Brasil é vítima de armadilha cambial, diz Saturnino



O senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) não acredita na previsão do presidente Fernando Henrique Cardoso de que a economia vai crescer este ano em níveis semelhantes ao período do chamado "milagre econômico", no começo dos anos 70. Saturnino disse que as condições internacionais são desfavoráveis, com um início de recessão nos Estados Unidos. Além disso, considera que o Brasil é vítima de uma armadilha cambial e sofre ainda as conseqüências de uma abertura econômica precipitada.

- Acredito, sim, que tenhamos crescido 4% no ano passado, embora tal crescimento não se tenha feito sentir no padrão de vida da população. O problema é que foi, na verdade, uma recuperação econômica, depois de um período de estagnação. Com o déficit crescente do balanço de pagamentos, não vejo como o Brasil possa ter um crescimento sustentado, de longo prazo, analisou.

O senador disse que de nada adiantou a desvalorização cambial de dois anos atrás, visto que os déficits comerciais continuam a crescer por conta de importações exageradas e pelas restrições impostas aos nossos produtos nos Estados Unidos e na Europa. Por isso, propôs que se restaurem barreiras tarifárias a produtos industriais e serviços:

Para ele, a única saída é proteger novamente os setores mais ameaçados da economia. Lembrando que o Brasil abriu o mercado para os produtos estrangeiros industrializados, ele observou que os Estados Unidos e a Europa não farão o mesmo com os nossos produtos agrícolas. Também informou que, com a privatização de serviços como telefonia e energia, as multinacionais que assumiram o comando desses setores importam cada vez mais e remetem lucros para o exterior, sem exportar nada. "É uma armadilha", advertiu.

Saturnino ainda afirmou que antecipar a criação da Aliança de Livre Comércio das Américas (Alca), como querem os Estados Unidos, vai ser um desastre para o Brasil. Ele considerou ruim a troca de chanceleres no Brasil. Disse que Luiz Felipe Lampreia era um negociador firme e experiente, que saiu provavelmente desgastado, porque nunca teve apoio da equipe econômica brasileira para sustentar posições fortes diante dos países ricos. "O Celso Lafer é um intelectual brilhante, um acadêmico, mas não me parece que tenha o perfil de negociador de que o Brasil precisa", analisou ainda o senador.

02/02/2001

Agência Senado


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