Audiência na CDH associa ação da PM a práticas da ditadura




"As execuções continuam sendo feitas, e o sistema se protege" afirmou Aurélio Rios (E)

VEJA MAIS

Cinquenta anos depois do golpe militar, resquícios do regime de exceção a ainda estão presentes no país, principalmente na atuação das polícia militares em favelas e periferias de grandes cidades. A questão foi levantada durante audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH) nesta segunda-feira (31), que debateu o tema “Desaparecidos da Democracia".

Casos como o do servente de pedreiro Amarildo Souza (Rio de Janeiro) e do auxiliar de serviços gerais Antônio Araújo (Distrito Federal), que teriam desaparecido após abordagens policiais, foram mencionados como exemplos dos abusos cometidos. Também foi citado o episódio envolvendo a auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira. Após ser baleada durante uma operação da PM no subúrbio carioca de Madureira, ela foi levada no compartimento traseiro de uma viatura até o hospital. No meio do trajeto, a porta abriu-se e lançou a mulher para fora. Presa à viatura por um pedaço da roupa, ela foi arrastada por 350 metros, cena registrada em celular por um motorista e depois exibida pelo jornal Extra. Até o momento, ainda há dúvidas sobre a Claudia morreu em razão dos disparos ou da queda do camburão.

— Não só temos os desaparecidos, mas temos as pessoas que são executadas sumariamente pela polícia que exerce os papéis de investigador, de promotor, de defensor, de juiz e de executor, inclusive de uma pena que é proibida pela Constituição que é apenas de morte. Isso ocorre especialmente com adultos em situação de vulnerabilidade  – disse o procurador federal dos Direitos do Cidadão Aurélio Rios.

Segundo o procurador, a estrutura das policias militares reproduzem em grande parte o funcionamento dos órgãos de repressão da ditadura, o que segundo ele, também pôde ser observado na atuação dos agentes públicos durante manifestações de rua que aconteceram no ano passado em várias localidades do país.

— (...) não é mais feito de forma explícita como na ditadura, quando havia o regimento interno do DOI-Codi, secreto, mas funciona como uma ordem silenciosa. As execuções continuam sendo feitas, e o sistema se protege, as pessoas se protegem, especialmente os policiais que cometeram as execuções e os desaparecimentos – disse Rios.

O defensor público federal Hamam Tabosa de Moraes e Córdova disse que é uma contradição que pessoas desapareçam por obra do estado em plena democracia.

— Não há como aceitar esse tipo de situação justamente porque se naquela época já não era possível se justificar dentro de uma ditadura o desaparecimento de pessoas, o que dizer em pleno regime democrático? Então, ter casos como o do Amarildo, que é um caso emblemático, para a gente é uma situação bastante vergonhosa  – disse Córdova.



31/03/2014

Agência Senado


Artigos Relacionados


Pavan compara CPI da Segurança com práticas da ditadura

Sarney registra ação de Dom Eugênio Sales na época da ditadura

Violação de direitos humanos na ditadura será discutida em audiência

CAS debate responsabilidade técnica para práticas esportivas em audiência pública

Lobão associa-se às homenagens a Josaphat

ACM se associa a homenagens a Kyola Sarney