Brasil precisa revolucionar educação, dizem especialistas
Especialistas em educação afirmaram, nesta quarta-feira (21), na Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado (CI), que o Brasil precisa mudar de paradigma e revolucionar o seu modelo educacional. A comissão debateu o tema "O impacto de longo prazo da qualidade universalizada da educação na economia, na infraestrutura e no bem-estar social".
De acordo com o secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, apesar de o Brasil se situar entre os 5% dos países que mais avançaram na educação, ainda está entre os 20% daqueles com pior desempenho educacional. Os dados são de 2009 do PISA, sigla para Programme for International Student Assessment, um exame realizado a cada três anos em vários países, para avaliar estudantes de 15 anos nas áreas de linguagem, ciências e matemática.
Barros comparou o Brasil com o Chile, que na escala do PISA está 38 pontos à nossa frente. Segundo o especialista, estamos caminhando rápido, mas os outros países estão mais velozes que o Brasil. Ele apontou ainda que no Brasil a população jovem tem, em média, nove anos de estudo, ou seja, apenas o nível fundamental.
De acordo com o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, quando o Brasil partiu para a universalização da educação, sacrificou o tempo de aula. Enquanto que, em qualquer país que está bem no PISA, o tempo de aula é de seis a oito horas por dia, no Brasil, o tempo é de quatro horas e meia por dia, segundo ele. Ainda de acordo com Mizne, pesquisas indicam que, dessas quatro horas e meia, apenas 60% é gasto com aula. O resultado é de uma pesquisa do Banco Mundial em Pernambuco e no Rio de Janeiro para medir quanto tempo o professor se dedica a dar aula. Os outros 40% seriam perdidos com atrasos, indisciplina, avisos e liberações antecipadas.
Para o reitor do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), Ozires Silva, o Brasil precisa transformar a educação em prioridade. Ele citou o exemplo da Coreia do Sul e da China que revolucionaram a educação e hoje despontam na economia mundial.
- A Coreia do Sul lançou o fanatismo pela educação. Na reconstrução da Coreia do Sul, nenhum funcionário público poderia ganhar mais do que um professor – disse.
Ele defendeu o fim da tributação sobre estudantes e sobre as doações para escolas. Além disso, disse que as empresas nacionais deveriam ficar livres de encargos sociais quando pagam educação para seus trabalhadores.
Qualificação e federalização
Segundo o presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), as audiências públicas realizadas pela comissão têm mostrado que a falta de qualificação profissional é o principal empecilho para o crescimento da infraestrutura. Em sua opinião, antes de aplicar recursos na educação, é preciso saber como aplicá-los.
- O que a Comissão de Infraestrutura deseja com essa audiência é exatamente poder trazer à discussão o grande problema que nós temos hoje para fazer com que o país cresça de forma equilibrada, de forma sustentada, que é a educação – afirmou Collor.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que sugeriu a realização da audiência, defendeu a federalização da educação. Para ele, a única forma de revolucionar a educação brasileira é transferir a responsabilidade da educação básica para a União
- Eu não vejo como fazer essa revolução que a China e a Coreia fizeram sem a federalização. Uma carreira nacional do magistério, equipamentos e edificações da maior qualidade em horário integral – disse Cristovam.
Matemática
Barros ressaltou ainda a relação entre o conhecimento da matemática e o desenvolvimento do país. Segundo o secretário, em pesquisa realizada por um acadêmico americano sobre o tema, evidenciou-se que, no Brasil, se os estudantes soubessem 15 pontos a mais na escala do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o país cresceria um ponto percentual a mais por ano.
Qualidade do professor
Segundo Barros, outra pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que a qualidade do professor influencia muito no aprendizado do aluno e que, normalmente, não se sabe medir essa qualidade. O especialista afirmou que ninguém sabe direito o que faz com que um professor consiga ensinar mais, mas que isso teria relação com talento e paixão por ensinar, e não somente com o salário. Além disso, afirmou Barros, a experiência do professor e a facilidade de acesso a ele por parte dos alunos também contribui para melhorar a pontuação dos estudantes na escala Saeb.
- É muito importante reduzir a desigualdade educacional brasileira, aumentando a descentralização da gestão e, ao mesmo tempo, promovendo a meritocracia – afirmou.
De acordo com o diretor executivo da Fundação Lemann, outro problema crucial na educação brasileira são as faltas do professor. Na cidade de São Paulo, informou, os professores faltam às aulas, em média, 30 dias por ano.
Ainda segundo Mizne, o Brasil seleciona seus professores entre os 30% piores alunos do ensino médio, devido à baixa atratividade da carreira. Na Finlândia, informou ele, no último concurso para contratação de professores, passaram 10 mil candidatos a mais do que o número de vagas oferecidas.
Ele citou a pesquisa da professora Bernardete Gatti, segundo a qual 69% do curso de Pedagogia são apenas teoria. Os outros 31% são, muitas vezes, teoria sobre a prática.
- Na Finlândia, um professor leva sete anos para se formar, mas três anos é residência pedagógica, porque o essencial é aprender a dar aula – comparou.
21/08/2013
Agência Senado
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