Campos afirma que "correção cambial envergonhada" não tira Argentina da crise



A "saída envergonhada" do sistema de câmbio fixo do tipo Currency Board (sistema rígido de paridade entre moedas), ensaiada pelo ministro da economia da Argentina, Domingo Cavallo, não será capaz de tirar o país da crise econômica vivida atualmente. Esta é a opinião do senador Lauro Campos (PDT-DF), para quem o atual momento é de profunda reflexão sobre todas as políticas econômicas em vigor no mundo, tanto nos países ricos quanto nos países em desenvolvimento. Os partidos políticos, as lideranças da sociedade e os dirigentes das instituições, segundo Lauro Campos, terão de ser capazes, agora, de traçar as "pontes para o futuro", sem levar para lá "o entulho dos atuais modelos decadentes, que geraram como subproduto, principalmente, miséria e desemprego".

- O Cavallo pensa que vai tirar a Argentina da crise com uma saída envergonhada do câmbio fixo. Ele já percebeu que o câmbio fixo é uma aberração econômica, que neutraliza completamente a política monetária e as políticas públicas de desenvolvimento. Mas o problema agora é que o Cavallo II tem de fazer tudo ao contrário do que fez o Cavallo I, na era Menem. E aí encontra sérias dificuldades de natureza operacional e de natureza política. No fundo, o Cavallo I destruiu as possibilidades do Cavallo II - avaliou o senador.

Depois de passar a maior parte de sua vida lecionando História do Pensamento Econômico, Lauro Campos disse que o sistema conhecido como Keynesianismo (do Economista John Maynnard Keynes), responsável pela retirada do Ocidente da grande depressão de 1929, encontra-se completamente exaurido. Entretanto, um retorno ao neoliberalismo, surgido em 1873 na Inglaterra, como acontece no Brasil de hoje, é pior ainda, pois representa uma tentativa mais retrógrada e mais frustrante que a insistência na linha keynesiana (na qual o Estado é o principal agente motor do desenvolvimento), explicou.

Segundo Lauro Campos, esse não é o melhor momento para se discutir a formação de um novo bloco econômico, como quer o governo norte-americano ao acenar com a instituição da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). No seu entendimento, não se pode discutir formação de blocos em momentos de crise, simplesmente porque, na crise, como aliás está demonstrando agora o governo da Argentina, a tendência de cada país é garantir o seu próprio espaço, é autodefender-se.

A formação de um bloco, como a ALCA, ou mesmo a sua consolidação, como no caso do Mercosul, deve ser discutida com calma, em tempos de normalidade, aconselhou. Foi o que aconteceu com a formação da União Européia, iniciada nos anos 50, cinco anos após o final da Segunda Guerra, e somente agora atingindo seu ponto máximo, com a introdução da moeda única (o euro).

A essência dos problemas vividos hoje pelos países latino-americanos, segundo Lauro Campos, decorre da grande capacidade que têm os Estados Unidos de transplantar suas próprias crises para os países da periferia.

Após a fase keynesiana, lembrou o senador, a dívida pública norte-americana subiu em mais de US$ 5 trilhões, para um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 9 trilhões. O governo Clinton prometeu zerar a dívida pública em 2012, mas Bush já acena em sentido contrário, pois só o escudo anti-míssil que ele quer construir vai custar perto de US$ 1 trilhão, enfatizou.

- Não podemos levar para o futuro, por exemplo, a indústria da guerra. Os Estados Unidos têm atualmente a capacidade bélica de destruir 150 planetas iguais à Terra. George W. Bush disse que não sabia disso. O Keynesianismo está exaurido, o neoliberalismo não deu certo. A terceira via não trouxe nada de novo, pois ainda está presa a um modelo keynesiano. Temos, portanto, de amadurecer na busca de uma solução prática - disse o senador.

A proposta de formação da ALCA, complementou Campos, traz o significado de todos os blocos: o de uma vacina contra os ciclos de crise do capitalismo. Um bloco é um sistema anticíclico, antidepressivo, que evita o nacionalismo e o fechamento das economias. O que os Estados Unidos querem com a ALCA é exatamente buscar esse colchão antidepressivo para o seu próprio mercado. Mas eles não estão muito preocupados com o que vai acontecer no resto do continente, disse Lauro Campos.

Para o senador, a crise do atual modelo econômico começou a ficar visível a partir da crise do México, em 1994. Depois desse episódio, a crise do modelo econômico vem ficando mais evidente com as crises localizadas, ora nos Tigres Asiáticos, ora na Rússia, no Brasil ou na Argentina. De repente, esses países passaram a combater um excesso de demanda inexistente e a viver uma ilusão monetarista, com câmbio fixo e altas taxas de juros, observou. Os erros cometidos nesses países, disse o senador, são os mesmos.

12/07/2001

Agência Senado


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