Câmara Americana de Comércio defende acordo entre Brasil e EUA



Seis meses depois do adiamento da visita de Estado que a presidente Dilma Rousseff faria a Washington, por causa da publicação de denúncias de que suas mensagens eletrônicas haviam sido espionadas pela Agência de Segurança Norte-Americana (NSA), uma proposta ousada marcou debate sobre o relacionamento bilateral realizado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE): a assinatura de um acordo de livre comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.

A proposta foi lançada pelo presidente da Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham), Gabriel Rico. Em sua opinião, o Brasil precisa ampliar a competitividade de sua economia e buscar maior inserção nas cadeias globais de produção. Uma das iniciativas nesse sentido, propôs, seria a celebração do acordo de livre comércio, que tem o apoio – segundo recente pesquisa da Amcham – de 93% das empresas que integram a entidade, tanto brasileiras como norte-americanas.

— O Brasil precisa dar um salto muito grande na sua competitividade, que tem que vir junto com a negociação do acordo. Quando se expõe a um acordo de livre comercio, uma economia é obrigada a se repensar. Se um país fica parado, só um lado leva vantagem — afirmou Rico, lembrando que os Estados Unidos já estão começando a negociar acordos de livre comércio com a União Europeia e com os países da região da Ásia-Pacífico.

Também convidado para a audiência pública, realizada a partir de requerimento do presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), o diretor do Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson, Paulo Sotero, ressaltou igualmente a oportunidade de se debater a negociação de um acordo com os Estados Unidos. Ele recordou que o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, defendeu a negociação desse acordo, no final do ano passado.

A iniciativa foi recebida com cautela, porém, pelo subsecretário-geral político I do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Antonio da Rocha Paranhos, que também participou da audiência pública. Durante recentes debates entre diplomatas e acadêmicos, relatou, verificou-se que os acordos comerciais ainda dividem opiniões.

— Evidentemente, a concentração de esforços apenas em acordos comerciais não constitui consenso interno e não pode ser vista como panaceia — disse Paranhos.

Retomada

O embaixador procurou demonstrar que o esfriamento das relações bilaterais, provocado pelo vazamento das denúncias de espionagem pelo ex-agente americano Edward Snowden, já vem sendo superado pela diplomacia brasileira, embora ainda exista a expectativa por alguma iniciativa do governo norte-americano referente ao caso de espionagem.

Apesar do adiamento da viagem de Dilma, ressaltou, os canais de diálogo bilateral continuam abertos. O Brasil e os Estados Unidos, observou o diplomata, “estão condenados a manter um relacionamento denso, importante e respeitoso”. Como prova da amplitude dessa relação, ele citou os números do comércio bilateral em 2013: US$ 60 bilhões entre importações e exportações, com US$ 11 bilhões de déficit para o Brasil. Questionado pela senadora Ana Amélia (PP-RS), porém, se a retomada completa das relações bilaterais passaria por algum gesto de aproximação do governo norte-americano, Paranhos respondeu que “sim”.

Por sua vez, Sotero ressaltou a importância da visita de Estado que a presidente brasileira faria a Washington no final do ano passado, a primeira em quase duas décadas. Segundo o diretor do Instituto Brasil, havia dos dois lados a intenção de se promover um salto na qualidade do relacionamento bilateral.

— As relações sofreram forte retrocesso no momento em que pareciam prestes a ser alçadas a um patamar mais elevado de engajamento – observou Sotero.

Ao abrir a reunião, Ferraço pediu que se reduza o tom emocional que predomina no momento no relacionamento bilateral. Os dois países, recordou, têm uma “densa rede de interesses interconectados”. Durante o debate, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) considerou o momento oportuno para identificar os pontos convergentes e divergentes entre os dois países.

Após relatar viagem que fez a Teerã, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) observou que a melhoria no relacionamento entre o Brasil e o Irã depende, de certa forma, da busca de relações menos tensas entre os Estados Unidos e o Irã. Por sua vez, ao comentar o embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba, o senador Aníbal Diniz (PT-AC) concordou com Paulo Sotero que a atitude poderá beneficiar empresas brasileiras que têm interesses comerciais na ilha. Ele previu ainda que a construção, por empresas brasileiras, do porto de Mariel, poderá atrair o interesse econômico de empresas dos Estados Unidos.



03/04/2014

Agência Senado


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