Assembléia ouve proprietárias de terras invadidas



O envio imediato, ao Ministério Público, da ata e das imagens contendo o depoimento das proprietárias das fazendas invadidas, em Júlio de Castilhos e São Jerônimo, durante a reunião extraordinária da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia. Esta foi uma das principais decisões do encontro, ocorrido na manhã desta quarta-feira, dia 4, solicitado pelo deputado Mario Bernd, líder partidário do PMDB. O subprocurador do MP, Antônio Carlos Bastos, presente à reunião, assegurou que a situação será analisada detalhadamente. “Tomaremos as providências necessárias à gravidade do acontecido”, assegurou ele. Além da proprietária da Cabanha Santa Bárbara, Carla Schneider, de São Jerônimo, e Helenita Marssola, da fazenda Bom Retiro, de Júlio de Castilhos, estiveram no encontro a superintendente substituta do Incra, Maria de Lourdes da Rosa; a procuradora-regional do instituto, Solange Bueno Vitt; o prefeito de Júlio de Castilhos, Romeu Martins Ribeiro e seu vice, Antônio Carlos Abreu; o presidente da Câmara de Vereadores de São Jerônimo, Aires Dal’osto; o representante da Farsul, Luiz Morais Varela, proprietários rurais vizinhos às áreas atingidas e os deputados Berfran Rosado(PMDB), Aloísio Classmann(PTB), João Osório(PMDB) e Osmar Severo(PTB). Mario Bernd lamentou a ausência dos secretários da Agricultura e Reforma Agrária, que alegaram agenda cheia. “Lamentamos, ainda, a ausência de representantes da bancada do PT Mario Bernd igualmente informou a remessa de ofício à Comissão de Direitos Humanos do Legislativo, presidida por Roque Grazziontin(PT), no sentido de que atitudes efetivas sejam tomadas diante dos direitos violados no caso “destas cidadãs. Os direitos fundamentais das pessoas foram atingidos nesta violenta invasão, onde ficou configurado um ato de terrorismo, um assalto desenvolvido na madrugada com armas, tiros, pessoas pintadas e encapuzadas, violência física e atemorização e, depois, furto de utensílios domésticos, armas e sacrifícios de animais cuja genética é de alta tecnologia”, lamentou o parlamentar, a partir da narrativa das proprietárias. Conforme ele, sempre são ouvidos os sem-terras e os assentados, mas nunca os que são invadidos. Helenita Marssola contou que “eles entraram gritando, derrubando tudo e atirando. Um festival de horror, que deixou em pânico a mim, minha irmã e cunhado, mas principalmente minha sobrinha, deficiente visual”, narrou. Acrescentou que os invasores deram a eles poucos minutos para saírem, caso contrário seriam amarrados e deixados na estrada. Conforme ela, funcionários da fazenda – pela segunda vez invadida – foram feitos prisioneiros, cercas derrubadas e os animais soltos. “Duas espingardas foram roubadas e agora temos o temor permanente de que isso possa se repetir de novo outra vez”, frisou, observando que não há idéia quanto ao número de animais mortos. Carla Schneider contou que sua fazenda foi tomada por encapuzados fortemente armados e, segundo registro da ocorrência por parte da DP do município, armamento pesado e variado. “Com foices e pedaços de pau eles iam levando tudo pela frente”, disse ela, conforme relato de um funcionário. A primeira coisa que fizeram, continuou, foi cortar o telefone e atirar nas luminárias. Lembrou que a Cabanha participou, desde 1968, de todas as Expointer e já produziu mais de 12 mil reprodutores puros e mais de 15 mil doses de sêmen foram comercializadas. A Santa Bárbara tem 1.270 hectares, 1.205 animais, 80 quadras de arroz, 100 hectares de milho, etc., e “jamais fomos improdutivos”. Ela apelou por união dos produtores em uma ação conjunta contra as invasões. Vacas premiadas, inclusive uma campeã de 96, foram carneadas, ao mesmo tempo em que vários bezerros estão sumidos. Luiz Morais Varella, da Farsul, disse que o caso não é agrário, mas sim de polícia, de falta de segurança pública, uma vez que se tratava de invasão e não de ocupação. Solicitou que o MP tome providências quanto ao uso de crianças pelo MST nas invasões, bem como no caso das instruções para alunos de como devem ser feitas as invasões. “É lamentável, de outra parte, que o governo do Estado, por meio da sua procuradoria-geral e por intermédio dos secretários da Reforma Agrária e Segurança Pública, tenha solicitado a prorrogação dos prazos para a retirada dos invasores, não autorizada pela Justiça”, analisou, estranhando a presença de deputados estaduais petistas – Luciana Genro, Ronaldo Zulke e Dionilso Marcon – e o federal Adão Pretto, quando da saída dos sem-terra da Santa Bárbara, em apoio aos ocupantes. Também pediu à representante do Incra que o instituto descredencie aqueles que participaram destas invasões e que estavam na lista de espera para assentamentos. Mario Bernd anunciou que colocará à apreciação da CPI da Segurança Pública o item invasões. “Além do prejuízo material existiu a violência moral contra estas pessoas. As duas fazendas são altamente produtivas, seja pelos índices do Incra ou do próprio MST, seja pelo geográfico da região. Foi uma invasão criminosa, com fins políticos e, pior, com a conivência do governo do Estado”, destacou o deputado. Para ele, o Poder Legislativo deve ter posição sobre o episódio.

04/04/2001


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