Assembléia de SP também tenta votar pacote



Assembléia de SP também tenta votar pacote Feldman quer, em um mês, cortar extras e criar prestação de contas para verba de gabinete No prazo de um mês a versão paulista do pacote ético deve tornar obrigatória a prestação de contas sobre a verba de gabinete (R$ 12 mil mensais) dos deputados estaduais. É essa ao menos a promessa do presidente da Assembléia Legislativa, Walter Feldman (PSDB), que garante ainda acabar com o abuso de sessões extraordinárias em 15 dias. Criadas para garantir a votação de projetos importantes, na prática, as extras foram banalizadas e funcionam como 14.º salário. Em 2001, até agosto, quem participou desse tipo de sessão recebeu por mês R$ 1,9 mil além do salário devido, R$ 6 mil. "Esses são os nossos cadáveres", admite Feldman. "Não podemos deixar a suspeita de que as sessões extraordinárias sejam complemento de salário. Os deputados já estão convencidos disso, assim como sabemos que é necessário rever o decreto legislativo que criou a verba de gabinete." A verba foi criada para cobrir despesas do "exercício do mandato", como gastos com combustível e correio, mas não há nenhum controle sobre a aplicação desse dinheiro. Agora, uma nova resolução elaborada em acordo com todos os partidos deve tornar obrigatória a prestação de contas. Os parlamentares começaram a limpar a pauta das sessões ordinárias - obstruídas por veto do governador, que tem prioridade de votação - na semana passada. De cerca de 140 vetos, 72 ainda precisam ser apreciados, o que deve ocorrer até o dia 20. A partir daí, segundo a presidência, serão realizadas sessões extraordinárias apenas em "casos imprescindíveis". A operação desencadeada para limpar a imagem da Assembléia ainda inclui a criação de roteiros temáticos de votação. A primeira experiência deve começar hoje. Os deputados reuniram dez projetos de todos os partidos que tratam de defesa do consumidor e querem votá-los em bloco. Um dos ítens mais polêmicos do pacote ético da Câmara já é prática comum no Legislativo paulista. A publicação das declarações de renda e bens dos deputados é obrigatória para cargos eletivos em São Paulo desde a Constituição de 67. A Assembléia tem código de ética desde 94 e aprovou o fim do voto secreto em junho. Código de Ética impõe restrição a investigações Emenda determina que abertura de inquérito contra deputado depende de provas, e não indícios BRASÍLIA – Depois de quase dez anos de discussão, a Câmara aprovou ontem o texto básico de seu Código de Ética e Decoro Parlamentar – e fez valer o corporativismo logo no início da votação das propostas de mudança na redação. A primeira emenda criou dificuldades para a abertura de investigação contra qualquer deputado, ao estabelecer que indícios não serão suficientes: a prova terá de vir antes do início do processo. A emenda que limita os inquéritos frustrou os mais empenhados defensores do código. O líder do PT, Walter Pinheiro (BA), por exemplo, disse que a modificação tornou inócuo o trabalho do Conselho de Ética da Câmara antes mesmo de sua criação. Apesar disso, o presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG), considerou que a aprovação do texto um passo importante. “Foi um avanço histórico, o primeiro na busca de uma nova relação da Câmara com a sociedade”, afirmou. O primeiro projeto de Código de Ética foi apresentado em 1991 pelo então corregedor-geral da Câmara, Waldir Pires (PT-BA). Em setembro de 1992, logo após o escândalo que derrubou o presidente Fernando Collor, o relator da proposta, ex-deputado Mendes Botelho (PTB-SP), dizia que a sociedade exigia aprovação urgente do texto. Mesmo assim, a proposta ficou engavetada durante nove anos. Penalidades – O texto básico do Código de Ética estabelece seis penalidades para os deputados nos casos de quebra do decoro: censura verbal ou escrita, multa, suspensão de prerrogativas regimentais, suspensão temporária do mandato e cassação. A aprovação deu-se em votação simbólica, sem a necessidade de registro no painel eletrônico. Ainda estão em discussão outras medidas do “pacote ético” lançado por Aécio, como o fim do voto secreto e da imunidade parlamentar para crimes comuns . Com a aprovação do código, a Câmara passa a ter, como o Senado, um organismo destinado a julgar os parlamentares por atos incompatíveis com o decoro. Entre eles: abuso de prerrogativas, obtenção de vantagens indevidas, omissão de informações relevantes, ofensas físicas ou morais nas dependências da Casa, desacato a outro parlamentar, uso do cargo para constranger ou aliciar com o fim de obter favorecimento, revelação do conteúdo de debates ou deliberações secretas, divulgação de informações oficiais reservadas, malversação de verbas de gabinete, apresentação de projetos do interesse específico de financiadores de campanha e fraude no registro de presença. A aprovação do Código de Ética exigiu intensas negociações. Um grupo comandado pelo deputado José Dirceu (PT-SP) defendia a criação de uma Comissão Permanente de Ética e Decoro. Mas a resistência era grande. Os deputados Gerson Péres (PPB-PA) e Bispo Rodrigues (PL-RJ) combatiam, em especial, dois pontos do código: a quebra do sigilo bancário e fiscal dos parlamentares e a publicação da lista de seus bens. Chegou-se uma proposta intermediária, segundo a qual o conselho, com 15 titulares e 15 suplentes, só se reunirá em caso de motivação específica. Os documentos com as informações fiscais dos parlamentares serão entregues à Mesa da Câmara e, no caso de processo, reveladas ao Conselho de Ética. Banpará tinha direção paralela, diz ex-presidente BELÉM - Nenhum dos três principais acusados de contribuir para os desvios no Banco do Estado do Pará (Banpará) prestaram depoimento ao senador Romeu Tuma (PFL-SP), integrante da comissão de inquérito do Conselho de Ética. Apenas o ex-presidente do banco Nelson Ribeiro compareceu à audiência e deu indícios de que a instituição - na época em que o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), era governador - tinha duas administrações, sendo que uma servia exclusivamente a Jader. Segundo ele, nesse período a instituição sofreu rombo de R$ 14 milhões. Apesar de Tuma negar, existe a suspeita de que as testemunhas não tenham comparecido por causa a pressão. No fim da semana passada, uma assessora de Jader chegou a pedir à comissão a lista dos depoentes. "Se eles não compareceram na audiência, não poderão escapar dos depoimentos na fase de inquérito policial", disse Tuma. Outro depoimento seria do ex-diretor financeiro do Banpará, Jamil Xaud, acusado de ser o responsável pela emissão de cheques administrativos do banco que foram parar em uma aplicação de Jader no Itaú, no Rio. Xaud teve de passar por exames médicos, mas enviou um fax para Tuma esclarecendo que nada tinha a informar. O depoimento mais esperado era o do diretor do Banpará Hamilton Guedes, que seria o intermediário entre Jader e o banco, mas também não ocorreu. Ofício que incrimina Jader é encaminhado ao conselho BRASÍLIA – O presidente interino do Senado, Edison Lobão (PFL-MA), enviou ontem à comissão de inquérito do Conselho de Ética o ofício da secretaria-geral no qual o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) é acusado de engavetar requerimento de informações ao Banco Central sobre o caso Banpará. “Não há dúvidas de que Jader reteve o pedido por interesse próprio, o que é quebra de decoro”, disse Jefferson Péres (PDT-AM), depois de ler o documento assinado pelo secretário-geral, Raimundo Carreiro. Péres confirmou que Carreiro responsabiliza Jader pela decisão de engavetar, por três meses, o documento. A acusação será incluída no relatório que recomendará a abertura de processo por quebra de decoro contra o senador. O parecer deverá ser votado na semana que vem. O presidente interino do conselho, Geraldo Althoff (PFL-SC), disse ontem que o Senado definirá rápida tramitação do processo. Na semana passada, ele defendia uma segunda fase de análise do caso. Convencido pelos colegas, Althoff eliminou essa etapa. Assim, o conselho aprovará o relatório e vai encaminhá-lo à Mesa do Senado. Se acolhido, estará oficializado o processo por quebra de decoro, que pode levar à cassação. Segundo Althoff, a partir desse momento, Jader não poderá renunciar para evitar a apreciação do pedido. Ontem, estava prevista reunião para que fosse informada aos senadores a prorrogação dos trabalhos da comissão de inquérito até o dia 17. PMDB governista arma novo boicote a Itamar Aliado a independentes, grupo quer esvaziar reunião do conselho hoje sobre candidatura BRASÍLIA - Os governistas e independentes do PMDB que rejeitam a candidatura a presidente do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, vão boicotar a reunião do Conselho Político do partido esta tarde. O encontro de ministros, governadores e presidentes dos diretórios regionais foi convocado pelo presidente interino do partido, senador Maguito Vilela (GO), com o objetivo de antecipar para outubro a escolha do candidato peemedebista à Presidência. "O Conselho Político está esvaziado e eles não terão quórum para deliberar nada", garantiu ontem o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Maguito, porém, insiste na necessidade de o partido ouvir seus conselheiros. "Quero fazer meu alerta de que prévias em janeiro para escolher o nome do partido é a desistência da candidatura própria", teima. Para governistas e independentes anti-Itamar, no entanto, não faz sentido trazer a cúpula partidária a Brasília duas vezes na mesma semana, já que a convenção nacional está marcada para domingo. "Não tem lógica", cobrou Geddel. Mais do que lógica, a razão do boicote de hoje é política. "Vamos mostrar logo que eles não têm maioria para nada", anunciou o líder, referindo-se ao grupo que defende o rompimento já com o governo e apóia as candidaturas de Itamar ao Palácio do Planalto e de Maguito à presidência do partido, contra o deputado Michel Temer (SP). Parceiro do governador mineiro nessa briga, o ex-presidente do partido Paes de Andrade (CE) admite que não será fácil reunir quórum esta tarde: "Agora é esperar a convenção." Não é o clima de espera, porém, que prevalece. A quatro dias da convenção, acirram-se a animosidade e o confronto. Tanto que os partidários da candidatura de Temer começaram a articular a destituição de Maguito do comando do partido e da convenção de domingo. TV - Ontem, eles ficaram furiosos quando descobriram que Maguito e o grupo de Itamar negociaram com o PL o tempo reservado para a inserção de três comerciais do partido em horário nobre na TV. Na distribuição da Justiça Eleitoral, o PL tinha três inserções de 30 segundos cada uma nesta semana. O PMDB poderia fazer seus 60 comerciais só a partir de outubro, já sob o comando do presidente a ser escolhido na convenção. "Ele pegou nosso tempo de TV e barganhou com o PL sem consultar ninguém", protestou Geddel. "Maguito acertou tudo com Itamar e nem eu, que sou o tesoureiro nacional do partido, tenho conhecimento do que vão dizer na TV", completou o deputado Eunício Oliveira (CE). Indignados com o que consideram uso político do cargo de presidente, os adversários de Maguito oficializaram na presidência do partido requerimento para que ele a desocupe e fique apenas como candidato. No documento, assinado por 18 dos 27 presidentes de diretórios estaduais do PMDB, cobra-se do presidente do partido exatamente a posição ética que ele reclamou dos ministros peemedebistas na semana passada, ao denunciar a interferência do governo na disputa. "O requerimento não tem força legal", admite Geddel. "Mas neste caso vale o constrangimento." PT é acusado de explorar imprensa oficial Donos de gráficas do Estado acusam governo de prestar serviço de graça para petistas CAMPO GRANDE - O Ministério Público de Mato Grosso do Sul investiga denúncia de que o Estado está usando sua gráfica para imprimir folhetos, jornais e panfletos para o PT, o partido do governador José Orcírio Miranda dos Santos, conhecido como Zeca do PT. O grupo de 21 proprietários de gráficas, que encaminhou a denúncia, sustenta que a Agência da Imprensa Oficial de Mato Grosso do Sul (Agiosul) estaria oferecendo serviço de graça para diretórios, prefeituras e vereadores petistas e também para organizações não-governamentais (ONGs) e entidades filiadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT). A queixa inclui uma lista dos últimos trabalhos da gráfica oficial - que, segundo os empresários, custariam R$ 400 mil se tivessem sido feitos pela iniciativa privada. Na lista do material impresso destacam-se 150 mil exemplares do jornal Painel Popular, 6 mil unidades do jornal Amor Exigente (uma ONG que cuida de dependentes de drogas), 5 mil itens do Informativo do PT, 1 milhão de exemplares do Jornal do Plebiscito (da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB), 20 mil panfletos do diretório do PT em Coxim, a 231 quilômetros de Campo Grande, além de 3 mil folhetos e crachás para o Congresso Sindical do Trabalhador Público em Saúde. As informações foram dadas pelo presidente do Sindicado das Indústrias Gráficas de Mato Grosso do Sul, Pedro Santos Teixeira. Antes de tomar outras providências, ele prefere esperar os resultados das investigações, que serão comandadas pela Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público. Teixeira disse que a gráfica oficial estaria, também, repassando trabalhos para empresas particulares. "Nós temos de defender nossas empresas desse tipo de agressão", afirmou. "O governo não pode realizar esse tipo de trabalho sem concorrência pública e, muito menos, terceirizando o setor." Resposta - O chefe da Casa Civil do Estado, Ben-Hur Ferreira, rebateu as acusações com o argumento de que "existe um lobby" das gráficas para que o governo repasse mais serviço a elas. "Não vamos nos furtar a investigar esta denúncia, mas seria uma sandice de nossa parte rodar informativos para o PT", observou o secretário. Ferreira admitiu que, eventualmente, a Agiosul pode ter prestado serviço de graça para a CNBB ou entidades do movimento popular. "De qualquer forma, esse lobby dos empresários é antigo, anterior até ao governo do Zeca", concluiu. Ciro repete fórmula de FHC e se reúne com empresários Há 2 meses, candidato do PPS havia criticado encontro do presidente com dirigentes paulistas Dois meses depois de ter criticado um jantar entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e alguns empresários em São Paulo, quando comparou o encontro a uma"reunião da Oban" (a Operação Bandeirantes, organização paramilitar criada durante o regime militar para combater a luta armada no País), o presidenciável Ciro Gomes (PPS) resolveu seguir a mesma fórmula. Na segunda-feira à noite, ele jantou com cerca de 20 dirigentes empresariais na casa do deputado Émerson Kapaz (PPS-SP), em São Paulo. O encontro agradou aos convidados, que entraram desconfiados com as críticas do presidenciável e saíram com a impressão de um candidato mais maduro. "Acho que ele amadureceu, porque esse jantar foi semelhante ao do presidente", comentou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abhpec), João Carlos Basílio da Silva. "Ciro tem um discurso apaixonado, mas deu para sentir que é uma pessoa equilibrada." Em linhas gerais, as propostas de Ciro soaram bem aos ouvidos de comensais que representam boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Entre os presentes estavam os presidentes da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva, e da Bovespa, Raimundo Magliano. Propostas - O candidato defendeu um novo modelo tributário, com o fim do imposto retido na fonte a ser compensado pelo estímulo à poupança; o desconto na Previdência sobre o faturamento das empresas; reforma política, com financiamento público de campanhas, plebiscitos e parlamentarismo em 2006; e cumprimento de todos os contratos de privatização. "A impressão geral foi muito boa, mas é preciso ver como ele conseguirá viabilizar essas propostas", avaliou Basílio. Uma das dificuldades, lembra o empresário, será adaptar esse programa aos discursos de alguns eventuais aliados, como o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), e o ex-governador Leonel Brizola (PDT). "A defesa dos processos de privatização nada tem a ver com o que Itamar e Brizola falam', comparou. "É preciso ver, então, se essas alianças não vão se tornar uma camisa de força." Governador ataca presidente com tese de fraude eleitoral No Rio, Itamar diz que FHC seria “capaz de tudo” para eleger seu candidato em 2002 RIO – O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), acusou ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso de ser “capaz de tudo”, até de fraudar as eleições para garantir a vitória de seu candidato. “O presidente não quer perder o comando do País. E quem não quer perder o poder vai usar todas as armas”, disse. “A arma seja da corrupção, seja da tentativa de mudar o processo eleitoral e até de manipular as urnas eletrônicas.” Ele voltou a dizer que Fernando Henrique está intervindo em seu partido para evitar que seja escolhido candidato à Presidência. Segundo Itamar, um presidente que intervém em um partido da forma “heterodoxa” como ele, não hesitaria em adulterar o resultado do pleito. Fernando Henrique também foi acusado de tentar criar um modelo de partido único, como era o do México. “E as oposições não estão percebendo. O principal partido da oposição ainda não teve consciência de que, se faz isso agora com o PMDB, o que esse homem não pode fazer amanhã?” Na sua opinião, a interferência governista pode viciar a convenção do PMDB. “Se for viciada, vamos denunciá-la”, afirmou. “Quando há interferência do poder federal numa convenção, é difícil prever o que vai ocorrer. Nossos companheiros estão lutando bravamente contra essa ingerência inusitada.” Ele disse que a ingerência do governo é muito forte. “São os métodos da liberação de verbas e da corrupção, já denunciada ao corregedor da Justiça eleitoral e ao Ministério Público”, afirmou, referindo-se a acusações feitas pelo presidente interino do PMDB, senador Maguito Vilela (GO). Itamar acusou de novo o governo de não ter ética. “Este é um governo sob corrupção, um governo que comprou a reeleição, tem suspeição sobre a venda das teles, uma série de suspeições na ordem econômica, que já chamou os aposentados de vagabundos.” Colunistas DORA KRAMER A hora e a vez das 'bases' Político adora invocar o testemunho das "bases" para qualquer coisa, seja como justificativa à semana de três dias de trabalho em Brasília, seja para avalizar posições ante o adversário ou mesmo perante o aliado. O excesso de uso veio desgastando de tal forma o conceito, que as razões dos eleitorados locais não ocupam - e ninguém estranha a ausência - lugar de destaque nas análises dos cenários de tendências quando está em jogo também uma disputa política nacional. Como agora, no processo de sucessão presidencial. As atenções ficam quase totalmente voltadas para os movimentos dos postulantes à Presidência da República, como se os fatores que compõem tanto a escolha de um candidato quanto a montagem de uma campanha pautada pela disposição genuína da vitória dependessem apenas dos desejos e das idiossincrasias das cúpulas. Numa eleição solteira, como foi a de 1989, é natural que o catalisador de todas as emoções seja o candidato a presidente. Da mesma forma, admite-se que isso aconteça quando há uma idéia-força no comando do projeto. Em 1994 a eleição era casada, mas havia o mote do Real. Quatro anos depois, a manutenção da estabilidade e a experiência da reeleição (expectativa de poder prolongado) deram o impulso necessário a Fernando Henrique Cardoso. Agora é diferente. Não há idéia-força, inexiste o chamado candidato natural no campo governista, vigora a multiplicidade de candidaturas e o País vai eleger, além do presidente, senadores, governadores, deputados federais e estaduais. Imaginar, nesse quadro, que seja possível qualquer das correntes em disputa se dependurar exclusivamente no charme e no veneno de uma só pessoa, é desconsiderar as exigências do eleitorado e desprezar a evidência de que as "bases" têm agora a sua hora e a sua vez. Ou seja, é de baixo para cima que se define o jogo. Os partidos, todos eles, estão conscientes disso e explicitam como nunca a disposição de armar alianças estaduais. José Dirceu, presidente do PT, considera esse tipo de ação prioritário. Mas nós aqui, no ofício da comunicação e da interpretação dos movimentos eleitorais, nem sempre conferimos o devido peso e credibilidade a esse discurso. Nada mais verdadeiro, porém. Basta ver o descomunal esforço que Luiz Inácio Lula da Silva, antes exímio na arte de excluir apoios, faz para agregar. Não o que não há como mudar - que é a opção dos companheiros de oposição pelos vôos próprios -, mas aquilo que é possível esperar: por exemplo, o apoio dos tucanos na improvável hipótese de um segundo turno sem o PSDB. Mas, se o PT já se deu conta disso e trabalha com afinco nos acertos regionais, o governo quase joga seu destino inteiramente na capacidade de ampliar e consolidar palanques. Essa, na perspectiva do Planalto, não será uma eleição disputada apenas diante das câmeras de televisão. O papel dos candidatos a deputado, federal e estadual, será fundamental. Serão eles, apostando na própria eleição, que levarão o nome do candidato a presidente País afora. E para o campo governista eles são cruciais por um outro fator que obviamente não aflige a oposição: dependerá do apoio deles a divulgação de ações do governo federal. Por exemplo: se o esquema regional não estiver muito bem amarrado à candidatura nacional, nada obriga que nos Estados os candidatos atribuam este ou aquele feito ou obra à administração de Fernando Henrique. Ao contrário. O esforço será para que nas cédulas de votação que servem como material publicitário - a chamada "cola" - distribuído nos municípios conste o número da legenda que abriga a candidatura presidencial. E como não há eleição para prefeito e vereador, a idéia é que a partir da formação das alianças se possa lançar mão desse utilíssimo, vasto e disponível exército de cabos eleitorais. Guerra de extermínio Um dos planos dos tucanos para mobilizar seus aliados regionais é, no momento em que o quadro de candidaturas estiver definido, abrir uma guerra de extermínio contra Ciro Gomes. A palavra de ordem é não contemporizar com o candidato do PPS, tratá-lo como inimigo mesmo, para impedir que Ciro conquiste aquele tipo de eleitor que o considera um Fernando Henrique melhorado. Um pessoal de oposição, mas nem tanto. A análise no PSDB é a de que qualquer ambigüidade de comportamento favorece o adversário. Portanto, não serão admitidas parcerias de dubiedade explícita como a que fez Fernando Henrique com Mário Covas e Paulo Maluf em São Paulo nas duas últimas eleições. Ciro fica, pois, escolhido como alvo preferencial na primeira fase. Até porque os tucanos consideram que disputarão com ele - e não com Itamar Franco ou Anthony Garotinho - a segunda vaga do turno final. Editorial A redescoberta da exportação O governo festejou o superávit comercial de agosto, US$ 625 milhões, o maior desde outubro de 1994, quando o Brasil obteve um saldo positivo de US$ 658 milhões. Os números são parecidos, mas a atitude mudou radicalmente. É este, afinal, o dado mais importante. Seja qual for o slogan - "exportar ou morrer" ou "exportar para viver" -, o governo, agora, parece disposto a adotar, de fato, uma política de competitividade. É condição essencial para se diminuir a vulberabilidade externa, reforçar o crescimento e facilitar a criação de empregos. A disposição, em Brasília, era muito diferente nos primeiros tempos do real. Em dezembro de 1994, houve festa no governo, como agora, quando se conheceu o resultado comercial do mês anterior. Mas o resultado era um buraco de US$ 408 milhões. Pela primeira vez, em muito tempo, o Brasil estava gastando mais do que faturando com o comércio exterior. Com o plano de estabilização, a inflação havia caído e os consumidores tinham ido às compras. O real, a nova moeda, estava supervalorizado em relação ao dólar. A era dos superávits comerciais, anunciava-se em Brasília, havia terminado. A âncora cambial, que facilitava as importações, permitiria o aumento de consumo sem aumentos de preços. A experiência poderia funcionar durante algum tempo - e talvez fosse inevitável, na primeira fase de uma experiência como o Plano Real. Valorização cambial era um resultado freqüente dos planos de estabilização. Isso havia ocorrido noutros países. Mas o jogo, no Brasil, foi longe demais. O ano de 1994 ainda foi encerrado com um saldo positivo, um excedente de US$ 10,47 bilhões. A partir daí, os saldos anuais ficaram sempre em vermelho. Nada garante, por enquanto, que o resultado final deste ano seja positivo. Muitos economistas ainda prevêem que 2001 será encerrado com um déficit comercial próximo de US$ 1 bilhão, um rombo maior, portanto, que o do ano passado, quando o saldo negativo ficou em US$ 697 milhões. O exportador brasileiro tem de enfrentar, neste ano, uma situação particularmente adversa, com o baixo crescimento econômico nos Estados Unidos e na Europa e a recessão na Argentina. Esses mercados absorvem cerca de 60% das exportações brasileiras. Com a piora do quadro internacional, a exportação brasileira tem perdido impulso ao longo do ano. Ainda assim, de janeiro a agosto, o País faturou 8% a mais do que um ano antes. A importação, no mesmo período, ainda foi 9,2% maior que a de janeiro a agosto de 2000, mas também as compras de produtos estrangeiros têm aumentado mais lentamente. Como também o Brasil está crescendo menos, a demanda de importações vem sendo contida. O saldo acumulado no ano, até agora, é um superávit de US$ 659 milhões. No ano passado, no mesmo período, havia chegado a US$ 995 milhões. Apesar de tudo, o desempenho comercial no mês passado parece indicar uma firme tendência de crescimento. O valor exportado, US$ 5,73 bilhões, foi o maior já obtido num mês de agosto. Mesmo que se desconte a devolução de três aviões no valor de US$ 214 milhões, o total das vendas continua a ser recorde. O valor exportado em agosto de 2000, US$ 5,52 bilhões, também foi inflado pela devolução de aviões de valor praticamente igual, US$ 210 milhões. Várias novidades positivas podem explicar a evolução recente do comércio exterior. Empresas brasileiras vêm diversificando tanto a pauta quanto os mercados de suas exportações. Setores tradicionais, como o agropecuário, têm sido muito mais ativos no aproveitamento de novas oportunidades. Há mudanças no comportamento empresarial, embora ainda seja necessário mobilizar um número muito maior para o comércio exterior. Além disso, oportunidades de substituição de importações vêm sendo aproveitadas, graças, em grande parte, ao estímulo proporcionado pelo câmbio. Se o governo adotar, como vem prometendo, uma política mais ativa de competitividade, será possível consolidar uma nova tendência no comércio exterior brasileiro. Verbas adicionais devem reforçar o financiamento da exportação e o novo ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, tem apoio do presidente para novas iniciativas. Mais importante que o resultado deste ano será a sustentação dessa política. Topo da página

09/05/2001


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