SATURNINO: INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INJUSTICA É A CAUSA DA VIOLÊNCIA
Mesmo os analistas que reconhecem a crescente degradação das relações sociais brasileiras freqüentemente não chegam às suas razões, segundo o senador, pois colocam "a eficácia acima da ética e da justiça, como se a injustiça fosse necessária para alcançar resultados operacionais".
- A causa da violência é a indignação com a injustiça - insistiu.
Saturnino referiu-se aos debates realizados na Comissão Especial para a Erradicação da Pobreza, em que o economista José Márcio Camargo e o próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, enfatizaram que o governo gasta cerca de 20% do PIB na área social, sendo que metade desses recursos não beneficiam os de fato mais pobres e, sim, a classe média. Conforme os economistas, trata-se de "focalizar" os programas sociais e tornar, por exemplo, a Previdência e o ensino médio e superior acessíveis aos mais pobres.
Por essa lógica, uma correção que venha a melhorar a qualidade e eficácia dos gastos públicos significaria "tirar da classe média para atender os mais necessitados", esquema em que continuariam intocados os de fato mais ricos, afirmou o senador.
Sob o argumento de que não adianta instituir tributos sobre a riqueza e a renda dos mais ricos porque estes arrumam meios de elisão fiscal, ou simplesmente remetem riqueza para o exterior, o governo teria optado "por fazer cair o peso das correções sobre a classe média, pois esta não tem poder de chantagem", no entendimento do senador. Paralelamente, acrescentou, o Banco Central emite títulos da dívida pública com correção cambial para evitar uma valorização ainda maior do dólar em relação ao real, o que provoca prejuízos ao Tesouro Nacional, aprofunda as desigualdades sociais e fortalece o sentimento de indignação com a manutenção de injustiças semelhantes.
Em aparte, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) disse que "sentiu vergonha ao ver o noticiário sobre a Febem, ontem" e defendeu providências urgentes.
26/10/1999
Agência Senado
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