Arruda reconhece erro e renuncia "para ser julgado pelo povo"



 Onze meses depois de votar na sessão secreta do Senado que cassou omandato de Luiz Estevão (PMDB-DF), o ex-líder do governo José Roberto Arruda (sempartido-DF) compareceu nesta quinta-feira (dia 24) ao mesmo Plenário para anunciar, em discurso,sua renúncia ao cargo de senador da República. Como justificativa principal, alegouestar sendo vítima de "pré-julgamento" no processo proposto pelo Conselho deÉtica visando à sua cassação. Relatório aprovado por aquele colegiado concluiu queArruda e o ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) foram"confessadamente coniventes" com a violação do sigilo do painel eletrônico doPlenário, quando da cassação de Estevão, no dia 28 de junho do ano passado.

- Cometi um grande erro, talvez o maior da minha vida. Tentei negá-lo, e esse foi outrograve erro. Estou pagando caro por isso - reconheceu Arruda em discurso iniciado às10h45.

Apesar de admitir a culpa, o senador considera o processo no conselho um "jogoviciado", em que estaria sendo moralmente linchado, "de maneira covarde".Por considerar a cassação como "pena descabida, máxima, cruel e inapelável",decidiu renunciar para ser julgado pelos eleitores do Distrito Federal. Como determina aConstituição, a renúncia nesta fase do processo evita a perda dos direitos políticosdo acusado, que pode candidatar-se novamente, sem ter de esperar oito anos para concorrera cargos eletivos.

- O balanço dos meus acertos e erros dever ser feito pela população de Brasília –afirmou Arruda, sendo aplaudido pelos filhos, amigos e simpatizantes sentados numa dasgalerias. Ele alegou ainda que, renunciando, evitaria um processo prolongado, e permitiriaque o DF voltasse a ter um senador no pleno exercício do mandato. Assumirá em lugar deArruda o seu primeiro suplente, Lindberg Aziz Cury.

O ex-líder do governo e ex-membro do PSDB lembrou seus seis anos e meio no cargo e sualuta pelos interesses de Brasília, lamentando que a participação na fraude do paineltenha interrompido um projeto político apoiado nas eleições de 1994 por mais de 300 milpessoas. Mas disse preferir olhar para sua saída como "um novo começo, e não comoum fim".

A renúncia, disse Arruda, evitará que ele seja vítima da expiação de pecados como acorrupção e a "troca desrespeitosa de acusações e insultos", numareferência às denúncias mútuas feitas por Antonio Carlos e o atual presidente doSenado, Jader Barbalho. Para Arruda, essa "catarse" estaria sendo promovida peloConselho de Ética, transformado, em suas palavras, num "tribunal de exceção".O conselho, disse, estaria sendo pautado pela imprensa e guiado pela sedução dosholofotes das redes de televisão.

Ao reafirmar que não roubou, não matou nem desviou dinheiro público, Arruda lamentouque a lista extraída do computador do painel, contendo a identificação dos votos afavor e contra a cassação de Estevão, esteja sendo supervalorizada.

- Buscam concentrar toda a justa indignação popular numa tal lista de votação, naesperança vã de que os verdadeiros problemas do país, o desrespeito à atividadepública, a corrupção e o denuncismo irresponsável sejam relegados a segundo plano– disse Arruda.

Em sua defesa, Arruda alegou ainda ter sido a violação do painel o único "desviode conduta" cometido por ele em 20 anos de vida pública. E por se considerar umhomem íntegro disse que não ficaria "na expectativa de um acordo de cúpula, naMesa", destinado a preservar um ano e oito meses de mandato.

- Não cometerei a infâmia de recorrer a expedientes escusos para continuar no Senado.Não aceito que tentem me igualar a homens que abastardam a política e envergonham opaís – afirmou Arruda.

Em contraposição às "hipocrisias e mentiras" do Conselho de Ética, Arrudamencionou os ensinamentos recebidos durante sua passagem pelo Senado e agradeceu asolidariedade que tem recebido. Embora tenha usado os adjetivos "covarde ecruel" para classificar a atitude de seus acusadores, foi justamente dos senadoresJosé Eduardo Dutra (PT-SE) e Heloísa Helena (PT-AL) que Arruda recebeu as maioresatenções antes de iniciar o seu discurso. Ainda no cafezinho dos senadores, contíguo aoPlenário, recebeu de Heloísa um abraço fraternal. A senadora foi pessoalmente atingidapela violação do painel, já que, em conversa com procuradores da República, AntonioCarlos disse que ela votara com Estevão.

- Criticar um discurso de renúncia seria tripudiar. É natural que ele tenha dito aquilo– disse Dutra.

Embora não tenham feito apartes, os senadores cumprimentaram Arruda ao final do discurso.Mesmo Eduardo Suplicy (PT-SP), com quem trocou farpas nas últimas semanas, dirigiupalavras amáveis ao ex-líder do governo.

Arruda deixou o Plenário escoltado por Jader Barbalho, que o protegeu do batalhão dejornalistas, cinegrafistas e fotógrafos até o hall conhecido como chapelaria. Ali osenador concedeu tumultuada entrevista em que reafirmou sua disposição de retomar acarreira política:

- Tenho idade e saúde para isso - avisou.

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24/05/2001

Agência Senado


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