Brasil realiza pesquisa sobre o uso do crack



Pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça (MJ) à Fiocruz, instituição ligada ao Ministério da Saúde (MEC) e lançada nesta quinta-feira (19), revela que cerca de 370 mil brasileiros de todas as idades usaram regularmente crack e similares (pasta base, merla e óxi) nas principais capitais do País. O estudo também lista o perfil dos usuários da droga no Brasil e será utilizado para subsidiar novas ações do Programa Crack, É Possível Vencer – plano integrado de combate ao tráfico e apoio aos usuários e famílias – criado em 2011.

Esse número de 370 mil pessoas corresponde a 0,8% da população das capitais do país e a 35% dos consumidores de drogas ilícitas nessas cidades. Além disso, 14% do total são crianças e adolescentes, o que equivale a mais de 50 mil usuários. Por "uso regular", foi considerado um consumo de pelo menos 25 dias nos seis meses anteriores ao estudo, de acordo com definição da Organização Panamericana de Saúde (Opas).

"Com os dados da pesquisa, vamos fazer ajustes e não mudar a rota do programa. Agora que sabemos o universo e as características dos usuários de crack temos um maior embasamento e dados seguros para mapear as futuras ações", informou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, presente no lançamento. 

A pesquisa ouviu, aproximadamente, 25 mil pessoas residentes em capitais brasileiras. Os entrevistados foram visitados em seus domicílios e responderam a questões sobre suas redes sociais (familiares, amigos e colegas de trabalho residentes no mesmo município) de forma geral e também especificamente sobre o uso de crack e outras drogas. O estudo catalogou usuários que declararam utilizar a droga por 25 dias em um período de 6 meses. Os dados serão avaliados pelos parceiros que compõem o Programa para implementação de ações.

Estudo anterior da Fiocruz, feito de forma direta com 7 mil entrevistados em 112 municípios (incluindo capitais e regiões metropolitanas) entre o fim de 2011 e junho de 2013, apontava que o total não passou de 48 mil usuários de crack e similares. Somando-se os dois levantamentos, foram produzidos 32 mil questionários, o que transforma essas nas maiores pesquisas já feitas sobre crack no mundo, pelo número de entrevistados e pelo volume de dados gerados.

Para ler as pesquisas na íntegra clique aqui para o Livreto Domiciliar e aqui para o Livreto Epidemiológico.

Perfil do usuário

Os usuários de crack no Brasil são principalmente adultos jovens, com idade média de 30 anos, homens (78,7%), não brancos (80%) - o que inclui pretos, pardos e indígenas, por exemplo - e solteiros (60,6%). Além disso, têm, na maior parte dos casos, baixa escolaridade, sendo que apenas dois em cada dez cursaram ou concluíram o ensino médio. Em relação ao ensino superior, a proporção é ainda menor: cerca de 0,3% cursou ou concluiu esse nível de escolaridade.

A pesquisa também aponta uma expressiva proporção de usuários em situação de rua, com aproximadamente 40% deles nessa condição. Nas capitais o percentual é mais elevado e chega a 47,3%, enquanto nos demais municípios do país 20% dos usuários regulares de crack relataram essa condição. Os pesquisadores ressaltaram que não significa que esse contingente necessariamente more nas ruas, mas que nelas passa a maior parte de seu tempo.

A maioria dos usuários (65%) obtém dinheiro por meio de trabalhos esporádicos ou autônomos. Atividades ilícitas, como tráfico de drogas e furtos, por exemplo, foram relatadas por uma minoria dos usuários (6,4% e 9% respectivamente). Embora o percentual não tenha sido alto, com apenas 7,5% dos usuários apontando o sexo em troca de dinheiro ou de drogas, os pesquisadores consideraram a frequência elevada se comparada à população geral, já que nesse caso a proporção de profissionais de sexo é inferior a 1%.

O levantamento aponta ainda que aproximadamente metade dos usuários de crack e/ou similares já foi presa ao menos uma vez, sendo que 41,6% foram detidos no último ano. Entre os motivos da detenção, destacaram-se o uso ou posse de drogas (13,9%); assalto ou roubo (9,2%); furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) e tráfico ou produção e drogas (5,5%). 

Cerca de 10% das mulheres usuárias relataram estar grávidas no momento da entrevista. Além disso, mais da metade das usuárias de crack já haviam engravidado ao menos uma vez desde que iniciaram o uso da droga. A pesquisa indica, ainda, que 44,5% das mulheres entrevistadas relataram já ter sofrido violência sexual na vida, enquanto entre os homens o percentual foi 7%. 

Em relação ao tempo médio de uso, o estudo aponta que nas capitais se estende por aproximadamente 91 meses (cerca de oito anos), enquanto nos demais municípios esse tempo foi 59 meses (5 anos). Mais da metade dos usuários tem padrão de consumo diário, sendo que cada usuário consome em média 16 pedras de crack por dia nas capitais e nos demais municípios, 11 pedras. 

Quando consideradas as diferenças entre os gêneros, nota-se que os homens usam crack por tempo mais prolongado, em média por 83,9 meses, enquanto as mulheres fazem uso por aproximadamente 72,8 meses. O consumo diário, no entanto, é mais intenso entre elas: 21 pedras de crack. Já os homens consomem 13 pedras por dia.

Tratamento

O estudo ainda mostram que 78,9% dos usuários da droga desejam se tratar. No entanto, é baixo o acesso deles aos serviços disponíveis, como postos e centros de saúde, procurados por apenas 20% dos usuários nos 30 dias anteriores à pesquisa; unidades que fornecem alimentação gratuita (17,5%) ou instituições que fazem acolhimento, a exemplo de abrigos, casas de passagem, e os centros de Referência de Assistência Social (Cras), buscados por 12,6% dos usuários.

Em relação aos serviços para tratamento ambulatorial da dependência química nos 30 dias anteriores à pesquisa, o Centro de Atenção Psicossocial para atendimento a usuários de álcool,crack e outras drogas (Caps-AD) foi o mais acessado, ainda que por apenas 6,3% dos usuários. De acordo com os pesquisadores da Fiocruz, esse fato reforça "a premente necessidade de ampliação e fortalecimento desses equipamentos no âmbito da rede de saúde, assim como as pontes (serviços intermediários, agentes de saúde, redes de pares, consultórios de rua) entre as cenas de uso e os serviços já instalados".

A pesquisa também revela que os usuários manifestaram interesse por serviços associados à assistência social e por serviços de atenção à saúde não necessariamente voltados ao tratamento da dependência química, como os ligados à higiene, à distribuição de alimento, ao apoio para conseguir emprego, escola ou curso e atividades de lazer. Esses aspectos foram citados por mais de 90% dos entrevistados como fundamental para facilitar o acesso e o uso de serviços de atenção e tratamento.

Crack, é possível vencer 

Lançado em dezembro de 2011, o programa Crack, é Possível Vencer é um conjunto de ações do governo federal para enfrentar questões relacionadas ao uso do crack e de outras drogas. A iniciativa tem como objetivo aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários de drogas, enfrentar o tráfico e ampliar mecanismos de prevenção. 

As ações estão estruturadas em três eixos: cuidado, autoridade e prevenção. O primeiro inclui ampliação e qualificação da rede de atenção à saúde voltada aos usuários. No eixo autoridade, o foco é a integração de inteligência e cooperação entre Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais, a realização de policiamento ostensivo nos pontos de uso de drogas nas cidades, além da revitalização desses espaços. Já o eixo prevenção abrange ações nas escolas, nas comunidades e de comunicação com a população.

Saiba mais sobre o Programa 

Acompanhamento das ações

Para que a população acompanhe o andamento das ações do programa em seus estados e municípios, o governo federal lançou em agosto deste ano o Observatório “Crack, É Possível Vencer”. Na página de internet é possível buscar os serviços das redes de saúde e assistência social voltados para o atendimento do usuário de drogas, além dos resultados do programa na área de segurança pública e prevenção. As informações estão organizadas nos três eixos centrais do “Crack, é Possível Vencer”: Prevenção, Cuidado e Autoridade.

Conheça o Observatório

 

Fonte:
Ministério da Justiça
Com informações da Agência Brasil



20/09/2013 18:12


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