governador.

Olívio ainda destacou que, apesar das tentativas de manchar o governo petista, a decisão do MP confirmou que o relatório não tinha nada de concreto e objetivo contra o governo e as denúncias não eram fundamentadas. O governador manifestou o seu desejo para que o MP conclua o restante das investigações com a autonomia e a independência que sempre foi reivindicada pelo PT. Olívio avisou que não abrirá mão de continuar com as ações que visem limpar as instituições do governo das bandas podres ainda existentes.


Líderes decidem criar uma comissão especial
Os líderes partidários na Câmara e no Senado decidiram ontem, em reunião com os presidentes Aécio Neves (PSDB-MG) e Ramez Tebet (PMDB-MS), respectivamente, criar uma comissão especial mista incumbida de percorrer o País ouvindo governadores e secretários estaduais de Segurança Pública e, posteriormente, fazer uma triagem dos projetos que serão considerados prioritários pelo Congresso para combater a criminalidade de forma mais eficaz.

Esse grupo será instalado dia 15, quando o Legislativo volta do recesso parlamentar, e terá 60 dias de prazo para concluir os trabalhos. Um novo encontro de líderes para tratar do mesmo assunto foi marcado para dia 26. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), disse que foi contra a criação dessa comissão. Ele defendeu, na reunião, a convocação da Comissão Representativa do Congresso para discutir o assunto, a partir de hoje. Pinheiro disse que esta é a sétima vez que se faz um encontro desse tipo para definir prioridades de um plano nacional de segurança pública, sem resultados efetivos. Ele mencionou o assassinato de freqüentadores do cinema no Morumbi Shopping, em São Paulo; a morte de uma refém num ônibus no Rio; a rebelião nos presídios, comandada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC); a greve de policiais em alguns Estados; o assassinato do ex-prefeito de Campinas, no interior do Estado, Antônio Alves; o atentado ao World Trade Center (WTC), em Nova York, e, agora, o assassinato do prefeito de Santo André, no Grande ABC (SP), Celso Daniel (PT).

O líder do PT na Câmara disse que o Congresso tem feito a parte dele ao discutir projetos polêmicos na área de segurança pública, mas que essa discussão não avança por falta de iniciativa do governo. Ele observou que o Executivo afirma que a segurança pública é uma prioridade, mas, até 22 de dezembro, apenas 26% do orçamento para aquisição de equipamentos pela Polícia Federal (PF) e 53% dos recursos para prevenção contra o crime organizado haviam sido liberados. Ele lembrou ainda que a pauta de votações do plenário da Câmara estará trancada por medidas provisórias (MPs) e projetos controversos, alguns deles tratando da demissão sumária de funcionários públicos. Pinheiro avaliou que será difícil desobstruir essa pauta e incluir projetos prioritários na área de segurança pública, logo no reinício dos trabalhos do Legislativo.

Foi aprovada também a criação de uma comissão permanente de segurança pública na Câmara. Entretanto, para instalação desse grupo, será necessário desobstruir a pauta do plenário daquela Casa para votar um projeto de decreto legislativo criando essa comissão.


Acordo com Brasil tenta por fim a atritos comerciais
Brasil e Argentina fecharam um "acordo de paz" na área comercial. Esse foi o principal resultado da ida de uma missão do governo brasileiro a Buenos Aires, no fim de semana passado. Ficou acertado que não serão abertas disputas comerciais entre os dois países e haverá um esforço para resolver os processos já em andamento. Além disso, medidas unilaterais que azedaram o clima dentro do Mercosul serão revistas e algumas, revogadas.

É o caso da Resolução 258, baixada pelo governo argentino na gestão do ex-ministro Domingo Cavallo, que criava um fator de conversão cujo resultado prático era encarecer produtos brasileiros, anulando sua margem de competitividade. Essa medida irritou o governo brasileiro e levou a uma virtual paralisia do diálogo com a Argentina. Ela já não tem efeito prático, após a flutuação do peso, mas ainda não foi formalmente anulada.
Outro exemplo é a lista de preços mínimos, utilizada pela Argentina para calcular tributos devidos por produtos importados do Brasil. "Não questionamos a medida em si, mas o preço determinado para certos produtos, como os têxteis", disse um negociador brasileiro. Segundo ele, a Argentina deve rever esta e outras iniciativas que levaram ao fechamento do seu mercado. Temendo enfrentar taxas elevadas de inflação, por causa da desvalorização do peso, o governo argentino deve facilitar a importação de alguns produtos.
A missão brasileira foi chefiada pelo chefe da Representação Especial do Presidente da República para Assuntos de Mercosul, Carlos Alberto Simas Magalhães e integrada, entre outros, pelo secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Reginaldo Arcuri. Pelo lado argentino, participaram o secretário de Assuntos Econômicos, Comerciais e de Relações Internacionais da chancelaria, Martin Redrado, e o secretário de Indústria do futuro Ministério da Produção argentino, Eduardo Braun.

A missão procurou também recriar os canais de comunicação entre as áreas técnicas dos dois países, que foram destruídos ao longo dos meses mais turbulentos do relacionamento bilateral e pelas sucessivas trocas no comando da economia argentina.

Os negociadores vão trabalhar agora numa "agenda positiva" para o relacionamento entre os dois países, cujos principais temas são a integração das cadeias produtivas e a revisão do acordo automotivo em vigor.
O principal problema do acordo é que o país vizinho excedeu o limite de automóveis que poderia vender ao Brasil sem pagar impostos. Na visão de um negociador brasileiro, uma revisão do acordo deveria ter como filosofia a integração dos parques produtivos dos dois países, por meio da criação de uma "plataforma Mercosul", com o objetivo de buscar novos mercados.

Uma outra missão do governo brasileiro, que foi a Buenos Aires no mesmo período, tratou de medidas de curto prazo para aliviar a crise argentina, como a retomada do crédito comercial. Empresários brasileiros estimas que haja US$ 2 bilhões em exportações realizadas para a Argentinas ainda não pagas. Segundo um integrante da missão, a própria mudança de regime cambial e a criação do "corralito" dificultaram a transferência de dinheiro para o Brasil. As autoridades argentinas teriam pedido mais tempo para lidar com o problema.

A alternativa que está sendo analisada é a reativação do Convênio de Crédito Recíproco (CCR), uma espécie de câmara de compensação entre bancos centrais da América Latina. Mas, segundo o técnico, há dúvidas jurídicas sobre se o CCR poderá ser utilizado para operações já realizadas.


Falha no sistema deixa 70% do Estado sem luz
Uma falha em uma seccionadora de um banco de capacitores e na comunicação entre as equipes de manutenção e operação, durante uma revisão feita pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (Ceee) na subestação Gravataí 2, deixou em torno de 70% dos gaúchos sem luz. O reestabelecimento da energia ocorreu após cerca de 50 minutos e atingiu 279 municípios. De acordo com a Ceee - que teve todas as 72 cidades atendidas afetadas -, o defeito no equipamento não foi detectado pelo sistema de proteção.

O assessor da presidência da Ceee, Carlos Marcelo Cecin, explica que com o incidente ocorrido ontem, a partir das 9h 33min, a carga do Rio Grande do Sul caiu de 3,4 mil MW para 1,4 mil MW. A subestação Gravataí 2, que é a maior do Estado, teve todas as 10 linhas de transmissão de 230kV interrompidas com o problema no equipamento. Segundo Cecin, apenas as regiões Central e Norte não foram atingidas por contarem com o fornecimento de energia proveniente de hidrelétricas. "O caso não teria esta proporção se não ocorresse em uma subestação tão importante", relata Cecin.

Ele lembra que apagões como esse serão amenizados no futuro, já que no final de fevereiro estará funcionando na plenitude da capacidade a subestação de Caxias do Sul, que tem a mesma capacidade da subestação Gravataí 2. Conforme Cecin, o blecaute ocorrido há cerca de uma semana, com a queda de uma linha de transmissão de 440 kV, que liga a hidrelétrica de Ilha Solteira à subestação de Araraquara, em São Paulo, é um problema distinto do ocorrido ontem.

"Nesse caso, sabia-se o que estava acontecendo, diferente do que ocorreu em Ilha Solteira onde se perdeu o controle e houve uma grande demora para solucionar o problema", compara Cecin.

O blecaute em diversas regiões ocorreu porque o sistema de distribuição de energia elétrica no Rio Grande do Sul é interligado. Com a deficiência na subestação Gravataí 2, os municípios abastecidos pela Rio Grande Energia (RGE) e AES-Sul também tiveram cortes de energia. O presidente da RGE, Sidney Simonaggio, divulgou que a queda nos municípios atendidos pela empresa durou 20 minutos e afetou 94 das 254 cidades abastecidas pela empresa. A abrangência representa 37% da área de concessão da companhia.

A energia que deixou de ser entregue representou 70% da carga distribuída pela RGE, o equivalente a cerca de 600 MW. Simonaggio, apesar do blecaute, elogia o sistema de distribuição do Estado. "Em 99, o sistema não agüentava a carga normal, agora só uma combinação de problemas com a subestação Gravataí 2 é que poderia gerar um estrago tão grande", diz Simonaggio. Ele argumenta que esses casos são raros e o acontecimento de dois deles, em tão curto espaço de tempo, é uma infeliz coincidência.

AES Sul estuda reivindicação dos prejuízos
O diretor de marketing da AES-Sul, Roberto Zanardo, informa que 113, dos 114 municípios atendidos pela distribuidora ficaram sem luz. Apenas São Borja, que recebe energia da subestação de Santo Ângelo, se manteve normalmente. As últimas cidades a retomarem a energia foram Novo Hanburgo, Campo Bom e Sapiranga, por volta das 10h 44min.

Conforme Zanardo, cerca de 940 mil clientes ficaram sem energia, o que representa cerca de 4 milhões de pessoas. Zanardo adverte que os consumidores e as distribuidoras poderão buscar compensações quanto aos prejuízos sofridos. "Vai se constatar onde foi a falha e se levantar quanto de energia deixou de ser gerada, a partir daí poderá se pensar em ressarcimento", revela Zanardo.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, Atílio Manzoli Jr., estimou uma queda em cerca de 26,35% do número de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito. "O prejuízo foi grande para o varejo porque são vendas que deixam de ser concretizadas", lamenta ele. Todas as sinaleiras da Capital foram apagadas com o blecaute. Cerca de 180 agentes da EPTC foram encaminhados para orientar o trânsito e o Trensurb chegou a ficar parado por meia hora.


Cooperativas divulgam balanço de vendas
Representantes de 19 cooperativas associadas à Cooperativa Central Gaúcha de Leite Ltda (CCGL), entregaram ontem, ao presidente da Assembléia Legislativa do Estado, deputado Sérgio Zambiasi (PTB), documentos contendo informações solicitadas pela CPI do Leite a respeito do funcionamento das empresas. Segundo o diretor presidente da CCGL, Caio Vianna, entre os documentos, estão dados sobre a forma de pagamento aos produtores, notas e comprovantes da indústria que compra o leite da cooperativa, contratos estabelecidos com a indústria e programas de produção desenvolvidos em conjunto com os fornecedores.
De acordo com o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o preço do leite no Rio Grande do Sul, deputado Vilson Covatti (PPB), os documentos serão utilizados no processo que busca identificar infrações cometidas na cadeia produtiva leiteira. "Durante o recesso parlamentar encaminhamos outras 1,2 mil requisições de informações. Além de diagnosticar problemas, pretendemos criar uma política para a comercialização do leite", analisa Covatti.

Os cerca de 40 mil produtores associados da CCGL são responsáveis pela entrega diária de 1,6 milhão de litros de leite à Elegê. "O trabalho da CPI é importante para que os produtores não abandonem a atividade por falta de remuneração", assinala Vianna. De acordo com o dirigente, a CCGL entregará no próximo mês à presidência da CPI documentos sugestivos de políticas e medidas para a evolução da investigação. As cooperativas atualmente pagam ao produtor R$ 0,29 por litro de leite.

O presidente da Cotrimaio, de Três de Maio, Antônio Wünsch, defende a criação de uma Câmara Setorial do Leite. "A câmara nos beneficiaria porque reuniríamos mensal ou bimensalmente amostras de dados. Assim, seria bem mais fácil controlar a comercialização", explica.

A CPI do Leite foi instalada em 10 de outubro do ano passado e já ouviu depoimentos de federações de produtores, associações de supermercadistas, cooperativas e fábricas de embalagens. A partir de 15 de fevereiro, quando termina o período do recesso parlamentar, serão realizadas audiências públicas com produtores no interior do Estado. A segunda etapa da CPI também pretende colher os depoimentos de governantes e das grandes indústrias e supermercados do Rio Grande do Sul. "Já identificamos vários casos de abuso de poder econômico e vamos apurar a questão porque temos documentos para provar", enfatiza Covatti.


Boatos nos EUA fazem Bovespa cair 3,85%
As bolsas mundiais despencaram com os boatos sobre a falência da companhia de telefonia de longa distância norte-americana WorldCom Inc. que voltaram ao seu menor nível nos últimos sete anos e meio. Houve rumores de que agências de classificação de risco iriam rebaixar a dívida da companhia, apesar da Standard & Poor's ter negado. Segundo analistas, ontem a Dow Jones chegou até a paralisar as negociações às 17h20min devido à acentuada queda do índice que fechou o dia negativo em 2,47%. O Nasdaq caiu 2,60%.

Os negócios em Wall Street contaminaram o Ibovespa que rompeu o suporte dos 13 mil pontos e fechou aos 12.500 pontos, em queda de 3,85%, o pior desempenho desde 28 de novembro. O índice futuro caiu 4,43%, para 12.510 pontos. O volume de negócios também foi afetado e ficou em R$ 570,836 milhões depois de projetar no dia mais de R$ 600 milhões.

O ânimo dos investidores se reverteu no início da tarde. O índice chegou a subir quase 1,4%. Apenas três papéis se mantiveram positivos no final do pregão. O papel mais afetado foram as ações da Embratel, uma das controladas pela WolrdCom. As ADRs da empresa de telefonia brasileira caíram 15% em Nova Iorque. No Brasil, as PNs recuaram 10,87% e as ONs 9,2%. As quedas contaminaram as outras ações de telefonia. A Telemig PN recuou 7,0%. a Tele Nordeste Celular 6,9%.

A situação influenciou o câmbio que apresentou alta de 0,54% para R$ 2,438, com alta acumulada no ano é de 5,27%. Durante à tarde de ontem houve forte pressão compradora dos bancos. "O mercado já vinha com leves altas nos últimos dias causadas pela procura do Itaú que precisa pagar a aquisição do Sudameris", diz um operador. Segundo ele, os rumores sobre a possibilidade de mais falências de empresas norte-americanas e de que os balanços nos EUA estariam maquiados aumentou o pânico. As concordatas da Enron e da K-Mart, deixaram os investidores sensíveis aos boatos.

Nem o crescimento do índice de confiança dos EUA para 94,6% teve efeito contrário. O resultado deixa mais nítida a idéia de que o banco central dos EUA, Federal Reserve (Fed) deve decidir pela manutenção dos juros hoje.


Artigos

Diferença não é desigualdade
Helena Bonumá

Desde que relações humanas se estabeleceram, condicionamentos e regramentos começaram a se formar e consolidar. Independente de sua expressão externa, através de meios físicos, registros escritos ou orais.

Regras com conseqüências diretas ou indutivas de posturas. O que deu origem à sua existência é a própria relação humana que passa a ter uma dimensão de relação social. São inevitáveis e indispensáveis, concorde-se ou não com os regulamentos. Com o passar dos tempos e o acréscimo de novos conceitos, o aparato regulador da existência social recebe mudanças que o tornam mais sensível e adequado aos novos conceitos de vida e associação humana. Este processo é contínuo e permanente, porém não necessariamente suficiente para responder às novas realidades. O mundo, e desde que é mundo, é um palco de confrontos e disputas de interesses e conceitos. O arcabouço de regulamentos expressa o resultado deste processo a cada momento.

Assim, o simples existir de determinada regra está longe de garantir sua correção ou melhor forma. Por um lado, reflete novas demandas e, por outro, este atendimento é determinado por uma correlação de forças de interesses diversos, até antagônicos. Uma fria forma de medir a validade de determinada regra é observar o grau de seu cumprimento. E aqui não vamos considerar cumprimento como retorno a uma possibilidade de sanção. Devemos tratar em outra dimensão. A de que cumprir significa assumir. Assumir conceitos é fruto de uma resposta mais completa a um padrão de entendimento e torna-se uma conquista coletiva de um conjunto social. Como há uma união umbilical regulamento-relação humana, a permanente disputa e debate de definições é a única garantia de evolução das regras sociais.

As recentes decisões da Justiça brasileira quanto aos direitos de casais homossexuais junto ao INSS e no caso do filho de Cássia Eller são fundamentais e não podem ser medidas apenas pelos ganhos materiais ou por seu efeito imediato. Apontam para o estabelecimento de conceitos de alcance mais longo que colocam a discussão em outro patamar. Cidadania e qualidade de vida não são apenas palavras definidas nos nossos dicionários.

São, antes de tudo, processos sociais que estão em contínua construção. Isto somente é realizado se for mantido o vínculo temporal e incorporar definições básicas e elementares como de que diferenças não são como, também, não podem gerar desigualdades. Se, ao contrário, um conjunto social inclui em suas conceituações e regramentos a existência de diferenças, passa-se a ter um patamar de relações mais igualitárias e humanas. Teremos, assim, ganhos significativos de qualidade de vida e acúmulos muito intensos de cidadania de uma população.


Colunistas

ADÃO OLIVEIRA

O governo percebeu que o Plano Nacional de Segurança Pública não é aplicável. Para torná-lo eficaz no combate à violência, decidiu mudá-lo. Dos 124 itens do programa, lançado em 2000 pelo Ministério da Justiça, pelo menos 80 são considerados irrevelantes para adoção imediata. Esta semana, representantes dos governos federal e estaduais e organizações não-governamentais (ONGs) começam a discutir as alterações.

Unificação
Segundo fontes do Ministério da Justiça, o governo pretende resumir o plano em três pontos considerados básicos para diminuir a violência. O principal é a unificação dos comandos das instituições policiais estaduais, como ocorre em alguns Estados. Além disso, o governo quer uma ação no combate à corrupção dentro das polícias.

Comunitária
O terceiro item é a criação da polícia comunitária, experiência que deu certo em alguns Estados com graves problemas de segurança, como o Pará. Depois do confronto de Eldorado do Carajás, em 1997, houve uma modificação na estrutura do setor, formando núcleos comunitários e policiamentos integrados regionalizados.

Aviões suspeitos
O atual plano de segurança foi desfigurado em pelo menos quatro ocasiões, desde a criação, decidida pouco depois do seqüestro de um ônibus no Rio, em que foram mortos uma passageira e o seqüestrador. A partir daí, houve modificações após cada crise no setor, como a das Políciais Militares, em 2001. Segundo analistas do governo, há itens que não precisam ter aplicação imediata, nem deveriam constar entre as prioridades apontadas pelo Ministério da Justiça. Um deles, há anos em debate no Congresso, diz respeito ao abate de aviões suspeitos. A discussão envolve o Ministério da Defesa e teria pouca eficácia contra a violência.

MST
Incluída no plano após uma grande manifestação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a instalação do Sistema de Informações de Confitos Agrários (Sica) foi outra providência que pouca influência teve no combate à violência. Os casos de crimes rurais diminuíram a partir da criação, na Polícia Federal (PF), de um setor para resolver conflitos fundiários. Um dos itens fundamentais, no entanto, não teve nenhum avanço: o combate aos grupos de extermínio, "justiceiros" e pistoleiros e nem se pôs em discussão, até hoje, o ponto que trata da apreensão de bens de integrantes desses grupos.

Mutirão
Desde o lançamento, em 20 de junho de 2000, o Plano Nacional de Segurança Pública recebeu mais críticas do que elogios. Ao anunciar o pacote, FHC afirmou que queria fazer um "mutirão" para combater o crime. A brigada incluiria polícias, governos estaduais e a sociedade. Especialistas no combate à criminalidade afirmaram que o pacote era vago e havia sido elaborado às pressas para responder ao seqüestro do ônibus 174, na zona sul do Rio, no qual morreram o criminoso e uma das reféns. Também questionaram de onde o governo tiraria os R$ 2,9 bilhões prometidos para o setor até 2002.


CARLOS BASTOS

Queda do PT no Estado prejudica Lula
Luis Inácio Lula da Silva ainda permanece na liderança das pesquisas para a presidência da República, como constatou o trabalho da Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes. Roseana permanece em segundo lugar, e Anthony Garotinho aproxima-se dela. Lula está com 26,1%, Roseana com 22,7% e Garotinho com 15,1%. O detalhe importante é que Lula está caindo em seus índices na região sul do país, especialmente em consequência da queda do PT no Rio Grande do Sul, pelo desgaste sofrido pelo governo nos últimos meses. Tanto isto é verdade que a candidata do PFL está superando Lula na região sul, onde Roseana chega aos 28%, enquanto Lula não passa de 25%. No sul Garotinho está com 8,4%, José Serra 6,8%, Ciro Gomes 5,7% e Itamar 4,4%.

Diversas
O presidente da Sensus, Clésio de Andrade, chegou a afirmar que a queda de Lula na região se deve ao desgaste do governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul.

Lula fica com a primeira colocação nas regiões Nordeste e Sudeste. Na primeira secundado por Roseana e no Sudeste já tendo muito perto Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro. Na região centro-oeste Lula e Roseana empatam em primeiro lugar.

Roseana está em primeiro lugar nas regiões Sul e Norte, com Luis Inácio Lula da Silva ocupando a segunda colocação. Garotinho ocupa o terceiro lugar nas duas regiões.

José Serra só ocupa uma boa colocação na região Centro-Oeste, onde está em terceiro com 10,2%, e nas demais regiões fica sempre em quinto ou sexto lugar. Já Ciro Gomes só ocupa o terceiro lugar no Nordeste.

Entendidos atribuem o crescimento de Garotinho às suas aparições em rádio e televisão, como aconteceu com Roseana Sarney, nas inserções dos partidos.

Acontece que ele está com muita presença em programas de televisão. Só na TV Recorde, do Bispo Edir Macedo, ele gravou um programa de Raul Gil, e apareceu nos programas Terceiro Tempo, de Milton Neves, Note e Anote, Cidade Aberta, e Amaury Junior. É certo que vai crescer mais nas próximas pesquisas.

O deputado estadual Jorge Gobbi, ex-presidente do diretório regional do PSDB, avistou-se ontem com o senador Pedro Simon (PMDB), na praia de Rainha do Mar. Fizeram um exame da situação política do país e do Estado.

O PCdoB estará comunicando esta manhã à Executiva Estadual do PT que só admite a escolha do candidato da Frente Popular por consenso. O presidente Adalberto Frasson diz que o principal é a manutenção do projeto de esquerda que vem sendo implementado no Estado.

Última
A Câmara Municipal de Porto Alegre está convocada para uma reunião hoje, quando o atual presidente, vereador Luiz Fernando Záchia (PMDB) vai apresentar sua renúncia ao cargo, devendo assumir o vice-presidente Carlos Garcia (PSB), que vai comandar a eleição do novo presidente. Os demais integrantes da Mesa Diretora não renunciarão aos seus mandatos. Esta prevista uma aguerrida resistência da Frente Popular, que terá como candidato o vereador Estilac Xavier, à eleição de José Fortunati (PDT), que conta com o apoio de 20 dos 22 vereadores oposicionistas.


FERNANDO ALBRECHT

O batom da prefeita
A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, causa a impressão que ela se acha. Tudo bem, ela administra uma megalópole de respeito, mas Marta também tem suas manias. Quando ela descia no elevador do Plaza retocando o batom para a entrevista coletiva, um fotógrafo tentou bater sua foto. “Não mesmo”, disse ela. Então tá, dona Marta, a gente finge que seu batom é perene.

Gaúchos na Telemar
Confirma-se uma informação desta página no início do mês: Eduardo Aspesi assumiu o cargo de diretor de marketing da Telemar no Rio de Janeiro. O executivo Francisco Valim preenche a direção administrativa-financeira da empresa. Ambos eram da RBS, sendo que Valim era vice-presidente e Eduardo diretor de marketing.

Impasse nas torres
É preciso que o município de Porto Alegre e as operadoras de telefonia cheguem a um denominador comum para viabilizar a implantação de novas tecnologias e resolver o impasse em que se encontra a instalação das Estações de Rádio Bases (ERBs). O alerta é do coordenador da Comissão Técnica de Telecomunicações da Sociedade de Engenharia do RS, Romano Tadeu Botin. Se não houver um entendimento haverá a perda de investimentos no setor e de cultura técnica em relação aos avanços tecnológicos que estão se verificando nesta área.

A lembrança do francês
Nem todos os europeus são macacos de auditório do Fórum Social Mundial. O publicitário francês Jacques Bille, presidente da Associação de Agências de Conselhos de Comunicação da França (AACC), que esteve no último Festival Publicitário de Gramado, envia e-mail falando da repercussão do FSM na imprensa francesa. “Não é exatamente o Rio Grande do Sul de que eu sei e de que eu gosto - povo bom, negócio bom, anúncio bom, churrasco bom”.

Gasolina mais barata
O Jornal de Gramado deu sua manchete para o fato de Gramado ter a gasolina mais barata do Estado, abaixo de R$ 1,39. Começou com um posto e em seguida os outros cinco da cidade aderiram à moda. Recorde-se que o ex-governador Antônio Britto reclamou dos preços da cidade serrana. Aliás, não só ele.

Sem muamba
A confusão em torno da localização do sambódromo soma-se agora mais um capítulo, a decisão do Conselho de Presidentes das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre de não participar da Muamba no domingo. Tudo junto, dá um belo enredo de escola de samba. A Secretaria Municipal da Cultura estranha o anúncio, esclarecendo que a Associação das Entidades Carnavalescas não se manifestou sobre o cancelamento. Tem muito branco nesse samba.

O centenário
O presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, almoçava no Barranco quando da mesa próxima torcedores perguntaram se ele não seria o presidente do Grêmio no centenário do clube, em 2003. “Só encaro o meu centenário”, respondeu. Ao que um gaiato comentou: “E não falta muito”. Que maldade! Koff está mais para pediatria que para geriatria.

Prostituição no Centro
Com toda a bagunça do Centro, era previsível que prostituição se espalhasse por toda a área. Começou com as moças da Praça da Alfândega. Aliás, algumas não tão jovens. Na Alfândega disputam fregueses pelo menos duas senhoras entre 55/60 anos. Agora chegou a vez do Mercado Público. As operárias do sexo já somam meia dúzia no pedaço, abordando os clientes potenciais de forma bastante aberta. Mais um problema para os permissionários do Mercado.

Pura coincidência
Leitor denuncia o que ele chama de cartel nas auto-escolas ou CFCs de Porto Alegre. Ele fez uma pesquisa de preços - as auto-escolas cobram inclusive o deslocamento do instrutor até a casa do aluno - e para sua surpresa constatou que todas as seis pesquisadas cobravam R$ 15,00 por hora-aula. Nem mesmo a distância maior ou menor da casa do aluno altera o preço. Ora, caro leitor, para com essa maldade. É pura coincidência.

Tráfico de cigarros
Esse ano os jornalistas fumantes deverão estar prevenidos para a proibição da venda de cigarros na PUC. No FSM do ano passado, assim que se constatou a demanda pelo tabaco, alguns espertos apareceram para vendê-los, às escondidas. E com ágio.

Miúdas
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho discute a CLT hoje às 14h na sede da Amatra IV.

Presidente da Fiergs, Renan Proença, lançou ontem a Feira da Indústria da Modas, em junho.

Vitrine Gaúcha no DC Navegantes promove a Mesa dos Artistas: os seis primeiros músicos que chegarem comem de graça.

Socie dade Literária e Caritativa Santo Agostinho recruta portadores de deficiências para inserção no mercado. Jerônimo Coelho, 280/501.

Obras da Brita Rodovias no Km 24 da RS-115 arrumarão de vez um deslizamento que há anos incomoda os usuários.

TV Senado passa às 10h em quatro partes o seminário sobre a Discriminação e o Sistema Legal Brasileiro, promovido pelo TST.

Ué! Não veio nenhum prefeito de alguma cidade de Cuba? Se veio, não deu entrevista.


Editorial

RACIONAMENTO DEIXA LIÇÕES ALÉM DE PARAFUSOS

Dois "apagões" no RS chamam a atenção para o abastecimento energético, embora, em fevereiro, comece a transição para o fim do racionamento em todo o País. O governo anunciou que a meta de economia das indústrias cai de 25% para 10% e das residências para 7,5%, onde a medida foi implantada. No levantamento da fiação brasileira, chega-se à conclusão que um parafuso frouxo trouxe mais problemas e o único "apagão" que o País sofreu, desde maio de 2001. No RS, a manutenção rotineira do sistema em Gravataí acabou em pane que deixou dois terços do Estado parados. Com menos energia, houve menor crescimento do PIB, não se criando postos de trabalho, quando se sabe que a taxa média aberta do desemprego no Brasil marcou 6,2%, ainda que a menor desde 1997. O ministro-chefe da Casa Civil e presidente da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, Pedro Parente, acredita que o racionamento poderá acabar totalmente neste próximo mês, sendo o prazo máximo o dia 28 de fevereiro. O otimismo vem por conta do enchimento dos reservatórios das hidrelétricas, que está acima das previsões, além da tranqüilidade que o Programa Prioritário das Termelétricas traz. É uma boa notícia, eis que o parque industrial vem produzindo abaixo de sua capacidade, com todos os inconvenientes daí resultantes. As empresas foram autorizadas a gastar 90% do que consumiam entre maio e julho de 2000. Hoje, as indústrias têm metas de economia de 15%, 20% e 25%, o que será unificado em 10%. Também o comércio terá suas metas amenizadas, passando de 20% para 14%, poderá gastar 7,5% a mais do que neste janeiro.

Finalmente, o Brasil supera um dos seus piores problemas, que não apenas criou um mal estar geral como freiou o crescimento do Produto Interno Bruto, municiando os críticos do governo pela "privatização do setor energético", a qual aconteceu apenas no setor de transmissão. Aliás, foi nele que aconteceu o temido "apagão", um simples parafuso de fixação dos cabos afrouxou e deixou cair um linhão o qual, por sua vez, sobrecarregou o resto do sistema, disparando o relé que corta, por segurança, as turbinas de Itaipu. Pior do que isso, somente se uma subestação qualquer de algum bairro de capital acabar por escurecer o Brasil inteiro, sendo que quase uma centena de municípios gaúchos foi atingida, ontem. Pois metade desta imensa nação ficou sem energia no dia 21 e as causas vão além de um parafuso frouxo, por mais MW que sustente. O acidente identificou a vulnerabilidade do abastecimento na região Centro-Sul. Geração pouca e mal espalhada, mais a distribuição falha levaram à escuridão que assustou os brasileiros. Somente no final de março saberemos as conclusões do grupo de trabalho criado para elucidar as causas do único efetivo "apagão" que tivemos e, mais ainda, estudar o papel e o planejamento do governo federal na questão energética. O que fica claro, sem trocadilho, é que temos que melhorar em muitos pontos. A conseqüência da falta de luz em 10 Estados e o Distrito Federal foi jogar nas sombras a privatização da geração energética. Não faz mais sentido investir, como vem sendo feito e mais ainda será em 2002 e, depois, vender a toque de caixa o suprimento perfeito, consertado e ampliado com bilhões de reais. Nesta confusão que tem dado choques aqui e ali, o Rio Grande do Sul estava bem, mas também levou uma descarga de 220 volts, soltando faíscas na soma dos esforços oficiais e chuvas abundantes que permitiram agüentar a seca que assola o Estado e um racionamento cooperativo da população, preventivo. Espera-se que as lições sejam aproveitadas e possamos gerar mais 4% de eletricidade/ano nas turbinas, sejam movidas a água, gás ou óleo combustível.


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01/30/2002


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