Câmbio flutuante condenava tecnicamente o socorro ao Marka e ao FonteCindam



A diretora de Fiscalização do Banco Central, Tereza Grossi, declarou nesta terça-feira (dia 5) à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) que a operação de socorro montada em janeiro de 1999 por aquela instituição para salvar os bancos Marka e FonteCindam foram tecnicamente erradas diante de uma política cambial flutuante, como a que se adotou no país.

Ela disse que se soubesse que o sistema de bandas cambiais seria substituído por um sistema de câmbio flutuante, como acabou acontecendo, teria recomendado liquidar as duas instituições, em vez de montar para elas uma operação de socorro, que tinha como objetivo zerar o patrimônio líquido delas, ao câmbio de R$ 1,275 por dólar norte-americano e que acabou gerando um custo de US$ 1,6 bilhão. Ela disse que não tinha acesso às informações da Diretoria do Banco Central da época, por não ser diretora, não tendo conhecimento também de que a política de bandas seria substituída pelo câmbio flutuante.

Ao lado do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, a diretora de Fiscalização do BC explicou que não é correto falar-se num prejuízo de US$ 1,6 bilhão do Banco Central com a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam. Para ela, o mais correto é dizer que o custo da operação foi de US$ 1,6 bilhão, com um prejuízo para o Banco Central de US$ 60 milhões, levando-se em conta o ganho obtido (em reais) nas operações com as reservas cambiais do país, pelo BC, após a mudança da política cambial.

Tereza Grossi revelou na reunião da CAE que vários inspetores, na época da mudança do câmbio, sugeriram a liquidação extrajudicial dos bancos Marka e FonteCidam. Essa também seria a solução que ela proporia, se soubesse que o regime de bandas cambiais seria, na verdade, substituído pelo regime do câmbio flutuante. Mas como ela pensou que o regime de bandas iria continuar (uma espécie de câmbio fixo, mas flexível), fazia sentido a operação de socorro aos dois bancos, para evitar um risco sistêmico, ou seja, uma quebra em cadeia de várias instituições do sistema financeiro.

- Mas se era para o câmbio flutuar, a própria flutuação encarregar-se-ia de fazer o ajuste - explicou.

A revelação da diretora pode piorar a situação dos ex-dirigentes do Banco Central que tomaram a iniciativa de deflagrar a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam, caso eles não consigam provar que também não sabiam, no dia 14 de janeiro de 1999, véspera de adoção da nova política cambial flutuante, para onde iria a nova política. Tecnicamente, o chamado risco sistêmico somente poderia ocorrer, no cenário da época, num regime cambial fixo ou semi-fixo, como o das bandas. Mas se a opção da nova política era por um câmbio flutuante, o risco sistêmico deixaria de existir.

05/06/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


CPI VOLTA A INVESTIGAR CASO MARKA-FONTECINDAM

CPI VOLTA A INVESTIGAR CASO MARKA-FONTECINDAM

DIRETORES DO MARKA E FONTECINDAM ESTÃO COM BENS BLOQUEADOS

REQUIÃO APONTA NEPOTISMO NO CASO MARKA/FONTECINDAM

Malan explicará caso Marka e FonteCindam em reunião conjunta da CAE e da CFC

Malan explicará caso Marka e FonteCindam em reunião conjunta da CAE e da CFC