Bargas diz que "nada sabia de dossiê"



O ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas disse nesta quarta-feira (22) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas que não sabia estar envolvido na compra de um dossiê para incriminar candidatos do PSDB nas últimas eleições. Bargas confirmou ter integrado a equipe comandada por Jorge Lorenzetti para negociar informações com a família Luiz Antonio Vedoin, acusado de ser o chefe da chamada máfia dos sanguessugas, mas garante que tratou apenas da entrevista concedida por Vedoin e seu pai, Darci, à revista IstoÉ, em 13 de setembro.

As circunstâncias em que essa missão foi exercida, entretanto, surpreenderam parlamentares como o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE): Bargas compunha a equipe que trataria de questões trabalhistas no comitê de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, ao ser indagado por Lorenzetti se "conhecia um jornalista", foi convocado a colaborar nas tratativas para uma entrevista em que Vedoin contaria à revista detalhes sobre o envolvimento dos ex-ministros da Saúde José Serra e Barjas Negri com os "sanguessugas". O primeiro contato com a revista (telefônico) teria ocorrido no dia de 6 de setembro. Um segundo, porém, teria ocorrido de maneira absolutamente casual, já que Bargas "estava indo mesmo" de Brasília a São Paulo, em dia e hora coincidentes com o vôo de Lorenzetti.

- Tal quantidade de cinismo dói no estômago. Fica óbvio que eles formavam uma quadrilha estável e experiente e entraram em acordo para montar essa versão - disse Jungmann.

No dia da entrevista, realizada em Cuiabá, Bargas teria apenas conhecimento de que Vedoin tinha informações importantes a passar ao comitê de Lula, dentro de um acordo que incluía entrega de documentos (cheques e fitas de vídeo, principalmente) à Justiça Federal. Bargas teria sido encarregado de garantir a entrega desses documentos, mas disse que não tinha a menor idéia do que conteriam. Ainda assim, diz ter recebido do jornalista responsável pela entrevista o texto da matéria, que leu antes de a reportagem ser publicada. O autor da reportagem é o redator-chefe Mário Simas Filho, segundo o site da IstoÉ.

- Tenho a impressão de que caímos numa arapuca armada pelos nossos inimigos - disse Bargas, ao comentar a prisão de três companheiros de missão, o advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos, o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e o ex-assessor de imprensa da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda,com R$ 1,7 milhão, dinheiro que supostamente seria usado na compra do dossiê, no hotel Ibis em São Paulo. Eles teriam marcado um encontro com o tio de Vedoin, Paulo Roberto Dalcol Trevisan, o suposto portador do dossiê.

- Não havia promessa de pagamento de advogados, mas assistência jurídica - afirmou Bargas, comentando informação de Lorenzetti, que disse na terça-feira (21) à CPI ter autorizado seus comandados a prometer apoio jurídico à tentativa de Vedoin de ampliar seus benefícios no programa de delação premiada. Bargas não explicou o que seria uma assistência jurídica sem o pagamento de advogados, nem quis, como Lorenzetti e outros depoentes ligados ao escândalo, comentar as conexões feitas pela Polícia Federal a partir do exame do sigilo telefônico deles.

Bargas disse que estava consciente de que os Vedoin se ligavam a atividades criminosas, mas que não viu mal em propiciar a entrevista dele à IstoÉ, em razão da importância que eram atribuídas a suas informações.

À sugestão de indiciamento dos envolvidos no escândalo, por meio do relatório final da CPI, feita por Jungmann, o presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), respondeu que "ainda não há convicção" quanto à materialidade de crime eleitoral ou financeiro. Na opinião de Biscaia, não há provas da origem do dinheiro ("certamente ilegal") nem da posse do numerário pelos integrantes do que foi chamado pelo próprio Lula de "grupo de aloprados".

Bargas confirmou à CPI que mantém relacionamento há sete anos com Mônica Cristina Zerbinato, secretária desde 2003 em um gabinete da Presidência da República.



22/11/2006

Agência Senado


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