Bailes antecipam disputa eleitoral
Bailes antecipam disputa eleitoral
Aliança vai para Caruaru, enquanto a esquerda e o PT fazem a festa no Classic Hall
É ao som dos clarins do Momo, na efervescência do frevo, que os palanques pernambucanos começam a ser esboçados para as eleições de outubro. Hoje, quando ocorrem as principais prévias carnavalescas do Recife e de Caruaru - os respectivos bailes municipais - caciques governistas e de oposição cairão no passo atrás de coligações, apoios, parcerias, enfim, de votos.
Sem poder sobre os dois principais pólos carnavalescos da Região Metropolitana - Olinda e Recife -, hoje comandados por adversários, os aliados do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) vão a Caruaru, reforçar a festa organizada pelo prefeito Tony Gel (PFL). A oposição, liderada pelo prefeito João Paulo (PT), se concentra no Baile Municipal do Recife. A expectativa é a prévia do Agreste se transforme num acerto de marcha do bloco "direitista com síndrome de centro", formado pelo PSDB, PFL, PMDB e PPB. Já o baile do Recife congregará, num "ensaio geral" integrantes da "troça mista esquerdista" composta pelo PT, PSB, PDT, PPS e PCdoB.
Desde o ano passado, quando foi derrotado no Recife, o grupo de Jarbas abre o Carnaval em Caruaru, onde a festa será popular, realizada na rua e deve reunir líderes políticos como o vice-presidente Marco Maciel e parte do secretariado jarbista. Em ano de eleição, nada mais oportuno que "montar" um palanque no principal município do Agreste, região que concentra 25% do eleitorado pernambucano. A festa deverá reunir 30 mil pessoas.
Na capital, João Paulo diverte-se numa festa à rigor na casa de espetáculos Classic Hall, junto com representantes da aliança que o elegeu em 2000. Já confirmaram presença o secretário de Saúde do Recife, Humberto Costa (PT), e o deputado federal Eduardo Campos (PSB), ambos candidatos ao Governo do Estado. Diferentemente da realizada no Agreste, a prévia made in PT, tem entrada paga, com renda revertida para a Legião Assistencial do Recife (LAR). Uma curiosidade é que o camarote destinado ao Governo do Estado foi cedido por Jarbas à LAR.
Em Caruaru, a folia congregará nomes pouco afinados dentro da aliança governista como o vice-governador Mendonça Filho (PFL) e o secretário de Projetos Especiais, Sérgio Guerra (PSDB). Quem também deve jogar confete e serpentina por lá é o ex-ministro e consultor político Gustavo Krause. Para animar a festa, foi escalado o cantor André Rio, principal nome do Carnaval fora de época do Recife - Recifolia -, uma das "obras" de maior repercussão do secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Eduardo Cadoca Pereira.
Cadoca, no entanto, ficará no Recife. Ele é um dos poucos do Governo que não irá a Caruaru. Por "tradição", e também orientação de Jarbas, ele marcará presença no baile da capital. Além do distanciamento físico, outro aspecto que evidencia o incômodo do Governo por ter perdido o domínio sobre os principais pólos do Carnaval pernambucano está relacionado com investimento. A PCR solicitou a Jarbas R$ 2 milhões mas, só conseguiu R$ 450 mil.
Licitação do lixo é adiada mais uma vez
A Prefeitura do Recife adiou, mais uma vez, a definição sobre a contratação das empresas - ou da empresa - que prestarão o serviço de limpeza urbana para a cidade durante a administração do PT. O presidente da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), Francisco Lima, confirmou o adiamento da abertura dos envelopes do Edital do Lixo, prevista para ontem, e informou que a PCR decidiu reabrir um novo processo. Desde agosto de 2001, a escolha da empresa está em banho maria. Dois editais já foram lançados e anulados. Os contratos envolvem montantes altos, R$ 193 milhões divididos em cinco anos.
Desta vez, segundo Lima, a procrastinação atende a uma ansiedade das próprias empresas que tentam se credenciar para o serviço. Elas contestam, segundo o presidente, algumas cotações específicas citadas pelo edital. Dizem que os valores não conferem. "Por isto vamos fazer um pente fino no edital para corrigir virtuais falhas", justificou Francisco Lima. As empresas Vega, Locar, Enterpa e Cael foram as responsáveis pela solicitação do primeiro adiamento.
Outro motivo apresentado por Lima foi a pendência que existe na Justiça contestando o edital. A autoria é a DM, que conseguiu uma liminar para suspender temporariamente a validade da concorrência pública. Foi necessário esperar o julgamento do mérito da matéria, que está na da 2ªVara da Fazenda Estadual, afirmou. O edital do Lixo vem sendo contestado desde a sua primeira publicação pela bancada de oposição da Câmara do Recife, que acusa os petistas de exigirem condições que beneficiariam as grandes empresas de limpeza urbana, como a Enterpa.
Lima minimizou o desgaste provocado pelo Edital do Lixo. Disse que, como técnico, considera normal os recursos que surgiram. Ele lembrou que se trata de um edital com valor muito alto e mexe com interesses de todos os tipos - empresariais e, até mesmo, políticos, comentou, lembrando a eleição deste ano.
Roseana encerra o diálogo com Jarbas
Candidata cancela vinda a Pernambuco, irritada com apoio do governador a Serra
A relação entre o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), e a pré-candidata do PFL à presidência da República, a governadora do Maranhão Roseana Sarney, está estremecida. Por conta do apoio que o governador deu ao à campanha presidencial do ministro da Saúde José Serra (PSDB), Roseana desistiu de conversar com Jarbas para tratar sobre sucessão.
A governadora do Maranhão já tinha inserido na agenda uma visita ao Palácio das Princesas, mas decidiu excluir do seu roteiro político a visita a Pernambuco. O governador disse, ontem, após a solenidade de posse do novo presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Napoleão Tavares, que se Roseana cancelou o encontro que teria com ele o problema era da governadora maranhense.
Jarbas informou, também, que Roseana telefonou para ele há oitos dias dizendo que desejava conversar com ele. "Não tinha agendado nada com Roseana. Se ela desistiu de falar, isso não impedirá que a gente converse com os partidos", afirmou. O clima de cordialidade entre os doisfoi quebrado após o apoio público de Jarbas ao ministro tucano. O ministro veio ao Recife no início desta semana.
De acordo com Jarbas, os partidos estão num processo natural de negociação. "Não será a opinião da candidata (Roseana) ou dos outros que impedirão o desejo da construção da aliança. Temos tempo", ressaltou. O governador disse, ainda, que as declarações do senador José Jorge (PFL), em não abrir mão da candidatura de Roseana, é apenas uma opinião do senador e que ele respeita. "Não serão essas declarações que atrapalharão o processo de formação da chapa", disse.
A governadora vai licenciar-se do Governo do Maranhão até o dia 24 deste mês para viajar pelo País em busca de apoio a sua campanha presidencial. Ela se encontrará com políticos e empresários de São Paulo, Brasília, Minas e Rio Grande do Sul. A decisão de afasta-se do governo foi motivada por pressão do PFL. O partido acredita que ela poderá aparecer mais na mídia e manter sua crescimento nas pesquisas.
O convite feito por Serra paraque Jarbas seja seu articulador político da campanha presidencial foi aceito de imediato. O ministro estreou sua performance em Pernambuco como candidato, participando junto com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), da solenidade de comemoração dos 10 anos do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, no Centro de Convenções, em Olinda. À tarde, o ministro participou de um comício em Passira.
Governador do DF é acusado de racismo
Roriz pede salva de vaias para "c rioulo petista"
BRASÍLIA - O governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), em discurso na periferia de Brasília, chamou de "crioulo petista" uma pessoa que estava presente no ato de entrega de escrituras de casas populares. Em tom agressivo, um pouco antes, Roriz havia mandado os moradores expulsarem pessoas que se manifestaram contra ele. "Ali está um crioulo petista que eu quero que vocês dêem uma salva de vaias nele", disse o governador no discurso, segundo gravação da Rádio CBN. O discurso foi feito no final da tarde de anteontem, durante programação do Governo itinerante na cidade-satélite de Brazlândia, a 60 quilômetros de Brasília.
O público presente atendeu a convocação do governador e misturou vaias com gritos de "Roriz". No início do pronunciamento, Roriz disse que os moradores deveriam expulsar pessoas que portavam faixas contra ele, porque elas são "financiadas pelo Governo anterior", prejudicam os moradores de assentamentos e levam o "mal". "Expulsem das suas casas. Não deixem que eles entrem nas suascasas, porque eles só levam o mal. Eles só desejam o mal para as pessoas", afirmou o governador. Antes de Roriz, o Distrito Federal foi governado pelo petista Cristovam Buarque.
O PT entrou ontem com representação na Procuradoria Geral da República contra Roriz por crime de racismo. O PT do Distrito Federal também vai recorrer ao Ministério Público Eleitoral para denunciar Roriz por crime eleitoral. O secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, em nota oficial, condenou as declarações do governador. O assunto será analisado pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação, vinculado ao Ministério da Justiça.
Segundo a nota, as declarações de Roriz estão na "contramão dos esforços do Governo federal para combater o racismo, a discriminação racial e a intolerância no País". O deputado federal Geraldo Magela, pré-candidato do PT ao Governo do Distrito Federal, comparou Roriz ao primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon. "As declarações são muito semelhantes às de Ariel Sharon, que disse que se arrepende de não ter matado Arafat, o líder palestino," afirmou Magela.
Energia subirá 22% acima da inflação
BRASÍLIA - O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Guilherme dos Reis, explicou durante o anúncio das mudanças no modelo do setor elétrico, que o aumento real no preço da energia elétrica até 2006 deverá ser em média 22% a cada ano, com impacto de 0,12 pontos percentuais ao ano na inflação, sendo que a energia tem peso de 3% na composição do índice do IPCA.
O coordenador do Comitê de Revitalização do Modelo do Setor Elétrico, Octávio Castello Branco, observou, no entanto, que o aumento real para o consumidor residencial deverá ficar abaixo desse percentual. Ele disse que a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (CGCE) está estudando a redução dos subsídios cruzados que fazem com que os consumidores residenciais paguem uma tarifa aproximadamente R$ 80,00 por megawatt/hora superior à de alguns segmentos industriais, subsidiando desta forma a produção daquelas empresas.
Ele alertou, no entanto, que o subsídio não corresponde a esses R$ 80,00, pois uma parte dessa diferença corresponde a custos que são realmente mais elevados na distribuição de energia a consumidores de baixa tensão, como os residenciais. A CGCE ainda não um tem levantamento total dos subsídios existentes no setor elétrico, mas pretende que eles sejam extintos até 2006. O choque tarifário anunciado ontem seria ainda mais intenso não fossem medidas propostas pelo Governo para atenuar seu impacto, inclusive mediante subsídio ao transporte de gás natural.
Estado compra pela internet
Sistema reduzirá custos em 20%
A partir do próximo dia cinco de abril as compras do Governo do Estado, no valor máximo de R$ 8 mil, serão realizadas pela Internet. Inicialmente apenas quatro empresas da administração indireta - Detran, EMTU, Emhape e Fisepe vão participar. Mas, até outubro todas as secretarias e órgãos do Estado vão estar integrados no sistema eletrônico de compras. A Secretaria de Administração e Reforma do Estado prevê a redução de R$ 40 milhões nos gastos de R$ 200 milhões/ano que tem para manter a estrutura funcionando. Uma economia anual de 20%.
A retração nos gastos públicos será causada pela concorrência. Ao abrir os pedidos on line, ao invés de 3 mil fornecedores - número que o Estado tem hoje cadastrado - o Governo vai passar a contar com um banco de dados de até 800 mil empresas. Fica com o pedido quem tiver o melhor preço e oferecer o produto dentro do padrão exigido. O secretário de Administração, Maurício Romão, explica que o valor máximo é limitado a R$ 8 mil porque acima disso é obrigatória licitação.
Além da economia de dinheiro, o sistema eletrônico vai proporcionar também a redução de tempo. Ao invés de 20 dias, como ocorre hoje, os pedidos serão atendidos em no máximo cinco dias. Bom para os funcionários, que terão os materiais mais rapidamente. Melhor ainda para os fornecedores que receberão o pagamento em um prazo 15 dias mais curto. As empresas interessadas em participar do leilão eletrônico devem se inscrever no cadastro de fornecedores do Estado e no sistema do Banco do Brasil.
Artigos
O óbvio e o obtuso
Francisco Geraldo Apoliano Dias
Assim como os detratores da "arte pela arte" insistem em confundir a ética com a estética, exigindo que se faça uma "arte engajada", boa parte dos críticos do Poder Judiciário embrenha-se por sendas que nada têm de pertinentes com as atribuições conferidas àquele segmento do Poder, perpassando, assim, províncias reservadas a outras esferas de competência, ao tempo em que recamam interesses outros dos mais diversos estamentos da sociedade, incomodados com a maneira desassombrada com que vem sendo aplicada a Justiça que, de forma gradual e segura, se desapega das peias sempre invisíveis de antanho e dos maniqueísmos explícitos de outrora, que só se faziam necessários para o fim da manutenção das regalias daqueles que, sem embargo, jamais consideraram de boa sonoridade a palavra democracia.
Tais críticos confundem, amiúde, a aplicação das leis com o que nelas se contenha, pelo que reservam para o Judiciário as pechas de "julgar de maneira antiquada", de "ser excessivamente formalista" ou, mesmo, de agir em desconformidade com aquilo (seja o que for) que eles timbram de "anseios mais recônditos e legítimos da sociedade", o que só concorre para que se apregoe a falsa informação, sobretudo por entre os menos atentos, de que o Judiciário é um "mar de rosas", paraíso no qual juízes e servidores embolsam salários nababescos e onde qualquer coisa somente se decide se houver interesses dos "graúdos da moda" a exigir proteção.
É da essência do regime democrático o pluralismo das idéias e, por isso mesmo, averba-se vênia a todos os que, racionalmente e de boa-fé, defendem o que pensam.
Mas mesmo cônscio de que há muito a avançar para que se obtenha uma prestação jurisdicional efetivamente sintonizada com os reais interesses da sociedade, penso que o Poder Judiciário da Nação tem, sim, cumprido a sua missão institucional da maneira mais proba e eficiente possível.
A prova da afirmativa se encontra no âmbito dos Tribunais Regionais Federais, do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, colegiados diretamente responsáveis por significativos avanços na jurisprudência do País, os quais, mesmo tendo por base leis que remontam (algumas) ao final do século XIX, estão a perfilhar as vertentes doutrinárias mais atualizadas, sem desgarrar-se dos fatos e sem perder de vista a missão precípua do Poder Judiciário no Brasil: render permanente homenagem à Constituição da República e à s leis do País, tal como concebido pelo ministro José Delgado, do Superior Tribunal de Justiça.
É consabido que o Supremo Tribunal Federal entre nós, diferentemente do que ocorre em boa parte dos países democráticos do Ocidente, que reservam às Cortes Magnas funções exclusivas de controle da constitucionalidade e cujos membros detêm, inclusive, investidura temporária, debate-se com incontáveis recursos extraordinários desafiados contra acórdãos dos diversos tribunais " a quo", o que exige do seus eminentes ministros devotamento sacerdotal no afã de desatá-los todos.
O Superior Tribunal de Justiça, órgão que, dentre outras competências, vela pela aplicação uniforme do direito federal no País, tem empreendido esforço notável, tanto no que diz respeito à prestação jurisdicional propriamente dita, tarefa carregada às suas Turmas, Seções e Corte Especial, como no tocante à implementação de ações em favor da interiorização da Justiça Federal e do funcionamento dos Juizados Especiais Federais (cíveis e criminais), tudo sob a inspiração de tornar mais efetiva e célere a Justiça com a qual todos sonham.
Não é diferente, no que diz a atuação dos Tribunais Regionais Federais. O Tribunal da Quinta Região, por exemplo, passou de trinta e cinco mil processos distribuídos em 1995, para sessenta e cinco mil em 1999, o que patenteia quão desinformada é a crítica que endereçada ao Judiciário, notadamente a que se esboça quando as decisões envolvem temas relacionados a direitos de servidores, prerrogativas dos aposentados ou, ainda, contra as que proclamam a inconstitucionalidade de atos que, sob a inspiração movediça da "importância superior para os destinos do País", impactam a olhos vistos a Carta Política que nos rege desde 1988.
Tem sido assim, também, ao menos em Pernambuco, no que diz com as atividades carregadas à Justiça comum Estadual; ali não se tem medido esforços para aproximar a Justiça do povo e, com isso, transformá-la em valioso instrumento a serviço da cidadania.
Cumpre anotar, ainda, que todos os órgãos julgadores ora referidos já implementaram ou estão a implantar planos de gestão e programas de qualidade total, o que eqüivale a dizer: decidiram abandonar a chamada "administração burocrática" em favor do uso de ferramentas de qualidade, o "benchmarking", as certificações ISO e os indicadores de desempenho; é a busca inecessante do Graal que, para os jurisdicionados e para os juízes, traduz-se em uma Justiça de Resultados.
Disso esquecem, quase sempre, os detratores do Judiciário; e fazem o mesmo em relação ao infindável número de processos que ainda abarrota os corredores e gabinetes dos juízes; e de que não há, outrossim, nos quadros funcionais do Poder Judiciário do País, pessoal suficiente para realizar os serviços do Foro, à conta do grande número de exonerações ocorridas nos últimos anos, por decorrência de um achatamento salarial que só tem concorrido para fomentar, seja a deserção - os que podem, seguem rumos novos - seja a insatisfação; ambas as situações, é intuitivo, definitivamente não concorrem para uma melhor efetivação da Justiça.
Deficiências há, com certeza. Mas, em verdade, várias delas decorrentes muito mais de fatores exógenos aos lindes da organização judiciária do País, a exemplo da falta de recursos, do acanhado número de juízes em relação ao crescimento populacional, do quantitativo exagerado de recursos e de uma sistemática recursal que se avizinha dos limites da irracionalidade.
Parafraseando Roland Barthes, o agir desses tantos que se enxergam como os mais autorizados senhores da crítica, subsume-se no que o eminente autor rotula de o óbvio e o obtuso. O óbvio: a tese de que o Poder Judiciário precisa modernizar-se. O obtuso: o interesse, facilmente detectável em muitos libelos que se assacam contra a Justiça, de que se amordace a vocação de independência do Poder Judiciário - leia-se, de que não se avance o esforço rumo ao aperfeiçoamento democrático -; de que se instaure e prevaleça o golpe institucional, risco concreto antevisto por Paulo Bonavides; de que se neutralize com eficiência qualquer processo de inserção social das legiões de inopiosos que, entre nós, clamam sem cessar porque se concreteze uma justiça social efetiva, deixando-se de lado a retórica infecunda; de que se alterem distorções graves de distribuição das rendas e dos encargos, enfim, de que se faça da Constituição da República letra morta, só mais um livro que possa ser descartado sem conseqüências por qualquer desavisado, importando pouco ou nada tudo o que de malsão possa daí advir. É imperioso que assim nunca ocorra. Por isso, tal como se disse na música,a arte popular por excelência, é preciso estar atento e forte.
Colunistas
DIÁRIO POLÍTICO - Divane Carvalho
Investida pefelista
Fevereiro não tem só Carnaval. O Movimento Roseana Brasil, cuja sigla Move BR substitui como uma luva o PFL, será lançado esse mês, depois dos festejos carnavalescos, para reforçar a pré-candidatura de Roseana Sarney à presidência da República. A nova investida pefelista começará nos três maiores colégios eleitorais do País - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - e é coordenado pelo empresário carioca Thomaz Magalhães. Os eleitores vão conhecer o significado do Move BR a partir de um manifesto, de autoria de Gustavo Krause, que será publicado nos jornais de grande circulação, reforçado com anúncios pagos na TV. No documento, o movimento é explicado "como um espaço de convergência e ação política da sociedade, um canal da cidadania que se situa além das fronteiras partidárias". A partir da publicação do manifesto, os idealizadores do movimento pretendem contar a história de Roseana e seu trabalho no Maranhão de forma a criar uma ligação entre a candidata e a opinião pública, recurso que consideram fundamental para ela continuar crescendo nas pesquisas. Também serão distribuídos panfletos, adesivos, broches e faixas sobre o Move BR, tudo pago por empresários através do sistema de cotas, e não pelo PFL, o que não deixa de ser uma idéia criativa para burlar a Justiça Eleitoral. Além de Thomaz Magalhães e Gustavo Krause, o marqueteiro de Roseana, Nizan Guanaes, está em sintonia com o movimento que tem ainda o apoio do publicitário Mauro Salles.
Tony Gel teve que aumentar o tamanho do seu camarote para receber, hoje, todos os políticos que vão prestigiar o Baile Municipal de Caruaru. Jarbas Vasconcelos levará uma grande comitiva do Recife e Inocêncio Oliveira promete levar sua turma para animar a festa
Animação Celso Steremberg está animadíssimo para disputar uma vaga na Assembléia e tem cumprido uma extensa agenda, diariamente, em busca de votos. O ex-secretário de Indústria e Comércio de Joaquim Francisco anuncia que o empresário Italo Renda até desistiu de ser candidato a deputado para apoiá-lo.
Baile Raul Jungmann aceitou o convite de João Paulo e estará no camarote do prefeito, hoje, no Baile Municipal do Recife. A presença do Ministro o Desenvolvimento Agrário e pré-candidato do PMDB a presidente, com certeza, vai dar muito o que falar antes, durante e depois da festa.
Curado Joaquim Francisco, do PFL, já ficou bom da dengue hemorrágica e recomeça as viagens ao Interior logo depois do Carnaval. Mas até lá, cumpre à risca a recomendação médica de não fazer extravagâncias.
Campanha 1 Apesar de ser marqueteiro de Roseana Sarney, o que se diz em Brasília é que Nizan Guanaes atendeu a um pedido do presidente FHC e dará sugestões para o programa do PSDB que será veiculado dia 6 de março. O jeito é esperar para conferir se essa história é assim mesmo.
Campanha 2 E por falar em marqueteiro, a utilização da música e do gesto do nº1 da campanha da Brahma, no penúltimo programa de Roseana Sarney, deu a maior encrenca com a Fischer, A empresa de publicidade que fez aquela famosa propaganda da cerveja. Mas ficou só em reclamação mesmo.
Cargo Múcio Neto é o novo superintendente da 5ªRegional do IPHAN que tem atuação em Pernambuco e na Paraíba. Ele promete trabalhar muito para garantir a preservação dos monumentos históricos e artísticos nos dois Estados.
Poder José Jorge acha que a maioria dos jornalistas tem preconceito com o PFL e por isso está sempre dizendo que o partido quer o poder quando todos os outros também querem isso. O secretário das Minas e Energia fez o desabafo mas disse que não estava chateado porque poucas coisas o chateiam. Ainda bem.
Editorial
PAZ DISTANTE
Israelenses e palestinos, na busca pela paz, tropeçam diariamente na violência. Atentados contra alvos judeus e represálias a cidades palestinas não ajudam a resolver o problema. A importância desse conflito, como outros criados pelo fim das colônias na África e na Ásia, exige a presença da comunidade internacional nos diálogos de paz.
Esta semana, o primeiro-ministro Ariel Sharon declarou a um jornal israelense estar arrependido de não ter eliminado o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, quando teve oportunidade. Era 1982 e as forças de defesa de Israel haviam invadido o sul do Líbano para evitar que os terroristas da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) continuassem com os ataques às cidades na fronteira norte de Israel.
Mas isso era uma outra época. Nos últimos 20 anos, o Mundo passou por várias mudanças, inclusive no Oriente Médio. Os Acordos de Oslo foram assinados, Arafat deixou a farda camuflada para usar terno, gravata e kefié. Sharon deixou de ser militar e tornou-se político. Essas mudanças, porém, parecem ser apenas na armadura. No fundo ambos continuam aceitando a máxima segundo a qual tudo que foi conquistado com guerra só pode ser devolvido com guerra.
A violência é cíclica e os aportes da comunidade internacional só a estão estimulando. O presidente norte-americano, George W. Bush, disse recentemente que Sharon deve encarregar-se de controlar os territórios palestinos. Já a União Européia quer cobrar de Sharon tudo o que foi construído com dinheiro europeu, e as forças de defesa de Israel destruíram ao longo da Intifada. Esperava-se que a comunidade árabe que vive na região, compartilha a língua e a religião apresentasse propostas. Mas elas não vieram.
Em vez disso, a prefeitura de Jerusalém esboçou um projeto de lei prevendo a construção de um muro de 11km e assim finalmente dividir a cidade entre árabes e judeus. Proposta tão absurda como a dos países árabes na década de 70 quando pediram aos israelenses que construíssem muitos cemitérios, pois iriam matar a todos.
Arafat hoje está isolado em uma casa, na cidade cisjordana de Ramallah. Os canhões israelenses estão apontados para seu escritório. Seu impedimento pode acarretar mais problemas para a região. Arafat é a única pessoa capaz de responder pela maioria dos palestinos. Sem ele, a situação estaria pior, Israel teria de combater uma turba sem controle e de comportamento aleatório. Se as perdas são contabilizadas em dinheiro, essas seriam superiores a tudo que já foi gasto até o momento, pois comprometeria seriamente o futuro das duas entidades no que se refere a material humano.
Proposta concreta em busca da paz nenhuma das partes apresentou. A violência já matou mais de 1200 pessoas que, muito além de serem palestinos e judeus, são pais, filhos, maridos, mulheres. Uma tragédia se anuncia. De nada vai servir chegar atrasado para o evento.
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03/02/2002
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