Audiência pública sobre MP do cinema divide participantes



A Subcomissão de Cinema, Comunicação Social e Informática promoveu nesta quarta-feira (3) o primeiro debate reunindo representantes dos segmentos mais expressivos do setor de audiovisual brasileiro sobre a medida provisória, editada em setembro passado, que estabelece princípios gerais da política nacional de cinema.

- Nós estamos botando ordem no terreno baldio, onde estava sendo depositado o lixo audiovisual internacional - afirmou o produtor Luiz Carlos Barreto.

Ele, assim como os convidados Evandro Guimarães, vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo; Gustavo Dahl, diretor de cinema, e os senadores Roberto Saturnino(PSB-RJ) e Lúcio Alcântara (PSDB-CE) se posicionaram favoravelmente à MP. Eles polemizaram com Steve Solot, vice-presidente da Motion Pictures Association (MPA), e Marcos Bitteli, especialista nas áreas de legislação e exibição, que criticaram o documento.

Enquanto Bitteli considerou a MP inconstitucional e Steve Solot revelou que, para o grupo que ele representa (Fox, Universal e Warner Brother entre outros) a MP significou "surpresa e decepção", Lúcio Alcântara defendeu o direito do Brasil de proteger seu patrimônio audiovisual.

- Não tem nada de xenofobia. Os Estados Unidos têm práticas protecionistas, por que nós não podemos ter? - questionou o senador.

Solot disse que, devido "ao forte impacto que a MP provocará na lucratividade do grupo", a MPA deve recorrer a medidas judiciais para reverter essa situação. Tanto ele quanto Bitelli acusaram o governo de ter agido "sem transparência" na elaboração da medida provisória. No entanto, manifestaram confiança na possibilidade de o próprio Congresso Nacional realizar algumas mudanças e aperfeiçoamentos no documento.

Evandro Guimarães, por sua vez, entende que a medida provisória contribuirá para o fomento do cinema brasileiro. Para ele, isso é tão importante quanto impedir a desnacionalização da Petrobras. Segundo o vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo é legítimo que seja dado aos brasileiros mecanismos que fomentem a sua participação no mercado interno. Guimarães lamentou que a MP tenha se restringido ao cinema em lugar de abarcar todo o espectro dos audiovisuais.

Já Gustavo Dahl ressaltou o forte predomínio do cinema americano, cerca de 80% a 90%, no mercado mundial. A reversão desse quadro só será possível se houver um comprometimento do Estado, como o fez o governo brasileiro mediante essa MP, assegurou.

Luiz Carlos Barreto historiou todo o processo que antecedeu a edição da medida provisória. Ele destacou a participação da Subcomissão de Cinema do Senado e, posteriormente, do Grupo Executivo de Desenvolvimento do Cinema (Gedic), e acusou setores da imprensa de estarem "distorcendo os efeitos das medidas propostas".

O senador Roberto Saturnino, que presidiu interinamente a audiência pública, observou que esse debate é a retomada do que vinha se processando na Subcomissão de Cinema, Comunicação Social e Informática do Senado. "Só que, agora, balizado pela MP." - disse ele.

03/10/2001

Agência Senado


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