Arruda confirma ter recebido lista de votação da sessão em que Luiz Estevão foi cassado



Quatro dias depois do depoimento da ex-diretora do Prodasen Regina Célia Peres Borges ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF) confessou nesta segunda-feira (dia 23), em Plenário, que ela relatou a verdade e que, salvo alguns equívocos, é difícil negar veracidade ao que Regina disse. Ele negou, entretanto, ter solicitado à ex-diretora a lista de votação, admitindo apenas ter pedido informações sobre a possibilidade de se conhecerem os votos de uma votação secreta. Durante o depoimento, o parlamentar chorou, queixou-se de estar sem dormir, pediu desculpas e disse que seus filhos não têm por que se envergonhar dele.

Arruda informou que, numa conversa com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), então presidente do Senado, falando de tendências de votos na sessão que cassaria o mandato do então senador Luiz Estevão, surgiu a dúvida sobre o efetivo caráter secreto dos votos registrados no painel e sobre a possibilidade de eles serem conhecidos pelos técnicos do Prodasen.

- Saí do encontro com a incumbência de indagar sobre essa possibilidade à Dra. Regina Borges - confessou o parlamentar.

O senador admitiu que realmente chamou a diretora do Prodasen a seu apartamento, mas discorda da informação de que isso ocorreu no dia 27 de junho de 2000, como ela relatou ao Conselho. Ele confirmou o diálogo que ela reproduziu desse encontro, reconhecendo que perguntou a Regina Borges se era possível conhecer os votos de uma sessão secreta, "pois o presidente Antonio Carlos desejava essa informação". Conforme Arruda, Regina respondeu negativamente, e ele sustentou ter conhecimento de que isso era possível.

No mesmo relato, ele afirmou que, nervosa, a ex-diretora do Prodasen lhe disse que iria verificar. No dia da votação, à tarde, ela telefonou dizendo que tinha algo para lhe entregar. O envelope com a lista da votação foi então entregue a seu assessor Domingos Lamoglia Sales Dias. De posse do envelope, Arruda foi levá-lo ao gabinete de Antonio Carlos Magalhães, que examinou voto por voto e, a pedido de Arruda, ligou para Regina Borges, para lhe agradecer.

Referindo-se ao depoimento que deu em plenário na semana passada, negando esses fatos com base nos compromissos de sua agenda, Arruda disse que conversou com Antonio Carlos Magalhães "sobre a necessidade de manter o sigilo em relação ao episódio". E reconheceu que usou as evidências de sua agenda para ocultar os fatos.

Ele confirmou também os encontros que teve com Regina Borges, depois que veio a público a conversa de Antonio Carlos Magalhães com três procuradores da República. Arruda pediu desculpas aos senadores, funcionários do Senado e colegas do governo, dizendo ter servido ao Executivo em situações de natureza muito mais grave que essa. Pediu também desculpas ao Brasil, a Brasília e à imprensa, a quem chamou de "guardiã da liberdade e da verdade".

A partir de agora, disse o senador, ele está mais sofrido, menos vaidoso e à inteira disposição do Senado.

- Eu passo, os senhores passam, mas o Senado fica e tem de ser preservado - acrescentou.

Arruda disse que seu gesto, além de satisfazer sua consciência, tinha o objetivo de preservar a dignidade da Casa.

23/04/2001

Agência Senado


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