País precisa de mais pesquisa para combater redução das abelhas, dizem especialistas




O debate na CRA apontou preocupação dos participantes com uso de inseticida

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A necessidade de mais pesquisas para descobrir a causa do desaparecimento de colmeias, conhecido como a Desordem do Colapso das Colônias (DCC), foi reconhecida pelos participantes da audiência pública desta quinta-feira (22) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O problema, mais comum na Europa e nos Estados Unidos, tem sido atribuído, ainda como suposição, ao uso do inseticida neonicotinoide.

De acordo com Márcio Freitas, representante do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nem toda redução da população de abelhas é considerada uma DCC. A Desordem do Colapso das Colônias tem características próprias, como a ausência de abelhas vivas ou mortas na colônia, mas com a presença de crias e alimento, podendo ser encontradas a rainha na colmeia e uma pequena quantidade de abelhas operárias.

O DCC começou na Europa em 1998 e nos Estados Unidos em 2006. Além da suspeita que o uso de defensivos agrícolas possam ser a causa do fenômeno, também há desconfianças de que possa ser uma nova doença que acomete as abelhas, um novo tipo de fungo,  desnutrição, ou alto nível de consanguinidade e estresse.

– As populações de abelhas vêm declinando nesses países já há algum tempo, desde a década de 1940. Porém, essas taxas eram da ordem de 1%. Nos últimos quatro anos essas taxas subiram para 29 a 36% e aí acendeu o sinal de alerta mundial – afirmou.

De acordo com Freitas, no Brasil ainda não há casos oficiais de DCC, apenas há um caso suspeito em São Paulo e outro em Minas Gerais. Ele reconheceu a dificuldade de identificar o fenômeno no Brasil, devido à falta de pequisa. Segundo Freitas, existem, no país, aproximadamente 3 mil espécies de abelhas nativas em condições muito diferentes de criação se comparado aos países europeus e aos Estados Unidos.

O uso de neonicotinoides

Em setembro de 2012, o Ibama suspendeu o uso de três neonicotinoides, que, agora, estão em processo de revalidação, previsto para acontecer em 2014. Segundo Freitas, diante da ausência de pesquisa e do risco de o inceticida ser o causador do DCC, o Ibama usou o princípio da precaução.

De acordo com o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Leonardo Machado, esse tipo de inseticida tem sido muito usado no país, devido à sua eficiência.  Os neonicotinoides se translocam dentro da planta e possuem uma ação residual, ou seja, uma vez aplicados, permanecem agindo até 45 dias.

– Eles foram o principal substituto dos organofosforados, que tinham sido colocados como os principais produtos no controle de insetos. Hoje a dosagem média dos organofosforados é em torno de um 1 litro por hectare. Na mistura dos neonicotinoides, essa dosagem cai para 0,2 litros por hectare – afirmou.

Machado se preocupa com o futuro da produção de algodão, um dos produtos mais dependentes dos neonicotinoides. Em 2012, o Ibama liberou o uso do inseticida apenas para o algodão.

- Não há resultados conclusivos em relação aos neonicotinoides como agente causador do DCC. E devido à importância das abelhas e do uso desses produtos, o assunto deve ser amplamente pesquisado – opinou.

A diretora-executiva do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), Sílvia Fagnani, afirmou que as indústrias estão treinando os agricultores para a aplicação dos agrotóxicos, já que os relatos de problemas com a criação de abelhas estão sempre relacionados a acidentes.

– Nós defendemos primeiro a pesquisa, para que depois sejam tomadas as medidas necessárias, que é o que têm feito os governos do Canadá e dos Estados Unidos – afirmou.

A apicultura

De acordo com o representante da CNA, de 2009 para 2010 houve um aumento de 30% da produção de mel no país, que é atualmente o quinto maior exportador de mel do mundo.

A senadora Ana Amélia (PP-RS), autora do requerimento da audiência pública, afirmou que tomou conhecimento do problema por um representante comercial de Porto Alegre. A senadora, que representa o maior estado produtor de mel do país, afirmou que o tema deve ser discutido mais vezes na Casa.

– Precisamos continuar vigilantes e atentos porque é uma coisa nova, e, no Brasil, por ser um país grande produtor agrícola, hoje a polinização é fundamental na produção, na sustentabilidade. Então temos que continuar abordando isso – disse.



22/08/2013

Agência Senado


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