CABRAL: REFORMA DO JUDICIÁRIO SERÁ TAREFA LONGA E COMPLEXA



O senador Bernardo Cabral (PFL-AM) anunciou nesta sexta-feira (dia 13), em Plenário, seu plano de trabalho como relator do projeto de lei da reforma do Judiciário, já aprovado pela Câmara dos Deputados. Cabral fez uma longa exposição sobre os problemas do Judiciário e sua conseqüências para a sociedade. "Mas a nova face da Justiça só será visível depois de um longo e complexo caminho de consultas e reflexões", disse o senador.

Segundo Bernardo Cabral, o primeiro passo será ouvir os presidentes dos tribunais superiores e representantes do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil. Eles opinarão sobre questões técnicas polêmicas, como a extensão ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) da súmula vinculante, o instituto que obriga os tribunais de instâncias inferiores a julgar causas semelhantes de acordo a decisão já adotada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro ponto fundamental da reforma será a quarentena a ser imposta a juízes, de modo que fiquem impedidos de advogar por três anos nos tribunais dos quais se tenham aposentado. Entre os objetivos da reforma estão: dar maior velocidade à Justiça, diminuir drasticamente o volume de processos, retirar de cena legislação processual envelhecida e criar o controle externo do Judiciário. Mas, conforme Cabral, a reestruturação da Justiça deve ser feita de maneira equilibrada, de forma a que o Judiciário mantenha sua autonomia frente aos demais poderes.

- O Judiciário é o poder responsável pelos direitos fundamentais do homem, o guardião da cidadania. O cumprimento de suas funções constitucionais depende de sua independência, que passa, necessariamente, por sua autonomia administrativa, para que a Justiça seja soberana - disse Cabral.

Em aparte, o senador Francelino Pereira (PFL-MG) mostrou confiança na relatoria de Bernardo Cabral, a quem considera um homem com grande dimensão intelectual e conhecimento profundo da matéria. Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), Cabral é o mais credenciado para a função de relator porque conhece em profundidade não só os aspectos formais da reforma, mas também as implicações políticas do assunto, é advogado e jurista, militou nos tribunais, ocupou a Presidência da OAB, foi relator da Assembléia Nacional Constituinte de 1988, e destacou-se como ministro da Justiça (governo Collor).

- A reforma feita pela Câmara foi apressada. Acho que o Senado deve aprovar um substitutivo aperfeiçoado, que voltará então à Câmara - disse Simon.

Já o senador Geraldo Melo (PSDB-RN) reclamou do abusivo poder que teria o Estado de protelar o cumprimento de decisões judiciais, quando réu, por meio das chamadas "ações rescisórias". Outro problema apontado por Geraldo Melo é a execução judicial de dívidas bancárias. Para o senador Edison Lobão (PFL-MA), são os próprios juízes os que mais reclamam uma legislação realista, capaz de devolver a eles o prestígio que vem sendo perdido com o acúmulo de processos nas gavetas dos tribunais.

13/10/2000

Agência Senado


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