Assembléia aprova mínimo de R$ 300 para servidores do Estado



Assembléia aprova mínimo de R$ 300 para servidores do Estado O quadro geral receberá um reajuste de 27,94% parcelado em cinco vezes O projeto de lei que institui a remuneração mínima de R$ 300 no serviço público do Estado só depende da sanção do governador Olívio Dutra para entrar em vigor. A Assembléia Legislativa aprovou ontem, por unanimidade, a proposta do Executivo que assegura um rendimento mínimo para os servidores. Terá direito à remuneração todo servidor com carga horária de 40 horas semanais que recebe no contracheque um valor total (somado o salário básico e as vantagens) abaixo de R$ 300. Para chegar a esse valor mínimo, será feita uma complementação mensal, sobre a qual não incidirão vantagens. Para o cálculo dessas parcelas serão excluídas as indenizações referentes a diárias, ajudas de custo, transporte, auxílio-transporte e vale-refeição. O servidor que trabalha menos de 40 horas semanais receberá a diferença de forma proporcional. A complementação será paga tão logo o projeto seja sancionado e publicado no Diário Oficial do Estado. Serão beneficiados 9,8 mil servidores e 10,6 mil pensões. Os deputados também aprovaram, por unanimidade, o projeto que propõe reajuste de 27,94%, parcelado em cinco vezes, aos vencimentos dos funcionários do quadro geral, autarquias e fundações e aos servidores de escola. As bancadas de oposição aprovaram cinco emendas, que estendem o reajuste para os funcionários do quadro em extinção da Caixa Econômica Estadual, aos técnicos-científicos, investigadores, inspetores, escrivães, comissários de polícia, peritos, auxiliares de perícia, papiloscopista e fotógrafo criminalista, soldados, cabos, sargentos, subtenentes, tenentes e capitães da Brigada Militar, auxiliares, agentes e monitores penitenciários da Susepe, entre outros. O líder do governo, deputado Ivar Pavan (PT), anunciou que o governador vetará as emendas por considerá-las inconstitucionais. A votação do reajuste de 27,94% foi acompanhada por dezenas de servidores representantes de categorias que não foram contempladas no projeto original do governo. Os deputados do PT foram vaiados quando anunciaram que o Palácio Piratini vetará as emendas propondo a extensão do reajuste. As parcelas retroativas a julho e agosto de 2001 – para os servidores do quadro geral – e a maio e agosto de 2001 – para os servidores de escolas – serão pagas na folha de outubro. PDT faz festa para receber José Fortunati Vereador mais votado da Capital não falou em cargos, mas não esconde a vontade de integrar a chapa majoritária Amanhã à noite, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, desembarca em Porto Alegre para abonar a ficha do mais novo e ilustre filiado do partido, o vereador José Fortunati. Numa concorrida entrevista coletiva, no Hotel Continental, Fortunati anunciou ontem à tarde o motivo de ingressar no partido de Brizola. Ao lado da mulher, Regina, com os olhos marejados e entre muitos goles de água mineral, leu uma carta de duas páginas que pôs fim aos mais de 30 dias de especulações a respeito de seu futuro político. – Buscamos um partido que seja capaz de mobilizar a sociedade gaúcha para enfrentar a insegurança, a pobreza, o problema da Metade Sul e que não sucumba nem à lógica tecnocrática nem aos subterfúgios ideológicos – explicou. Apesar do claro recado a seu ex-partido, o PT, Fortunati avisou que ingressar no PDT não significa que a partir de agora desejará o pior ao PT. Para reforçar a promessa, o vereador disse que não concorda com a formação de uma frente anti-PT no Estado para as eleições de 2002, mas apóia a união nacional dos demais partidos de esquerda para combater a linha do governo Fernando Henrique Cardoso. Uma aproximação com o PPS de Ciro Gomes, no entanto, seria viável na visão de Fortunati em nível nacional. No Rio Grande do Sul, caso Antônio Britto venha a ser o candidato ao governo do Estado, Fortunati não vê a mínima possibilidade de subir no mesmo palanque. A mesma posição já foi anunciada por líderes pedetistas nos últimos dias. Apesar de o PDT dar como certo seu ingresso desde o encontro com o ex-governador Leonel Brizola, no dia 8 de setembro, Fortunati disse que a decisão de ingressar no PDT foi tomada somente na madrugada de ontem e comunicada pela manhã à direção do partido. O vereador disse que em nenhum momento das conversas com PDT, PHS, PPS, PSB, PV e PL impôs como condição disputar os cargos de governador ou de senador. Afirmou, no entanto, que é do conhecimento de todos suas pretensões eleitorais para 2002, as quais deverão ser debatidas com o novo partido depois de assinada a ficha de filiação, amanhã, às 19h, no diretório estadual do PDT. Já se passavam 10 minutos do início da entrevista, quando entrou no salão o presidente em exercício do diretório estadual do PDT, Pedro Ruas, acompanhado da mulher, Ângela, e carregando a bandeira do partido e um ramalhete de rosas vermelhas. A flor, principal símbolo dos trabalhistas, também foi colocada na lapela de Fortunati e de sua mulher. Minutos depois chegaram ao local os cinco integrantes da bancada pedetista na Câmara de Porto Alegre, da qual Fortunati agora faz parte e amplia para seis vereadores. Nereu D’Ávila (líder da bancada), Isaac Ainhorn, João Bosco Vaz, Humberto Goulart e Ervino Besson saudaram o novo companheiro e posaram para fotos. Besson entregou mais um ramalhete com cinco rosas vermelhas, e Isaac deu a entender que defenderá a candidatura de Fortunati ao Palácio Piratini. – Rumo a 2002 – disse Isaac. Pesquisas indicam Roseana em ascensão Governadora do Maranhão é a segunda melhor colocada, e Lula continua na liderança A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), é a candidata da base governista mais bem colocada com ou sem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, de acordo com pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) divulgada ontem. De acordo com as diferentes simulações, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), é um nome em ascensão, com apoio suficiente para, pela primeira vez, deixar o partido em igualdade de condições para negociar a composição da chapa presidencial com o PSDB, principal parceiro na aliança governista. Em todos os casos, Roseana obtém o dobro das intenções de voto conseguida pelo ministro da Saúde, José Serra, o tucano melhor situado perante o eleitorado. Em duas das cinco simulações propostas, Roseana aparece em segundo lugar, superando o pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, e o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB). O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, continua liderando as pesquisas. Os percentuais de apoio oscilam entre 30% e 33%, indicando que as intenções de voto no petista se estabilizaram nessa faixa, considerando-se sondagens anteriores. Outra pesquisa divulgada ontem, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), feita pelo Instituto Sensus, também aponta Roseana como segunda colocada, empatada tecnicamente com Ciro. No entanto, as intenções de voto para Serra caem pela metade em relação ao mês passado. Em agosto, Serra tinha 8,4%. O índice caiu para 4,2%. No mesmo período, a pesquisa aponta o crescimento de Lula, de 27,9% para 31,3%, e de Roseana – de 11,2% para 14,4%. Ciro e Itamar ficam com 12% e 10,6%, respectivamente. A pesquisa da CNT entrevistou 2 mil pessoas entre os dias 14 e 20. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Fogaça rejeita convite para ser ministro Com o aval da cúpula do PMDB, FH convidou o senador para a vaga de Ramez Tebet no Ministério da Integração Convidado ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para ocupar a vaga de Ramez Tebet no Ministério da Integração Nacional, o senador José Fogaça recusou a proposta. A oferta foi feita durante um encontro entre os dois, realizado à noite, no Palácio do Alvorada. Ao sair da reunião, Fogaça disse que apenas foi sondado pelo presidente. A indicação de Fogaça para a pasta da Integração teve o aval do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, e do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), integrantes da cúpula do PMDB. – Eu fiquei surpreso que, agora, a cúpula do PMDB tenha indicado o meu nome, já que o presidente sempre sinalizou que gostaria de contar comigo no ministério. Se eu aceitasse o cargo no momento em que meus companheiros estão deixando a sigla, eu seria um crápula – reagiu indignado, referindo-se à saída do ex-governador Antônio Britto e um grupo de deputados para o PPS. Fogaça fez questão de afirmar que não guarda mágoa do presidente, mas sim da cúpula do PMDB que sempre vetou seu nome para ocupar um ministério. – Isso, agora, parece barganha – disse. Na avaliação do senador, o convite para ocupar o ministério só foi feito numa tentativa de evitar que deixe o PMDB. A indicação de seu nome só agravou sua situação interna, afastando-o ainda mais do partido. Fogaça ainda não digeriu a derrota que sofreu no PMDB, que preferiu indicar o senador Ramez Tebet (MS) como candidato do partido à presidência do Senado. Ele e o senador Gerson Camata (ES) eram inicialmente os preferidos do Planalto, mas a cúpula do PMDB não aceitou e decidiu lançar Tebet, que também teve o aval de FH. Durante todo o dia, o senador tentou evitar o convite, enviando recados ao Planalto e insinuando que não aceitaria o cargo. O PSDB, agora, fará uma investida na tentativa de atrair Fogaça para o ninho tucano. Seria uma forma de compensar a maior defecção ocorrida no PMDB do Rio Grande do Sul. Na avaliação do Planalto, a saída do grupo de Britto acabou reforçando a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. Fogaça tem simpatia por Serra, o provável candidato do PSDB à sucessão de FH. Ontem pela manhã, Serra telefonou para o senador gaúcho, convidando-o para ingressar no PSDB. O ministro, que contava com a adesão de Britto e seus aliados, passou a jogar todas as fichas em Fogaça. À tarde, escalado por FH e Serra, o presidente do PSDB, José Aníbal, também manteve contato com o senador. Fogaça disse que está avaliando os convites do PSDB e do PPS. Mesmo tendo se queixado do tom das críticas feitas pelo senador Pedro Simon a Britto, os dois ontem conversaram rapidamente durante o lançamento do livro sobre o líder trabalhista Alberto Pasqualini. Simon, que organizou a obra, está convencido de que Fogaça não deixa o partido e sonha – se vencer a prévia que indicará o candidato do partido à Presidência – convencê-lo a disputar o governo do Estado. Concorrer ao governo não está nos planos de Fogaça, que fala até em largar a vida pública. O senador não esconde que tem mais afinidade com líderes do PSDB no Congresso do que com alguns parlamentares do PPS. Além disso, não gostaria de fazer oposição a Fernando Henrique. O problema é a falta de estrutura do PSDB no Estado, que tornaria inviável sua candidatura à reeleição. Dissidentes repudiam ataques de Simon a Britto Reunidos pelo ex-governador Antônio Britto no Hotel Umbu, na Capital, cerca de 150 prefeitos, vereadores e dirigentes partidários do Interior receberam ontem a notícia oficial da saída dos dissidentes do PMDB para o PPS. Durante a reunião, os participantes – na maioria, coordenadores da campanha do deputado estadual Paulo Odone à presidência estadual do PMDB – repeliram as críticas do senador Pedro Simon a Britto. Além de chamar Britto de traidor, o senador ainda insinuou que o ex-governador teria recebido dinheiro para deixar de apoiar sua candidatura à Presidência da República. Procurado, Britto preferiu não se manifestar publicamente sobre o assunto, mas prometeu romper o silêncio hoje, durante a entrevista coletiva em que vai anunciar sua saída do partido. Simon disse ontem que se expressou mal quando afirmou não saber “por quanto nem por que” Britto teria trocado sua candidatura pela de Ciro Gomes. Segundo o senador, ele queria dizer que não sabia quantos estavam saindo. Os deputados Paulo Odone e Cézar Busatto rechaçaram as declarações de Simon. No programa Atualidade, na Rádio Gaúcha, Busatto fez um desabafo: – Simon incorporou um espírito fundamentalista, um espírito autoritário que é completamente contrário a sua história, a sua biografia. Um cristão, nesta hora, faria um gesto de conciliação. Alusões à religiosidade de Simon, integrante da Ordem Terceira de São Francisco, serviram de mote para o deputado, que chegou a comparar Britto a uma “ovelha desgarrada”. – Simon é cristão e, em vez de expulsar os vendilhões do templo, que estão ao seu lado, em Brasília, joga suas baterias contra, quem sabe, uma ovelha desgarrada, sim, mas que não tem nada a ver com os verdadeiros homens que estão destruindo e vendendo o partido ao seu lado no Senado, dizendo até ser aliados seus – disse Busatto. Para Paulo Odone, que se considera um dos que mais lutaram pela permanência do grupo no partido, quem traiu primeiro foi Simon ao apoiar Cezar Schirmer na disputa pela presidência do PMDB estadual: – Pedi que ele ficasse de lado na briga entre Britto e o ministro Eliseu Padilha, mas no dia da eleição publicou nos jornais um anúncio com os dizeres “Sou PMDB, sou Schirmer”, como se o outro, Odone, não fosse PMDB. Ele me expulsou no dia 6 de maio (data da eleição do presidente estadual do PMDB, vencida por Schirmer). Máquinas estão paradas por falta de recursos Projeto que pedia suplementação de verba para a patrulha agrícola foi reprovado Máquinas paradas por falta de combustível e faixas de protesto foram colocadas ontem em frente à prefeitura de Carlos Gomes, município com 1.913 habitantes localizado no Alto Uruguai. Um projeto pedindo suplementação de verba para que a patrulha agrícola pudesse realizar serviços no interior do município foi rejeitado pelos vereadores da oposição, que têm maioria na Câmara de Vereadores. A verba destinada no orçamento de Carlos Gomes para as despesas com material de consumo da Secretaria da Agricultura era de R$ 6,6 mil para este ano. Conforme o prefeito Euzébio Kolassa (PT), o valor, insuficiente, precisava ser complementado por uma verba de mais R$ 7 mil para que os serviços continuassem a ser prestados. Por isso, a prefeitura enviou projeto à Câmara de Vereadores, pedindo a suplementação orçamentária de R$ 25 mil – R$ 7 mil destinados à agricultura e os restantes R$ 18 mil para a pasta de Administração, que cobririam despesas como o aluguel do centro administrativo. O projeto foi rejeitado pelos vereadores na reunião realizada no dia 21 de setembro. Sem dinheiro para continuar a prestar o serviço, ontem as máquinas foram estacionadas em frente à prefeitura municipal como forma de protesto. – Tudo o que temos em caixa são R$ 39 – reclama o prefeito Euzébio Kolassa. Conforme o prefeito, cerca de 395 propriedades rurais do município estão deixando de ser atendidas pela patrulha, em plena época de plantio de milho, de soja e de feijão. Pelo serviço, que é subsidiado em 50% pela prefeitura, os produtores pagam o valor R$ 15 por hora. O presidente da Câmara, Isidoro Honoski (PT), diz que os cinco vereadores do PFL não têm justificativa para rejeitar o projeto e estariam fazendo oposição com o intuito de atrapalhar a administração municipal. Artigos É isto um homem? ABRÃO SLAVUTZKY É isto um Homem? Esta pergunta é o título do primeiro livro de Primo Levi, o mais famoso escritor do Holocausto. Como sobrevivente de Auschwitz, este judeu italiano fez uma pergunta neste livro que é impossível esquecer, que tem na sua origem a pergunta sobre a maldade humana, a força imperiosa que leva o homem à guerra uma e outra vez, como se fosse impossível para a humanidade viver em paz. Sempre é difícil pensar que os ideais proféticos de Isaías quando escreveu que as espadas e lanças seriam transformadas em arados e o lobo dormiria com o cordeiro são um sonho impossível, como se fosse uma utopia. Elias Canetti passou 35 anos estudando a guerra, o comportamento das massas e o poder, o que deu origem ao seu mais famoso livro que leva este título: Massa e Poder. Decidi rever seu livro a partir do dia 11 de setembro, quando os ataques terroristas chegaram ao coração de Nova York e Washington. Além do que, a resposta americana é uma declaração de guerra e fica o mundo aguardando as notícias de mais uma guerra. Que escreveu Canetti sobre a guerra? As guerras podem durar tanto tempo porque atendem ao instinto profundo da massa, que resiste a tudo que tende a desintegrá-la. Esses sentimentos são às vezes tão fortes que os homens preferem correr juntos em direção à ruína do que reconhecer a derrota e experimentar, assim, a desintegração de sua própria massa. Seu livro é um longo tratado sobre o comportamento humano quando se faz parte de uma massa. Antes dele, 1921, já havia Freud escrito sobre psicologia das massas, bem como Wilhelm Reich seu Psicologia de Massas do Fascismo. Todos angustiados com o comportamento humano e suas pulsões tanáticas. Escrever, ver, falar são formas de tentar dar sentido a uma catástrofe Quanto se tem escrito e visto sobre o dia 11 de setembro, um dia para nunca mais ser esquecido! Escrever, ver, falar é uma forma de tentar dar sentido a uma catástrofe, porque estamos frente à primeira catástrofe do milênio. Um amigo relatou a cena de suas filhas pequenas vendo a televisão e ficando perplexas com os aviões entrando nos edifícios, o fogo, a queda, e pessoas se atirando para a morte num último ato desesperado de vida. Lembro de um que tentava se agarrar no vazio com movimentos de braços. O que pensar? Difícil, se não se buscam respostas rápidas e superficiais, pois como tão bem demonstrou Zygmunt Bauman em seu Modernidade e Holocausto, as grandes tragédias que os homens produzem são uma manifestação terrível mas pontual de um barbarismo humano persistente da modernidade. A II Guerra fez parte da evolução da sociedade moderna, assim as indústrias dos campos de concentração tinham como matéria-prima os seres humanos e os ferrocarris levavam seres humanos, assim como as câmaras de gás foram produzidas pela indústria química alemã. Hoje, quase 60 anos após, os ataques terroristas sincronizados foram possíveis porque a tecnologia permitiu. Para quem faz o mal, ele não é mal, ou é um mal a serviço do bem, de um poder divino, ao serviço da pátria ou de uma ideologia. Assustador é quando os crentes tomam o combate e a morte como a expressão mais adequada da vida. Será que os americanos pensam que vão destruir os terroristas? Mas não fazer nada é possível? Os caminhos que poderiam desenhar um mundo diferente no qual a paz e a justiça social dominassem não segue sendo uma utopia profética? No meio de tantas perguntas, uma metáfora de Italo Calvino, afinal o que o mundo viveu foi um inferno. “O inferno dos vivos não é algo que será; se existe é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é mais fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”. A última pergunta: o que neste momento seria o não-inferno? Doença grave CÂNDIDO NORBERTO A tragédia que se abateu sobre os Estados Unidos é fruto do fanatismo religioso, político, econômico ou do quê? Quem jura pela honra materna que sua opinião a respeito do momentoso tema é incontroversa, que é a única cabível? No que me concerne, prefiro ficar de bico calado, sem temor de vir a ser considerado um perfeito idiota. O único juízo que emito a respeito é de que o comportamento dos planejadores e executores dos tremendos crimes praticados em Nova York e em Washington foram movidos por esse impulso repugnante e imperdoável chamado fanatismo. Impulso odioso, execrável, doentio. Não é por outro motivo que estou me empenhando para não cometer a incongruência de dizer que sou fanático inimigo do fanatismo... De todo o tipo de fanatismo, sejam quais forem as formas que assuma para se manifestar, os motivos que o inspirem, as razões que sejam invocadas para justificá-lo. Para com ele, tolerância zero. Assim não somente para o fanatismo do porte desse que vem sendo considerado o maior. O mais odioso de todos os tempos. Vale o mesmo também para aquele que domina a cabeça de, por exemplo, alguns torcedores de futebol – desses que, ao deixarem os estádios revoltados com a derrota de seus times, agridem aficionados de outros clubes, depredam ônibus e praticam mais estripulias do gênero. Do fanatismo político e/ou religioso prefiro nem falar. Fanatismo é doença gravíssima, e não vejo nenhuma razão para alguém gostar de qualquer tipo de doença Fanatismo é doença gravíssima, e não vejo nenhuma razão para alguém gostar de qualquer tipo de doença. Sem pretender estabelecer relação do que acabo de dizer com o pequeno comentário que farei a seguir, não posso deixar de registrar minha preocupação e inconformidade com pelo menos quatro afirmativas que o presidente George W. Bush fez em seus justamente indignados discursos pós-atentado terrorista sofrido pelo seu grande país. A número um: “Está iniciada a primeira guerra do século 21”. A número dois: “Esta será a guerra do bem contra o mal”. A número três: “Será uma guerra infinita”. A de número quatro: “Ou vocês estão conosco ou estão com os terroristas”. Despropositadas as três primeiras. Arrogante, prepotente e – relevem-me os leitores – burra esta última. Tão assim que essa ameaça nada velada, antes clamorosa, que até bem poderia ser interpretada como um ato de terrorismo verbal e mesmo como uma espécie de “crê ou morre”, para não dizer reveladora de uma mente fanatizada... Um desastrado, esse Mr. George W. Bush. Colunistas ANA AMÉLIA LEMOS O candidato do governo Para o público externo, o presidente Fernando Henrique Cardoso já tem candidato. É o ministro da Saúde, José Serra, que, diga-se de passagem, está coletando resultados positivos de uma gestão ousada (a briga com os grandes laboratórios) e criativa (os genéricos, a bolsa-alimentação e o cartão de identificação do usuário do SUS). Para seus interlocutores, entretanto, o presidente mostra a admiração imedida por dois auxiliares muito próximos: os ministros Pedro Malan, da Fazenda, e Raul Jungmann, da Reforma Agrária. “O dia em que a nação souber tudo o que o ministro Malan está fazendo para beneficiar o país, descobrirá todas as suas virtudes e qualidades”, disse a um político de Goiás, recentemente. Referências muito elogiosas também saíram da boca de Fernando Henrique para exaltar a competência e o desempenho do ministro da Reforma Agrária, o pernambucano Raul Jungmann, amigo de Roberto Freire e que um dia já pertenceu aos quadros do PCB. A reverência a Malan não surpreende. Faz muito tempo que o ministro da Fazenda é referido por FH como um homem público exemplar. Para os que gozam da intimidade do presidente, Pedro Malan seria o seu “candidato in pectore” à sucessão presidencial em 2002. No momento, a candidatura Serra está sendo inflada pelos projetos sociais que está lançando. E domingo, num intervalo do Fantástico, o ministro apareceu, em tom coloquial e até informal, para orientar os consumidores sobre os genéricos, que, agora, terão identificação com tarja na embalagem. A presença do ministro não foi só para levar essa mensagem, todos sabem. Assim como o PFL decidiu investir pesado na popularização da imagem da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, obtendo resultados animadores. A estratégia deu certo. Nas últimas pesquisas, a governadora já está tecnicamente empatada com o candidato do PPS, Ciro Gomes. Embora muita água ainda tenha de passar sob a ponte, até a definição das candidaturas governistas à sucessão presidencial, o fato é que Fernando Henrique terá, sim, a última e decisiva palavra sobre isso, quando chegar a hora. Daqui até lá, o presidente trata de buscar, nas camadas pobres da população, as mais assistidas pelo seu governo, o apoio que pode faltar da classe média, em 2002. JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA Uma centro-esquerda “sem arrogância” Ao anunciar seu ingresso no PDT, o vereador José Fortunati propôs a formação de um novo pólo político de centro-esquerda “sem arrogância, que não se julgue dono da verdade e com real capacidade de diálogo”. Ao falar sobre sua opção pelo partido de Brizola, o ex-petista atirou para a esquerda e para a direita, propondo um projeto que não sucumba nem à lógica tecnocrática, nem aos subterfúgios ideológicos. Fortunati centrou sua preocupação na grave crise social, criticando a “frieza tecnocrática”, que “traduz a crise social em números e a submete a balanços de contabilidade”, e a “frieza ideológica”, que “transfere responsabilidades, diz que a culpa é do FMI e do governo federal, e pouco faz para que esta realidade seja modificada”. Arara azul Olívio Dutra viveu ontem um dos momentos mais emocionantes de sua administração, faltando 48 horas para completar mil dias como governador, data histórica a ser comemorada nesta quinta-feira, quando também estarão faltando 460 dias para o término do mandato. Olívio inaugurou dois ramais da Sulgás, um deles na GM. Depois da inauguração, Olívio percorreu pela primeira vez a linha de montagem da GM. A primeira-dama, dona Judite, fez questão de colocar o boné do projeto Arara Azul, da montadora. A secretária Dilma Roussef, de Minas e Energia, se protegeu do sol durante discurso do governador, num dia em que a Sulgás, comandada por Giles Carriconde, atingiu sua maioridade. Maioria aprova saída A saída do grupo de dissidentes do PMDB foi aprovada por 51% dos 2.744 ouvintes que telefonaram para o programa Polêmica, da Rádio Gaúcha. Participaram do debate Luis Roberto Ponte e Mendes Ribeiro, pelos que permanecem no PMDB, o deputado Mário Bernd e a vereadora Clênia Maranhão, pelos que deixam hoje o PMDB. Egresso da Arena, Mendes Ribeiro fez uma peroração em defesa da fidelidade partidária. Quebra de sigilo no PPS O deputado Bernardo de Souza, líder do Partido Popular Socialista, se antecipou ontem ao autorizar a quebra de seu sigilo fiscal, bancário e patrimonial, obedecendo às determinações do Código de Conduta Parlamentar aprovado na semana passada pela executiva do PPS. Gesto idêntico deve ser acompanhado hoje pelo grupo que deixa o PMDB. Ontem, Bernardo recebeu a visita dos líderes do PMDB, Paulo Odone e Mário Bernd, e do presidente da Comissão de Fiscalização, Berfran Rosado, que ingressam terça-feira no partido. Acertaram procedimentos internos na bancada que cresce de um para seis deputados. Filiação – O presidente da Federação dos Servidores Estaduais, Sérgio Arnoud, assinou ficha ontem no PPS acompanhado de 50 sindicalistas. Bogo decide até domingo O ex-vice-governador Vicente Bogo decide até domingo sua nova opção partidária, uma escolha que vai recair no PDT ou no PMDB. Bogo pretende ingressar num partido que venha a construir uma alternativa para o Estado, que apresente uma política de "convergência e não de exclusão" e que "resguarde valores éticos". Conversa sexta-feira com Brizola e sábado com Simon. RS perde ministério Numa articulação da cúpula nacional do PMDB, com aval de Pedro Simon, o senador José Fogaça foi indicado ontem pelo partido para ser ministro da Integração Nacional, cargo até a semana passada ocupado por Ramez Tebet. Com a negativa de Fogaça, o RS perdeu o comando de um ministério. Tarso apóia Ferreira Tarso Genro decidiu apoiar Paulo Ferreira, do PT Amplo, que disputa com David Stival, da Articulação de Esquerda, a presidência do diretório estadual do PT em segundo turno. Tarso alega "ligação histórica” com o Amplo para sua opção, com o cuidado de não desqualificar Stival, pela importância decisiva que terá a Articulação na escolha do candidato a governador. O prefeito de Porto Alegre disse à Página 10 que pretende cumprir os quatro anos do mandato, mas ressalva que o partido deve escolher como candidato a governador quem tem melhores condições para a vitória. Tarso deve decidir até dia 2 de dezembro, data para registro no PT, se será candidato. Será. Mirante • O ministro Padilha deu uma sinuca de bico no senador Fogaça com a indicação de seu nome para o ministério. Lance de mestre. • Guerino Pisoni, ex-vereador, quase virou senador. É o suplente de Fogaça. Caxias teria dois senadores na cruzada contra Britto. • Ao anunciar seu ingresso no PDT, Fortunati deu o tom da campanha. Vai endurecer com o PT, sem perder a ternura. • Dezoito deputados estaduais viajam hoje para Curitiba em avião da FAB para visitar o Sistema de Controle Aéreo da Região Sul. É a esperança dos suplentes, na ida e na volta. • A primeira conseqüência do racha no PMDB: a bancada estava acéfala em plenário ontem. Ganhou o governo. • De Ciro Gomes, ofendido sobre a insinuação de Simon de que teria comprado o apoio de Britto: “Depois que passou a andar com Eliseu Padilha, Simon passou a raciocinar em ‘por quanto’. E ele sabe que não é o caso do Britto, nem meu”. • Na mesma linha, Celso Bernardi responde a Simon que criticou o PPB: “O PPB não é um partido de direita. É um partido de gente direita”. ROSANE DE OLIVEIRA A hora do adeus O tamanho do rombo no PMDB não será medido exclusivamente pelo número de líderes que se transferem hoje para o PPS. Prefeitos e vereadores sem pretensões eleitorais em 2002 não precisam correr para trocar de partido. Os dissidentes do PMDB saíram a campo para tentar conquistá-los antes mesmo de mudar para a nova casa. Se conseguirão, é outra história. O prestígio do senador Pedro Simon entre os prefeitos e vereadores ainda é muito grande. O deputado Cézar Busatto contou ontem no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, que em suas andanças pelo Interior tem recebido apelos para ficar. Que sua base, seu coração, sua história, seus sentimentos e seus afetos pedem para continuar no PMDB, mas que depois das entrevistas do senador Pedro Simon tem todos os motivos para ir embora. Simon queimou as pontes que poderiam permitir o recuo de alguém que decidisse ficar na última hora, mas a saída já estava decidida. O grupo que está saindo aposta mais nos votos dos eleitores do PMDB em Antônio Britto, se ele for candidato, do que na adesão em massa ao PPS. Um dos deputados lembra que em duas eleições presidenciais o PMDB votou em outros candidatos, apesar de ter o seu. Em 1994 o candidato era Orestes Quércia, um nome indigesto para os que se definiam como éticos e preferiram o tucano Fernando Henrique Cardoso, mas em 1989 o desprezado foi Ulysses Guimarães, um ícone do MDB. A estratégia do PMDB de segurar o senador José Fogaça indicando-o para o Ministério da Integração poderá precipitar sua saída. Fogaça passou sete anos sendo cotado para entrar no ministério a cada vaga que se abria. Foi convidado com o aval da cúpula do PMDB num momento em que PPS e PSDB tentam atraí-lo. Ontem, já chegou ao Palácio da Alvorada decidido a não aceitar o convite, apesar de ser um admirador do presidente Fernando Henrique. Essa admiração é um dos empecilhos a sua transferência para o PPS. Fogaça não se sentiria à vontade no bloco da oposição. Editorial O mal-estar mundial As imagens de tropas em movimentação e os debates sobre retaliações militares mostram que o mundo está definitivamente envolvido num clima de guerra, o que lamentavelmente ocorre no início de um século e de um milênio cuja inauguração, há poucos meses, foi marcada por uma avalanche de esperanças e de boas intenções. Quando se dizia, no balanço do século 20, que ele fora um dos períodos mais belicosos da humanidade, com duas grandes guerras, com genocídios e desumanidades que se multiplicaram desde as experiências nazistas até a terrível situação dos povos da África subsaariana, com o desrespeito à vontade das maiorias e com a geografia democrática confinada a apenas uma parcela minoritária da população, o mesmo ocorrendo com relação a direitos básicos de mulheres, crianças, minorias raciais etc., quando tudo isso era registrado na passagem do século, esperava-se que o futuro fosse abolir para sempre os fantasmas da insegurança, da irracionalidade, da ignorância, do obscurantismo e da miséria. Infelizmente, antes do fim do primeiro ano do novo milênio, aí está a humanidade sacudida pelo terrorismo e temerosa em relação ao futuro imediato. Há, nesse contexto mundial tumultuado, um fato recente e significativo. Trata-se da surpreendente declaração pela qual o Vaticano legitima a decisão norte-americana de recorrer ao argumento das armas. Quando o porta-voz de uma instituição como a Igreja Católica, tão preocupada com a manutenção da paz, declara que é compreensível que se parta para o uso da força militar como autodefesa da sociedade, tem-se a dimensão da ameaça que a ação terrorista representa para a comunidade mundial. A reação bélica não pode cometer o mesmo pecado de insensatez que levou à morte milhares de inocentes O desafio dos Estados Unidos e de seus aliados é, neste momento, o de transformar essa quase unanimidade da opinião pública – que o governo norte-americano agradeceu em anúncios publicados ontem em jornais de todo o mundo – numa força capaz de não apenas chegar à raiz do terrorismo e destruir as fontes nas quais se nutre, mas também fazê-lo dentro de padrões civilizados, tendo como meta a construção de um ambiente mundial que desestimule o renascimento da covardia anônima do terror e seja capaz de lançar os pilares de uma ordem internacional mais justa. Mesmo legitimada como uma defesa necessária da sociedade humana e mesmo sendo firme e determinada, a reação bélica não pode ser exorbitante nem cometer o mesmo pecado de insensatez praticado pelos que destruíram as torres gêmeas e provocaram a morte de milhares de inocentes. Embora a experiência da História não venha sendo muito fértil em relação a gestos de generosidade capazes de provocar mudanças realmente benéficas para todos, o momento mundial exige que pelo menos se discuta a necessidade de que tais gestos ocorram e que a intolerância e o egoísmo de povos, regiões ou grupos dêem lugar ao trabalho conjunto em torno da eliminação das raízes da violência e do mal-estar da civilização. Em causa própria Recém afastado da presidência do Senado, pressionado pela iminência de processo a ser instaurado pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) acaba de ser obsequiado com uma cadeira na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. A indicação feita por seu colega Renan Calheiros (PMDB-AL) beira o absurdo, já que nesse órgão técnico da Câmara Alta tramita recurso do próprio representante paraense pedindo mais espaço de defesa no Conselho de Ética. Em posição minoritária, dificilmente o ex-presidente do Senado terá condições de reverter o curso das múltiplas investigações de que vêm sendo alvo. A iniciativa, porém, constrange o Congresso e contribui para um desgaste ainda maior da própria política brasileira. Depois da sucessão de denúncias de irregularidades envolvendo seu comandante anterior, recém o Senado conseguiu superar as divisões internas que quase colocaram em risco a eleição do senador Ramez Tebet (PMDB-MS). A polêmica decisão tomada agora, portanto, ocorre num momento em que o Congresso, sob novo comando, reúne condições para retomar credibilidade perante a opinião pública graças justamente à sua atuação. Mesmo que não venha a implicar favorecimentos na prática, a indicação fere princípios éticos elementares. Teoricamente, o ex-dirigente do Congresso poderá votar matéria que envolve seus próprios interesses. Mais: o cargo lhe faculta até mesmo a possibilidade de protelar o andamento do expediente mediante manobras regimentais, o que implicaria adiar indefinidamente a abertura do processo sobre denúncias nas quais aparece como suspeito. O Senado poderia ter poupado a nação de mais esse espetáculo de baixo corporativismo É deplorável a freqüência com que, num país em franco processo de aperfeiçoamento da democracia, equívocos desta natureza contribuem para reforçar distorções inadmissíveis do jogo político. No caso específico, a polêmica indicação para uma comissão importante do Senado conseguiu desagradar até mesmo a parlamentares integrantes do próprio PMDB. Fica evidente, portanto, o quanto decisões desta relevância acabam sendo tomadas de acordo com as conveniências pessoais, desrespeitando as próprias instâncias partidárias e evidenciando a falta de consistência das agremiações políticas. Depois da enorme sucessão de escândalos de todos os calibres que o vem abalando há meses, o Senado poderia ter poupado a nação de mais esse espetáculo de baixo corporativismo. Resta à sociedade esperar que a superação dessa fase possa resultar finalmente no fortalecimento do Legislativo, num momento em que as tensões mundiais ditadas pelo combate ao terrorismo impõem a necessidade de instituições fortes. Topo da página

09/26/2001


Artigos Relacionados


Assembléia aprova piso mínimo de R$ 300,00

Assembléia homenageia servidores militares do Estado

Assembléia aprova novos valores do mínimo regional

Assembléia aprova novos pisos salariais para trabalhadores do Estado

Assembléia aprova proibição do amianto no Estado

Assembléia aprova criação de 89 novos cargos de procuradores do Estado