Crise entre EUA e Iraque provocou saída de Bustani da Opaq



A Organização para a Proscrição das Armas Químicas (Opaq) é o organismo internacional destinado a evitar a proliferação de armas de destruição em massa (nucleares, químicas, bacteriológicas e mísseis). Nela, os países mais poderosos militarmente têm os mesmos direitos e obrigações que os menos poderosos, pelo menos teoricamente. Mas o episódio da destituição do embaixador brasileiro José Maurício Bustani, aprovada com apenas 7 votos contrários, revela exatamente o contrário.

A alegação formal do governo norte-americano para pedir o afastamento de Bustani é a incompetência. O diplomata brasileiro, que reduziu em 15% a quantidade de armas químicas no mundo, foi eleito em 1977 e reeleito em 2000, por aclamação - portanto, com o voto dos Estados Unidos. Além disso, ele aumentou de 87 para 145 o número de membros da organização. Enquanto foi dirigida por Bustani, a Opaq realizou cerca de 1.100 inspeções em mais de 50 países, inclusive o Brasil.

No centro do embate entre a Opaq e Washington está o presidente do Iraque, Sadam Hussein que, segundo os americanos disporia de armas químicas e estaria pronto a cedê-las a grupos terroristas. Este fato justificaria um possível ataque militar ao Iraque.

Bustani tentava concretizar a adesão iraquiana a Opaq, o que sujeitaria o Iraque a inspeções regulares e de surpresa, solicitadas por qualquer país, quando houvesse suspeita de violação das convenções contra armas químicas, criando dificuldades ao presidente George W. Bush de justificar uma operação militar contra Bagdá. Os Estados Unidos pressionavam Sadam a aceitar as inspeções da Uscom - comissão criada após a Guerra do Golfo, por iniciativa americana.

Na tentativa de destituir Bustani, o governo americano teria procurado obter o apoio do Brasil, sugerindo que o governo brasileiro o convencesse a renunciar. Consumada a saída do diretor brasileiro, a nova embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, disse que o episódio não provocará desgaste na relação entre seu país e o Brasil.



26/04/2002

Agência Senado


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