Brasil renova 55% da dívida privada externa







Brasil renova 55% da dívida privada externa
Venceram US$ 2,101 bi em junho. As empresas brasileiras endividadas em dólar conseguiram rolar cerca de 55% dos bônus que venciam no mês de junho, mas tiveram que recorrer a outras fontes de financiamento como empréstimos consorciados, securitização de recebíveis e até mesmo empréstimos em reais. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) e dos operadores do mercado, o total de vencimentos em junho foi de US$ 2,101 bilhões.
A expectativa para os próximos meses, quando vencem, segundo o Banco Central, cerca de US$ 10 bilhões, é de que a rolagem fique ainda mais difícil se o nervosismo do mercado continuar e o risco Brasil permanecer nos atuais 1.630 pontos-base. Entre as empresas que conseguiram rolar suas dívidas, ou pelo menos parte delas, estão o Grupo Votorantim, a Copene e a Cesp. Já entre os bancos, somente Banco do Brasil e Bradesco captaram recursos para fazer frente a seus vencimentos, no total de US$ 550 milhões. Os outros US$ 616 milhões em títulos de instituições financeiras foram pagos.


Megaplataformas para Petrobras virão da Noruega
Os estaleiros do Brasil não têm condição de construir. As plataformas P-51 e P-52, da Petrobras, estimadas em US$ 500 milhões, cada uma, terão de ser construídas no exterior. Projetadas para os campos de Marlim e Roncador (Bacia de Campos), cada uma das unidades produzirá por dia 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás natural.

Eduardo Rappel, diretor geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), e Augusto Mendonça, presidente do grupo Pem Setal (um dos controladores do estaleiro Fels Setal, que concorreu à P-50), relataram que receberam do presidente da Petrobras, Francisco Gros, a informação de que o projeto de engenharia desenvolvido no exterior não se ajusta à capacidade de produção dos estaleiros do Brasil. Gros não confirmou, mas disse que a Petrobras deve comprar os equipamentos em função de suas necessidades operacionais e não da capacidade de fornecimento dos estaleiros. "Ou então teria que se recomendar à Força Aérea Brasileira (FAB) que comprasse todos os aviões caças da Embraer, apesar de que, me parece, a Embraer não tem condições de produzir esses aviões."

Há apenas duas plataformas semelhantes à P-51 e P-52 em operação em todo o mundo, segundo Gros. Ambas foram construídas pela Aker Kvaerner, empresa norueguesa responsável pelo detalhamento do projeto de engenharia da P-51 e P-52. Com isso, a companhia passa a ser praticamente a única habilitada a participar da licitação da estatal.

Os profissionais participaram ontem do seminário Petróleo e Gás, promovido por este jornal, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e pela Onip. No encontro, houve consenso sobre a necessidade de definir uma política para o setor com incentivos à indústria brasileira. Projeções da ANP mostram que compras resultantes de investimentos de US$ 5 bilhões no setor, por exemplo, gerariam 202 mil empregos no País.

Esso e Shell informaram no seminário que estudam a construção de refinarias no País. A ANP deve concluir, em 15 dias, as propostas para a nova lei do gás natural.


Câmbio de exportação alivia falta de dólares
As exportações foram a principal fonte de dólares no mercado em junho. Trouxeram para o País US$ 6,118 bilhões, um recorde desde janeiro de 2001. Com as importações em queda, o saldo cambial (entradas menos saídas de dólares) do comércio externo somou US$ 3,3 bilhões em junho, acumulando no semestre resultado positivo de US$ 8,451 bilhões.

Ajudou muito, mas não deu para cobrir o fluxo negativo do capital estrangeiro e demais contas correntes que acusaram déficit líquido no semestre de US$ 10 bilhões. Também saíram US$ 2,581 bilhões em remessas de pessoas físicas para o exterior.

Até junho, saíram do mercado US$ 4,204 bilhões, 70% a mais do déficit de US$ 2,9 bilhões de todo o ano de 2001.


VW e Ford disputam cavalos
Potência do motor ganha destaque na publicidade de carro popular. Depois de os carros populares conquistarem 80% do mercado de automóveis no Brasil com base em preços baixos, a disputa no setor passou a explorar a força dos motores da categoria.

A Volkswagen lançou uma campanha na qual desdenha, indiretamente, da tecnologia do Fiesta, da concorrente Ford. "Se o motor de carro com compressor é revolucionário, uma geladeira é moderna e ninguém sabia", diz o anúncio da fabricante alemã em referência ao sistema que gera 95 cavalos de potência para o carro da montadora americana.

O engenheiro-chefe da Ford, Márcio Afonso, diz com um sorriso contido nos lábios que o compressor do automóvel é bem mais sofisticado do que o dos eletrodomésticos. A potência do novo modelo do Fiesta é quase 46% maior do que a dos carros populares de primeira geração, que contavam com 65 cv.

Outro ponto forte do Fiesta é o design reformulado. Esses dois fatores mais um preço inferior ao do Gol Turbo, da Volkswagen, fizeram com que a fabricante norte-americana recuperasse pequena parcela do mercado automobilístico brasileiro, chegando a 9,8% de participação, um ponto acima do que tinha em maio.

A VW contra-atacou com a campanha publicitária que também promove o motor de 112 cv do Gol Turbo, e com a redução na semana passada de R$ 3 mil no preço do modelo mais potente entre os populares.

Antônio Carlos Salgueiro, diretor de atendimento da Almap/BBDO, que atende a VW, diz que houve uma clara evolução nos carros populares e a tendência é aumentar a potência do motor. E Paulo Sérgio Kakinoff, da VW, diz que a publicidade de carros agora não é só apelo à emoção, mas também informação concreta sobre o carro.


Bethlehem insiste em parceria com a CSN
A Bethlehem Steel, terceira maior siderúrgica dos Estados Unidos, continua interessada numa joint venture com a CSN, apesar da anunciada negociação entre a empresa brasileira e a anglo-holandesa Corus. A Bethlehem oferece à CSN uma parceria na usina Sparrows Point, no Estado de Maryland, EUA.

Segundo Robert S. Miller, principal executivo da siderúrgica americana, um eventual acordo entre CSN e Corus poderia valorizar Sparrows Point. Em concordata desde outubro, a Bethlehem é mais uma das gigantes da siderurgia integrada dos EUA que foram a pique nos últimos anos, pressionadas pela concorrência do aço importado, mais barato, e pelo enorme custo dos fundos de aposentadorias e pensões.

As negociações com a CSN vêm desde o final do ano passado, quando Miller visitou as instalações da siderúrgica brasileira em Volta Redonda (RJ). A CSN mantém reserva sobre os entendimentos com a Bethlehem: confirma as conversas, mas diz que ainda não há nada acertado.
Se a joint venture for fechada, a Bethlehem terá acesso a semi-acabados fabricados com minério de ferro brasileiro, mais barato. A CSN, por sua vez, terá à disposição um laminador de tiras a quente em solo americano, completando o ciclo de produção que começa na laminação de placas a ser feita na usina de Heartland, já da CSN.


Cobrança força reúso de água
Indústrias se antecipam à taxação. Bastou que a Agência Nacional das Águas (Ana) anunciasse o início da cobrança pelo uso da água na bacia do rio Paraíba para que as indústrias começassem a reprogramar, em ritmo frenético, o atual consumo. Já se estabeleceu uma onda de reutilização ou de outras formas de economia de água, ainda mais radicais, como a do circuito fechado, ao longo do Paraíba e de outros rios de bacias federais, que penetram em mais de um Estado.

A cobrança no Paraíba deve começar em outubro e na bacia do rio Piracicaba (sul de Minas e São Paulo) no início do próximo ano. Empresas impo rtantes como Ford, General Motors, Klabin, Cibrapel, Bayer, Petroflex já deram partida em programas agressivos de uso racional de água, que significam ao mesmo tempo menos poluição dos mananciais. Os critérios de cobrança têm por objetivo justamente levar os usuários a economizar água e simultaneamente reduzir o lançamento de poluentes nos rios.

Ao longo da bacia do Paraíba, as empresas vão pagar R$ 0,008 por metro cúbico captado e mais R$ 0,02 por metro cúbico devolvido à bacia sem tratamento. Ainda não foram anunciados os valores a serem cobrados na bacia do rio Piracicaba, mas serão parecidos com os da bacia do rio Paraíba.


Editorial

GLOBALIZAÇÃO DOS BALANÇOS

A sucessão de fraudes ou irregularidades verificadas em balanços de grandes empresas americanas é um alerta do qual se devem extrair lições. A principal delas é que, em um mundo globalizado como o que vivemos, há necessidade de serem estabelecidos padrões contábeis para as companhias abertas e procedimentos a adotar pelas empresas de auditoria que valham para todos os países do mundo que tenham uma ativa economia de mercado.

Isso não é impossível. Para os bancos, por exemplo, existem os Acordos de Capital de Basiléia, formulados sob os auspícios do Banco para Compensações Internacionais (BIS). Tais acordos, que têm passado por revisões periódicas, visam reduzir o risco do crédito pelo maior número possível de bancos, recomendando a adoção de determinadas normas, que têm merecido o acatamento dos bancos centrais de países industrializados e de nações em desenvolvimento, como o Brasil.

As fraudes ocorridas nos EUA, devido à cegueira de administradores dominados pela compulsão de apresentar resultados a curto prazo, custe o que custar, terão inevitavelmente reflexos globais. Basta lembrar que, para se classificarem no Nível 2 ou integrarem o Novo Mercado da Bovespa, bem como para registrar-se na Bolsa de Nova York, as empresas abertas brasileiras precisam obedecer ao "U. S. GAAP", ou seja, princípios contábeis geralmente aceitos nos EUA.

O presidente George W. Bush solicitou ao Congresso americano a adoção de medidas mais rigorosas para punir executivos de empresas envolvidas com práticas escusas para manipular balanços, mas a convicção do mercado e de muitos legisladores americanos é de que isso não basta. A seu ver, será preciso aperfeiçoar as normas contábeis e os procedimentos dos auditores para defender os interesses dos investidores.

Isso vale para os Estados Unidos, mas gera uma nova atitude em todo o mundo com relação a balanços. A tendência já é que eles obedeçam aos mesmos parâmetros, inclusive para permitir uma melhor avaliação de empresas pelos investidores internacionais, em um mundo em que vultosos capitais circulam livremente.

Seguramente, as providências que a Securities & Exchange Commmission (SEC), dos EUA, vai tomar e os conseqüentes efeitos jurídicos terão um efeito-demonstração em âmbito mundial e tenderão a ser adaptadas às condições de outros mercados. Lembre-se, a propósito, que a SEC serviu de modelo para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e para órgãos similares de países diversos.

Se, no caso brasileiro, a legislação sobre balanços é, em certos pontos, mais rigorosa que a americana, a CVM não dispõe aqui de uma equipe técnica que, guardadas as proporções dos mercados, possa ser comparada à da SEC, quer quanto ao número de funcionários, quer quanto aos meios para realizar o seu trabalho. Aliás, uma das medidas propostas pelo presidente Bush ao Congresso americano é um reforço do orçamento da SEC.

As fraudes vindas à luz nas últimas semanas, além do aspecto regulatório, podem ter um efeito conjuntural muito relevante neste momento. Os integrantes mais otimistas da cúpula econômica de Washington prevêem que, a ter continuidade a recuperação do ritmo de atividade, a economia americana poderá crescer 3% neste ano. Mas admitem - e as medidas agora pedidas por Bush ao Congresso refletem essa preocupação - que o crescimento econômico a curto e médio prazos pode vir a ser afetado pela perda de confiança do consumidor/investidor, como resultado do surgimento de casos de fraude envolvendo grandes companhias multinacionais.

Isso tem, evidentemente, conseqüências para todo o mundo, particularmente para países em desenvolvimento, como o Brasil. Se houver uma certa estagnação da economia americana nesta fase, isso pode frear a recuperação das economias dos países da União Européia (UE) e do Japão, com repercussões negativas sobre o comércio mundial.

Para os emergentes, isso seria má notícia. Mas esses países podem também ser prejudicados pelos fluxos de capital, que já vêm caindo. A captação de recursos externos pode tornar-se ainda mais difícil, uma vez que, em fases de insegurança, os investidores americanos tendem a aumentar suas aplicações em títulos do Tesouro dos EUA, passando a ser mais refratários a investimentos no exterior.

Por todas essas razões, esperamos que as medidas tomadas pelo presidente Bush e a ação do Congresso dos EUA afastem os temores quanto a investimentos e que levem à adoção de padrões internacionais de balanços, condizentes com a realidade de um mundo globalizado.


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07/11/2002


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