ARTIGO/Uma senhora injustiça



José é funcionário de uma empresa e economiza tostões para, um dia, custear a faculdade de seu filho num estabelecimento particular. José paga impostos e sabe que parte deles se destina a pagar o curso superior do filho de seu patrão numa universidade "pública, gratuita e de qualidade". Tenho pensado sobre essa expressão e ponderado os aplausos que arranca quando proferida em ambientes acadêmicos públicos e gratuitos. E tenho refletido sobre o efeito que causaria num ato de formatura em universidade particular. Ali, o auditório acrescenta uma alegria especial às emoções normais de uma conclusão de curso: não haverá mais mensalidades a serem pagas. Durante anos a fio, alunos, pais, mães e familiares, em incontáveis correntes de solidariedade, destilaram o suor do trabalho e assinaram com o próprio sangue dezenas de cheques, em cuja insuficiência, lágrimas foram derramadas nos guichês da tesouraria. Ali, há sangue, suor e lágrimas por trás de cada diploma! Falar em universidade pública e gratuita, para tais platéias, é descrever o sonho impossível, o paraíso sem porta de ingresso. É justo? É justo que um aluno de posses estude gratuitamente em aulas diurnas, almoce por uns poucos centavos, e dependendo do seu curso, ainda receba bolsa acadêmica, sendo pago para estudar, enquanto outros freqüentem aulas noturnas, tenham que trabalhar durante o dia, precisem de crédito educativo, raro e caro, e iniciem suas vidas profissionais endividados? Mais injusta se desenha a situação quando se sabe que a gratuidade usufruída por muitos que poderiam pagar é sustentada, mediante impostos, pelos que pagam mesmo sem poder e pelos muitos outros que são alijados da formação acadêmica por absoluta impossibilidade de arcar com seus estudos. São reprovados, de modo vitalício, no vestibular da renda familiar. A demagogia, porém, é sempre muito mais sedutora que a verdade. E a injustiça recolhe aplausos frenéticos entre os beneficiários de quaisquer privilégios. Ambas - a demagogia e a injustiça - estão, mais uma vez, presentes no projeto da Universidade Estadual.

04/17/2001


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